Meu Inferno Particular escrita por Carol McGarrett


Capítulo 2
Agente Especial Jenny Shepard


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, prometi um por dia e não postei ontem...
Como eu já falei, a história vai ser mais curta, cinco capítulos e um epílogo, por isso parece meio corrido o enredo.
Mas aqui está!
Boa Leitura!



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Eu queria atirar em alguém, não, eu queria matar uma pessoa! Só ele! Eu queria ver aquele sorriso presunçoso deixar o rosto dele, queria ver aqueles lindos olhos azuis se apagando enquanto eu o enforcava. Ou seria melhor dar um tiro... não, tiro era muito rápido, ele tinha que sofrer...

Estava sentada na escada perto da autópsia, de todos os lugares, era justamente no último subsolo onde eu encontrei uma pessoa que me escutava. Desde meu desastroso primeiro encontro com Ducky, ele se tornou uma pessoa querida, não julgou o meu comportamento e sempre entendeu a minha aversão à cadáveres, apesar de que ele não sabe a verdade por trás dela.

Assim, não tendo mais ninguém com quem conversar sobre isso, meu querido namorado tinha me pedido educadamente que maneirasse no que eu falava em casa, vim ver a única pessoa que me ouviria, só que ele estava terminando com um “visitante” e tudo o que eu não queria era outro show no meio da sala...

Batia os saltos nervosamente no degrau abaixo de mim, e cada vez que eu me lembrava da minha nota, eu imaginava uma cena de assassinato diferente, mas em todas elas a vítima era sempre a mesma.

Leroy Jethro Gibbs.

É, ele ainda tinha um outro nome ainda mais estranho que Jethro. Leroy! Quem em sã consciência coloca um nome desses eu um filho? Não é à toa que ele é tão revoltado. Até eu seria se me chamasse Leroy Jethro.

— Pronto minha querida, o que você precisa conversar comigo? – Ducky chegou na porta para me chamar. E eu não precisei fazer nada, ele entendeu. – Ah! Dia da Avaliação.

— É. – Disse sem animação nenhuma.

— E como você foi? – Ele me indicou uma das cadeiras e me estendeu uma xícara de chá.

— Nunca fui tão humilhada na minha vida! – Meus olhos queimaram, eu queria chorar de raiva.

Ducky deu uma risadinha.

— Se importa de me contar?

— Dez. Gibbs me deu 10 em 100.

Foi aí que o sorriso dele ficou ainda maior.

— Ducky, com todo o respeito que eu tenho por você, não comece a rir, é tudo o que eu não preciso agora.

— Minha querida. – Ele pegou a minha mão. – Nos padrões de Jethro, essa sua nota foi excelente.

— Quer dizer que ele deu zero para o Stan?

— Pelo que me lembro, Stan tirou quarenta e cinco.

Eu me afundei na cadeira, não era essa agente que pensava que era.

— Acontece, Jennifer, que quanto menor a nota, melhor é o agente.

Tive que piscar e me beliscar para ver se eu tinha entendido.

— Por acaso ele já sofreu alguma lesão cerebral para pensar assim? – Perguntei.

— Jethro abaixa ainda mais a nota das pessoas para que elas não se acomodem onde estão. Porque ele sabe que por melhores que elas sejam, sempre têm mais para aprenderem. – Ducky me explicou.

— Mas esse 10 vai ficar na minha ficha. Isso pode me impedir de ser promovida.

— Aposto que não é essa a nota que está na mesa do Diretor agora.

Pensei por alguns instantes.

— E eu falei que ele não ficaria livre de mim. Que eu seria o pior pesadelo dele.

— É exatamente essa atitude que ele quer de você. Que você continue desafiando os seus limites e até algumas das ordens dele como eu sei que você faz. Jethro não gosta de agentes que se acomodam.

Tomei o chá, certa de que esse meu novo conhecimento poderia me ser muito benéfico.

— Ducky, mas você tem certeza de que aquela vergonha não está na mesa do Diretor? - Perguntei quando nós dois já estávamos no estacionamento. Minha cabeça mirou as janelas do quarto andar.

— Se estivesse, Jennifer. Você não estaria mais aqui. – Ele me respondeu.

— Mas precisava ser um 10? – Reclamei.

— Eu te disse, Jennifer. Você e Jethro iriam se dar bem. Só não falei que seria o tempo todo. – Ducky sorriu e entrou em seu Morgan. Pelo que me contou, ele mesmo havia reformado o carro.

— Nós nunca vamos nos dar 100% bem. Não tem como alguém se apegar àquela criatura. – Sai murmurando pelo estacionamento até meu carro. Assim que parei vi que tinha um envelope preso no limpador de para-brisa.

Peguei com cuidado pela ponta, poderia ser qualquer coisa, até mesmo uma ameaça. Tinha um post it em um dos lados.

Você vai querer guardar isso, Jen.

Aquele bastardo não tinha feito isso!! E mais uma imagem de um assassinato passou por trás das minhas pálpebras quando fechei os olhos.

Ou você morre, Gibbs, ou eu fico louca!

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Enquanto a minha vida profissional parecia que ia bem. A minha vida pessoal estava desmoronando, a olhos vistos.

