Meu Inferno Particular escrita por Carol McGarrett


Capítulo 4
Agentes Infiltrados


Notas iniciais do capítulo

Eu juro que tentei fazer o meu melhor para me distanciar da minha outra fic e pegar tudo o que foi dito na série.
Espero que tenha ficado bom..
Boa leitura!!



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Nossos disfarces consistiam em sermos um casal. Como se fosse muito difícil para nós dois. O voo até Paris e depois a conexão até Marselha foi tranquilo, Jethro dormiu o tempo inteiro e eu me vi à toa enquanto ele roncava e ressonava me usando de travesseiro.

Nossa primeira casa segura nem era uma casa em si. Consistia em um sótão caindo aos pedaços, com vista para o porto. Lá dentro, tinha, além de uma velha cama de metal, um frigobar, um banheiro e... só.

— Tratamento cinco estrelas. – Brinquei assim que coloquei minhas duas malas no chão.

— Não vamos passar muito tempo aqui, Jen.

— Eu sei. Mesmo assim, estamos no meio do verão. E esse lugar só tem uma janela. Vamos cozinhar aqui dentro.

— Exagerada.

O primeiro dia passou rápido. Por conta do fuso-horário, eu nem sabia ainda onde estava. Já a noite não foi tão fácil. Mesmo sem sol, o calor não diminuiu, na verdade, cada hora ficava pior. E até Jethro teve que concordar comigo quanto a isso. Não tinha um espaço dentro daquele lugar em que pudéssemos classificar como fresco. Estava tão quente, que acabei por ignorar a cama e dormir no chão, com uma toalha molhada perto de mim.

O segundo dia foi ainda pior, descobrimos em uma notícia de jornal, que este era o verão mais quente dos últimos cinquenta anos.

— Não tinha uma hora melhor para vir para cá, não é mesmo? – Comentei, enquanto batia algumas fotos.

Jethro me jogou uma garrada de água, e tudo o que eu consegui pensar era estar na beira de uma piscina.

Pessoas com roupas de banho iam e vinham no porto abaixo. E continuamos aqui. Além do calor, outra coisa estava começando a incomodar.

Em um lugar tão pequeno e só com uma janela, é normal que qualquer pessoa vá buscar pela única fonte de ar fresco. Acontece que não era só isso que Jethro buscava. Ele queria me atrapalhar também. Mas como eu tinha chegado até ali primeiro, resolvi impor minha posição. Claro que ele não gostou e falou qualquer coisa sobre eu ser a novata.

— Eu não sou mais a sua novata, Jethro. Agora sou sua parceira, eu te avisei que você não ia se livrar de mim.

— E quando foi isso, Jen? – Ele perguntou sorrindo com deboche.

Não resisti e peguei a primeira coisa que tinha em mãos, a toalha molhada que de tempos em tempos eu passava em meu rosto, e arremessei bem na cara dele.

Jethro não arremessou a toalha de volta como eu achei que ele faria. A manteve com ele. E eu fiquei possessa. Se quisesse uma alternativa para diminuir o calor, eu teria que sair de onde estava, e a brisa do mar estava fazendo o seu trabalho quase muito bem.

— Me devolve a toalha, Jethro. – Ordenei, mesmo sabendo que corria o risco de recebê-la no meio do rosto.

— Você quer isso aqui, Jen? – Ele pegou a toalha e me mostrou.

— Mande para cá.

— Por quê? Está com calor? – Ele a abriu e estendeu em volta do pescoço. – Não é que funciona!

Estreitei os olhos. Eu já estava nervosa com o calor, se Jethro continuasse a me atazanar eu ia descontar toda a minha raiva nele.

Só que ele é teimoso ou gosta de brincar com o fogo, pois teve a cara de pau de molhar a toalha mais um pouco e dizer que estava muito confortável.

— Jethro... – adverti.

Ele abriu um sorriso cínico.

— Que foi, Jen? Precisa de algo?

— A toalha...

E ele fez igual a uma criança.

— Vem buscar.

Eu queria muito ignorar o desafio dele, só que o calor que eu sentia não iria deixar. Não mesmo. Fingi olhar a movimentação no porto, tirei mais algumas fotos, mesmo que nada estivesse acontecendo lá embaixo, com o sol já se pondo e esperei. Uma hora Jethro iria de distrair com alguma coisa.

Levou dez minutos e toda minha paciência, até que ele ficou distraído com algo. Eu dei o bote para pegar a minha toalha e garantir a minha posição junto à janela.

