Quarentena escrita por Manoo


Capítulo 1
Quarentena


Notas iniciais do capítulo

AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
Voltei pro limbo chamado Nyah! Fanfiction depois de anos.
Essa é a primeira fic que consigo escrever depois de um período de tristeza e vestibular que durou 5 anos, então estou muito orgulhosa do meu trabalho aqui.
Espero que gostem!



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Suspirou pela milésima vez naquela manhã, atirando-se na cama. Izuku estava convencido de que iria surtar até o fim da quarentena.

Não conseguia se decidir se sentia mais falta de treinar com All Might durante as manhãs ou de passar tempo com seus amigos durante a tarde. Céus, sentia saudades até dos resmungos e das ameaças- antes tão aterrorizantes, mas, agora, até engraçadas- de Katsuki.

Virou-se e pegou o celular, encarando sua tela de bloqueio com um sorriso melancólico. Logo após as partidas do festival de esportes do primeiro ano terem acabado, Ochako havia insistido em tirar uma selfie para registrar o momento- estava tão animada que nem parecia chateada com sua derrota contra Katsuki. Alguns recusaram, afinal, naquela época, a turma não era tão íntima assim, e outros não estavam presentes, como Tenya, que tivera um imprevisto com seu irmão. Por causa disso, o grupo presente na foto era um pouco diversificado, o que, na opinião de Izuku, deixava-a ainda mais especial.

Eijirou se apoiava nos ombros de Mina e Ochako, sorrisos animados nos rostos dos três. Tsuyu, que na ocasião teve que se apoiar na ponta dos pés para aparecer na câmera (rendendo algumas risadas entre o grupo), botava a língua para fora e fazia sinal de paz e amor com as duas mãos, apoiando um dos braços sobre o ombro esquerdo de Fumikage, que olhava seriamente para a câmera, ereto e com os braços cruzados- fora arrastado para a foto por Izuku e Denki, mas não demonstraria animação com todo aquele contato humano nem que tivesse uma arma apontada em sua cabeça. Denki era quem tirava a foto, um sorrisinho sedutor (segundo ele) em seu rosto.

Seu olhar focou nas duas pessoas ao lado de Ochako: ele mesmo e Shouto. Sorriu, sentindo nostalgia ao encarar a expressão perdida de Shouto e o seu rosto ainda marcado pelas lágrimas que havia derramado mais cedo.

.

— Tem certeza que quer que eu apareça? - ele perguntou, abaixando o olhar.

— Hein? Mas por que não? – Izuku perguntou, confuso. Shouto voltou a olhá-lo, hesitação estampada em sua face.

— Mas... Mas eu... – Encarou o braço engessado de Izuku, uma fina camada de suor descendo por suas têmporas- Mas eu...

— Hm? Ah, isso? Isso não é nada! – Ergueu o gesso, dando tapinhas para provar seu ponto- Além do mais, não foi você quem fez isso- abaixou a cabeça, uma expressão deprimida se formando em seu rosto- Eu causei isso a mim mesmo.

Shouto ergueu um braço, incerto do que fazer. Consolá-lo com um abraço? Dar tapinhas em seu ombro? Só conseguia usar como referência os abraços e palavras de sua mãe, que o animava sempre quando voltava chorando dos treinos com seu pai. Por isso, naquele momento, sequer pensara antes de falar.

— Vai ficar tudo bem.

Izuku ergueu a cabeça, encarando o mais alto com surpresa. Era a primeira vez que o via usar um tom de voz tão sereno, causando-lhe uma sensação que sequer conseguia descrever e um aperto familiar na garganta. Sentiu os olhos encherem d’água e tentou fazer elas sumirem, esfregando os olhos rapidamente.

— Fala sério, que vergonha...

— Midoriya-

— Ei, ei, ei, por que você está chorando, Midoriya? – Eijirou apoiou um braço no ombro do garoto, um olhar preocupado em seu rosto.

— Deku-kun, qual o problema? – Ochako se aproximou, igualmente preocupada- Seu braço está doendo?

— Entrou algo em seus olhos? – Tsuyu perguntou, levando um dos dedos aos lábios.

— Pff, que boiola!

— Dark Shadow... – Fumikage murmurou, fuzilando a sombra que saia de sua barriga.

— E-está tudo bem, gente! Eu só me emocionei um pouco- Voltou a sorrir rapidamente, um sorriso sincero. Se fosse adivinhar pelo calor que sentia em suas bochechas e pelo olhar malicioso que Mina lhe lançava, apostaria que estava corado.