Todo o amor e carinho que Tom tinha demonstrado no primeiro dia, já tinham diminuído há meses. E cada vez que eu chegava tarde em casa, era sempre a mesma história.

— Você tem que aprender a dizer não para o seu Chefe, Jenny. – Ele me disse uma noite, quando eu entrei no quarto quase as duas da manhã.

Eu já tinha argumentado, às vezes a família ou até mesmo a vítima não podem esperar pelo dia raiar. Uma pista se deteriora rápido, porém ele não entendia. Ou não queria entender.

Assim, estávamos oscilando naquela fase pré-término, onde nenhum dos dois quer dar o primeiro passo e dizer a verdade.

O que nós tínhamos já acabou.

E quanto a isso, não tinha ninguém para me ouvir. Minha irmã, estava longe, fazendo faculdade do outro lado do oceano na Inglaterra. Minhas amigas de faculdade se afastaram quando eu comecei a carregar uma arma. No trabalho, Deus me livre em conversar sobre isso com os três trogloditas com quem trabalho e divido grande parte do meu dia.

Eu deveria arranjar um bichinho de estimação, pelo menos teria alguém com quem conversar.

Ou eu poderia tentar salvar o meu relacionamento. Era uma sexta à noite, milagrosamente eu tinha saído cedo do NCIS. E sabia muito bem onde Tom ia para o happy hour. Poderia surpreendê-lo.

Me arrumei toda, como não fazia há alguns meses, vesti uma roupa que eu sabia que ele gostava que eu usava, não que eu dependesse dos comentários dele, mas era para uma ocasião especial.

Peguei minha bolsa e as chaves do meu carro e saí para a noite.

Até o pub onde ele ia, era uma viagem de vinte minutos. Claro que sem trânsito, em uma sexta á noite, levei o dobro.

Desci do carro, estava estranhamente animada para encontrá-lo. Talvez não estivesse de todo perdido o nosso relacionamento.

Abri a porta do pub e logo o avistei, sentado ao lado de uma ruiva que eu não conhecia. E os dois pareciam bem íntimos. Fiquei parada na porta, sem saber o que queria fazer.

Entrava lá e tirava aquela perua de cima dele pelos cabelos, ou eu batia nele com a minha bolsa?

Mas, então, me lembrei do meu juramente. Meu comportamento refletia em quem eu era agora. Mordendo os lábios para não gritar de ódio, voltei para o meu carro. Sentei-me atrás do volante e comecei a esmurrá-lo.

O desgraçado nem para terminar primeiro. Me perguntei a quanto tempo isso acontecia.

Minha vontade de entrar no pub e bater nos dois voltou. Para minha sorte, meu telefone tocou.

Gibbs.

— Sim, Chefe. – Atendi depois de um toque.

— Temos um caso. Parque Rock Creek.

— Estou indo.

Conferi se meu distintivo e minha arma estavam comigo, e não me preocupei em olhar para trás, pensaria em como terminar as coisas depois.

Na minha pressa de distrair a minha cabeça da cena que presenciei, acabei me esquecendo que eu não estava vestida para trabalhar, mas sim para sair. E só me dei conta disso quando Burley fez um comentário.

— Nossa, Ruiva. Atrapalhamos alguma coisa?

— Mais ou menos. – Eu não contaria a minha vida particular para eles, ainda mais agora.

— Burley, ensaque e etiquete as evidências, Decker fotos. Shepard, entreviste as testemunhas. – Gibbs saiu de não sei onde dando ordens.

Agradeci mentalmente que não precisaria ficar andando no meio das árvores, ou iria terminar a noite na emergência do hospital com um pé quebrado, e fui para onde as duas testemunhas estavam me esperando.

Estava terminando de interrogá-las, toda hora trocando o meu pé de apoio, pois esse sapato era mais alto e desconfortável demais para ficar apoiada em uma pedra, quando escutei um barulho.

Alguém tinha batido a cabeça em algum lugar.

Agradeci às duas testemunhas e fui ver o que tinha acontecido.

Estranhamente, fora Gibbs quem, aparentemente, tinha batido a cabeça em um galho enorme de árvore e, no processo, levado um tombo e contaminado todas as evidências com o próprio sangue.

— Meu Deus, Gibbs! Como você conseguiu isso? – Eu era a pessoa mais próxima a ele, Will e Stan estavam um pouco mais afastados, mas tinham visto o tombo e agora vinham na nossa direção.

Ele grunhiu alguma coisa que eu não entendi e tentou se levantar.

— Ei, pode ficar aí, sua testa está aberta de um lado ao outro. Sem ter nada com o que estancar o sangue, tirei a minha jaqueta e cheguei mais perto dele para poder pressionar a sua testa.

Quando fiz esse movimento e praticamente gritei para todo mundo que iria ter uma noite agitada, os olhos de Jethro entraram em foco e ele se demorou na minha roupa, ou em mim.

Passei para me ajoelhar atrás dele, assim poderia apoiar a sua cabeça com uma mão e pressionar a testa com outra, até que Ducky viesse, Stan tinha acabado de chamá-lo. E nessa posição eu tive uma visão de uma parte do parque, e, a única vista daquele lugar era onde eu estava minutos antes.

Não foi difícil ligar dois com dois.