Eu só não contava com a poça de água que tinha no piso, fruto de Gibbs ficar molhando a toalha com frequência. Pois, assim que precisei de impulso para me levantar de perto de seus ombros, escorreguei.

Contudo não me esborrachei no chão como achei que aconteceria. Não. Eu caí bem em cima de Jethro. E foi só então que percebi que ele estava sem camisa. Ao invés de me afastar como teria sido sensato por conta da temperatura, minha mente traidora me lembrou de alguns sonhos que andei tendo. Isso não ajudou. E, também, não ajudou a forma como Jethro me encarou e como seus olhos brilharam.

Na Europa, então.— Veio uma lembrança em minha mente.

Estávamos na Europa, não tínhamos nada para fazer e estava um calor dos infernos. E o mais importante, não tinha nada para nos deter.

Era a nossa segunda noite em Marselha e a primeira que dormimos juntos.

Nossa tocaia demorou uma semana. E depois que descobrimos que nada acontecia à noite naquele cargueiro libanês, passamos a desfrutar muito melhor de nossas noites, mesmo com todo aquele calor.

E a nossa missão foi progredindo.

Até que um dia me vi obrigada a roubar um veleiro.

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Não tinha como fingir que a missão seria fácil, não tinha como fingir que Jenny era a melhor parceira que eu tive em todos os sentidos. Mesmo que às vezes ela escorregasse. Como hoje.

Uma fuga que acabou com toda a polícia de Marselha atrás de nós. Até Ducky entrou no meio da confusão e acabou por derrubar um policial de cima do penhasco, com algumas testemunhas perto. A prisão nos esperava, ou coisa pior. Não se empurra policiais de um penhasco e se sai andando pela rua como se nada tivesse acontecido.

Não tivemos tempo de nada. Parei o carro e mandei Jen comprar passagens para fora da França. Ela correu até a estação, eu contava os minutos, nossos rostos, ou ao menos, o meu e de Ducky, estavam por todos os lugares.

— Mais rápido Jen! – Murmurei enquanto ela não voltada.

— Acalme-se Jethro. Não sabemos como está a estação.

Avistei-a saindo pelo portão principal. Ela me viu e sorriu. Isso era bom sinal. Depois sua feição ficou séria e seus olhos se arregalaram. Tentei entender o que ela me dizia com o olhar, não tive tempo.

Uma mão me puxou pelo colarinho, da camisa, outra abriu a porta do carro e me tirou de lá, vi que fizeram o mesmo com Ducky. Quando me jogaram de encontro ao carro para me algemarem, Jen passava bem à nossa frente. Ela viu o que acontecia, seu olhar se encontrou com o meu e depois ela virou o rosto como se nunca tivesse me visto.

Era inacreditável que ela tivesse feito isso.

Fomos levados para uma cadeia nos arredores de Marselha. Eu não sabia se estava com mais raiva de ter sido preso ou de ver que Jen simplesmente me abandonara ali.

Ducky nem tentava mais conversar comigo. Ele murmurava consigo mesmo que era muito bom que não tivessem levado Jennifer.

Agora ela era realmente Jennifer. Um nome completamente desconhecido para mim. Tão desconhecido quanto a atitude que ela tomou naquela rua.

E cada vez que eu pensava em como ela tinha agido, eu queria delatar a presença dela.

A noite tinha caído. Estávamos em uma cadeia relativamente pequena, só dois guardas. Um na portaria e o outro no corredor das celas.

Eu não vi o que aconteceu. Quando dei por mim, uma mulher de cabelos pretos e curtos estava abrindo a cela. Da cela em frente era possível ouvir os assobios e os outros chamando por ela.

— Quem é você? – Perguntei,

Ela levantou a cabeça e um par de olhos verdes me encarou.

— Quem mais você acha que faria isso por você, Jethro? – Jen sibilou.

A porta foi aberta.

— Andem, não acho que eles vão ficar desmaiados por muito tempo, ainda mais com essa algazarra.

Na cela em frente, um dos ocupantes tentou puxar Jen para ele. Ela, furiosa, chegou muito perto da grade, estendeu a mão para ele. O sujeito deu um passo para frente e Jen passou a mão por trás da cabeça dele e a bateu com força contra as grades.

Ne me touche plus jamais avec ces mains sales.— Ela sibilou para o homem e os demais se afastaram.

Depois andou para a única saída.

— Esperando um convite? – Ela perguntou.

Fiz o mesmo caminho e só então percebi que o carcereiro estava desmaiado, assim como o outro guarda.

