Meu Inferno Particular escrita por Carol McGarrett


Capítulo 5
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Eu disse que seria uma shortfic e finalmente consegui cumprir com o meu intento.
Vemos um pouco da Jenny Diretora e um pouco da Jenny como Agente da CIA. Na verdade é mais como a introdução para a chegada da Liz...
Espero que gostem.
Boa leitura.



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Diretora Jennifer Shepard

Ela voltara, se instalara como a Rainha do Lugar. Fez tudo o que a primeira diretora de uma agência armada teria que fazer.

E se perdeu no meio do caminho.

Eu não sei se foi ela, ou se foi eu. Tudo estava indo bem, até que um dia a Jen que eu conhecia e amava, não era mais a Jen.

Era a fria e distante Diretora Shepard.

Talvez eu deveria ter tentado entender o lado dela, ter conversado com ela. Mas eu duvido que ela conversaria comigo sobre isso. Jen nunca foi muito de explicar e quando ela tomava uma decisão, ela ia até o fim.

E ela foi às últimas consequências. Tão a fundo que quase perdeu o seu posto. Sua pele foi salva pela CIA. A mesma CIA em quem ela nunca confiou.

E quando tudo isso aconteceu foi que eu percebi o motivo de tê-la amado tanto e de ainda amar – não que ela vá dar uma brecha para que isso acontecesse de novo – Jenny era demasiadamente igual a mim. Talvez isso nos tenha atraído e talvez isso tenha feito que seguíssemos caminhos distintos.

Ela tentou uma última vez se aproximar.

— Sabe Jethro, houve uma época em que te convidaria para ficar e não aceitaria não como resposta. – Ela disse enquanto eu estava parado no vestíbulo da casa dela, vestindo o meu casaco.

Olhei para o rosto dela e eu não vi a Diretora Shepard, não, eu vi a Agente Especial Jenny Shepard, aquela mesma que um dia me pediu para ficar porque estava com medo da missão para a qual tinha se voluntariado, aquela Jen me pediu para ficar, e eu fiquei. Já esta Jen...

Esta, apesar de parecida, apesar de ser a mesma pessoa, não era mais a minha Jen, pelo menos não no dia-a-dia. Mas aqui, parada e me olhando com esses olhos verdes que me suplicavam algo, eu quase cedi, no fundo ela era a mesma agente com quem dividi tantos casos e tantas noites. Ela parecia cansada, mais cansada do que eu já a tinha visto. Estava esgotada e escondia outra coisa de mim. Será que toda a bagunça com A Rã não foi suficiente? E foi quando eu vi a centelha de segredo que só eu poderia identificar que me decidi.

— Hoje não, Jen.

E o olhar dela me remeteu a Paris, à noite que ela disse que me amava e eu respondi que aquele seria o dia. Depois de nove anos, eu entendi, eu a magoara lá e a estava magoando de novo. Mas ela havia feito a mesma coisa. A dívida estava paga.

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 Se fosse possível voltar ao passado eu voltaria. Até quando? Não sei, mas até alguns dias atrás, com certeza.

Meu último encontro com Jenny fica passando em minha cabeça. Ela sentada em sua cadeira, logo depois de despachar o Vice-Diretor para Los Angeles. Tentei fazê-la falar sobre o que acontecera, sobre a morte de Benoit. E ela não me disse nada, disse que não foi ela, quando tudo o que eu sabia, gritava que ela era a única que poderia matá-lo.

— Vida Longa à Rainha. – Eu disse quando ela terminou de falar.

Jen me sorriu como se soubesse que nada iria tirá-la de seu posto de Diretora.

Acontece que somente um fato poderia tirá-la daquela cadeira.

E agora Jen nunca mais voltar. A Rainha foi deposta.

Eu tive a chance de mudar tudo. Eu tive a chance de fazer tudo diferente e não fiz.

E agora não tem mais conserto.

Ela se fora. E eu achando piamente que ela voltaria do enterro de Will e iria precisar de alguém para conversar.

Não haveria mais isso. Não teria mais Jen me olhando da sacada do quarto andar, não teria mais ela me roubando o café.