Gibbs é o melhor andarilho de nós quatro, eu nunca, nestes doze meses em que estou no NCIS, o tinha visto sequer dar um tropeção. Nunca. E justo hoje, e justo ele, iria cair sem motivo, não. Ele se distraiu com alguma coisa.

Ele havia se distraído comigo. Pois a única vista que se tem desse lugar em específico era onde eu estava.

Meu sangue ferveu. E eu me vi assustada em saber que não foi só porque eu fiquei injuriada que ele estivesse olhando para mim. Mas também me senti lisonjeada, era errado, sim. Mas depois de saber que estou sendo traída, era reconfortante saber que ainda podia ser atraente para alguém, mesmo que esse alguém fosse o meu chefe.

E como eu não podia perder a oportunidade de poder chantagear o meu “Chefe” eu tive que falar.

— Então, Gibbs, o que aconteceu? – Tentei.

Ele ficou estoico.

— Pergunto, porque é muito estranho que justo você pudesse tropeçar. E olha que está com as suas botas de caminhada, nem eu com estes saltos caí.

Ele murmurou qualquer coisa.

— Então, o que te distraiu? – Tentei de novo.

E Gibbs olhou para o ponto onde eu estava entrevistando as testemunhas. E eu tinha a minha resposta.

Abaixei minha cabeça até que ficasse da altura dele e disse ameaçadoramente:

— Se eu sonhar que você está olhando para a minha bunda de novo, eu vou cumprir com você cada uma das ameaças que já fiz a Burley. Fique avisado, seu chauvinista.

E, para a minha surpresa, ele engoliu em seco.

— Seu bastardo. – Dei um sonoro tapa atrás da cabeça dele.

— Nunca mais faça isso, Shepard.

— Considere uma parte da sua punição por ficar me secando.

E nós paramos a conversa por ali, pois Ducky chegava.

— Precisa de alguém para segurar a sua mão, Chefe? – Perguntei sarcasticamente.

Jethro me lançou um daqueles olhares que paralisavam qualquer suspeito, acontece que eu já estava imune a eles.

— Pelo visto não. Vou recolher as evidências para ver se ainda podemos salvar alguma.

— Não! Mande o Decker fazer isso. Você vai para casa e troque essa roupa, Shepard.

Acho que ele recebeu o recado.

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Ir para casa não estava nos meus planos, minha sorte era que eu tinha uma muda de roupa no NCIS. Assim, me dirigi para lá e quando os três mosqueteiros chegaram, eu já estava devidamente sentada na minha mesa, buscando qualquer informação sobre a nossa vítima.

Gibbs não gostou de me ver ali, mas a culpa não era minha, ninguém o mandou ficar olhando para o lugar onde não deveria. E o que era pior, ele ainda era casado...

Quando ele viu que nós três sobreviveríamos sem ele por algumas horas, disse que ia em casa para trocar as roupas sujas de sangue.

Eu quase falei para ele tomar cuidado, contudo mordi a língua e foquei em buscar a informação que precisava.

Jethro voltou uma hora depois, com um humor mil vezes pior. Stan caiu na besteira de perguntar o que havia acontecido, e tomou um tapa tão forte na cabeça que eu senti a dor para ele.

— Mas o que deu nele? – Decker perguntou depois que Gibbs saiu do nosso campo de visão.

Dei de ombros, eu não fazia ideia.

Por todo o dia tanto o celular quanto o telefone da mesa de Gibbs tocaram insistentemente, e ele ignorou todas as ligações.

No final do expediente para quem saía no horário, é claro, as portas do elevador se abriram e uma voz clamou:

— Nós precisamos conversar, J.

J? Eu tive que conter a minha vontade de saber quem tinha a coragem de chamar Gibbs assim.

Pelo canto do olhou vi as mãos de Jethro se fechando em um punho. Olhei para frente, Will tinha os olhos arregalados.

Logo a dona da voz apareceu, parando na entrada das nossas mesas e encarando Gibbs com os braços cruzados.

Minha curiosidade me venceu e eu quis saber quem era a esposa #02.

Não deveria ter feito isso. Pois, parada a centímetros de mim, estava a mesma mulher que eu vira na noite anterior “conversando” muito animada com o meu namorado.

Eu não precisava de mais nada para saber o que Gibbs tinha visto. Restava saber se Thomas ainda estava vivo. Internamente eu torci para que não estivesse.

Gibbs não deu atenção à esposa e continuou olhando algo no relatório da perícia forense.

— Você sabe que a culpa é sua, não sabe? Se não ficasse tanto tempo aqui dentro, o que você viu não teria acontecido! – Ela vociferou.

Pensei que essa deveria ser a mesma desculpa que Tom usaria comigo.

— Rebecca, aqui não. – Jethro sibilou.

Will, Stan e eu fizemos menção de nos levantarmos e deixarmos os dois às sós.

— Vocês três voltem ao trabalho.

Ia ser constrangedora, a conversa.

Abaixamos a cabeça, eu notei que Stan não estava se contendo de alegria de presenciar o fim do casamento do chefe. Amanhã seria a fofoca do expediente.

— Você realmente vai fazer isso, J? Vai deixar desse jeito, não vai falar nada? Não vai fazer nada?

