93 Million Miles escrita por melodrana


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!

Eu resolvi revisitar essa one depois do comentário de umas das minhas amigas mais antigas de fandom, a Val. Ela gosta muito dessa história e eu também, então resolvi reescrever porque eu vi que tinha muitos errinhos e algumas coisas que eu já não gostava porque amadureci um tanto com esses 7 anos que se passaram.

A história original e os extras foram excluídos, mas eu vou montar um pdf com ele e mais um extra que não foi postado e mandar para quem deixar um e-mail no comentário. Eu resolvi não postar eles aqui porque eu tenho um carinho especial pela história como um capítulo único.

Espero que gostem das mudanças! Boa leitura e beijinhos!



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A estação estava cheia para aquele horário.

Isabella Swan sempre imaginou que as pessoas do Século XXI, que usufruíam em abundância da modernidade, preferiam o conforto e a rapidez de um avião a um lento e tedioso trem. Ela viu, porém, que estava equivocada. Vários corpos passavam por ela; alguns carregando enormes malas, outros com apenas uma mochila à tira colo; alguns com a quantidade de filhos superior à de bagagens e outros sozinhos, assim como ela.

A morena aproximou-se do embarque assim que o trem despontou no final da curva. Com um barulho ensurdecedor, a máquina estacionou e abriu as portas, revelando uma grande quantidade de lugares vazios e vagões que não fariam parte de sua jornada. Entrando rapidamente, Isabella procurou por seu assento em um dos vagões menos luxuosos e se acomodou, colocando a bolsa sobre o colo.

A viagem seria longa. Os pensamentos de Isabella desviaram-se novamente para as pessoas que estavam em aviões, desta vez com uma ponta de inveja pela oportunidade de terem um deslocamento mais confortável e um tempo reduzido de viagem. Ela sabia, no entanto, que não podia se comparar a elas. Estava sentada naquele trem por necessidade e não por ser alguém que tem horas livres para gastar em um tedioso trajeto.

E isso a entristecia ainda mais.

Na mesma estação, Edward Cullen corria para chegar a tempo até os vagões que estavam prestes a fechar as portas. Com apenas uma maleta em mãos, deu uma última acelerada em seus passos e sorriu em agradecimento ao guarda em posto, como se o milagre de ter chegado a tempo de embarcar tivesse sido graças ao rapaz de uniforme à sua frente.

Caminhando entre os corredores, encontrou sua poltrona. No assento da janela, uma morena com longos cachos castanhos escuros e pele alva fitava algo além do vidro, enquanto estranhos atrasados como ele corriam para chegar a tempo no trem. Ela não se virou quando ele sentou e colocou a maleta próxima aos pés. Edward ficou curioso para conhecer seu rosto, mas afastou o pensamento com um chacoalhar de cabeça, lembrando-se que não conseguiria olhar para uma mulher tão cedo.

Quando o trem partiu, a mulher ao seu lado soltou um suspiro. Ela olhou para a janela por mais alguns segundos, mas quando a velocidade ficou maior, voltou a cabeça para frente. Enjoo, pensou ele, assim como eu.

Então por que ela escolheu viajar nessa máquina sacolejante?

De repente, a mulher virou o rosto em sua direção. Edward foi pego de surpresa pelo movimento e se sentiu envergonhado por estar encarando. Com um sorriso tímido, ofereceu um pedido de desculpas silencioso e ela manteve o olhar sobre ele tempo o suficiente para intrigá-lo.

Os olhos dela eram de um intenso castanho, mas vazios de qualquer tipo de emoção.

Depois de vinte minutos de silêncio, Edward começou a se sentir incomodado. Ele iria passar a noite toda naquele assento, ao lado da morena de olhos grandes e misteriosos. Não seria educado manter contato? Iniciar uma conversa mesmo que frívola, mas que ocupasse o tempo de ambos para que não ficassem tão entediados com a longa viagem? Ele gostava de compartilhar, principalmente se tinha tempo livre para isso. Ultimamente sentia o mundo ao seu redor extremamente impessoal. Isso o incomodava. 