Eu não poderia perturbá-la mais.

Tentei me lembrar quando foi a última vez que isso aconteceu.

Um mês atrás. E da forma mais inusitada possível.

~~~~~~~~~~~~~~~~~

Só para manter o costume, passei sem olhar pela fiel assistente da Diretora. Cynthia, a essa altura, não falava mais nada, três anos e ela simplesmente resolveu ignorar a minha falta de educação com um revirar de olhos.

Entrei na sala de Jen esperando encontrá-la sentada atrás de sua mesa, bebericando um copo de café, com seus óculos vermelhos na ponta do nariz.

Só que Jen não estava ali. Dei uma olhada em volta, talvez ela pudesse estar cochilando no sofá, ouvi dizer que ela passara a noite comandando operações no outro lado do mundo, mas se ela estivesse ali, teria me escutado entrar e teria soltado qualquer comentário sarcástico.

Não estávamos nos melhores termos desde que o FBI veio atrás dela e de DiNozzo, mas estávamos tentando melhorar a nossa relação profissional e uma de nossas marcas sempre foi a respostas ácidas e sarcásticas.

A Diretora não estava, todavia tinha algo muito mais interessante em cima do sofá.

Três grandes sacolas com logotipos de lojas infantis.

Nunca vi Jen com crianças. E nem sabia se ela quis ou queria ser mãe um dia. E tentar imaginá-la com uma criança aguçou a minha curiosidade, o que tinha ali dentro?

Me sentei no sofá e abri as sacolas, nada ali estava embrulhado para presente, então presumi que eram compras para a própria Jen. E após tirar a primeira caixa de dentro da sacola me deparei com um par de sapatinhos.

Sapatinhos de bebê, brancos e com detalhe em vermelho.

Deixei a caixa aberta em cima da mesa de centro que tinha ali e busquei por mais coisas. A próxima que vi foi um vestidinho. De tecido branco, todo estampado com flores vermelhas, claramente combinando com os sapatinhos.

E fui tirando mais coisas, a certa altura eu já não tinha dúvidas, aquilo era uma compra de enxoval de bebê.

Jenny estava grávida.

E eu me perguntava quem era o pai? E quando pensei nessa pergunta não contive a onda de ciúmes que me atingiu. Não era para me sentir assim quando há pouco mais de um mês eu havia declinado a sua proposta.

Será que ela estava com alguém e mesmo assim...

Não, Jen não faria isso, faria?

Balancei a minha cabeça e continuei a olhar as compras, fascinado como tudo aquilo era diferente e familiar ao mesmo tempo. Quase vinte e cinco anos haviam se passado desde que me vi frente a frente com um enxoval de bebê e tudo ainda parecia o mesmo.

A última coisa que tirei da uma sacola de papel, foi uma caixa de madeira, tinha algo entalhado na tampa, mas não pude prestar atenção nos detalhes. Pois assim que me virei para apoiar a caixa na mesa, me vi fitando um par de sapatos de salto preto. E o pé direito batia no chão, uma clara evidência de que ela estava possessa.

— Perdeu algo nessas sacolas, Jethro? – Jen me perguntou olhando diretamente em meus olhos.

— Passe as minhas congratulações para ao futuro papai. – Disse. E ela não perdeu o tom de ciúme que eu não consegui disfarçar, levantando uma sobrancelha na minha direção.