Da última pergunta eu não gostei, estava torcendo para que Gibbs tivesse dado ao menos uns bons socos em Thomas.

Gibbs permaneceu calado e até eu já estava irritada com a falta de reação.

— Quer saber, tanto faz. – Rebecca tirou a aliança e arremessou na mesa de Jethro. – Tom vai entrar em contato com você.

— Vai ter desconto nos honorários, Rebecca? – Foi a única pergunta que Gibbs fez enquanto a futura ex-esposa #02 marchava para o elevador.

Bem, eu esperava que Thomas já tivesse tirado todas as suas coisas da minha casa, ou eu seria obrigada a queimá-las.

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Mais algumas semanas se passaram, mais casos apareceram e foram resolvidos. Alguns com direito a tocaias intermináveis, onde sem querer, me vi acordando apoiada no ombro de Jethro. Constrangedor foi pouco.

A cada dia que passava, mais insistentemente o telefone de Gibbs tocava. E ele, como sempre ignorava. Nós três tínhamos uma clara ideia de quem poderia ser.

Ou era Rebecca, ou era o advogado dela.

Eu preferia que fosse Rebecca. Não estava pronta para ver Thomas, mesmo depois de quase um mês do nosso término.

Falando no término. Não teve choro ou briga. Na mesma noite em que Rebecca saiu pisando duro do NCIS, Gibbs nos mandou para casa. Eu sabia que existiam duas opções para mim naquela noite.

Ou Tom já teria ido, ou eu teria que colocá-lo para fora.

Cheguei em casa e tudo estava apagado, a primeira coisa que fiz foi ver se as coisas dele ainda estavam lá. Estavam.

Comecei a dobrar metodicamente cada peça, como faria se nós estivéssemos nos arrumando para sair. Enchi duas malas e as deixei no alto das escadas.

Uma hora e meia depois ele chegou. Antes que ele chegasse perto de mim, eu senti o perfume feminino, o mesmo que Rebecca estava usando essa tarde.

— Jenny, nós...

— Eu já sei. Suas coisas estão no alto da escada. Me entregue as chaves da casa. – Pedi estendendo a mão.

— Não vai perguntar nada?

— Eu vi. Eu sei como ela é. Só estava esperando você chegar. – Minha voz não tinha emoção.

Tom tirou as chaves do chaveiro do carro e me entregou, depois subiu as escadas e pegou as malas, as levando para o carro.

— Posso conferir se não ficou nada para trás?

— Se algo meu sumir eu sei que foi você. – Fiquei parada na porta enquanto ele vasculhava a casa. - Achou algo? – Perguntei quando ele voltou de mãos vazia.

Ele me encarou.

— Você realmente não vai falar nada?

Dei de ombros. Eu jamais choraria na frente dele. Não vou negar que me partiu o coração. Nós dois estávamos juntos há quase seis anos. Achei que iríamos durar. Não foi o que o destino quis.

— Sabe, Jenny. Eu realmente gostei de você. Achei até que poderia me casar com você. Mas então, esse seu emprego entrou nas nossas vidas e estragou tudo.

— Eu não vou abandonar a minha carreira por você, Thomas. E muito menos me humilhar e pedir uma segunda chance. Se você me traiu uma vez, vai fazer de novo. Seja feliz com a sua nova namorada. – Falei.

— Espero que você encontre alguém que te entenda, Jenny. Porque eu não consigo. – Ele me falou ao descer as escadas.

E foi assim. Eu até pensei que quando fechasse a porta, iria começar a chorar, mas tudo o que fiz foi ir para o quarto e tirar o lençol da cama, queria o cheiro dele bem longe de mim.

E nas três semanas seguintes eu mergulhei no trabalho e me esqueci dele.

Até que o telefone de Jethro começou a tocar. E Tom voltou a minha mente.

Na quarta semana, foi o choque. Eu e Jethro voltávamos de uma entrevista com a esposa de nossa vítima. Tentando encaixar o que ficamos sabendo com o que tínhamos, nós dois discutíamos ao descer do elevador. E foi quando notamos que a sala estava quieta demais.

Meus olhos varreram o ambiente para saber se estávamos no andar certo, era ali. As janelas grandes que dão para o porto, as paredes alaranjadas, a claraboia... Rebecca e Thomas...

Arregalei os olhos. Não podia ser verdade.

Rebecca puxou Tom ao nosso encontro. Meu cérebro trabalhou a mil quilômetros por hora. Eu tinha que sair dali. Pude ver nos olhos de Tom que ele não esperava que eu estivesse ali. Ou que eu conhecesse o futuro ex-marido da sua atual namorada.

Jethro notou a mesma coisa. Meu desconforto aumentou.

— J, já que você não atende aos nossos telefonemas, resolvemos trazer os papeis do divórcio até você. – Rebecca falou em alto e bom som. Toda a sala estava quieta.

Me desviei dos três e fui para a minha mesa. Fingindo muito bem que nada estava acontecendo.

Eu não vi o que se passou, só o que eu via eram as reações de Stan e Will e os dois estavam boquiabertos.

— O Chefe vai desistir assim tão fácil? – Stan perguntou.

— O atual da futura ex é advogado, o que ele pode fazer? – Will perguntou.

E mais rápido do que eu poderia ter pensado, Jethro se sentava na mesa ao meu lado e tirava a aliança.