Mas e se ela quisesse dormir? Edward não queria ser o companheiro de assento chato e irritante, que força diálogos desnecessários. As pessoas odeiam esse tipo de interação. No entanto, ainda achava que seria mal educado se não falasse absolutamente nada durante toda a viagem.

— Sabia que o Sol fica a 93 milhões de milhas da Terra? — ele soltou, sem nem ao menos se dar conta da besteira que havia proferido.

A morena virou o rosto para ele, confusa.

— Hm, o quê?

Ele sabia. Havia sido um completo idiota.

— Nada. É só que parece que o Sol está tão perto da gente. O calor dele faz com que pareça que ele está do nosso lado. Mas ele apenas está muito longe.

Edward sabia que ia ser ignorado pelo resto da viagem depois de seu devaneio. Quem em são consciência prestaria atenção em um lunático falando sobre distância entre o Sol e a Terra? Ele não conseguia entender como ainda tinha amigos. Com certeza tinham muita paciência ou simplesmente ignoravam o que saía de sua boca.

Para a surpresa de Edward, a morena começou a rir. E não um simples riso, mas uma sonora gargalhada, vinda do fundo do peito. Os passageiros ao redor os encararam com olhares reprovadores, pois muitos já dormiam. O queixo dele apenas caiu, demonstrando seu choque.

— Do que você está rindo? De mim?

— Não, de você não. Mas do que você disse. É uma analogia perfeita. Você estava tentando chamar a minha atenção? — Ela riu mais um pouco, enxugando com o dorso de uma das mãos uma lágrima que havia escapado do canto de seu olho esquerdo.

— Eu só queria puxar assunto.

Ela o fitou, desconfiada.

— Não era apenas isso. Admita, os 20 minutos que ficamos em silêncio serviram para você elaborar sua coisa toda sobre "Sol" e "tão perto, mas distante".

Edward então se deu conta de que havia descrito a situação em que se encontravam sem nem ao menos perceber. Com isso, não conseguiu também se conter ao soltar uma sonora risada.

— Desculpa, eu não tive essa intenção. Eu apenas queria puxar assunto para, sabe, ser simpático.

Ela fitou-o novamente com aqueles olhos intensos, sorrindo com o canto dos lábios. Aquele estranho de olhos verdes e sorriso fácil havia arrancado dela uma gargalhada, coisa que Isabella não dava há meses.

Quando ele se sentou ao seu lado, estava torcendo para que não fosse do tipo falante, pois ela não estava disposta a ser simpática. No entanto, quando ouviu a aleatoriedade que saiu da sua boca, sentiu uma pequena porta de seu coração se abrindo, provocando aquela sonora gargalhada. A comparação estúpida que ele dizia não ser proposital fez com que ela despertasse de suas próprias lamúrias e entendesse como ela se mostrava para os demais.

Aquele cara, ela decidiu, não era um simples companheiro de assento. Ele merecia sua atenção, mesmo que fosse por apenas algumas horas dentro de um trem.  

— Eu me chamo Isabella, mas pode me chamar apenas de Bella. — disse, olhando para o belo rosto masculino. Pequenas rugas formaram-se ao redor dos olhos verdes quando ele sorriu.

— Edward. Apenas Edward.

Eles engataram em uma conversa sem nenhum assunto em específico. Edward se afeiçoou a voz suave de Bella e as caretas que ela fazia quando queria se expressar; Isabella gostou de sempre ver um sorriso no rosto de Edward, apesar de seus olhos não acompanharem sempre o movimento e o sentimento de seus lábios.

Depois de muitos minutos conversando, ficaram subitamente em silêncio. Sorriram um para o outro, não se importando com a falta de palavras. Sabiam que a troca era mais importante do que o significado das conversas.

No entanto, o sorriso de Bella murchou ao perceber que aquela era uma distração passageira. Aquele belo estranho mantinha sua mente momentaneamente longe de seus problemas, mas assim que descesse do trem a realidade bateria em sua porta novamente, ocupando sua mente com suas habituais frustrações.

— Sabe, eu não deveria estar conversando com você.

— Por quê?

— Prometi a mim mesmo que não me interessaria por uma mulher por no mínimo um ano.

