Meu Inferno Particular escrita por Carol McGarrett


Capítulo 1
Como Jenny e Jethro se Conheceram.


Notas iniciais do capítulo

E eu voltei! Sei que deveria estar escrevendo Carta Para Você, mas não resisti quando essa história pipocou na minha mente, isso e porque me pediram um back in the day desses dois, não é, Deh...

Antes de começarem essa história, uma pequena linha do tempo, para ninguém ficar perdido.

Linha do Tempo:
1995 ?“ Morte do Coronel
1996 ?“ Jenny forma da faculdade
1997 ?“ Entra no NCIS na equipe de Jethro, que tinha acabado de ser promovido a chefe de equipe, no lugar do recém aposentado Mike Franks. Está casado com a segunda esposa, Rebecca.
1998 ?“ Divórcio do Gibbs.
1999 ?“ Missão na Europa.
1999 ?“ “Carta Querido Jethro”
2005 ?“ Jen volta como Diretora.
2008 ?“ (abril) Nascimento da Elizabeth
2008 ?“ (maio) “Morte” da Jen
2013 ?“ Acontecimentos de "Coincidências Não Existe, será?"
2015 - Acontecimentos de "Baile de Pai e Filha"

Não é ciência de foguete,é só para que entendam a história.
Vou postar um capítulo por dia, e espero que gostem. É um enredo mais corrido, porque se não ficaria repetindo algumas coisas que já escrevi em "Carta Para Você"

Dito tudo isso, boa leitura!!



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1.1 Agente em Estágio Probatório Jennifer Shepard.

Fui e voltei do closet para o meu quarto umas cem vezes. Todas as minhas roupas estavam em cima da minha cama. E eu ainda não sabia o que vestir.

Era o meu primeiro dia de trabalho. Há uma semana eu me formara com honras no FLET-C. Depois de comer o pão que o diabo amassou eu estava pronta. Não no sentido literal da palavra, pois na verdade a única coisa que eu sabia que iria usar era um par de sapatos pretos bem altos, que já estavam devidamente separados na porta da minha casa. Estava pronta para ser uma agente federal.

Suspirei. Eu ainda tinha uma hora até a minha reunião com o Diretor do NCIS, Tom Morrow. Olhei desolada para as roupas. Eu tinha que me preparar logo.

Sem saber o que vestir, desci as escadas, precisava de um café para poder por os pensamentos em ordem. Na bancada da cozinha tinha um bilhete.

Te espero para o jantar. Boa sorte no seu primeiro dia!

Te amo.

Thomas.

O meu namorado perfeito, que eu já considerava quase um noivo agora, tinha sido gentil o suficiente para não estar por perto enquanto eu me descabelava de nervoso, mas se fez presente com esse bilhete. Eu era uma mulher sortuda. Aos vinte e sete anos eu já tinha quase tudo o que eu tinha sonhado.

Com a xícara de café em mãos voltei para o meu quarto. Depois de muito olhar, acabei escolhendo uma roupa que não era nem tão chamativa, mas que também tinha o seu charme. Não é porque eu carregava uma arma agora que eu deveria me vestir e me portar como um homem.

Ajeitei a pouca maquiagem, peguei minha bolsa e a mochila com tudo o que eu poderia precisar durante o dia. Meu distintivo em minha cintura e minha arma no coldre. Tudo devidamente no lugar, calcei meus saltos e peguei meu casaco.

Com o pé direito pisei do lado de fora da minha casa e torci para ter feito a escolha certa.

As ruas estavam começando a florir com a primavera tardia desse ano. E o degelo não estava ajudando em nada o trânsito. Isso e os malucos que se acham os verdadeiros pilotos de corrida que ultrapassam em qualquer lugar, quase que uma caminhonete me acerta a traseira.

Já no estaleiro, mostrei meu distintivo, minha entrada foi liberada e enquanto eu procurava por uma vaga, eis que vejo a mesma caminhonete que quase me bateu parada em um vaga... ai que vontade de furar uns dois pneus com a faca de caça que eu tenho aqui comigo...

Reprimi o pensamento. E desci do carro.

Olhei para o prédio. Era intimidante pensar que era ali que eu trabalharia agora. Há alguns anos nunca seria a minha escolha, mas a vida acontece e temos que nos adaptar a tudo.

Pela segunda vez no dia respirei fundo e me dirigi para a porta principal.

Cumprimentei com um bom dia as pessoas que me cumprimentaram e pedi informação sobre o escritório do Diretor.

— A senhora pode pegar o elevador, descer no terceiro andar. Lá verá uma escada, é só subir que estará de frente para a antessala. – Um dos guardas me informou.

— Muito obrigada. – Agradeci guardando a arma no coldre e pegando a minha bolsa e a mochila, depois de passar pelo detetor de metais.

— Primeiro dia, senhora? – O mesmo guarda me perguntou.

— Sim. Meu primeiro dia.

— Espero que não seja você quem vão colocar na equipe do agente Gibbs. Você parece ser gente boa demais para aturar aquele lá.

Dei de ombros, eu não fazia ideia para onde seria designada, eu só sabia que iria trabalhar aqui em Washington.

Segui as orientações que recebi. A primeira coisa que notei foi a cor das paredes. Quem pensou que laranja seria uma boa cor para um escritório de uma agência federal deveria estar sofrendo com alguma doença. Aquela cor era horrível.