Antes que alguém pudesse perguntar alguma coisa, ele pediu pelas atualizações.

Mais tarde, no mesmo dia, me vi presa ao lado dele dentro do elevador. Eu voltava do laboratório forense e ele vinha da saída para o café. Para o meu azar, as duas pessoas que estavam no elevador desceram antes de nós, e assim que ficamos sozinhos, Jethro apertou o botão de emergência.

— Tem alguma coisa que queira me dizer, Jen?

Lá vinha ele com esse apelido de novo.

— Sobre o caso? Nada de novo. Estamos em um beco sem saída. – Me fiz de tonta.

Ele me encarou por trás do copo de café.

— Você conhece o advogado. – Não era uma pergunta.

— Sim.

E a sobrancelha levantada significava que ele não estava satisfeito com a minha resposta. Acontece que eu não queria discutir a minha vida amorosa, ou a falta dela, com ninguém. Muito menos com ele.

— Thomas é o meu ex-namorado.

E Jethro fez a associação.

— Vocês estavam juntos quando...

— Sim. Terminamos na mesma noite em que Rebecca esteve aqui. Satisfeito?

— Você já sabia?

Tentei alcançar o botão para fazer o elevador se movimentar, mas Jethro me bloqueou. Sua presença me sufocando. Respirei fundo.

— Peguei os dois na noite anterior. Antes de você me chamar para a cena. Mas eu não fazia ideia de que era a sua esposa. – Dei de ombros e tentei dar um passo para trás, mesmo assim Jethro não me deixou afastar.

— E só isso?

— O que você queria? Lágrimas? Gritos? Trocas de farpas? Meu relacionamento já tinha acabado antes mesmo de terminar. Não tinha salvação. Satisfeito? – Disse e com isso eu o peguei de surpresa e consegui ligar o elevador.

— Se quiser alguém para conversar...

— Eu falo sozinha, Jethro, mas não vou discutir sobre isso com você. – Respondi antes de sair.

Como era uma sexta à noite, Will e Stan queriam fazer um happy hour, não vi motivos para não ir. Eu estava precisando disso.

No bar, até Ducky se juntou a nós e começou a contar uma ou outra trapalhada da dupla que estava comigo. Eu ri como não ria há meses. Eu só não contava que Gibbs fosse aparecer também. E pelo visto nenhum dos homens que estavam comigo também o esperava.

— Gibbs? – Will disse surpreso. – Bem-vindo a farra.

Stan foi mais direto:

— Já buscando pela futura ex-esposa #03? Porque a única ruiva que tem aqui dentro é a Shepard.

Jethro olhou na minha direção antes de responder.

 - Só vim porque fiquei sabendo que você está pagando Burley.

Burley ficou revoltado.

— Bem, já que é assim. Scott, mais uma rodada para todo mundo! – Will se empolgou, chamando o barman.

Stan iria começar a protestar, mas antes que abrisse a boca, Gibbs deu um sonoro tapa na cabeça dele.

— Dá próxima vez, se não quiser pagar, fica de boca fechada.

Tive que conter a risada. Stan mereceu essa.

A noite até que foi agradável, agora eram dois para contar cada uma das más notas de Burley. Will foi poupado. Quando olhei o relógio, já eram quase duas da manhã e eu não tinha a menor condição de dirigir. Torci para que ainda tivesse algum táxi passando.

— Bem, rapazes, a noite está ótima, mas eu tenho que ir. E Stan, obrigada pela bebida de graça.

— Para você tem preço, Ruiva. Um beijo. – Ele me respondeu sorrindo.

Resolvi brincar com Stan.

— Só um beijo? – Perguntei inocente.

— Sim, Ruiva, um beijo.

Ele não falou onde era. Apesar de que eu sabia onde ele esperava que fosse.

— Tudo bem. – Falei, para o espanto de Will e Ducky. Vi que a expressão de Gibbs era guardada, mas algo passou por seus olhos.

Diminuí a distância entre mim e Stan.

— Feche os olhos. – Ordenei e o trouxa fez o que eu disse.

Me abaixei na altura dele e pousei a minha mão em um dos lados do seu rosto, ele, crente que receberia um beijo, sorriu. Dei dois tapinhas na bochecha dele e disse:

— Você realmente achou que seria tão fácil, Stan? – Perguntei e saí, deixando Stan com cara de tacho, e Will, Ducky e Gibbs rindo da cara dele.

— Isso não é justo, Shepard.

— Viva com isso, Burley, você não faz o meu tipo. – Falei da porta, piscando para ele.

Saí para a noite sem estrelas, por conta do excesso de luz, eu nunca consegui ver uma mísera estrela por aqui. Vasculhei na escuridão e não achei nenhum táxi.

Procurei na minha bolsa pelo número de uma companhia de táxis que pudesse me levar de Washington até Georgetown. Antes que eu encontrasse, a porta do bar foi aberta atrás de mim, e uma voz disse:

— Vem, Jen. Eu te dou uma carona.

Me virei o mais rápido que podia e Jethro estava parado atrás de mim.

— Você bebeu o mesmo tanto ou até mais do que eu. Não vou entrar em um carro com você. – Protestei.