Não passou despercebido por Bella que Edward afirmou estar interessado nela. Porém, sua curiosidade foi maior do que sua vontade de provocá-lo.

— Resolveu seguir o celibato?

Ele sorriu.

— As mulheres fazem mal às vezes.

— Alguma delas te iludiu? — Também não passou despercebido por Edward que Bella não se incluiu neste grupo.

— Iludiu e roubou todo meu dinheiro.

Edward não queria trazer aquelas lembranças à tona, mas a simples menção fez com que uma enxurrada de memórias inundasse sua mente.

Quando se apaixonou por Tanya, tudo pareceu perfeito. Ela era uma moça de cidade grande, mas que não se importava com o jeito caipira do jovem de olhos verdes. Era bonita, extrovertida e trazia o mundo na palma de suas mãos. Edward foi rapidamente fisgado, não se importando com a oposição de sua família pelo relacionamento. 

Depois de pouco tempo de namoro, eles foram embora. Edward deixou tudo para trás para seguir a mulher que acreditava ser perfeita. Casaram-se na semana da fuga. Conseguiram alugar um apartamento próximo ao centro da cidade em que ela fora criada. Edward conseguiu um emprego temporário enquanto planejava fazer uma faculdade e ser um bom profissional em um futuro próximo.

No começo, tudo era um mar de rosas. Edward e Tanya usufruíam da vida de recém casados, vida essa regada por palavras de amor e ótimas noites de sexo.

O começo passou rápido.

Quando as dificuldades começaram a chegar, Tanya mostrou-se impaciente e pouco compreensiva, colocando a culpa de todas as crises sobre as costas de Edward. Ele tentava reverter o quadro, mas palavras de amor já não eram mais suficientes e o sexo já não era assim tão frequente. Promessas de que tudo iria melhorar eram vazias quando o esforço era feito por apenas uma das partes.

Edward descobriu que estava sendo traído. E não apenas uma vez.

Quando ele pediu o divórcio, Tanya vingou-se do relacionamento fracassado retirando de Edward tudo o que tinha, que se resumia a quase nada.

A coisa mais valiosa que ele possuía agora era a maleta encostada em seus pés.

— Isso que vou dizer é clichê, mas nem todas as mulheres são assim. — Bella declarou depois do relato de Edward, compaixão estampada em seu rosto pequeno.

— Prefiro não me arriscar novamente.

Bella fitou a tristeza que atravessou os olhos de Edward. A mágoa que ele carregava era nítida em seu semblante, na forma como os lábios formavam uma expressão resignada, nas olheiras abaixo dos belos olhos verdes. Edward carregava em si uma carga pesada de sentimentos, mas era não somente frustração em relação ao casamento fracassado, mas também — e principalmente — arrependimento e culpa por não ter confiado em sua família.

Estaria ele voltando para pedir perdão?

— Eles vão te receber de volta, sabe.

Edward a encarou, um sorriso sem humor em seus lábios.

Ele ponderou sobre esta viagem durante semanas. Em todas as vezes que decidiu voltar, arranjou uma desculpa qualquer para adiar a data de partida. Sabia que estava mentindo para si mesmo, mas o medo de ser rejeitado foi, por muito tempo, maior do que a coragem que necessitava para enfrentar sua família.

Edward não sabia se era digno de perdão.

— Bem, conte-me sobre você agora. — Suspirou, tirando o foco da conversa de si. — Sua vida deve ser mais feliz que a minha.

Bella fez uma careta.

— Vamos lá, eu abri meu coração ferido para você. O mínimo que você pode fazer é retribuir.

— Eu também fui para a cidade grande, e da mesma forma me frustrei.

— Algum namorado? — Ele perguntou sorrindo, triste.

— Não. Nenhum homem envolvido.

Era o único detalhe da história que Bella se orgulhava.

Quando engravidou cedo, logo depois de terminar o ensino médio, Bella soube que sua vida se tornaria infinitamente mais difícil. Apesar de ter uma rede de apoio, sentia-se insegura e sozinha, com medo dos próximos passos que deveria tomar.