Passei o olho rapidamente pela sala. Vendo as divisões entre as equipes. A última e mais próxima da escada que eu deveria subir era equipe de resposta para crimes mais graves. Ainda não havia ninguém sentado às mesas, mas pude notar que uma delas estava vazia.

Subi as escadas e me permiti olhar para o andar de baixo. A sensação de saber que você lidera tudo isso deve ser prazerosa.

Me virei para onde deveria ir e na antessala uma simpática moça me pediu para aguardar um momento que ela iria anunciar a minha chegada ao Diretor Morrow.

Agradeci e fiquei olhando ao redor, nervosa comecei a brincar com a alça de minha bolsa.

Pareceu uma eternidade, mas não deve ter demorado meros minutos quando minha entrada foi autorizada.

Bati na porta e cumprimentei o meu chefe.

— Bom dia, senhor.

— Agente Jennifer Shepard, não é? – Tom Morrow pareceu ser muito mais simpático do que eu imaginava.

— Sim, senhor. Mas pode me chamar de Jenny. – Estendi a mão para cumprimentá-lo. Ele repetiu o gesto e com um acenar de cabeça me convidou para me sentar à cadeira de frente à sua mesa.

Ao que parece ele puxou o meu histórico junto ao FLET-C e começou a pontuar alguns fatos.

— Meus parabéns, fazia anos que eu não via um agente em estágio probatório com uma indicação tão acima da média. Tenho absoluta certeza de que você se dará bem com os agentes da MCRT.

Levantei a minha sobrancelha. E me lembrei da área vazia no andar de baixo. A mesa vazia seria a minha.

— Assim espero, senhor. – Falei.

— Eu também. Quero que saiba que por mais mal-humorado que Gibbs possa ser, ele é um bom agente e é só não pisar no calo dele que vocês dois devem se dar bem. – O Diretor me aconselhou.

E as palavras do guarda da portaria voltaram a minha mente.

Espero que não seja você quem vão colocar na equipe do agente Gibbs. Você parece ser gente boa demais para aturar aquele lá.

Quem era esse homem que as poucas pessoas com quem conversei nesse prédio, tinham que dar uma advertência sobre o seu comportamento?

O Diretor chamou sua secretária e pediu que ela localizasse Jethro.

Jethro... quem tem um nome desses? – Perguntei internamente.

Cinco minutos depois a porta foi aberta e por ela passou o infame Agente Gibbs.

Fiquei de pé para me apresentar.

— Jethro, quero que conheça a sua nova parceira, Agente Jenny Shepard. – Morrow me apresentou.

Me virei para o meu “parceiro”, estendendo a mão. E cometi o primeiro erro da minha carreira. Eu olhei em seus olhos.

Será que era possível alguém ter olhos tão azuis assim?

Com minha mão estendida e um olhar fixo no rosto dele, me apresentei.

— Jenny Shepard. – Graças a Deus que minha voz estava firme. Assim como o meu aperto de mão.

— Jethro Gibbs. – Ele me respondeu, apertando a minha mão e me olhando de cima a baixo, algo como um choque elétrico passou por mim, enquanto ele me observava. Mantive a expressão séria. Logo ele largou minha mão e disse. – Espero que você seja temporária, não acho que se encaixe na minha equipe.

E eu tive vontade de responder à altura. Porém, contive a resposta mal criada que tinha na ponta da língua.

— Algum problema comigo, Agente Gibbs?

— Tirando o fato que eu esperava um agente e não uma Madame com saltos altos, nenhum.

Madame? Ele estava querendo levar uma bolsada?

Morrow coçou a garganta.

— Vocês estão liberados. Tenham um bom dia. E Shepard. Seja bem vinda.

Me virei para agradecer ao meu superior.

— Muito obrigada, senhor.

E quando dei por mim, Gibbs já tinha sumido de vista.

Segui para a escada, onde o alcancei. Ele não tinha a mais feliz das expressões, quando chegamos às mesas.

No mesmo instante em que a minha presença se fez notada, os dois outros agentes se levantaram.

— Você fica com essa mesa, Shepard. – Gibbs me mostrou a mesa ao seu lado direito.

Coloquei minhas coisas em cima e logo ele continuou.

— Burley, Decker. Espero que vocês façam a estadia temporária da Agente Shepard agradável.

Temporária? Mas quem ele pensa que era para saber se eu iria ou não continuar naquela equipe.

Os dois agentes se levantaram e estenderam suas mãos.

— Stan Burley. Seja bem-vinda. E não ligue para o Chefe. Ele é mal-humorado assim mesmo.  - E só com essa introdução vi que me daria bem com Burley.

— Jenny Shepard. – O cumprimentei.

— Will Decker. – O agente que se sentaria na minha frente, se introduziu. – Seja bem-vinda.

— Obrigada.

E foi quando eu me dei conta de que eu não fazia a menor ideia do que eu teria que fazer. Me restou me sentar e esperar.

Pelo canto do olho vi que Gibbs me encarava a cada segundo, O que eu tinha feito para ele me odiar tanto?

Quando eu já estava quase perguntando qual era o problema dele comigo, o telefone tocou.

Tínhamos um caso.

Segui os três pela sala até o elevador, tendo o azar de ficar ao lado de Gibbs no fundo. Pude notar que tanto Burley quanto Decker estavam sorrindo.

Tinha algo acontecendo aqui e eu estava envolvida sem saber.

