Aquela noite podia se ver todas as constelações no céu grego, e para quem aprecia, seria um cenário perfeito para admirá-las. Todavia, Dohko parecia não prestar atenção, pois seu coração estava angustiado porque no dia seguinte aconteceria a disputa de mais uma armadura e sua pupila seria uma das concorrentes. O libriano ficara incubido de treinar a jovem desde que ela chegara ao Santuário, após Athena, juntamente com Shion, acharem melhor não descuidar da proteção do Santuário. Desde então, novos pupilos foram chegando ao e depois de alguns anos de treinamento, havia chegado o momento de disputarem as Sagradas Armaduras. Assim como fez com seus outros discípulos, o chinês ensinou tudo o que sabia e tinha certeza que Malu estava preparada, porém, sua apreensão era maior porque com o passar dos anos, a jovem tornou-se mais que uma simples discípula. Percebendo o quão tarde estava, forçou-se a ir até seu quarto e descansar.

 

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Mal o dia havia raiado e Dohko já se encontrava na arena para assistir as disputas. Por mais que quisesse estar ao lado da discípula, não poderia, então teria que se contentar em assistir e torcer de longe. Vários embates aconteceram, o que fez a apreensão do dourado tornar-se cada vez maior, parecia que o momento que a discípula disputaria sua armadura nunca chegaria. Porém, quando ouviu Malu ser anunciada, ergueu-se para poder acompanhar a luta, seu coração parecia estar na boca de tão acelerado que batia.

 

A disputa pela armadura de Cruzeiro do Sul estava sendo difícil, como era o esperado, as duas aspirantes eram ágeis e estava sendo difícil dizer quem iria ganhar aquele embate, mas Dohko confiava plenamente na capacidade de sua pupila. Havia lhe ensinado tudo o que um mestre poderia ensinar, mas sua apreensão era maior porque ele nutria um sentimento pela jovem que ia além de mestre e discípula. Desde que havia visto a bela jovem e seus olhos amarelo citrino havia se afeiçoado a menina, e conforme os anos passaram essa simples afeição se tornou algo mais, algo que ele nunca havia se permitido em sua longa vida.

 

— Eu consegui, eu consegui! - Dohko saiu de seus devaneios ao ouvir a voz de Malu ao longe, ela comemorava pelo feito realizado há pouco. Ela havia derrotado sua oponente e conquistado a tão sonhada armadura.

 

— Parabéns! - o libriano murmurou de longe antes de se retirar em direção a sua casa. 

 

Assim que Dohko adentrou em seu Templo, sorriu a ver o pequeno Shoryu brincando, ainda sorrindo foi se juntar ao menino. O mais velho contava algo para o pequeno que o fazia gargalhar. O libriano se sentia feliz com essa pequena família que a vida havia lhe dado, mas faltava algo e ele sabia bem onde encontrar, mas após tantos anos de privações por ser um Santo de Athena, não era fácil se permitir viver um amor.

 

— Dohko! Seu velho! - a voz de Shion soou pelo templo de libra atraindo a atenção dos dois. - Esse rapazinho está ficando cada vez mais lindo! - completou o ariano.

 

— Sim! Forte e saudável, como o esperado de uma criança. - Dohko falou indo ao encontro do amigo. - O que te traz aqui? Achei que ia continuar lá na arena para os procedimentos de entrega da armadura.

 

— Athena está fazendo isso, ela fez questão. - o Patriarca deu de ombros. - E também percebi que você saiu da arena sem nem parabenizar a moça. Para alguém que estava apreensivo, você foi bastante frio com ela.

 

— Ah! Depois eu faço isso, terei tempo para comemorar com ela - foi a vez do libriano dar de ombros - Vou preparar um chá. - ele foi em direção à cozinha após pegar Shoryu no colo - Você quer?

 

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Malu durante todo o combate para conquistar a sua tão sonhada armadura, se sentia segura, pois sabia que seu mestre estava lá, lhe dando forças e torcendo por ela. E ela não poderia e nem queria decepcioná-lo. A luta fora difícil, mas em um momento ela conseguiu descobrir o ponto fraco de sua oponente, desferindo assim um ataque certeiro, o que culminou com sua vitória. 