— Você fez isso, Jennifer? – Ducky perguntou.

— Tive que improvisar. – Ela respondeu. – Aqui. Vistam isso. Temos passagens para o primeiro trem até a Calais, e de lá poderemos atravessar o Canal da Mancha.

— Você pensou em uma fuga da França? – Ducky estava surpreso.

— Quando vi que levaram vocês dois, eu precisava fazer alguma coisa. O meio mais fácil de viajar por aqui é de trem.

— E como vamos atravessar o Canal da Mancha, Shepard?

Ela se encolheu quando a chamei pelo sobrenome, mas não desistiu.

— Ainda bem que você parece saber velejar, não é, Gibbs?

Foram mais de cinco horas de trem até Calais. Assim que conseguimos um lugar fora dos olhos da população e da polícia, Jenny desapareceu.

Voltou algumas horas depois.

— Vamos, já temos o nosso veleiro. Vamos ver se você é realmente um bom velejador, Jethro.

E eu vi o que ela tinha feito e nas circunstâncias nem me importei.

— São 33 km até Dover na Inglaterra. Não deve ser tão difícil.

Difícil não foi, mas com certeza não era o que o nosso diretor queria ouvir quando tivemos que relatar a nossa fuga e como ela foi feita.

Ficamos uma semana em Londres até que as coisas esfriassem. E exatos dez dias da fuga em Marselha, estávamos embarcando para Positano.

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O que era para ser só mais uma tocaia, se transformou em um inferno. Nossa estadia na Itália foi mais extensa, dois meses, nossos disfarces ainda estavam intactos, mesmo depois do ocorrido na França, a assim, continuamos com a missão. Éramos o feliz casal de turistas em lua de mel durante o dia, e os negociadores de armas à noite.

Avaliamos possíveis alvos, reportamos tudo o que podíamos por semanas. Dessa vez não haveria mais sustos.

E eu estava enganada. Se ver Jethro e Ducky serem presos em Marselha quase me deixou maluca, eu sabia que hoje eu morreria de preocupação.

Para falar bem da verdade, eu nem soube como aconteceu. Estávamos no cais, um carregamento que deveríamos identificar e colocar um rastreador tinha acabado de chegar. Tudo estava correndo bem. Jethro parecia até natural nesse meio, muito mais do que eu, para falar a verdade. Até que eu me distraí por um minuto. Foquei em um outro barco que avançava pelo píer. E quando reagi mais por impulso do que por comando, me agachei e me escondi atrás de um dos tratores.

Procurei por Jethro diante da saraivada de balas, certa de que se eu tentasse bancar a heroína dessa vez ele acabaria comigo. O encontrei um pouco mais afastado.

E ele estava sangrando.

Eu entrei no modo automático, só sei que não poderia deixá-lo ali. O arrastei por alguns quarteirões. Não foi fácil, eu sempre tinha que parar, ora para ver como estava o ferimento, ora para ver se não estávamos sendo seguidos. A certa altura, ele me mandou correr.

— Sério. Te deixar agora e nesse estado? Em que mundo você vive? – Retruquei.

Nos alcançaram e eu era a única que poderia fazer qualquer coisa. Entrei no tiroteio sem saber se sairia, era realmente uma situação de matar ou morrer.

Saímos vivos e eu nunca olhei para trás.

Na casa segura, pude ver com cuidado o que tinha acontecido com Jethro. Era uma pena que Ducky estava em Londres.

— Isso não está bonito. – Comentei.

— Já tive piores. – Jethro murmurou encarando o ferimento.

— Vai bancar o fuzileiro machão?

Ele olhou para mim. É claro que ia.

— Para a sua sorte, entrou e saiu e pelo lugar, não pegou nenhum órgão vital. Mas isso vai doer. – Informei quando comecei a limpar o ferimento.

Jethro permaneceu imóvel, mesmo que eu não tivesse muita perícia em ser socorrista. Fiz o meu melhor e depois de por um curativo, o mandei para a cama. Ele, sendo ele, bateu o pé e disse que tinha que ficar de vigília, alguém poderia ter nos seguido.

— Não tinha ninguém, Jethro. Por favor. Vá descansar. Você com falta de sono e cansado não vai servir para nada. – O empurrei para o quarto.

Momentos depois entrei e entreguei dois remédios para ele. Tive que responder à sua pergunta muda:

— Um para a dor e o outro para não infeccionar. – Falei quando entreguei o copo d’água. - Deve te apagar por quase dez horas.