A ceno do crime foi brutal. Eu nunca vira tanto sangue na minha vida, mas mantive a compostura e engoli a ânsia de vômito para seguir Decker como um cachorrinho por todo o lugar. Pude notar que cada vez que eu dava um passo, Gibbs me olhava torto.

Quando me vi sozinha com Decker, que parecia ser muito mais sensato do que Burley, tive que perguntar.

— Qual é o problema do Gibbs? Ele é sempre assim?

Decker não conseguiu conter a risada.

— Só com ruivas como você.

Eu não entendi a piada.

— Não leve a mal, novata. Mas você é exatamente o tipo do Gibbs. Ruiva, bonita, se equilibra em saltos altos. E, se me der licença, a sua escolha de roupa não está ajudando em nada a você passar despercebida por ele.

Então era isso. Gibbs tinha um tipo e eu, infelizmente, me enquadrava nele. E pelo visto a minha roupa também não agradava ao meu chefe... Que ótimo.

Escutei os passos do “Chefe” e me concentrei no que me mandaram fazer. Tirar fotos de tudo o que parecia fora do lugar. Acontece que para mim, tudo estava fora do lugar, pois todas as paredes estavam manchadas de sangue e eu torci para que o que eu via não fosse o cérebro de alguém. Logo um simpático senhor, que pela sua roupa, eu soube se tratar do médico legista, chegou.

Gibbs foi para cima dele logo querendo saber como as nossas vítimas tinham morrido.

Eu virei a cara, já não bastava o que eu tinha que ver e fotografar, não precisava ver os corpos também.

Com a cena processada, voltamos para o carro. Burley e Decker começaram a especular o que tinha acontecido ali.

Eu não tinha a menor ideia. A única coisa que queria era poder tirar o horrendo cheiro de sangue e decomposição do meu nariz.

Já no estaleiro, eu não tive tempo de respirar, mas, pelo menos, estava fazendo algo que me dava bem, buscando o passado de cada uma das nossas vítimas.

Suas identidades militares, passado familiar, o que elas estavam fazendo hoje.

Tudo estava servindo para distrair a minha cabeça da cena ensanguentada quando o telefone de Gibbs tocou e ele me chamou para acompanhá-lo.

Com uma distância segura o segui até o elevador dos fundos. As portas se abriram e ele entrou. Pelo visto o cavalheirismo dele ter ficado esquecido no berço. Entrei logo atrás e mal começamos a descer não sei para onde e ele apertou o botão de emergência, parando o elevador entre os andares.

— Mas o que foi isso? – Perguntei alarmada. Eu detesto me sentir presa.

— Medo de lugares fechados, Shepard?

— Existe um nome para isso, e é claustrofobia. Não, eu não tenho, mas não gosto de me sentir presa. Por que fez isso?

— Para te informar sobre duas coisas. Primeiramente, na minha equipe, todo mundo trabalha igual e não é porque você é mulher que terá privilégios. O Diretor pode ter te colocado aqui, mas agora quem manda em você sou eu, e se eu não achar que você se encaixa na minha equipe – ele destacou muito bem a palavra minha. – Você vai estar fora daqui mais rápido que você pode pronunciar a palavra que você disse anteriormente.

Pensei em qual seria a palavra que ele mencionara, falei tantas.

Ele me encarava e eu sustentei o seu olhar. E eu não deveria ter feito isso. Logo suas pupilas dilataram e eu não gostei do que vi no fundo de seus olhos, porém não desviei os meus, queria provar para ele que eu não tinha medo dele. Poderia respeitá-lo, mas não iria temê-lo.

— Segundo, - Ele deu um passo para trás e me fitou de corpo inteiro. – Você vai usar sapatos adequados. Isso... – seu olhar ficou parado na minha perna. – Não é um calçado para se usar em cenas de crime.

Acompanhei o seu olhar pela minha perna e depois virei para ele, com um tom mais sarcástico que eu podia ter, perguntei.

— E qual seria o sapato apropriado, Chefe?

Ele foi pego de surpresa pelo meu tom. E estreitou os olhos na minha direção.

— Botas, Shepard. Botas.

E ele se virou para colocar o elevador em movimento novamente.

Botas, ele disse. Mas não especificou qual bota. Eu sabia exatamente o que iria usar no outro dia.

Minha curiosidade sobre o nosso destino foi satisfeita em pouco segundos, e eu tive que reprimir um gemido de desespero. De todos os lugares onde ele pudesse estar indo, tinha que ser justo a autópsia? Justo agora que eu estava começando a esquecer do cheiro da cena do crime.

Parei por um momento nas portas metálicas para tomar coragem.

— Algum problema, Shepard? – Gibbs disse com um sorriso zombeteiro nos lábios.

— Nenhum. – Coloquei toda a minha teimosia na minha resposta e entrei na sala fria com a cabeça erguida.

Logo notei que o Médico Legista, a quem eu ainda não fora apresentada, nos olhava com interesse.

— Jenny Shepard. – Me apresentei, abstendo-me de estender a mão, já que ele estava ocupado com o....

— Donald Mallard, mas pode me chamar de Ducky, minha querida. E me perdoe não estender a mão, mas tenho que pesar o fígado do nosso visitante.

Céus... aquilo era um fígado de verdade.