— Sou mais forte do que você para o álcool, Jen. Além do mais, nem era para você estar tão ruim. Aqueles drinks nem são bebida de verdade. – Ele falou.

Fingi que não escutei o que ele havia dito e continuei a minha busca. Eu não o escutei, apenas vi a sua mão segurando a minha, como me impedindo de continuar.

 - Anda, Jen. – Ele parou do meu lado.

Desconfiada, olhei para ele.

— O que, mais de um ano do meu lado e você ainda não confia em mim? – Gibbs me perguntou.

Fiquei calada e ele começou a me guiar, sua mão apoiada na base das minhas costas, até a sua caminhonete.

Foi uma viagem silenciosa, e foi só depois de algum tempo que eu percebi uma coisa: Jethro não me perguntara onde eu morava. Eu tampouco falara. Como ele sabia que caminho seguir?

Já estávamos em Georgetown quando isso me veio à cabeça.

— Mas como você sabe onde eu moro? - Perguntei quebrando o silêncio.

Ele sorriu de lado para mim e não em respondeu.

— É sério!

— Jen, eu sei onde os meus agentes moram. Não se sinta lisonjeada com isso.

Achei estranho, mas era uma desculpa plausível. Fiquei quieta. Todo o álcool já estava começando a fazer efeito.

Quando ele parou na frente da minha casa, eu não soube o que fazer. Era tarde para que eu o convidasse para entrar...

 - É... muito obrigada. – Falei sem jeito.

— Amanhã passo aqui para que te levar para pegar o seu carro.

— Não precisa, vou de táxi. Boa noite, Jethro. – Disse antes de fechar a porta.

Na manhã seguinte eu estava tomando coragem para encarar a chuva quando escutei a minha campainha tocando. Ainda com cara de sono e com a caneca de café na mão, fui atendê-la.

— Jethro?!

— Tem uma dessas para mim? – Ele perguntou batendo os pés no capacho e tirando o sobretudo.

— Tem, na cozinha. – Eu estava tão surpresa com a visita inesperada que nem soube como reagir. – Bom dia. – Falei quando o café começou a clarear a minha mente.

Ele me seguiu até a cozinha. Peguei uma caneca para ele e servi o café. Não coloquei nada.

— Preto e sem açúcar. - Falei ao entregar a xícara.

— Agora só eu quem deve ficar com medo já que você sabe como eu gosto o meu café? – Ele perguntou. Estava de bom humor e tudo isso estava parecendo um sonho.

— Você toma café o tempo todo. E além do mais, Will e Stan, também sabem. Não se sinta lisonjeado. – Repeti as palavras que ele dissera na noite anterior.

Bebemos o café em silêncio. Quando ele terminou e lavou a xícara, me perguntou.

— Vai buscar o seu carro com essa roupa?

Foi só aí que percebi que eu estava de qualquer jeito. Apoiei minha cabeça em minhas mãos e fiz o sinal para que ele esperasse.

— Não me diga que está de ressaca! – Ele parecia satisfeito ao ouvir isso.

 - Estou. – Gemi. – Aguarde só alguns minutos até que o café faça a parte dele e me acorde.

E Jethro gargalhou da minha cara. Bem alto.

— O caminho para a porta é o mesmo que você fez para chegar até aqui. Pode ir embora. – Falei. – E a propósito. Por que você está aqui? – Indaguei o encarando. Como alguém poderia ser tão bonito depois de uma noite bebendo? Ele não estava de ressaca?

— Te levar para buscar o seu carro e tem algo que eu gostaria de conversar com você. – Ele falou se recostando na pia e ficando de frente para mim.

— O que é? – Me levantei para pegar mais café, uma xícara era pouco hoje.

— Vou esperar você estar desperta, Jen. Ou você não vai se lembrar que eu estive aqui.

Para falar bem da verdade, eu já estava duvidando que ele estava aqui mesmo.

— Se você diz. Eu vou me trocar. Volto em dez minutos. – Saí da cozinha levando a xícara de café comigo. Ainda não estava muito claro se eu estava sonhando ou se Jethro estava na minha cozinha.

— Você vai levar meia hora, Jen. Onde fica a sala de TV?

Eu ainda estava na porta da cozinha quando ele fez essa observação. Definitivamente ele estava aqui.

— Segunda porta à sua direita. O controle da tv está em cima do sofá. – Saí da cozinha me arrastando, pensando que eu era mesmo azarada de ter o meu chefe me atazanando em pleno sábado.

Eu nem tinha pisado na porta da sala, agora devidamente desperta, quando escutei:

— Meia hora. Eu estava certo.

Cruzei meus braços e soltei:

— Diga o que você tem que dizer, pego o meu carro depois. – Eu não estava com um humor muito bom.

Jethro não deu o braço a torcer e se levantou. Começando a me guiar, dentro da minha própria casa até a porta.

— Calma Jen, tudo a seu tempo. Já está acordada?

Dei um soco no seu braço.

— Sim, agora você está acordada.

Estranhamente, Jethro não me falou o que ele queria falar. Começo a pensar que foi uma desculpa que ele arranjou para voltar na minha casa e filar o meu café. Depois da carona até o bar onde fomos na noite passada, ele apenas disse que na segunda bem cedo tínhamos uma reunião com o Diretor e não falou mais nada.