Saí e fui verificar se realmente não tinha ninguém no nosso encalço. Não tinha. Quando voltei para o apartamento, me pus a pensar que algo poderia ter dado muito errado hoje. Errado demais, erraram o coração de Jethro por centímetros.

Parei na porta do quarto, ele dormia profundamente e eu torcia para que não estivesse com dor. E muito relutantemente tive que aceitar que a mesma preocupação que sentia agora, foi a que ele sentiu quando eu corri de encontro àquele atirador em Baltimore.

Merda, es estava cada dia mais apegada a Jethro. E eu não sabia o que esperar dessa relação complicada que tínhamos.

Dois dias depois, ele já estava bem melhor, ou pelo menos com um humor sarcasticamente elevado.

— Isso definitivamente virou um casamento. – Ele falou se sentado no sofá, perto de onde eu tinha apoiado os pés.

— Defina “isso”?

— Nós. Você sentada no sofá lendo, ou trabalhando, eu andando de um lado para o outro sem fazer nada. Você não conversa comigo e ação que é bom... – Ele deixou o restante no ar.

Levantei meus olhos do arquivo que lia para encará-lo. Era inacreditável que depois de quase morrer, ele ainda não conseguia tirar a cabeça de dentro do quarto.

— Você quase morreu há duas noites, Jethro. Tenha um pouco de autopreservação.

—  Correção, Jen. Eu fui baleado, você que está exagerando a minha condição.

Levantei o meu pé que estava no colo dele e cutuquei o seu abdômen, um pouco perto de onde estava o curativo. Ele fez uma careta.

Isso não parece pouca coisa para mim. Se você está até fazendo careta de dor. Parece que está com um pé na cova. – Informei.

Ele não me deu chances de tentar fugir ou fazer qualquer coisa para pará-lo. Me puxou pelas pernas e quando vi, me prensava no sofá.

— Eu vou te mostrar que eu não estou com um pé na cova, Jen. – Sua voz era rouca em meu ouvido.

Oito dias depois estávamos indo para a Sérvia. E só de pisar naquele lugar, eu já tive um pressentimento funesto.

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Jen passou o dia todo antes da reunião andando de um lado para o outro. Era incapaz de ficar quieta, mesmo que eu a perturbasse. Em nenhuma vez ela retrucou acidamente ou tentou me tirar do sério com respostas que poderiam ser entendidas com vários sentidos. Ela simplesmente continuava andando e mordendo o dedão.

— O que você tem? – Perguntei pela milésima vez.

— Já disse que não sei! – Ela levantou os braços. – Não sei se não gosto desse lugar, ou se algo está para acontecer. Eu só tenho um péssimo pressentimento sobretudo.

A puxei para o sofá.

— Você está estranha desde Positano, Jen.

— Não estou estranha, Jethro! – Ela me empurrou e depois abraçou os joelhos. – Eu só não esperava que a cada lugar que passássemos algo fosse acontecer.

— Em Londres não aconteceu nada.

— Nós não saímos muito do apartamento em Londres, não é mesmo? – Ela me olhou nervosa. – Eu... – começou e parou.

— Você... – a instiguei.

— Eu fiquei apavorada em Positano! – Ela confessou.

— Não me pareceu apavorada. Você estava além de decidida ali.

— Não na hora do tiroteio. Eu sabia o que fazer ali.

E eu entendi.

— Eu não sabia o que fazer com você, Jethro. Não deu para saber o quão grave era o ferimento, eu não sabia se você iria sobreviver ou não. Eu tive medo de te perder ali! – Ela soltou de uma vez. – E eu não gostei de pensar sobre isso. – Ela murmurou tão baixo o final que eu pensei que não tinha escutado. Depois, sem aviso, ela literalmente me avançou. Não tive tempo de registrar muita coisa, só que ela me beijava vorazmente. – Me diga que nós vamos sobreviver a isso. – Ela me pediu. E eu não poderia enganá-la, não quando Jen me olhava daquele jeito.

— Eu não sei, Jen. Mas vou fazer tudo o que puder.

Você tem que sair vivo disso, Jethro. – Ela falou e voltou a me beijar. Não pensei muito no que íamos fazer mais à noite, Jen não me deu oportunidade.

Mas eu deveria ter pensado. Deveria tê-la colocado ao alcance de uma mão. Para que eu não tivesse gravado em meu cérebro os gritos de dor que ela dava agora.

Uma emboscada. Não para nós, mas para Zukhov. E fomos pegos como cúmplices. Dessa vez estávamos quase fora, quando uma bala acertou a coxa de Jen. Ela caiu na hora e seu sangue manchou de vermelho a neve.