Gibbs olhou para mim, creio que esperando que eu vomitasse. Me lembrei de como respirar pela boca e me foquei no que Ducky falava, e não no que ele fazia.

— Não tem problemas, Ducky. É um prazer te conhecer.

Ele sorriu em minha direção.

— O que tem para mim, Duck? – Jethro o cortou.

E o Doutor Mallard começou a contar sobre tudo o que tinha encontrado nos corpos. Eu não vi utilidade nenhuma de estar ali, logo tudo o que ele sabia iria para um relatório.

E foi quando ele soltou a palavra que me fez titubear.

— Como podem ver. – Ducky virou a cabeça de uma das nossas vítimas na nossa direção. – O tiro entrou pela testa e saiu pela parte de trás, levando um bom pedaço do cérebro dele junto. Creio que deve ter manchado as paredes e o chão. Espero que vocês tenham tomado cuidado para não terem pisado.

Desviei meus olhos do enorme buraco no crânio da vítima e caí na besteira de olhar para o chão, para os meus sapatos. E me lembrei de algo...

Eu pisara naquilo. E estava torcendo para não ser o que Ducky tinha acabado de falar que era. Eu não me permiti olhar a sola do meu sapato, mas só de saber que eu tinha pisado no cérebro de alguém foi demais para mim, e sem ter para onde fugir, sem saber ao certo onde era o banheiro mais próximo, não consegui conter a ânsia que se formou em meu estômago e rapidamente subiu por minha garganta. Me apoiei na primeira coisa que vi e vomitei.

Quando a ânsia e a tontura passaram eu notei três coisas: Primeiro, a conversa entre os dois homens havia cessado e eu podia sentir os olhos deles em mim; segundo, a “coisa” na qual eu me apoiava era o braço e o ombro de Gibbs; terceiro: eu acabara de vomitar nos sapatos do meu chefe.

Eu quis morrer. Quis que se abrisse um buraco no chão para que eu me enfiasse e jamais saísse ou que eu desse um infarto e tivesse que ser socorrida. Eu aceitaria qualquer coisa, menos ter que encarar os olhos azuis que eu sabia que estavam me encarando de volta e estariam furiosos.

Mas eu não tive escapatória, rapidamente tirei minhas mãos do braço e do ombro de Gibbs e lentamente levantei a parte superior do meu corpo. Eu podia sentir minhas bochechas queimando, o fluxo de sangue repentino me deixando vermelha.

Evitando o olhar do meu chefe, me dirigi a ninguém em particular enquanto olhava para o fundo da sala.

— Me desculpem.

— É mais do que compreensível, minha querida. – Ducky falou. – Tem um banheiro depois daquela porta, pode ir lá. – Ele me indicou o caminho e sem olhar para Gibbs sai apressada da autópsia.

Eu queria ficar escondida naquele banheiro até o final do expediente, mas não podia. Assim, não me restou outra opção a não ser sair e encarar o médico legista que me esperava com uma xícara de chá na mão.

— Minha querida, não se envergonhe. Isso é muito comum. – Ducky me estendeu a xícara.

Olhei desconfiada para o chá, com medo de passar mal novamente.

— Vai acalmar o seu estômago. – Ele me garantiu com um sorriso caloroso.

— Obrigada. – Murmurei pegando a xícara e bebericando o chá.

Ducky me olhava com olhos sábios e um discreto sorriso no rosto.

— Gibbs deve ter saído daqui furioso. – Comentei.

— Com certeza não estava feliz, mas ele fez isso para te testar.

— E eu falhei miseravelmente. – Disse sem emoção. Meu cérebro já começava a pensar aonde eu poderia trabalhar. Com certeza em um lugar bem longe das autópsias.

— Como eu disse, você não é a primeira e não será a última, minha querida. Porém, pode ter certeza de que Jethro vai dificultar a sua vida um pouco mais depois dessa.

Parei de tomar o chá, meu estômago se fechou e não foi por conta de uma nova onda de enjoo, não do tipo que tinha me atacado há poucos minutos, pelo menos.

— Você vai se acostumar, Jennifer. Só tenha um pouco de paciência, eu tenho certeza de que você e Jethro vão se dar bem.

Eu ri internamente. Estava começando a duvidar que eu permaneceria na equipe dele de qualquer forma.

O restante do dia foi um pouco melhor, mas eu tinha a impressão de que os meus dois colegas de equipe já sabiam do incidente.

Quando as sete da noite chegou, eu estava terminando o relatório. O resultado do caso, um assassinato seguido de suicídio. Sem ter culpados, sem ter quem interrogar, o caso foi finalizado.

— Vai ficar fazendo hora extra ou está esperando uma hora adequada para ir limpar a autópsia, Shepard? – Gibbs perguntou parado na minha frente. E internamente eu me perguntei se ele não tinha consciência da presença sufocante dele ou se ele fazia isso de propósito.

— Vou terminar esse relatório e já vou. – Respondi sem olhar para ele.

Deliberadamente ele fechou o meu arquivo com a mão esquerda e notei que ele era casado. Quem foi a maluca que se casou com esse homem?

— Você não escutou? Te mandei para casa. Relatórios amanhã.

Guardei minhas coisas e estava esperando para que Gibbs fosse embora, mas ele parecia que estava me esperando.

— Shepard?

A contragosto me levantei e caminhei até o elevador.

Pelo visto ia ser nós dois dentro da caixa de metal de novo.