Não gostei disso. Reuniões com superiores sempre me dão a sensação de mau agouro.

Agradeci a gentileza, mesmo que o meu estado de ressaca vá virar uma piada futuramente, e voltei para casa.

Passei um final de semana péssimo. Minha cabeça doeu todo o tempo e quando não era a cabeça, era o pressentimento de que algo não muito bom saíra da reunião de segunda.

Tentando relaxar, tudo o que eu não precisava era chegar com cara de ressaca na frente do Diretor do NCIS, tomei um remédio forte para dor de cabeça, daqueles que me nocauteiam por quase oito horas.

E se eu achava que teria uma noite tranquila, estava enganada.

Sonhei a noite inteira. Um sonho não muito bento. Que começava comigo sentada em minha mesa, escrevendo um relatório, não sei de onde ele veio, mas quando eu notava, Gibbs estava parado na minha frente. Seus olhos azuis dez vezes mais destacados devido à camisa polo azul clara que usava. Ele me fitava quando perguntou.

— Você sabe que madeira é essa, Jen?

Eu não entendi o que ele quis dizer com isso. É claro que ele saberia qual era, afinal, quem construía um barco no porão era ele, não eu.

— Fórmica, eu acho. – Foi a minha resposta não muito certa.

— Sim. é fórmica. É bem forte.

Fiquei sem entender, mas não consegui desviar os olhos de seu rosto.

Quando dei por mim, estava igual a um camundongo hipnotizado pela cobra. Eu estava fascinada pelo tom de azul de seus olhos, pelo seu rosto, pelos seus lábios.

Lembro-me perfeitamente de morder o meus e tentar desviar a minha cabeça, porém a sua voz me trouxe de volta.

— Algum problema, Jen? – Era macia e convidativa. E me deu arrepios.

Quando me virei em sua direção, seu rosto estava a milímetros do meu.

E esqueci como se respirava e ele achou isso muito engraçado.

— Jethro, nós... aqui... – Eu tentava por algum juízo na minha cabeça, pois eu sabia exatamente o que eu queria.

— Não tem mais ninguém aqui, Jen. – A sua respiração bateu em meu rosto e eu senti o cheiro de café.

Encarei os olhos azuis que me fitavam de volta. Uma piscada de olho e eles ficaram negros, as pupilas dilatadas.

Quando dei por mim estávamos nos beijando e, bem, a teoria de que a mesa era forte foi provada.

Acordei com a minha própria voz gritando por Jethro. Não como se eu estivesse com medo, mas...

Céus... como eu vou encará-lo hoje. Não tinha a menor possibilidade. Pensei em ligar e dizer que estava doente. Mas ele me viu com plena saúde no sábado de manhã.

Eu simplesmente não podia encará-lo, pois cada vez que eu pensava nele, meu rosto esquentava.

E ainda tinha a reunião com o Diretor! Fiquei sentada na cama por um bom tempo, quase me atrasando para o trabalho.

Sem saída, tive que me arrumar. E meu rosto vermelho não estava me ajudando.

Por todo o caminho eu me concentrei em respirar. E tentar tirar o rubor do meu rosto. Já no estaleiro, dei uma olhada no espelho e estava quase da cor normal. Mas bastou chegar perto da minha mesa e todo o sonho passou como um filme na minha mente, e meu rosto corou imediatamente.

— Por que tinha que ser em cima da mesa? – Me perguntei.

— Falou comigo, Jen? – Jethro me chamou às minhas costas.

— Não. Só pensando alto. – Respondi me virando. – Bom... – Não terminei. Ele estava usando uma camisa polo azul clara exatamente igual à do meu sonho. Não ia ser um dia fácil.

— Ótimo. Vamos, nossa reunião foi adiantada. – Deixei que ele fosse na frente. Eu precisava de algo gelado, urgentemente. Só que no alto da escada ele parou e me encarou. – Você está bem, Shepard?

— Sim, estou? Por quê?

— Você está vermelha. Tem certeza de que não está começando com uma gripe.

Que saída abençoada, meu pai!!

— Não sei, minha cabeça está doendo, mas temos uma reunião. – Passei por ele sem o encarar.

Morrow nos esperava.

— O que eu disser ou for discutido nessa sala, deverá ficar aqui, vocês dois entenderam? – Ele começou, assim que nos entregou um arquivo.

Para a minha sorte, Jethro tinha se sentado bem longe e fora do meu campo de visão.

— Preciso de dois agentes para uma missão infiltrada na Europa. Os riscos são grandes e já aviso que nenhum de vocês irá receber qualquer gratificação se a missão for bem sucedida, mas podem receber uma promoção. – Morrow começou a falar. – Será uma missão de reconhecimento e eliminação de alvos. Primeira parte será inteligência. E novas ordens chegarão conforme vocês consigam o que foi ordenado. O que me dizem?

Me concentrei no arquivo à minha frente. As informações eram vagas, só dizia alguns locais. O primeiro, Marselha, França. Objetivo, fotografar um cargueiro libanês,

Eu não vi nada de perigoso nisso.

— Não precisam me dar uma resposta agora. Podem pensar com calma. Até porque é uma missão longa. Quero as repostas de vocês em uma semana.

