Criaturas das Trevas escrita por Elliot White


Capítulo 2
O cativeiro


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!



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― Deixem-no lá com todos enquanto faz efeito. ― O mesmo homem ditou. Um deles me empurrou, me fazendo ir até onde os rapazes estavam. Uma coleira larga foi colocada em meu pescoço, depois ajustada com uma fivela. O couro fedia. Olhei para o meu corpo, estava sem camisa e sujo.

Os outros prisioneiros estavam um sentado, outro deitado, outro em pé, todos pensativos e todos tinham mais ou menos a minha idade.

― O que eles querem de nós? ― Perguntei, depois do guarda se afastar.

― Não sabemos. ― Um deles respondeu, depois de um silêncio longo, ele tinha a cabeça toda raspada.

― Todos vocês beberam aquilo? ― Insinuei.

― É claro. ― O outro que respondeu era bem grande, e tinha muita massa muscular.

― Por que? ― Falei, observando que ele estava algemado apenas nos pés.

― Eles esperam alguma reação depois de nós bebermos. ― O mesmo respondeu, sua voz era roca.

― E o que acontece se não houver reação? ―

― Somos levados. Todos que vão, não voltam. ― O terceiro respondeu, ele tinha muitas tatuagens, em quase todo o corpo. Sua voz era doce.

― Tem algum jeito de fugir? ― Perguntei.

― Nada que possamos fazer com isso. ― Ele balançou as algemas.

Depois de um silêncio mortal, tive uma ideia.

― Ei, preciso ir no banheiro. ― Pedi ao carcereiro.

― Depois. ― Ele respondeu sem entusiasmo.

― Não consigo segurar. ― Gritei mentindo.

― Você não pode ir agora! ― Bradou em voz rígida.

A expressão facial dele foi suficiente para eu ficar quieto.

― Tive uma ideia. Um de vocês finge estar doente. ― Sussurrei aos meus colegas, me certificando de que não estava sendo ouvido.

― Não me leve a mal, moleque, mas o que pretende fazer encoleirado? ― O tatuado se fez audível, em voz baixa. Suas algemas eram apenas para as mãos.

Ignorei eles e estiquei a corrente da minha coleira até me deitar no chão frio, e fingir estar com dores. Comecei a gritar, e vi que nenhum rapaz parecia estar interessado em me ajudar.

― Será que vocês podem pelo menos fingir? ― Sussurrei entre falsos gemidos.

― Cale a boca! ― A voz agressiva de um dos carcereiros soou.

― Eu acho que ele está doente. ― Um de meus colegas afirmou, enquanto eu berrava alto e minha voz ecoava no ambiente.

― Eu não sei o que você tem, mas é melhor que fique quieto. ― Rosnou um deles, me agarrando pelo braço, então eu me levantei. Eu precisava fazer algo antes que minha chance escapasse. Procurei com o olhar a corrente de minha coleira, e a segurei até que esticasse e fizesse um arco.

Circulei o pescoço do carcereiro, que gemeu de dor. Subi no corpo dele até enrolar toda a corrente que não era muito longa. Ele protestou, mas eu forcei meus dedos até arder no ferro. Estava tentando sobreviver, pensei. Ou eu mato ou eu morro.

Não foi tão fácil assim, ele logo se livrou pois era maior do que eu, e eu fui lançado no chão com um murro acertando meu rosto, arrancando um grunhido de mim.

O braço dele estava vindo de novo, musculoso, agora era o meu fim. Ou não? O golpe dele foi bloqueado! Alguém me ajudou, foi um dos outros rapazes? Não. Era o meu braço. Estava socando a barriga do homem, mas como? Não era eu.

Alguém estava me ajudando, não sei como, mas usando o meu corpo. As minhas mãos puxaram a corrente da minha coleira até o suporte da parede, e como se não pesasse nada deslocou até arrancar deixando um arrombo na estrutura. Era como se eu só pudesse assistir.

Os meus braços então começaram a fazer a corrente girar até atingir o corpo do adversário, ferindo-o com o bloco de concreto. Não tinha como ser eu, eu não saberia fazer isso. Com habilidade, a corrente foi jogada até esmurrar o rosto dele, o deixando inconsciente. O meu corpo então foi até a corrente do rapaz alto e corpulento, desfazendo como se não fosse de nada, e libertou o de cabeça raspada e também o tatuado. Eles me agradeceram.