As portas se fecharam e eu me vi obrigada a conversar sobre o incidente.

— Ah... Gibbs. – Eu foquei na porta ao invés de seus olhos. – Me desculpe por mais cedo. Pode me mandar a conta da lavagem do sapato.

Eu nem tinha terminado de falar senti um tapa na parte de trás da minha cabeça. Um tapa muito forte.

— Mas o que? – Olhei para ele, dessa vez a queimação no meu rosto não era vergonha, era raiva.

— Regra #06 – Nunca se desculpe, é sinal de fraqueza.

Esfreguei a parte de trás de minha cabeça. Doía pra caramba.

— Que papo é esse de regra? Isso não está escrito em nenhum manual do NCIS.

— São as minhas regras, Shepard. E é a minha função te ensinar cada uma delas.

— Então eu devo anotá-las em algum lugar, porque elas devem estar anotadas em um livro.

— Você tem que aprendê-las.

Levantei uma sobrancelha para ele.

— Se você diz. – Dei de ombros.

— Mas eu vou mandar a conta da lavagem. – Ele disse ao sair do elevador, me deixando um tanto atordoada.

Fui seguindo a sua sombra até o estacionamento, e, mais uma vez o destino quis brincar com a minha cara. Adivinha quem era o motorista da caminhonete que quase bateu em mim?

O próprio Jethro Gibbs.

Acho que esse homem era o meu inferno particular na terra. Não tinha possibilidade de ser outra coisa!

Esperei que as luzes traseiras do carro do meu chefe saíssem do meu campo de visão para poder ir para casa.

Tudo o que eu queria era esquecer esse dia e o carma em nome de chefe que eu tinha conseguido.

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1.2 – Agente Especial Sênior Leroy Jethro Gibbs

E eu achando que mais ninguém poderia me perturbar nesse lugar. Estava errado. Ela podia. O trabalho que era o único lugar onde eu poderia esquecer qualquer coisa e focar só nos casos tinha virado um inferno. Essa é uma boa definição, pois a pessoa que o tinha transformado nisso tinha cabelos vermelhos.

Cabelos vermelhos, olhos verdes e longas pernas.

Exatamente o que eu não estava precisando nesse momento. Não quando estou tentando me livrar de outra ruiva.

Jenny Shepard não precisava ter vindo com aquela roupa para trabalhar. Aliás, quem vem trabalhar vestida daquele jeito? Ela teria feito de propósito? A camisa verde destacando os olhos tão verdes quanto, a saia preta e os saltos... isso não era roupa para trabalhar do meu lado, não se eu quisesse trabalhar. Na verdade, Shepard não precisava estar na minha equipe. E ponto.

Mas ela estava. Com todos os problemas que eu sei que ela traria, ela estava. E mesmo que ela tenha vomitado no meu pé na autópsia, não havia motivos para dispensá-la. Ela aprendia rápido, era inteligente. Se encaixava onde estava, por menos que eu quisesse admitir.

Contudo, nada me impedia de que eu fizesse a vida dela um inferno também. Não iria matá-la se eu dificultasse o caminho dela.

Não ia. E eu me peguei pensando como eu poderia fazer isso.

Se eu não tinha motivos para tirá-la da minha equipe, talvez ela pedisse para sair por si própria.

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E o segundo dia de Shepard começou com um problema. Dessa vez ela não estava vestida como a Madame que ela era, não que tenha ficado menos tentadora, mas estava se misturando entre os demais agentes.

O problema continuava nos pés. Eu me lembro claramente de ter avisado que era para ela vir de botas.

— Bom dia, Chefe. – Ela falou com um sorriso presunçoso. Definitivamente ela estava me testando. – Algum problema? – O olhar inocente que ela sustentou não me enganava.

— Eu te mandei vir de bota.

Ela deu de ombros.

— Mas eu estou de usando botas.

— Não foram essas botas as quais me referi. – Praticamente grunhi. Era o segundo dia dela no NCIS e ela já estava mostrando as garras.

— Pelo o que me lembro da nossa conversa, Chefe. Você não especificou quais botas eram.

Ela tinha um ponto. Mas eu não podia deixá-la ganhar. Não agora e nem nunca.

Saí da sala. Pude ver o topo de sua cabeça vermelha pela divisória, ela ainda estava sentada na mesa. Shepard teria uma surpresa não muito agradável.

Voltei dez minutos depois e com um prazer maior do que devia, joguei um par de botas em cima da mesa dela. Ela, pega de surpresa, deu um pulo da cadeira.

Já recuperada, encarou as botas e depois virou seu rosto na minha direção, seus olhos faiscaram de fúria.

— Então era isso que você queria que eu usasse? Botas de combate? – Ela apontou para o par de botas com um dedo e sua cara era de desgosto.

Burley e Decker prenderam a respiração e tinham os olhos arregalados. E eu não acreditava que Shepard iria me enfrentar.

— Não são botas de combate, Shepard. Se você quiser entrar em qualquer navio da Marinha, tem que estar usando isso, a menos que queira escorregar e quebrar o pescoço em muitas das escadas que tem lá dentro. – Pensei na cena com um prazer maior do que devia.

Ela pegou as botas e jogou no chão.

— Como não estamos em nenhum navio, eu posso ficar com as minhas botas. – Deliberadamente ela cruzou as pernas e se voltou para o relatório.