Devagar ela se sentou na poltrona e cruzou as pernas, ainda me encarando. Notei que a sua escolha de roupa era praticamente a mesma que ela usava no seu primeiro dia ao meu lado.

— Sério. Você quer mesmo que eu dê os parabéns a um Comandante dos SEAL’s?

Então ela tinha um namorado na Marinha. E ele fazia parte dos Navy SEAL’s. Quem será que ele era?

Jenny tinha um brilho nos olhos que há tempos não via. E um sorriso presunçoso.

— Acho que esqueci de te dar os parabéns também, Jen. Só não sabia que você estava em um relacionamento tão sério.

E foi aí que ela contra-atacou.

— Eu estou enlouquecendo ou acabei de escutar uma nota de ciúmes na sua voz?

Fingi que não a escutei.

— Anda, Jethro, me responda. Você está com ciúmes? – Ela descruzou e voltou a cruzar as pernas, sabendo muito bem que esse movimento chamaria a minha atenção.

Ela sabia a resposta, estava para nascer alguém que me entendia como ela fazia.

Ela se apoiou no encosto do sofá, tirou os sapatos e apoiou as pernas no assento, ainda tinha seus olhos em mim.

— Não são para mim. Não posso ter filhos, Jethro. – Sua voz séria.

Foi quando eu encarei o seu rosto.

— Vai adotar uma garotinha? – Novamente a imagem de Jen com um bebê passou pela minha cabeça.

— Com o trabalho que tenho, seria muito egoísmo de minha parte querer ter uma criança para me receber todos os dias em casa e não estar lá quando ela precisasse de mim. Não Jethro, não vou adotar, mas ainda terei uma criança em minha vida.

Eu estava tentando entender o seu raciocínio confuso. Por que Jen sempre tinha que me confundir?

Ela percebeu isso e abriu um raro sorriso. Um sorriso autêntico. Que me remeteu a Paris.

— Minha irmã está grávida. A bebê deve nascer dentro de duas semanas. São presentes para ela. Além de tia, serei a madrinha. – Ela continuou a falar, ainda com o mesmo sorriso no rosto. – Comprei isso, – e Jen apontou para o vestidinho. – apostando todas as minhas fichas que ela será ruiva.

— Dê os meus parabéns à sua irmã. – Pela primeira vez me vi sem graça. Nada disso era para Jen em si, mas para a sobrinha dela.

— Vou dar. – Ela pegou o par de sapatos. – Sabe que eu estou curiosa e ansiosa para conhecê-la? É estranho. Eu só vi uma imagem do ultrassom da Elizabeth, e já amo aquela coisinha pequena. Eu faria qualquer coisa por essa menininha. Assim como faria por você. – Ela terminou, ainda com o sapatinho na mão, tinha um sorriso nos lábios.

Fingi que não escutei o que ela falara ao final. Não queria que ela se fechasse de novo. Por esses breves minutos, ela tinha voltado a ser a despreocupada Agente Shepard.

— Espere até que ela cresça e comece a te gritar a cada segundo. Quero ver se você ainda vai falar isso...

Ainda me sorrindo, ela me olhou.

— Tenho certeza que sim. Mas você melhor do que ninguém sabe essa resposta.

Me lembrei de Kelly. Jen tinha razão.

Nós dois passamos um tempo ali, em silêncio. Ela tentando descobrir como seria a vida dali para frente, e eu me lembrando de Kelly. Foi quando me lembrei de algo.

— É por conta da sua sobrinha que você vai tirar uma licença.

— Sim. Vou ajudar a minha irmã nas primeiras semanas. E será bom para todo mundo. O clima está um pouco pesado desde a auditoria do FBI.