— Ei, gente! – Denki gritou, chamando a atenção do grupo- Consegui um celular emprestado com o Aizawa-sensei.

— Que- Mina exclamou, correndo para perto do loiro- Aizawa-sensei? O nosso Aizawa-sensei?!

— Vamos, ele não é tão ruim assim! -Eijirou disse, também se aproximando de Kaminari, sendo acompanhado pelo resto do grupo- Ah, Midoriya e Todoroki, venham também. Vamos tirar essa foto logo, eu estou faminto!

— Dois- Denki disse.

— Três!- Mina completou, erguendo os dois braços.

— Ah, sim, estamos indo!- Izuku exclamou, seguindo os outros. De repente, parou, percebendo que Shouto não lhe seguia- Todoroki-kun? – O rapaz permanecia parado, hesitação ainda em seu rosto- Todoroki-kun!

Shouto ergueu o olhar, surpreso. Encarou os olhos de Midoriya de forma tão intensa que quase conseguia esquecer o que aconteceu ao seu redor. Quase. Quase conseguia esquecer os anos de tortura física e psicológica que sofrera com Endeavor, quase esquecia a dor que sentiu ao ser rejeitado por sua mãe, e, acima de tudo, quase esquecer que, até aquele momento, nunca fora capaz de olhar nos olhos das pessoas a sua volta. Quase.

Sentiu um puxão em sua mão, libertando-se do transe. Izuku lhe arrastava para onde o resto do grupo os aguardava impacientemente.

— Não se preocupe- Apertou a mão de Shouto, confortando-o- Vai ficar tudo bem.

Ignorando as provocações maliciosas e exclamações do grupo, afastaram-se rapidamente. Todos se arrumaram de forma descoordenada, rindo quando Tsuyu não apareceu na câmera e quando foi comprovado que o braço de Ochako era muito curto para que conseguisse encaixar todos na foto.

Acabaram um ao lado do outro, tão próximos que os ombros chegavam a tocar. Izuku sentiu um toque em sua mão esquerda, mas não ousou tirar os olhos do celular. Sem hesitação, como se fosse algo natural, retribuiu o toque, exclamando “xis” junto com os outros, alegremente.

.

A tela de seu celular voltou a ficar preta, e o largou ao seu lado. Era estranho imaginar que dois anos já haviam se passado desde seu primeiro festival esportivo. Naquela época, jamais imaginaria o que o destino lhe reservava.

Se há dois anos alguém lhe dissesse que ele conseguiria vencer vilões no nível de Muscular e Overhaul, com certeza riria. Se alguém dissesse que aquele garoto de 16 anos faria parte do novo “Big Three” da UA, ele assumiria que tal pessoa estava insana. Se qualquer pessoa se aproximasse e dissesse “ei, sabia que um dia você vai namorar com Todoroki Shouto? Sabe, aquele lá que acabou com a sua raça no festival de esporter”, Izuku passaria mal de tanto gargalhar.

Mas, bem, aconteceu. Ainda se pegava rindo no meio da noite. Ou chorando.

— Izuku- Ouviu sua mãe lhe chamar- O almoço está pronto!

— Já vou!

Ergueu-se da cama em um pulo, tentando por uma expressão animada em seu rosto. A última coisa que queria era preocupar sua mãe com sua inquietação.

Aproximou-se da cozinha, sendo recebido pelo sorriso de sua mãe e por um cheiro familiar. Sentiu sua expressão vacilar.

— Para hoje, teremos o seu favorito- Inko exclamou, um sorriso satisfeito em seu rosto. Colocou as duas tigelas sobre a mesa, olhando para seu filho com expectativa- Katsudon!

— Eba!

Eba.

DEKUSQUAD

Midoriya Izuku: Gente, eu não aguento mais comer Katsudon. 

Uraraka Ochako: Ué 

Asui Tsuyu: Não é o seu favorito? 

Midoriya Izuku: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Midoriya Izuku: Depois dessa quarentena, vai virar o que eu mais odeio. 

Shinsou Hitoshi: Foda 

Todoroki Shouto: Karma 

Todoroki Shouto: O que você mais comia durante o primeiro ano era Katsudon

Todoroki Shouto: Se vira agora

Midoriya Izuku: Alguém me lembra pq eu namoro o Shouto

Uraraka Ochako: pq vocês se amam! 