Pelo canto do olho vi que Morrow passava para o MTAC, e eu quase o segui e exigi que tirasse essa ruiva petulante da minha equipe. Ela, por sua vez, estava sorrindo discretamente.

E eu torci para que a próxima cena de crime fosse no meio de algum parque onde ela precisasse andar entre folhas, raízes e pedras soltas, queria saber se ela manteria esse sorriso no rosto com o tornozelo torcido.

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Os dias foram passando e quando vi, já tinham seis meses que Shepard tinha se juntado à equipe. E foi mais fácil de me acostumar com a sua presença do que eu teria pensado.

Claro, ela também não facilitou muito, sempre tinha uma resposta para tudo e quem estava sofrendo na mão dela era Burley. A cada vez que ele tentava uma gracinha, Shepard disparava uma ameaça bem real contra ele.

Decker aprendeu a lição sem ameaças, porém ainda preferia manter uma distância segura de Jenny e qualquer objeto que ela poderia arremessar.

Burley não foi tão esperto, aliás, esperteza não é muito o forte dele quando se trata de mulheres bonitas e, Shepard quase arrancou a cabeça dele com um grampeador arremessado quando Stan soltou uma piada de duplo sentido para cima dela.

Eu até teria ajudado Jenny, mas achei que ela gostaria de lidar com isso sozinha.

Depois disso, os dias poderiam ser considerados calmos, mesmo que uma vez ou outra fosse possível ouvir ameaças de castração ou de um tiro acidental na cabeça em uma cena de crime.

Assim, as duplas foram formadas e não tive escolha, tendo em vista o temperamento explosivo da ruiva, Burley e Decker resolveram que seriam parceiros, só para garantir que um dia eles pudessem contar as histórias de uma ruiva maluca que eles conheceram no trabalho para os netos. Quando essa fala chegou aos ouvidos de Shepard, ela muito deliberadamente soltou:

— Como se houvesse uma mulher neste planeta que queira ser a responsável por trazer cópias de vocês para esse mundo.

— E quem são o “vocês” na sua frase, Ruiva? – Stan perguntou. E para o apelido, Jenny lançou um olhar mortal na direção dele.

— Os três patetas que estão me olhando agora.

E isso incluía a mim. É tinha dias que eu ainda queria que ela escorregasse na escada e quebrasse o pescoço.

E assim mais um mês se passou.

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Estávamos em uma tocaia, dentro do carro há quase quatro horas. Shepard estava começando a ficar inquieta.

— Dá para ficar quieta? – Eu já tinha perdido as contas de quantas vezes ela já tinha prendido e soltado o cabelo.

— Não fiz nada demais. Só estava prendendo o cabelo. – Ela deu de ombros.

— E tem algo diferente que você saiba fazer? – Cutuquei.

— Nada que você vá ficar sabendo. – O sorriso dela era diabólico. Dentro de um carro fechado não era lugar para fazer esse tipo de piada.

Levantei a sobrancelha e ela abriu ainda mais o sorriso.

Eu sabia que ela não era boa coisa quando coloquei os olhos nela.

— Que horas Stan e Will vão vir nos render? – Ela perguntou tentando esconder um bocejo.

— Tinha outro lugar para estar, Jenny?

— Preferia estar na cama. – Ela soltou sem pensar. E eu não resisti à deixa, olhei sugestivamente para ela. – DORMINDO!— Ela enfatizou.

— Não tem ninguém que te ature, Shepard? – Perguntei para provocá-la.

Ela deu um suspiro audível.

— Isso não é da sua conta. E você? Cansado de ficar a noite inteira acordado, Gibbs? – Ela trocou de assunto.

Não respondi. Ela não tinha nada a ver com isso.

E Jenny ficou quieta, estranhamente amuada para alguém que sempre tem o que falar. Devo ter tocado em um ponto delicado.

A próxima hora passou arrastada e Jenny não abriu a boca, observava a casa que queríamos com atenção.

Comecei a fazer o mesmo, e aquele momento me pareceu muito com o meu casamento atualmente, sem ação e sem conversa.

Ela se mexeu minimamente, tinha visto algo, sem piscar, buscou pelo binóculo que estava no meu colo e sorriu ao avistar nosso suspeito.

— Ele acabou de chegar. A van parece que ainda está ligada.

Peguei o meu binóculo de suas mãos e olhei o que ela tinha descrito. Imediatamente ela pegou a câmera e começou a tirar as fotos. Tinha momentos que era fácil de trabalhar ao lado dela.

Nosso suspeito voltou e abriu a porta lateral da van, se achando seguro no escuro da noite, tirou de lá a sua próxima vítima. Se aquela mulher não era da mesma idade de Jenny, era pouco mais velha.

— Vamos agir agora. – Falei para ela.

Jenny tirou a arma da cintura e silenciosamente desceu do carro, seus malditos saltos nunca fizeram barulho no concreto da calçada.

Liderei o caminho, Shepard fazia a retaguarda. A porta da van ainda estava aberta, ligamos a lanterna para ver o interior. Não tinha mais ninguém ali.

Ouvimos passos e nos protegemos. E lá estava o assassino em série, passando na nossa frente. Jenny quis anunciar a nossa presença. Tive que segurá-la onde estava. Ela me encarou com a expressão fechada.

— Lá dentro. – Sussurrei. E claramente vi que ela não gostou.