Muitos prisioneiros apareceram me cercando, esticando seus pulsos algemados, eles queriam que eu os liberasse. Então manualmente quebrei as algemas de todos.

Pude sentir em meu campo de visão todos os guardas vindo em minha direção. Era hora de fugir.

Apressei meu passo, ouvindo gritos. O controle do meu corpo ainda não era meu, e os movimentos estavam bem mais rápidos. Os ruídos que ouvi agora eram metálicos. Armas? Desgraçados! Estavam acertando as paredes, minha velocidade estava acima da média, e os reflexos estavam se comparando, eu desviava com maestria.

Depois de atravessar toda a área, cheguei ao lado de fora, finalmente. Vi o gramado, algumas árvores, ainda era noite e estava tudo silencioso.

Meu ombro ardeu em dor, como se estivesse sendo arrancado do corpo. Fui baleado. Corri para me esconder, fiquei atrás de uma moita. Quando olhei para o ombro, não tinha sangue. Era bala de chumbo? Claro, eles não queriam me matar.

Minha visão panorâmica detectou um vulto. Mais um homem, mas ele estava parado do lado de fora. Era muito alto, e estava muito escuro então não vi o seu rosto. Não se tratava do líder deles, pois as roupas eram o oposto, maltrapilhas, surradas de segunda mão.

Quando os carcereiros o viram, deram a volta o evitando. Depois de um tempo imóvel, ele se movimentou para pegar algo. Pensei em uma arma, uma ferramenta, em tudo...menos naquilo. Ele estava segurando um regador de plantas, não um regador normal, um gigante de tamanho proporcional a de um ser humano.

Agora eu entendi o estado das roupas dele, ele era um jardineiro. Mas ainda não entendia o que ele iria fazer com aquilo. Os seus braços sustentavam a alça como se não pesasse nada. Ele levantou o regador, e inclinou ele vagarosamente, até a água escorrer alcançando o chão.

O movimento dele era um ato planejado, pensei. Ele queria conseguir algo com isso. Marcar território? Demonstração de poder? O liquido fluiu causando um ruído de corrente de água, mas não era água. Não, porque estava abrindo uma cratera no solo. Água não faz isso. E a cratera estava se deslocando, serpenteando até mim!

Comecei a correr, percebendo que tinha recuperado o controle de minhas pernas. O ruído da terra se desfazendo dando espaço ao buraco era alto, e foi quando percebi que o homem era um obstáculo. Ele bloqueava a saída, nós nunca sairemos daqui. Meus pés ardiam, e minha respiração estava acelerada, ofegante. O suor gotejava pelo corpo.

Quando retornei ao lado de dentro, todos estavam se batendo, andando em círculos como insetos, sem rumo.

― Franco! ― Uma voz familiar se fez audível.

― Jepsen! ― Gritei vendo o anão em meio à multidão.

― Me siga! ― Ele disse, dando passos rápidos que eu tentei acompanhar sem me perder entre tantos rapazes.

Atravessamos um corredor estreito que eu não conhecia, e acessamos uma porta que levava a outra área. Quando cheguei ao lado de fora, estava um amplo jardim, com muita vegetação. Era uma plantação. De abóboras! Suas formas redondas e alaranjadas estavam crescendo, cercadas por tentáculos verdes e folhas. No centro havia um espantalho que eu não pude ver direito.

― Onde estão suas irmãs? ― Perguntei, ouvindo minha voz sair rouca.

― Fizemos um plano de nos dividirmos, e vamos nos encontrar depois. ― O anão respondeu secamente. ― Entre aqui, eu já usei como esconderijo.

Ele estava se referindo a uma casinha escura de madeira, entramos nela, e o interior era nebuloso, e parecia velho. A primeira coisa que pensei é que devia pertencer aquele homem, ele tinha um regador, o que ele certamente usa nas abóboras.

― Não tem nenhuma luz aqui? ― Perguntei, vendo Jepsen em silêncio pegar um isqueiro em suas coisas e acender uma lamparina muito antiga que estava apoiada em uma mesa de madeira, as tábuas pareciam podres.

Aos poucos as faíscas deram vida a luz que iluminou o ambiente. Estava uma bagunça.

― Tente dormir. ― Ditou o anão, e pude ver seu pomo de Adão se mexer na luz dançante.

― Aqui?? ― Rosnei, vendo que não tinha nenhuma cama, apenas uma poltrona que aparentava ser velha e dura.


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Notas finais do capítulo

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