 

— Eu consegui! - gritou ela dando pulinhos de alegria e sendo parabenizada logo em seguida por algumas aspirantes.

 

Enquanto era parabenizada, olhou em direção onde havia visto seu mestre, mas se entristeceu ao perceber que ele se retirava da arena sem ao menos lhe parabenizar, mas não teve muito tempo para lamentar, pois as palavras da Deusa logo atraíram sua atenção.

 

 

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Dohko serviu o chá e enquanto sorvia do líquido pensou novamente na bela jovem de longos e ondulados cabelos negros e olhos amarelo citrino que contrastavam com sua pele alva.

 

— Dohko, meu velho amigo - a voz de Shion trouxe o libriano de volta de seus pensamentos. - Por que Athena nos trouxe de volta à vida?

 

A pergunta surpreendeu o moreno que apenas fitou o ariano em silêncio não sabendo o que responder.

 

— Para que enfim possamos desfrutar daquilo pelo qual tanto lutamos. Durante anos nos privamos de idealizar um futuro porque assim as circunstâncias pediam, vivíamos para dedicar nossa vida a Deusa e a paz na Terra. - Shion depositou sua xícara no pires enquanto olhava atentamente as expressões do amigo. - Mas agora podemos e devemos desfrutar em plenitude aquilo tudo que a vida tem a nos oferecer, inclusive o amor.

 

As palavras do ariano calaram fundo o libriano, ele sabia que por mais que quisesse não poderia esconder isso do amigo, pois sabia o quão perspicaz ele era. Não havia falado nada do que sentia por sua discípula, mas com certeza, Shion já havia percebido, por isso havia lhe procurado.

 

— Shion… - Dohko murmurou após vários minutos de reflexão - Será justo uma menina tão cheia de vida e jovem como a Malu desfrutar de uma vida ao meu lado? Digo, eu posso ser jovem na aparência, mas possuo mais de duzentos anos. - ele agora quem depositava sua xícara e voltou seus orbes verdes em direção aos violetas do amigo. - E como você disse, dediquei minha vida a vigiar o despertar dos espectros e treinar novos discípulos e não me preparei para amar, jamais me perdoaria se eu a magoasse de alguma forma, entende? E o pior, se ela não sentir nada por mim?

 

Sim, Shion entendia todas as dúvidas e medos do chinês, porque afinal eram as mesmas dele. Se permitir algo novo é assustador e quem nunca foi capaz de experimentar a felicidade em toda sua plenitude faz pensar se realmente são merecedores disso.

 

— Dohko - Shion voltou a falar - Todos nós cometemos erros, afinal somos meros humanos e estamos suscetíveis a isso, ou já esqueceu dos erros que cometemos em nossa juventude? - vendo que o amigo apenas lhe ouvia, prosseguiu: - Lembra quando ganhamos nossas armaduras douradas e partimos em busca de Hades? Se não fosse o cavalo do Tenma, Pegaso, não teríamos ajudado na Guerra Santa, ou então da nossa teimosia em ir até aquele vulcão e por isso colocamos a vida de Odysseu em risco. Ele quase morreu por nossa causa.

 

A menção daqueles fatos fez com que o chinês desviasse sua atenção para sua xícara e logo em seguida para Shoryu. Cada palavra proferida por Shion o atingia em cheio.

 

— Onde está querendo chegar, afinal? - o libriano falou por fim - Você sabe que estas lembranças são doloridas para mim porque também me remetem ao confronto que tive com o Suikyo onde… - ele suspirou fundo ao sentir seu coração apertar - Onde ele pereceu em meus braços.

 

— Onde eu quero chegar? - Shion sorveu mais um gole do seu chá - É que por maior que seja nosso erro, todos nós temos o direito de nos redimir, sermos perdoados e principalmente nos perdoar. Então viva, Dohko, aproveite essa nova chance que os Deuses nos deram.