Seguimos o suspeito e assim que coloquei o pé dentro da casa, anunciei que estávamos ali. Um tiro passando muito perto de minha orelha foi o nosso cartão de boas-vindas.

E nessa noite foi o primeiro erro de Jenny. Ela agiu por impulso e não sob as minhas ordens. Atirou de volta e denunciou onde estava. Após o outro disparo, escutei que ela reprimiu um grito.

— Shepard?

— Estou bem? – Ela tentou garantir, mas sua voz não em enganou. – Me cubra, eu vou atrás dele.

Ela não me deu tempo de discutir, passou por trás de mim e seguiu para a escada do segundo andar, sozinha.

Quando eu cheguei, momentos depois, ela estava presa no chão, o assassino em série com a faca a centímetros do seu pescoço. Não tive escolha a não ser atirar. Mesmo sabendo que a morte era a melhor das opções para ele, não deixaria que Jenny virasse parte das estatísticas.

Só tinha uma coisa que eu não entendi, o que levou Shepard a agir assim, normalmente Jenny pensa mais de duas vezes antes de fazer qualquer coisa.

Foi quando eu vi, a moça que nós o vimos tirar da van jazia sem vida no piso do quarto. Ela era ruiva e praticamente da idade de Jenny.

Quando Shepard se deu conta que Newton não iria mais se levantar, ela o jogou para longe e com os olhos verdes arregalados se levantou, olhou em volta e pousou seu olhar em mim.

— Chegamos tarde! Se você tivesse me deixado acabar com ele lá fora, ela não teria morrido. – Ela disse venenosamente na minha direção.

— Jen. Hei. Olhe para mim. – Tentei segurá-la.

— Me solta. Temos que chamar Ducky. – Ela saiu segurando o braço que fora ferido na troca de tiro.

Ela olhava para todos os lugares, menos para mim. Na luz fraca que entrava pela janela vi que, além de seu braço, o pescoço dela tinha um corte que também sangrava.

— Jen... você tem que sair daqui.

— Eu vou ficar aqui até que ela seja levada. Será que você não entende, Gibbs que ela está morta por nossa causa?

— Regra #10.

— Não me venha com as suas regras estúpidas agora. É muito difícil aceitar que você errou? Que ela virou um número por nossa culpa? – Ela começava a falar mais alto.

Segurei ela pelo braço que não estava ferido.

— Jen, respira.

— Eu não tenho tempo...

— Jen, por favor, me escute. É normal ficar assim.

— Será que você não entende, eu estou bem. – E a cada vez que ela repetia isso, seu olho direito piscava. A mentira que ela falava era entregue pelo seu olho.

— Mentira. – Eu falei na cara dela e ela deu um passo para trás. Respirando rapidamente ela tentou se livrar de mim e desceu as escadas. Não chegou na metade e desabou, se sentando e escondendo o rosto entre as mãos.

Era a primeira pessoa que ela via morrer de perto. Era a primeira vez que ela via a morte cara-a-cara. Jenny precisava de espaço, mas não poderia ficar sozinha.

Ducky chegou, assim como Stan e Will. Shepard se levantou e manteve a postura de fria e senhora de si.

Eu só fui ver Jenny desabando de verdade, horas mais tarde, todos já tinham ido para casa. Ela ficara, com a desculpa de terminar o relatório, mas assim que se viu sozinha na sala do esquadrão, desceu para o último subsolo e, apesar de detestar aquela sala, entrou. E eu a encontrei sentada no chão abaixo da gaveta onde a jovem estava, as duas mãos envoltas no próprio pescoço, chorando e se culpando.

Por mais que seu olhar na minha direção fosse assassino e me dissesse que ela queria ser deixada sozinha, eu a ignorei e me sentei do seu lado.

— Não vai ficar mais fácil. Nunca fica. Uma hora você vai dizer que já chega, que não aguenta mais. Que está no seu limite, e apesar de ter todo o direito de desistir, vai ficar, porque sabe que para cada um que perdemos, salvamos outros que ninguém poderia salvar. – Falei.

— Ela poderia ter sobrevivido. Chegamos tarde! – Ela protestou, sua voz falhando.

— Não sabemos o que ele fez com ela antes de entrar na casa, Jen.

— Mas Jethro... – Era a primeira vez que ela me chamava pelo meu primeiro ou segundo nome. – Era o nosso dever.

— Pense que ele não fará mal a mais ninguém, Jen. E não foi tarde, você está viva. – Olhei sugestivamente para a bandagem em seu pescoço. De tanto ela apertar o local, estava suja de sangue.

Ela virou o rosto.

— Se precisar de alguém para conversar. Eu estou aqui. Não é fácil superar isso também. – Tirei uma das mãos que ainda estavam apertando o pescoço.

Ela se afastou como se tivesse levado um choque e quando olhou na minha direção, tinha uma expressão perdida.

— Obrigada. Acho que vou para casa agora. – Jen se levantou.

— Eu te deixo lá.

— Não precisa, Jethro, de verdade, eu posso dirigir. Eu só preciso processar tudo isso. – Ela olhava para a gaveta e depois desviou os olhos. – Eu agi por impulso dentro daquela casa. Tudo o que eu queria era acabar com a vida daquele desgraçado, ainda mais depois de ver o quão desolados os pais estavam. E por querer tanto isso, eu me descuidei. Quase que eu paro em uma dessas por um erro bobo meu. Obrigada por salvar a minha vida, Jethro. Boa noite. – Ela me deu um beijo no rosto e foi para o elevador.