~~~~~~~~~~~~~~~~

E essa foi a última vez que nós conversamos propriamente. No dia seguinte, Jen viajou não sei para onde, Vance assumiu temporariamente. Na semana que ela voltou, Will morreu. Ela voou para Los Angeles no mesmo dia.

Só para ter o mesmo destino.

Não me importava que ela tivesse morrido por mim. Era errado ela fazer isso. Ela não devia ter feito isso.

Eu queria poder dizer a ela que era uma decisão irracional. Queria dar um tapa atrás da sua cabeça e chamá-la para uma reunião no meu escritório.

Não tinha mais jeito.

Quando me vi no restaurante abandonado. Tudo o que tinha restado dela era uma placa com seu sobrenome e uma poça de sangue.

Eu não tinha permitido que ela morresse.

Não tive a coragem de abrir o saco preto onde o corpo dela estava. Não queria lembrar de Jen com os olhos verdes sem vida. Não seria a Jen que eu conheci.

No seu funeral, várias pessoas estavam presentes, políticos, Secretários, agentes do NCIS e até de outras agências. Mas quem me chamou a atenção foi uma ruiva ao lado de um Comandante da Marinha. Ela tinha uma bebê no colo e olhava desolada para o caixão.

A irmã e a sobrinha de Jen.

Ela não ficou toda a cerimônia, a bebezinha começou a chorar. E a ruiva se foi. Sem olhar para trás. Não tinha muito o que se fazer ou dizer ali. Não mais.

Eu fiquei mais tempo. Não sei o porquê. Todos já tinham ido para o carro, teríamos que voltar para o NCIS, mas algo me dizia para ficar. Foi quando eu tive a nítida impressão de estar sendo vigiado.

Vasculhei todo o cemitério e não vi ninguém.

Foi quando uma frase de onze anos atrás me veio à mente: 

— Você não vai ficar livre de mim tão facilmente, Gibbs.

E eu quis que isso fosse verdade.

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Agente Infiltrada da CIA, Jenny Shepard

Não foi fácil. Foi a decisão mais difícil, que tomei. Mas era o melhor caminho.

Eu tinha que pagar de algum modo pela morte de La Grenouille. E esse foi o caminho menos burocrático.

A CIA salvou a reputação do NCIS. Salvou a minha reputação, tudo bem que com uma ou outra ameaça nada velada de Jethro. E agora eu estava pagando o preço.

Eles inventaram uma história de uma doença incurável. Achei fraca e sem fundamento, ainda mais tendo uma irmã médica.

Eu saí nos meus termos. Acabando com a última ponta solta da minha carreira.

Svetlana.

E ainda mantive a minha palavra. Eu faria qualquer coisa por Jethro. E fiz. Fiz o melhor possível.

Para muitos foi uma morte de heroína. De redenção.

Eu me senti fugindo. A única pessoa que realmente sabia da verdade era Vance, e não me pergunte como. Ducky jurou segredo. E a Diretora Jenny Shepard foi sepultada na presença de amigos, familiares e pessoas importantes de Washington.

Foi doloroso ver Heather com Lizzy nos braços. Minha irmã caçula segurava apertado a filha para tentar ser forte pelas duas. Na direção oposta a elas, vi Jethro e toda a equipe.

Abby chorava copiosamente. Tony e Tim mantinham-se compostos. Ziva parecia que escondia seus sentimentos. Ducky foi o único que os revelou por completo, mas ele não estava de luto pela minha morte, ele estava de luto por tudo o que ele sabia que tinha acabado. Justo ele que sempre me disse para deixar de ser teimosa e tentar ser feliz.

Jethro... ele olhava na direção de minha irmã. E eu pude ver que ele estava sim, sofrendo. Não era essa a minha intenção. Nunca foi. Quando Heather saiu com Lizzy que chorava de dar dó, eu vi que ele as seguiu com o olhar e eu torci para que ele não pegasse para si a responsabilidade de tomar conta das duas. Eu queria que ele me esquecesse. De todas as formas.

O funeral acabou, abaixaram meu caixão. Jethro ainda ficou ali, não sei fazendo o que... e me foi irresistível não observá-lo mais uma vez, pela última vez. Fiquei quieta, um pouco afastada, porém, não tem como não ser notada por um atirador treinado, e ele sentiu a minha presença.

Vasculhou por todo o cemitério e parou observando o local onde eu estava.

Me mantive oculta nas sombras das árvores.

— Você não vai ficar livre de mim tão facilmente, Gibbs. – Pensei na frase que há tantos anos tinha falado com ele.

E era verdade. Uma das minhas poucas exigências para compactuar com isso era: a total segurança da minha irmã e, principalmente, da minha sobrinha. A CIA jamais colocaria as mãos nelas e que ninguém na MCRT ficasse sabendo sobre mim e, claro, nada os acertaria também. Eu era a única responsável por tudo.

E só eu pagaria o preço.

—-----------------

E assim os anos se passaram. Sempre que eu podia, eu vigiava a minha irmã e sobrinha. Lizzy estava cada dia mais parecida comigo, para o total desespero de Heather. E, também, vigiava sete pessoas. Uma sendo sempre a mais complicada.