— Fica comigo, Jen. – Pedia enquanto a levava para a casa onde estávamos.

A cada metro era a mesma história, ela recobrava a consciência somente para gritar de dor e desmaiar novamente. E eu temi que a promessa que havia feito mais cedo se quebrasse.

Eu não tinha muito tempo, sangue pingava da sua perna, um rastro que qualquer um poderia seguir se quisesse. Abri a porta e o primeiro lugar que vi, a coloquei. O sofá em que passamos a tarde, logo ficou pintado de vermelho. Sem cerimônia, tirei a calça que ela usava e vi o estrago.

Eu teria que tirar a bala e dar um jeito de estancar o sangramento antes que fosse tarde demais.

— Isso vai doer, Jen. – Sussurrei na orelha dela.

Com uma pinça procurei a bala dentro da perna dela, no início ela até que tentou me parar, tive que pedir que ela ficasse quieta. Ela sentia tanta dor que mordia o lábio inferior para não gritar.

— Jethro... isso não vai dar certo. – Falou com a respiração entrecortada.

— Aguente só mais um pouco. – Pedi. Achei e tirei a bala. – A essa altura, ela tinha colocado um travesseiro no rosto para abafar o grito. Só que o sangramento não parou. E eu vi que isso já estava cobrando o preço, quando olhei o rosto pálido dela.

Ela leu o meu desespero quando tomei a decisão.

— Jethro, o que você tem em mente? – Quis saber.

— Não vai ser agradável.

Seus olhos verdes vasculharam o meu rosto atrás da resposta que ela sabia que eu não pronunciaria. Quando ela leu em mim, arregalou os olhos.

— Eu não vou aguentar.

— É a única maneira, Jen. Não podemos ir a um hospital.

— Meus gritos vão denunciar onde estamos.

E foi a primeira vez que não dei ouvidos a ela. Jen se rebateu, tentou me parar. Por fim, engoliu em seco.

— Não tem alternativa, não é?

Balancei a cabeça negando.

— Eu confio em você. – Ela disse firme, me olhando nos olhos. – Faça.

Entreguei uma toalha para ela, que a enrolou e a colocou na boca. Coloquei a pólvora na ferida zangada de sua perna. Jen permaneceu quieta. Quando a fitei ela me encarava, como se tentasse não pensar no que estava para acontecer. Sua mão pegou a minha.

Acendi o isqueiro e pus fogo na pólvora. O aperto de Jen foi esmagador no início, depois sua mão caiu. Me virei para vê-la e ela tinha desmaiado.

Com ela ainda apagada, limpei o ferimento e fiz um curativo. A cicatriz que ficaria não seria bonita.

Como eu temia, a trilha de sangue foi seguida e não nos restou muitas opções. Ou morríamos ou saímos dali, mesmo que Jen mal pudesse andar. Assim fugimos para a Sérvia. Fomos mandados para uma fazenda no interior do país. Não tinha nada perto e muito menos o que fazer.

— Duas semanas, e nossa ida de volta à França vai estar liberada. – Jenny falou.

— Eu sei. E até lá.

— Até lá, Jethro, eu tenho que te agradecer por salvar a minha vida. – Ela murmurou e me puxou para o quarto.

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 Estávamos de volta à França, dessa vez Paris. Eram os últimos movimentos.

Inacreditavelmente seis meses haviam se passado.

E eu só queria me lembrar de algumas partes deles. As partes boas, pois o desespero e o medo eu queria esquecer.

Assim como queria esquecer o que me mandaram fazer... eu me perguntava se teria coragem. Eu poderia matar alguém a sangue frio? Fazer uma pessoa confiar em mim e depois traí-la com uma bala na testa?

Eu não sabia a resposta.

E enquanto esse dia não chegava, eu vivi uma lua de mel sem estar casada. Fingir ser um casal com Jethro foi mais fácil do que eu imaginava que seria, foi fácil demais.

Acontece que um dia o fingimento acabou. A atração que sempre existiu virou algo mais. E eu me surpreendi pensando que eu realmente o amava.

Eu amava tudo nele. Eu virei a maluca que um dia eu tanto critiquei.

É o mundo dá voltas. E ninguém manda no coração.

Passei os dois meses finais tentando pensar em uma maneira de seguir com o que tínhamos mesmo depois que tudo terminasse.

Comecei a pensar se teríamos futuro. Se seria possível estar na mesma equipe e sermos algo mais. Parceiros no trabalho e em casa.