— Boa noite, Jen. – Respondi para as portas que se fechavam.

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A melhor reação que tirei de Shepard foi com certeza no dia da avaliação. O dia em que ela deixava oficialmente de ser Agente Junior em Estágio Probatório e passava para Agente Especial.

Logo que ela chegou, já dava para notar que a ansiedade que tentava mascarar. E quando viu o envelope em cima da mesa, não pensou nem por um segundo. Ela sabia o que fazia, sabia admitir que errara, só não sabia como eu avaliaria a sua conduta.

Com um floreio tirou a folha lá de dentro e assim que seus olhos bateram na nota que ela havia ganhado, ela ficou lívida.

Burley e Decker estavam chegando e assim que viram o que estava na mão de Jen, a olharam com um misto de pena e diversão.

— Dia da avaliação, Ruiva? – Stan perguntou.

Jenny não havia se mexido desde que abrira o envelope.

— Não liga, Jenny. Ninguém tira nota alta mesmo. – Decker tentou ser o compreensivo.

E foi só aí que ela encarou os dois agentes que estavam parados na frente dela.

— Foi tão mal assim? – Quis saber Burley.

Ela deu de ombros, dobrou a folha ao meio e a guardou no envelope, trancando-o na sua gaveta.

— Nada que importe. – Foi a resposta dela. e por trás da calmaria, eu sabia que mais tarde viria a tempestade.

Ficamos presos em um caso por três dias e durante todo esse tempo, tinha momentos em que eu podia jurar que Shepard queria a minha cabeça. Não foi nem um ou duas vezes que a mão dela passou muito perto do grampeador quando eu passei na frente dela. Porém, ela sempre respirava fundo e fechava ainda mais a expressão.

Vai ser divertido quando ela explodir de vez.

E não demorou muito, assim que o caso foi encerrado e ela viu que tanto Stan quanto Will já tinham ido, Jenny abriu a gaveta e ficou de pé na minha frente. Eu podia sentir toda a fúria que emanava do corpo dela e, em menos de dez segundos, seu rosto ficou vermelho escarlate e seus olhos faiscaram de fúria.

Se eu não tivesse a plena certeza de que a arma dela estava guardada na gaveta e que o meu grampeador estava bem longe do seu alcance, eu não teria feito o que fiz. Mas, por outro lado, testar os limites dela era um dos meus passatempos preferidos desde que ela se juntou à minha equipe.

— Algum problema, Shepard? – O sorriso que dei foi involuntário. E ela ficou ainda mais raivosa com isso.

— São nove meses aqui dentro. Fazendo praticamente tudo o que me foi mandado. Como você me avalia desse jeito? – Ela jogou na minha frente a folha de avaliação e apontou para a nota.

— Achou muito?

E ela explodiu de vez.

— Eu sei que cometi erros, merda, Gibbs, eu quase me deixei ser morta pelo Newton, mas aquilo e outro pequeno erro algumas semanas atrás não justificam essa nota! Poderia não ter sido um total, mas isso, isso aqui é uma humilhação. Me diga, o que eu fiz de tão errado para ter uma das menores notas da história do NCIS? Porque é fácil de notar que eu não sou tão ruim assim. Aprendo rápido, sigo as ordens, até estou anotando as suas malditas regras. Em nenhuma vez você ficou em perigo nos últimos nove meses. Isso aqui é o que? Perseguição? Está querendo me ver longe da sua equipe e foi esse o jeito que conseguiu achar? Tem tanto medo de ser superado por uma mulher, seu chauvinista? É isso?  - Ela não parou para respirar durante o seu rompante, e agora estava vermelha e sem fôlego na minha frente. E pronta para me matar se tivesse a chance.

— O que aconteceu? A oradora e destaque da turma de Direito de Harvard não gosta de ver uma nota baixa? A melhor recruta do FLET-C achou injusto? – Falei na direção dela e Jen deu um passo atrás. Sim, eu tinha buscado o passado dela, queria ver quem estava se sentando do meu lado.

— Isso não teve nada a ver com desempenho, Gibbs. E você sabe muito bem disso. Isso aqui. – Ela apontou para a folha. – Esse 10 que você me deu, é perseguição.

— Quer fazer uma queixa junto ao Diretor sobre isso, Jen? – Perguntei.

Ela bateu o pé no chão e virou as costas. Quando pegou a bolsa e a arma, se virou para mim e disse friamente:

— Você não vai ficar livre de mim tão facilmente, Gibbs. Eu vou me tornar o seu pior pesadelo. – E mais rápido do que eu pensava que seria possível, para alguém calçando saltos tão altos, ela cruzou a sala em direção as escadas dos fundos e gritou: E NÃO ME CHAME DE JEN! - Desaparecendo logo em seguida.

Se ao menos ela soubesse a verdade!

Peguei a folha que ela havia deixado na minha mesa, dobre e coloquei em outro envelope, colando um post it por cima, eu sabia onde iria deixar.

Peguei meu casaco e fui embora, certo de que as palavras dela eram verdade, ela continuaria a ser o meu pior pesadelo.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram? Odiaram? Ficou exagerado?
Críticas, sugestões, e comentários aleatórios porque sentem falta desse casal são sempre bem-vindos!

Amanhã tem o segundo capítulo.

Obrigada por lerem!

xoxo



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