Três anos após a minha “morte”, alguém da CIA chegou muito perto de Elizabeth. Tive que intervir.

Disfarçada, comecei a observá-la de longe, tinha dias que era Heather quem a levava para brincar no parque próximo à casa delas, outros era James. E sempre fora fácil enganar o meu cunhado.

Me sentei do lado dele, e fiquei ali, disfarçada como uma senhora que fazia tricô e matava a saudade de seus netos, observando as crianças brincando. Lizzy corria de um lado para o outro, era a única criança ruiva e seus cabelos vermelhos se destacavam.

Uma hora ela veio correndo para mostrar algo para James. Era uma flor. Uma orquídea que ela tinha encontrado.

— Papai, olha que linda! Vou leva pa  mamãe!

 - Acho melhor, não, Lizzie. Sua mãe não gosta de orquídeas.

— Não? – Ela tombou a cabeça. Po que?

— Era a flor preferida da sua tia.

— Da tia Jen?

— Sim...

— Posso leva pa ela então?

— Hei princesa. Hoje não vamos visitá-la, dá próxima vez, tudo bem?

Essa pequena conversa me pegou de guarda baixa. Depois, James me surpreendeu.

— É estranho. Minha filha sente falta da tia que nunca conheceu propriamente dito e vive falando nela.

— Talvez a tia deva ser o anjo da guarda dela agora.

— Não duvido. Jenny gostava demais dessa pequena.

O telefone celular dele tocou.

— A senhora se importa de olhar a minha filha para mim, por alguns minutos?

— Mas é claro que não, não se preocupe. Leve o tempo que precisar.

— Aqui tem algumas coisas que ela pode precisar. Estão nessa mochila.

Eu já tinha observado a rotina deles com muito cuidado. E essa era a oportunidade perfeita.

James saiu e com pouco, Lizzy veio procurá-lo.

— Cadê o papai? – Ela ainda tinha a orquídea na mão.

— Ele foi atender a um telefonema, já está voltando, minha querida.

— Ah... oi, eu sou a Lizzy.

— Jennifer. – Me apresentei.

— A senhola tem o mesmo nome da minha tia.

— Eu conheci a sua tia. – Falei.

Lizzy arregalou os olhos.

— E ela me pediu para que te passasse isso quando te encontrasse. – Entreguei para a pequena uma caixa de madeira que meu pai havia em dado quando tinha a idade dela, tinha um monograma com as letras J e S entalhados.

Lizzy abriu a caixa fascinada.

— O que é isso?

— Isso é um distintivo. Sua tia era a Diretora do NCIS. E pediu que eu te entregasse o distintivo dela para você guardar. E essa aqui era ela. – A foto que passei para ela foi uma que Jethro tirara de mim em Paris.

Lizzy olhou para a foto e para o distintivo.

— E você tem que me prometer uma única coisa, você pode fazer isso, Lizzy?

— Posso. Eu posso sim.

— Você tem que guardar isso de todas as pessoas. Não pode falar nem com os seus pais. E se um dia precisar de ajuda. Diga que quer falar com o NCIS e mostre essa foto. Eles vão saber te ajudar.

Lizzy balançou a cabeça confirmando.

— Você se parece demais com a sua tia.

— Mamãe fala isso também. – Ela tinha um sorriso enorme. – Quelia que a tia Jen estivesse aqui.

— Ela sempre vai te proteger, pequena. – Falei. – Agora eu vou guardar a caixa na sua mochila, tudo bem?

— E eu vou deixa no meu quato. Guadada. Bem guadada.

— Isso mesmo. – Dei um beijo na testa dela e logo James apareceu. Eles tinham que ir,

— Tchau, Jennife. – Lizzy se despediu de mim e James me agradeceu por tomar conta da garotinha.

A ameaça que eu achei que vinha, nunca apareceu. Mas um ano depois, ficaram mais reais e pessoais.

Lizzy estava com quatro anos. E eu pensei que não faria mal que ela tivesse um protetor particular.