 

Dohko novamente sentiu o peso das palavras proferidas pelo seu amigo. Quando abriu a boca para responder algo, sentiu o cosmo da Deusa se aproximando. Os dois então trocaram um último olhar cúmplice e se dirigiram até a porta frontal para esperar a deidade.

 

— Você fez um ótimo trabalho, Dohko - Saori proferiu com a sua doce voz assim que adentrou o Templo.

 

— Obrigado Athena - foi a única coisa que conseguiu responder. 

 

— Vamos Shion? – a jovem deidade chamou o Patriarca.

 

Antes de seguir com a Deusa, o Patriarca depositou sua mão no ombro do amigo. - Pense no que eu disse, seu velho teimoso! 

 

Athena preferiu não dizer nada, ela conhecia cada um de seus Cavaleiros e sabia da luta interna que cada um vivia, afinal até ela, uma Deusa humana as possuía.

 

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Malu após o pequeno cerimonial para receber sua armadura, resolveu ir para um lugar mais tranquilo, sentia-se cansada e acima de tudo triste. Dohko era muito mais que um mestre, cada vez que olhava nos orbes esmeraldinos do chinês encontrava sua esperança, cada sorriso largo que ele lhe devotava era um alento para seu coração, mas ela queria poder ser abraçada por ele, não como uma discípula e sim, como uma mulher, mas ela sabia que ele era alguém inacessível, alguém tão vivido jamais se interessaria por ela. Estava anoitecendo e a lua cheia já se fazia presente no céu noturno, a lua que ela tanto adorava e ficava horas admirando, tentando desvendar todos seus mistérios e significados.  Ela se dirigiu para uma encosta que ficava aos arredores do santuário, para mais uma vez observar o belo satélite natural.

 

— Dohko - murmurou - Será que você imagina que te vejo como mais que um mestre? - Malu se perguntava fitando a lua como se ela pudesse lhe responder.

 

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Dohko após a saída da divindade e de seu amigo, ficou fazendo justamente o que Shion havia dito: pensando em suas palavras. Era incrível, de certo modo, como Shion era capaz de lê-lo, ficaram separados por tantos anos, mas era como se nunca houvessem ficado um minuto sequer, tal era a conexão que os dois possuíam. 

 

— Mestre! - A voz de Shunrei cortou o silêncio do Templo libriano. 

 

— Shunrei! Minha bela primavera - Dohko deu um sorriso largo para aquela que ele considerava uma filha.

 

— Mestre, me desculpa, mas não pude deixar de ouvir sua conversa com o Shion - A ariana falou levemente envergonhada - O senhor é um homem bom, cuidou de mim e de Shiryu como filhos. - se aproximou mais do chinês - E tudo o que eu e ele queremos é que o senhor seja feliz. 

 

— Deu para escutar a conversa dos outros agora, Shunrei? - Dohko perguntou, sério. - Foi essa a educação que eu te dei? 

 

— Não! - Shunrei suspirou profundamente -  É que sabemos o que o Senhor nutre pela Malu. Na verdade acho que todos sabem, é só ver como seus olhos brilham quando está próximo dela.

 

As palavras de Shunrei o pegaram de surpresa, pois ele nunca imaginou que tivesse sido tão claro quanto aos seus sentimentos, fazendo-o soltar um longo suspiro - E se ela não sentir nada por mim? - Foi só o que conseguiu dizer finalmente dando razão para a chinesa. 

 

— Só o senhor não percebeu que ela é apaixonada por você. - E sem dar chance para o mais velho rebater suas palavras, ela continuou: - Vá em frente… viva esse amor! Afinal a vida é curta e talvez vocês não tenham outra oportunidade depois. - Shunrei concluiu finalmente e se retirou em seguida para atender o pequeno Shoryu que a chamava insistentemente.

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Malu não soube dizer quanto tempo ficou perdida em seus pensamentos naquele lugar que ela considerava mágico. Quando iria se preparar para retornar ao seu lar, sentiu seu coração acelerar ao ouvir seu nome.

 

— Malu! - o sorriso largo e os olhos brilhando do chinês fez que com ela sentisse um arrepio percorrer todo seu corpo.