— Se a resposta for positiva. Quando é o embarque? – Jethro perguntou.

— Em seis meses. Preciso que as identidades falsas sejam bem feitas e sedimentadas antes que vocês voem para a França.

Não sei por Jethro, mas eu estava disposta a ir.

Morrow nos dispensou, e Jethro logo estava ao meu lado. Foi quando eu me lembrei novamente do sonho.

— Tem interesse em ir, Jen?

— Não vejo por que não.

— Mesmo que seu nome não seja mencionado caso façamos algo de extraordinário?

— Então foi para isso que você virou agente, pela gratificação? – Perguntei e tentei me livrar da sua presença.

Não deu certo, e as chances estavam contra mim, para meu completo desespero apareceu um caso e as pistas nos levaram à uma casa de estilo vitoriano, com mobília clássica e elegante. Enquanto esperávamos pela senhora, avó da nossa vítima, me vi deslumbrada com uma mesa, passei mão pela madeira encerada e me perguntei internamente quantos anos aquela peça teria, estava tão distraída que não vi o momento quando Jethro chegou perto de mim e me perguntou:

— Você sabe que madeira é essa, Jen?

Eu não tive condições de olhá-lo. Mas minha pulsação se acelerou e eu sabia que meu rosto estava vermelho de novo. Para o meu alívio, a pessoa que formos ver chegou no cômodo e nós focamos nela pelos próximos trinta minutos.

Agradeci a atenção da senhora e entreguei o meu cartão de visitas, se ela se lembrasse de algo, era só me ligar. Jethro já estava no carro quando entrei,

— Você tem certeza de que está bem, Jen?

— Eu devo estar um pouco febril, Jethro, nada demais. – Saí pela tangente usando a desculpa que ele tinha, sem querer, inventado para mim. Me concentrei nas ruas, me policiando em não olhar para ele nem quando ele falava comigo. E isso não foi bom.

Tínhamos chegado no estaleiro e desci do carro com mais rapidez do que normalmente faço. Tudo para evitar dividir o elevador com ele. Eu só não contava que ele andava rápido também.

 E lá estávamos nós dois e mais ninguém em um caixinha de metal. Eu não o olhava, mas podia sentir os seus olhos em cima de mim. Até que ele, cansado de ser ignorado, – deveria ser a primeira vez que isso acontecia com ele – resolveu que era uma boa hora para apertar o botão de emergência.

— O que aconteceu com você, Shepard? – Ele estava mesmo irritado, já que abandonou o irritante apelido.

— Nada. – Falei.

— Então por que está me evitando?

Merda!

Levantei meu rosto e o encarei.

— Eu não estou te evitando. – Disse com calma, mantendo os meus pensamentos só na raiva que eu sentia emanar dele.

— Você está mentindo. – Ele disse pausadamente e deu um passo na minha direção.

Internamente eu me alertei de que não ia sair coisa boa disso. E inconscientemente dei um passo para trás e desviei o olhar.

Só que eu não tinha para onde ir, pois logo minhas costas bateram na parede fria e Jethro me cercava pela frente, me impossibilitando de chegar até o botão de emergência.

— Não tem nada de errado comigo, Gibbs. E será que você pode dar um passo para trás?

— Isso te incomoda, Jenny? – Seu tom de voz estava perigosamente perto do que aquele conjurado em meus sonhos.

— Já ouviu falar em espaço pessoal? – Falei impondo um tom petulante em minha voz.

E isso só piorou a situação, pois quando o encarei. Seus olhos estavam mais negros do que azuis.

Ele me encarava sem piscar. E eu acabei por fazer o mesmo. Minha boca ficou seca enquanto meus olhos passeavam pelo seu rosto.

Ele era, definitivamente, o meu inferno particular. E já que eu estava inferno mesmo...

Uma de suas mãos pousou do lado da minha cabeça, a outra vinha devagar até a altura do meu rosto. Eu me concentrei em não deixar que meus braços voassem de encontro ao seu pescoço.

— Jen... – Ele falou.

A essa altura eu concordaria com qualquer coisa que ele dissesse. Até que...

Com um solavanco o elevador foi posto em movimento, nos pegando de surpresa e Jethro que estava parado sem se encostar em nada acabou vindo para frente e bateu em mim. Agora não tinha distância nenhuma entre nós. E, por instinto, acabei por abraçá-lo pela cintura.

— Nossa! – Foi tudo o que eu consegui dizer. Olhei para ele, e ele encarava meus lábios.

— É o que todas dizem. – Ele falou e se afastou.

E essa simples frase foi o suficiente para afastar o meu sonho pelo resto do dia.


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Notas finais do capítulo

Explicações: a cena de crime e o tombo do Gibbs veio de uma frase dita pelo próprio Stan Burley no eisódio "High Seas" (S01E06). Eu sempre achei (depois de ver a série duas vezes) que essa referência fosse para a Jenny. Posso estar redondamente enganada, mas eu escrevi como se fosse.
O sonho que ela tem é inspirado no episódio Home of The Brave (S14E07), onde a Quinn tem esse sonho com o Gibbs.
E eu não podia deixar de misturar as duas vidas pessoais, né?
Vou ser boazinha e postar o terceiro capítulo logo, logo!!
Obrigada por lerem!



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