Vasculhei por todos os cantos. Até que encontrei. Um filhote de husky siberiano com o pelo totalmente branco e grandes olhos azuis gelo. E o cachorro me lembrava muito Jethro, já que seu cabelo já estava mais branco do que castanho há tempos.

Encomendei o filhote e mandei entregá-lo na casa de Heather.

É claro que a minha irmã iria devolvê-lo. Tive que pessoalmente pegar o cachorro e deixá-lo na porta da casa. Lizzy ficou encantada quando ele voltou. E Heather não teve outra escolha a não ser aceitar o cachorro, que agora se chamava Ice.

Nada aconteceu por doze meses.

Até que James foi assassinado e Heather estava do outro lado do mundo, assim como eu.

A notícia me pegou de surpresa. Não tinha nenhuma ameaça concreta contra ele. Nenhuma. E mesmo assim ele morrera.

Minha equipe em solo americano ficou em alerta. Quando vi que foi a MCRT quem fora designada para o caso, consegui ficar mais calma. Jethro cuidaria muito bem da minha afilhada.

Até que assassinaram Heather. E eu tive que voltar. Quando descobri que a própria CIA tinha feito isso... eu ameacei meia agência até saber os motivos.

Na mesma hora voltei para os EUA e tive que resolver alguns problemas internos. O que eu fiz não foi bonito. Não foi. Mas eu vinguei meu cunhado e minha irmã. E passei a dar todas as dicas para Jethro sobre quem era o culpado. Até entreguei o atirador de bandeja para o NCIS.

Para a minha total surpresa, Jethro adotou Lizzy e passou a chamá-la de Liz. Quem mania irritante de encurtar os nossos nomes! E eu me vi cada dia mais atraída de volta para aquela casa em Alexandria. Agora ali, moravam as duas pessoas mais importantes da minha vida.

Mesmo contra as ordens diretas que eu tinha recebido seis anos atrás, eu não pude evitar. Eu apareci. A tentação era grande demais.

Tudo o que fiz foi ir para o porão. E lá ainda tinha um barco sendo construído. Todos esses anos e Jethro ainda fazia isso.

Fiquei curiosa com o nome. Tão curiosa que deixei um bilhete.

“Obrigada pelo Bourbon, você ainda se lembra de qual eu gosto! E muito obrigada por cuidar de Lizzy. Fico te devendo mais uma. Um dia prometo te contar tudo, mas ainda não é a hora. E espero que esse barco que está construindo não se chame Diane, pelo amor de Deus! Te amo.”

Desse dia em diante, todas as vezes que estive na cidade, acabei por ficar na casa dele. Sempre a mesma rotina. Sempre o mesmo agradecimento de minha parte. E cada vez que eu fazia isso, minha vontade de vê-lo de perto só aumentava. Um dia tomei coragem, depois de velar o sono de Lizzy por quase uma hora, parei na porta do quarto dele. Eu sabia que ele não estava dormindo e que sabia que eu estava ali, assim, abri a porta. Ele não pôde me ver, mas eu o vi.

— Eu te amo. – Sussurrei, fechei a porta e desci. No outro dia, acordei cedo, fiz o café e deixei a casa que passei a chamar de minha. Não iria demorar muito mais para que eu voltasse.

E mais cedo do que eu pretendia, eu voltei. Graças a um baile de Pai e Filha.

A emoção que senti em poder ver Jethro de novo, de poder tocá-lo, só não foi maior do que a emoção de poder segurar a minha afilhada meus braços quando ela veio correndo gritando:

— Eu sabia que não tinha sido um sonho! Eu sabia que você não era um fantasma! Você tá viva! – O abraço que ela me deu, foi como se ela fizesse isso todos os dias. E depois, virou para Jethro e gritou – Papai! Papai! Ela tá viva!

Segui o olhar de Lizzy até o “pai” dela, Jethro me sorriu. Ainda tínhamos o que conversar. O que acertar, mas eu li em sua expressão o que passava em sua mente:

Agora éramos uma família.