Andrew tornou-se o centro de seu mundo. Bella teve a oportunidade de se dedicar integralmente a ele nos primeiros meses de vida, mas conforme o tempo ia passando, ela começou a enxergar a necessidade de seguir com sua vida, não somente por ela, mas também para que seu bebê tivesse sustento e o conforto necessário para um bom desenvolvimento. Então, Bella conseguiu entrar em uma faculdade comunitária que ficava na cidade vizinha e dividia seu tempo entre se dedicar aos seus estudos e cuidar de seu filho com o maior carinho e atenção que conseguia.

Foi um período atribulado, mas Bella conseguiu terminar seu curso e, graças ao seu esforço, foi indicada por um de seus professores para participar de um programa trainee em uma grande empresa. Os primeiros meses seriam extremamente puxados e com um salário baixo, mas, caso conseguisse a vaga, Bella teria estabilidade financeira e um belo plano de carreira.

Para perseguir essa oportunidade, no entanto, Bella teria que deixar Andrew para trás. Seu tempo deveria ser dedicado integralmente à empresa e o dinheiro que ganharia não seria o suficiente para mantê-los em uma grande cidade. Então, projetando um futuro onde ela e Andrew teriam conforto financeiro e muito amor, Bella deixou o filho com seus pais e mudou-se para conquistar seu emprego dos sonhos.

Logo nos primeiros dias Bella percebeu que a realidade era ainda mais dura do que imaginava.

Sem abaixar a cabeça, Bella colocou todo empenho possível em suas tarefas. Quando o cansaço batia, ela olhava a foto de Andrew que pousava sobre sua mesa de cabeceira e encontrava naqueles olhos doces e sorriso de criança as forças para seguir em frente. Todo seu esforço era por ele. Ela conseguiria vencer por ele.

Infelizmente, para conseguir aquele emprego não era necessário apenas o esforço.

Na manhã em que foi chamada para a decisão de seus superiores, Bella percebeu imediatamente que havia perdido. Ela acreditou que seu empenho valeria à pena e que sua competência e dedicação passariam a frente da beleza e do charme de uma das concorrentes. O olhar lascivo que seu ex-futuro chefe jogou à outra candidata comprovou, no entanto, que todo seu sacrifício tinha sido em vão.

E agora ela estava dentro daquele trem, voltando para casa.

Bella havia prometido ao filho um vídeo game de última geração, daqueles que fazem os olhos de qualquer criança brilhar intensamente. O vídeo game portátil que ela conseguiu comprar com suas economias parecia muito pequeno dentro de sua bolsa naquele momento.

— Nós dois fracassamos. — Edward declarou, levantando uma das mãos para enxugar uma lágrima que descia lentamente pelo rosto de Bella.

— Sim. — Ela riu, sem humor, desviando o olhar envergonhado.

— Será que voltar e pedir perdão vai ser o suficiente?

Bella voltou a fitar o rosto do homem a sua frente. Os olhos dele carregavam a mesma tristeza que ela via quando encarava o espelho todas as manhãs. Lá no fundo, no entanto, ela conseguia enxergar uma centelha de esperança, que provavelmente era o mesmo incentivo que ela utilizava-se para levantar da cama todos os dias.

A história de ambos era diferente, mas os sentimentos tão iguais.

De repente, Bella não se sentiu tão sozinha.  

— Você se parece com meu irmão. — Bella soltou, mudando de assunto. — Sempre com um sorriso no rosto, apesar de tudo.

— Então aproveite a minha presença para entrar no clima de casa.

Bella sorriu. De forma tímida, aproximou-se dele no assento e encostou a cabeça em seu ombro. Aquela não era a posição mais confortável do mundo e ela poderia estar dando indícios de que estava interessada em algo a mais — informação que não era mentira —, mas naquele momento Bella se sentiu em casa. Como se estar apoiada em Edward fosse estar em seu lar.

— Então meu papel de travesseiro está aprovado.

Bella levantou rapidamente a cabeça, os olhos ligeiramente arregalados.

— Eu disse isso em voz alta? — sentiu as bochechas corando.

— Sim. E não se preocupe. Você cheira a lar para mim também.