 

— M...Mestre! - balbuciou - Aconteceu alguma coisa?

 

— Não! - Dohko se aproximou lentamente dela. - Eu apenas vim te dar os parabéns!

 

— Obrigada! - baixou o olhar - Eu só fiz o que senhor me ensinou.

 

A luz do luar em contraste com a pele alva de Malu deixava a morena mais radiante do que já era. 

 

— Nunca baixe o olhar diante de ninguém, Malu. - o chinês falou, sério.

 

Quando a jovem ergueu novamente os olhos e seus olhos citrinos se encontrou com os verdes de Dohko, sentiu o seu coração acelerar. Pois, pela primeira vez pôde ver um brilho diferente nos olhos de seu mestre, o chinês sentiu a mesma coisa. Assim, nesse gesto simples, puderam percebee tudo o que carregavam na alma, afinal os olhos são o espelho da alma.

I lose control 

(Eu perco o controle)

Because of you, baby

(Por sua causa, meu bem)

I lose control

(Eu perco o controle)

When you look at me like this

(Quando você me olha desse jeito)

There's something in your eyes

(Há algo em seus olhos) 

that is saying tonight

(Que está dizendo essa noite)

I'm not a child anymore

(Eu não sou mais uma criança)

life has opened the door

(A vida nos abriu uma porta)

to a new exciting life

(Para uma vida nova e emocionante)

 

 Sim a bela jovem diante de si havia crescido e se tornado uma bela mulher, seus olhos demonstravam o quanto era amado por ela também. E sem mais esperar levou uma de suas mão até o rosto dela e pôde sentir toda a textura macia que a pele dela possuía e com o dedão contornou toda a extensão dos lábios avermelhados de Malu. Gesto este que fez a jovem fechar os olhos apreciando a carícia.

 

Dohko sorriu diante do gesto e sem mais conseguir se conter a beijou, um beijo doce e suave, mas que demonstrava todo o amor que tinha guardado no seu coração esses anos todos. Ele a puxou mais para junto do seu corpo e só separaram os lábios para respirar.

 

— Me perdoe por ter demorado tanto tempo para fazer isso. - ele sussurrou passando as mãos delicadamente pela face dela. Aqueles olhos brilhavam ainda mais com as palavras de Dohko.

 

Time stands still

(O tempo para)

When the days of innocence

(Quando o dias de inocência)

Are falling for the night

(Estão caindo pela noite)

I love you girl

(Eu te amo garota)

I always will

(Eu sempre amei)

—Mestre….

 

—Me chame de Dohko. Estamos aqui eu e você… um homem e uma mulher apenas. - ele tentava organizar as ideias em sua mente. - Faz tempo que quero abrir meu coração e expor o que sinto por você, Malu. 

 

—E o que sente? - a emoção tomava conta da nova Amazona e era cada vez mais evidente.

 

—Amor. -ele foi direto. 

 

—Amor… - ela repetiu num murmúrio.

 

—O sentimento mais nobre e forte que existe...capaz de mover céus e de mudar uma pessoa completamente. 

 

—Amor, é o que sinto por você também, Dohko. - E sem dar chances dele continuar a falar, Malu aproximou-se e o beijou com todo calor que ardia em seu peito.

You and I just have a dream

(Você e eu temos apenas um sonho)

To find our love a place

(Achar um lugar para nosso amor)

Where we can hide away

(Onde podemos nos esconder)

You and I were just made

(Você e eu fomos feitos apenas)

To love each other now

(Para amar um ao outro agora)

Forever and a day

(Para sempre e um dia)

E assim diante de todo esse clima romântico que só a lua pode proporcionar, um grande amor começou a ser escrito entre o Cavaleiro de libra e a Amazona de cruzeiro do sul. Eles não queriam saber do do futuro, só as linhas do agora importava para esses dois apaixonados.

 

You and I were just made

(Você e eu fomos feitos apenas)

To love each other now

(Para amar um ao outro agora)

Forever and a day

(Pra sempre e um dia)