É claro que demorou para que tudo se ajeitasse. Foi no Natal. E foi a Lizzy a responsável. Ela reuniu todo mundo e pediu que conversássemos. Que tudo fosse resolvido.

Velhas mágoas foram ditas e explicadas. As amizades começaram a ser restauradas. Não tinha nada que não fizéssemos por Lizzy afinal.

Mas de todas as conversas, de todos os perdões que foram ditos e aceitos, o mais importante veio tarde da noite, dentro de um porão em uma casa em Alexandria.

— Você tem todo o direito de me mandar embora, Jethro, e eu vou aceitar isso. Só te peço que me deixe ver Lizzy. – Pedi. Eu estava sentada na bancada de trabalho dele e balançava nervosa as pernas, ele estava fazendo o berço para a filha de Jimmy e Breena quando ele se virou na minha direção e disse:

— Acha que eu poderia fazer isso com a Lizzy? Acha que ela me perdoaria?

— Ela te ama tanto que tenho certeza de que entenderia. Um dia ela vai saber de toda a verdade, Jethro, de como a nossa história se cruzou e de tudo o que realmente aconteceu. E ela vai poder decidir de qual lado quer ficar.

— E você acha que foi a única que errou por todo esse tempo?

Não respondi.

— Não foi, Jen. Talvez fosse você quem tinha mais segredos. Mas eles não existem mais.

— Como você sabe?

— Eu posso te ler tão bem quanto você me lê. – Ele disse com um sorriso vitorioso nos lábios.

— É mesmo? – O desafiei.

— Claro. Quer que eu te diga como eu sei que você está nervosa? Ou como eu sei você nunca se foi realmente? Ou como eu sei quando está mentindo?

Levantei uma sobrancelha.

— Quando você está nervosa, morde o lábio e balança a perna. Liz faz a mesma coisa. Às vezes acho que ela é mais a sua filha do que sua sobrinha. Quando você mente, seu olho direito treme.

— E como você sabia que eu não tinha morrido?

— Você me disse uma vez: “Você não vai ficar livre de mim tão facilmente, Gibbs. Eu vou ser o seu pior pesadelo.” – Ele repetiu o que eu havia dito na noite em que o confrontei por conta da nota de minha avaliação.

— E se eu mudei de ideia? – Tive que tesá-lo.

Jethro largou a ferramenta que ele usava do meu lado. E ficou de pé na minha frente, chegando o seu rosto a centímetros do meu.

— Mudou, Jen? Olhe para mim e responda. Você mudou de ideia? – O bastardo estava usando uma blusa azul, seus olhos mais destacados do que nunca, o que eu poderia dizer?

— Mas que merda, Jethro!! – O puxei pela gola da camisa e o beijei. Ele me correspondeu, quando já estava ofegante, disse: - Você sempre vai ser o meu inferno particular, Jethro. Sempre.

— Engraçado, Jen. Costumava pensar isso de você.

— Não pensa mais? – Olhei para ele, sem soltar o abraço em seu pescoço.

— Não. Agora eu tenho certeza.

Demorou anos. Muitos anos. Mas, finalmente, eu estava nos braços da minha maior tentação. Daquele que pareceu ser enviado para me tentar. E que acabou como o pai da minha filha. E meu marido.

É o mundo dá voltas. E nós somos as provas vivas disso!


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Notas finais do capítulo

E é o fim!
Tentei ao máximo não deixar pontas soltas com as duas histórias da Elizabeth, não sei se consegui, mas tentei.
E antes que falem que tem um furo, porque o Gibbs sabia da Liz. Reparem que eu não citei nem o nome da irmã ou do cunhado da Jenny. e Elizabeth é um nome muito comum.
Confesso que me diverti escrevendo a cena em que o Gibbs descobre o enxoval da bebê. Jenny além de furiosa, pegaria no pé dele só para arrancar uma nota de ciúmes. Afinal, Gibbs fez isso com ela (maldita Coronel!).

Vou ficando por aqui.

Agradeço os comentários, a quem leu e acompanhou.

Até a próxima!!

xoxo



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