Com um suspiro contente, Bella voltou a encostar-se em Edward e só se deu conta de que havia dormido quando ele ajeitou-se no assento, tentando encontrar uma posição que fosse confortável para ambos.

— Oh, me desculpe.

— Está tudo bem. Foi divertido ver você roncando.

Bella apenas lançou a ele um olhar feroz. Intimidade demais, dizia ele.

— Espero que você não se importe, mas eu peguei o seu bilhete quando o guarda passou verificando os assentos. E agora eu estou desenhando nele.

Ela poderia ficar brava, mas apenas deu de ombros e sorriu.

Passaram o resto da viagem em silêncio, mas a ausência de palavras não era incomoda. Eles precisavam reunir energias, refletir sobre quais seriam os próximos passos a serem tomados assim que chegassem em casa. Precisavam tomar coragem para dizer aos seus familiares que falharam. Precisavam ter força de vontade para começar tudo do zero. Precisavam ser fortes caso aquilo que esperavam não se concretizasse.

O sol começou a despontar no horizonte e, em um gesto natural como o dia que estava se iniciando, Edward pegou a mão esquerda de Bella e enlaçou seus dedos com os dela.

A viagem estava chegando ao fim. Eles teriam que dizer adeus.

Ficaram unidos até o trem parar por completo. Os demais passageiros começaram a se levantar e sair do vagão, mas eles hesitaram. Além de querer evitar por mais alguns minutos o destino à frente, as mãos unidas e o calor que trocavam por estarem tão próximos era confortável demais para se abrir mão.

Fazia tempo que ambos não se sentiam em paz.

Eles adiaram a saída o máximo que puderam, mas quando chegou a hora, Bella pegou sua bolsa e Edward sua maleta, e saíram, lado a lado, do trem. A máquina começou a fazer barulho assim que colocaram os pés no chão cimentado da estação. Ficaram frente a frente, encarando-se por minutos, sem dizer nada. Não precisavam de palavras ou de despedidas, mas apenas da presença e da comprovação de que aquela noite compartilhada havia sido real.

Bella e Edward sabiam o que fazer. Ela ficou na ponta dos pés enquanto ele se inclinou em sua direção. Os lábios se tocaram, os olhos se fecharam. Todo e qualquer barulho ao redor cessou.

Ali, naquele singelo beijo, reuniram todos os sentimentos compartilhados durante a viagem. Com apenas um ato, selaram o encontro inesperado, saboreando em seus lábios o valor das horas partilhadas.

Os dois ainda estavam com medo. Mas, naquele instante, sabiam que já não estavam mais sozinhos.

 

[...]

Edward teve que pegar um ônibus até sua cidade natal. Ao chegar, caminhou por um longo tempo antes de vislumbrar a casa em que foi criado. A grande construção estava exatamente da mesma forma: o jardim, repleto das mais diversas cores de rosas, estava bem irrigado e cheio de botões; na varanda ainda descansava a cadeira de balanço em que o pai adorava se sentar para observar os filhos brincar; a cortina laranja do quarto de seus pais tremulava no segundo andar; mais atrás, era possível avistar a parede rosa do quarto de sua irmã mais nova, Alice.

Apenas a janela do seu quarto estava fechada.

Ele respirou fundo várias vezes antes de tomar coragem para se aproximar. Edward sabia que todos estavam trabalhando: sua mãe Esme provavelmente estava na cozinha, preparando o almoço; seu irmão mais velho, Emmett, deveria estar cuidando dos animais ou de alguma das plantações do pai, juntamente com seus primos Alex e Felix; seu pai, Carlisle, certamente estava no galpão que ficava aos fundos da casa, consertando alguma ferramenta ou trabalhando em algum móvel novo para a casa.

Edward ficou surpreso quando colocou a chave na fechadura e não teve resistência quando a girou. Sem fazer barulho, colocou os pés na sala de estar e sentiu os olhos encherem de lágrimas ao perceber que tudo estava exatamente da mesma forma que ele havia deixado. Fisicamente, tudo parecia normal, como se ele não tivesse tomado atitudes que magoaram não somente a ele, mas também toda a sua família.