E ao pensar nisso, senti um estranho frio na minha barriga.

Será que eu estava disposta a realmente dar esse passo? No final das contas, em D.C. Jethro ainda era o meu chefe.

Entre fazer o meu trabalho e discutir internamente comigo mesma, o meu tempo acabou. Eu tinha quatro dias. Em quatro dias eu teria que tomar duas decisões.

Tinha que decidir o que eu queria do meu relacionamento com Jethro e tinha que tomar a coragem necessária para executar Svetlana.

A primeira eu agi por impulso. Estávamos andando por Paris, de mãos dadas, vendo a paisagem e aproveitando nossos últimos momentos longe de tudo, ou seja, estávamos em nossa bolha particular. E eu não conseguia desviar os meus olhos dele. Nada na cidade atraia mais a minha atenção do que o homem que segurava a minha mão e andava ao meu lado.

A certa altura eu parei. Ou era agora ou eu nunca teria coragem de dizer. Jethro parou do meu lado e tentou procurar na paisagem o que teria atraído a minha atenção.

Como se tornou o costume, ele não expressou a sua pergunta, só me olhou. E eu tentei esconder a minha fascinação. Mas já era tarde, praticamente deveria estar gritando que eu estava apaixonada por ele. Mesmo assim, ele continuou me olhando, uma sobrancelha levantada, o meu sorriso enfeitando as suas feições.

E foi quando eu falei.

— Jethro, eu te amo.

Não esperava nada em troca. Nenhuma palavra, eu sabia que ele não era uma pessoa de expressar sentimentos. Na verdade, era não era uma pessoa que fale muito e ponto.

Mas não esperava o que eu ouvi.

Esse vai ser o dia.

Tive pouco tempo para recompor as minhas feições. Mas o estrago estava feito. Eu não tinha nem coragem de perguntar o que ele quis dizer com isso.

Dois dias depois, foi nos dada a ordem.

Eu não sei o que aconteceu comigo. Se eu tinha muito na cabeça e não me concentrava na minha ordem, ou se eu simplesmente era uma covarde.

Eu não matei Svetlana. E quando Jethro me pediu por uma confirmação. Eu menti. Sem nunca o olhar em seus olhos novamente.

Na nossa última noite, eu aproveitei o que tinha que aproveitar. Mesmo de coração partido eu ainda o amava. E tenho certeza de que o amaria eternamente.

Na manhã seguinte, fomos para o aeroporto. Um jato particular nos levaria de volta aos EUA. Ele entrou e foi para os fundos, eu entrei, deixei o casaco que ele me dera de presente no dia em que chegamos em Paris e uma carta explicando a minha decisão.

Eu jamais poderia contar para ele que eu não conseguiria trabalhar sobre as ordens dele novamente. Não quando eu sabia que o amava tanto.

E foi assim que nos separamos.

Ele voltou para os EUA. Eu fui designada para Londres.

Meses depois fiquei sabendo que ele se casara novamente, definitivamente não fomos feitos para ficarmos juntos.

Não vou dizer que fiquei sozinha, não fiquei, mas não me casei. Não podia. Não amei ninguém como eu ainda amava Jethro. Ele sempre faria parte de quem eu era.

Seis anos depois da despedida, e diga-se que seis anos, eu fiz de tudo nesse período. Eu voltei para D.C. Para o mesmo prédio onde havia começado.

Agora como Diretora do NCIS.

A Novata agora era a Chefe.

Será que eu poderia encará-lo e não sentir nada?

Estava claro que não. Até porque, por todos esses anos, ele continuou sendo o meu inferno particular. Mesmo longe, mesmo separados, eu nunca consegui não pensar nele.

E, pelo visto, nosso ciclo se reiniciava. Até onde iríamos, eu não saberia dizer. Não sei prever o futuro.

Mas se pudesse apostar.

Acho que com o amor não se deve fazer apostas. E quando se trata de nós dois, nada é o que parece e ninguém pode prever o que vamos fazer. Nem nós mesmos.


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Notas finais do capítulo

Se te um momento em que eu quero bater no Gibbs até ele implorar que eu pare é quando esse famigerado "Esse vai ser o dia!" é citado! Que ódio que eu tenho dele! E depois disso ele não tinha nada que reclamar de ser preterido pelo trabalho da Jenny e ficar sabendo disso por uma carta... Ela foi até muito elegante.
Fim do momento desabafo!
Anyway...
o epílogo vem aí...
Obrigada a quem está lendo e acompanhando!!



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