Ele engoliu o nó de sua garganta. Fechou a porta atrás de si.

— Mãe?

Edward ouviu o ruído do prato caindo na pia da cozinha. Os olhos, cada vez mais marejados, focaram-se no corredor que levava até o outro cômodo e assim que viu o corpo pequeno em disparada, enxugando as mãos no avental bordado, sentiu um soluço saindo de sua garganta. Em segundos, sentiu a mãe chocando-se contra ele com uma força inumana. Segurou-a com a mesma ferocidade e finalmente deixou que as lágrimas caíssem pelo seu rosto.

Edward chorava, mas já não estava mais triste.

Ele estava em seu lar.  

 

[...]

As mãos de Bella tremiam desde que ela pegou um táxi até a casa de seus pais. A ansiedade para reencontrar seu filho era tão pungente que sentia o coração acelerado, a respiração entrecortada. Tudo o que ela mais queria era abraçar seu filho por horas, sentir seu cheiro de bebê, acariciar seus cabelos sedosos, dizer que o amava mais do que tudo.

Quando entrou na pequena casa, tudo estava em silêncio. Aproveitou para absorver os mesmos móveis, a cor suave das paredes, as plantas bem cuidadas da mãe. De repente, ouviu uma risada aguda de criança vindo de longe e sorriu, sentindo as lágrimas já escorrendo por seu rosto.

Seguiu na ponta dos pés para o quintal dos fundos, passando pela cozinha aconchegante, que cheirava a biscoitos. Através da porta de tela, observou com carinho sua mãe sentada uma das cadeiras de ferro do quintal, soltando bolhas de sabão para o ar. Andrew corria de um lado para outro com os pés descalços sobre a grama, vibrando a cada bolha que conseguia estourar com os pequenos dedos.

Bella abriu a porta, que rangeu um pouco, chamando a atenção de sua mãe. Renée abriu um belo sorriso e, ao perceber que a avó não estava mais brincando, Andrew virou-se para a porta.

Em poucos segundos Bella sentiu o corpo de seu filho chocando-se contra suas pernas. Com os olhos embaçados, abaixou-se e agarrou Andrew, segurando-o apertado em seu colo, quase como se dependesse dele para respirar, para viver.

— Mamãe, dói!

Uma gargalhada caiu de seus lábios, tão deliciosa quanto aquela que soltou no trem. Como é bom rir novamente, pensou Bella. Nunca mais quero me esquecer disso.

Sua mãe estava com os olhos marejados e se aproximou depois de deixar Bella curtir seu pequeno por alguns minutos. Elas se abraçaram, também rindo, dizendo o quanto sentiam falta uma da outra. Foram para a cozinha preparar o almoço, e tiveram uma refeição perfeita.

Bella passou a tarde brincando com seu menino, apenas se deliciando com a sensação de estar novamente ao seu lado. Desenharam, viram filmes, fizeram castelos de massinha, apenas sentaram e curtiram a presença um do outro.

Andrew dormiu cedo e Bella ficou ao seu lado, velando seu sono. Mesmo sem que ele escutasse, ela prometeu nunca mais sair do seu lado, para nada. Eles não precisavam de quantidades exorbitantes de dinheiro para serem felizes. Eles apenas precisavam um do outro.

Quando ela se permitiu ter um tempo para si mesma, foi para seu antigo quarto, que estava da mesma forma que havia deixado. Pegou sua bolsa sobre a cama e abriu para retirar seus apetrechos de higiene para tomar um belo banho.

Sobre sua necessaire estava o seu bilhete do trem. Ela o pegou entre os dedos e riu quando viu o desenho que havia sobre o papel gasto: um sol enorme, com seus raios atravessando quase todo o papel; ao lado dele, uma moça de palito, com longos cachos, que Bella presumiu ser ela. E, aos seus pés, uma flecha.

Ela fez o que o bilhete estava pedindo, virando-o. Havia ali um número de telefone e apenas uma linha escrita: me ligue sempre que precisar voltar para o seu lar.

Ela com certeza voltaria.


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Notas finais do capítulo

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Beijos!