Asui Tsuyu: pq vocês combinam esteticamente

Iida Tenya: Porque vocês se compreendem de uma forma que eu duvido que qualquer outro casal conseguiria. Vocês conseguem apoiar um ao outro sem que coloquem o parceiro sob pressão. E vocês combinam esteticamente também. 

Shinsou Hitoshi: Caraca, bíblia.

Todoroki Shouto: Obrigada, Iida. 

Midoriya Izuku: Aff

Uraraka Ochako: Gente, tá difícil essa quarentena. 

Midoriya Izuku: Nem me fale. Só queria sair pra treinar...

Asui Tsuyu: Izuku-chan deveria aproveitar esse período para descansar. 

Todoroki Shouto: Eu concordo. 

Uraraka Ochako: Sim!

Iida Tenya: Concordo com a Asui-san! É um ótimo período para descansar o corpo e a alma! Sair nas ruas durante essa pandemia é arriscando demais, tanto para sua família quanto para você.

Iida Tenya: Falo isso porque me preocupo com você. 

Uraraka Ochako: Ai, que fofo!

Midoriya Izuku: Obrigada, Tenya! 

Midoriya Izuku: Mas mesmo assim não consigo me manter calmo. 

Shinsou Hitoshi: Pq você não tenta ir até o mercado? 

Shinsou Hitoshi: Se usar máscara não tem problema

Shinsou Hitoshi: Não tem nada que você esteja precisando?

Uraraka Ochako: Essa é uma ótima ideia! 

Asui Tsuyu: Eu fiz isso semana passada

Asui Tsuyu: Realmente, ajuda a acalmar um pouco 

Asui Tsuyu: Parecia que eu ia enlouquecer se ficasse mais um segundo dentro de casa

Midoriya Izuku: Nossa

Midoriya Izuku: Toshi deus

Midoriya Izuku: Obrigada pela ideia!

Shinsou Hitoshi: Sem problemas 

Shinsou Hitoshi: Só não esquece da máscara. 

Iida Tenya: E luvas!

Iida Tenya: E álcool gel!

Iida Tenya: E mantenha uma distância de dois metros de cada pessoa que encontrar! 

Iida Tenya: E não entre em espaços aglomerados!

Iida Tenya: Se encontrar alguém tossindo, saía de perto imediatamente!

Shinsou Hitoshi: Caraca

Midoriya Izuku: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Uraraka Ochako: Socorro saudhushas

Iida Tenya: Estou falando sério!

Midoriya Izuku: vou tomar cuidado, jurooo

Midoriya Izuku: E obrigada pelos conselhos! ♥ 

Iida Tenya: ♥ 

Uraraka Ochako: ♥ 

Shinsou Hitoshi: ♥ 

Midoriya Izuku: E o nome desse grupo hein gente 

Midoriya Izuku: Vamo mudar quando? 

Asui Tsuyu: Nunca. 

Izuku colocou o celular para carregar, repensando a ideia. Realmente, se ele colocasse uma máscara e luvas e seguisse os conselhos de Tenya, não seria tão arriscado por os pés para fora de casa. Além disso, sua mãe havia comentado há menos de meia hora que precisava comprar detergente- era ou não era a oportunidade perfeita?

Pegou uma muda de roupas qualquer e começou a vesti-la, olhando sua máscara, que estava pendurada na maçaneta do armário, com antecipação. Finalmente poderia estrear a edição limitada da máscara “All Might’s Supreme Smile” que comprara online.

Quando terminou de pôr as suas meias, ouviu o celular vibrar em cima da cômoda. Sem desconectá-lo do cabo, checou a mensagem, sentindo um sorriso se formar em seu rosto instantaneamente. Como ele é fofinho.

TODOROKI SHOUTO

Shouto: Você vai ir? 

 Izuku: kkkkkkk

 Izuku: Acho que sim 

 Izuku: Já tô me arrumando, na verdade 

 Shouto: Não esquece a máscara

Shouto: Nem as luvas...

 Izuku: Pode deixar!

Shouto: Sua mãe vai com você?

Izuku: Acho melhor não

Izuku: Já que ela é grupo de risco...

Izuku: Assim que eu voltar, vou direto pro banho 

Izuku: Pra não dar nenhum problema 

Shouto: Em qual mercado você vai? 

Izuku: ...

Izuku: Você quer ir junto? 

Shouto: ...

Shouto: Eu posso? 

Izuku: kkkkkkkkkkkk

Izuku: Não tem problema a gente se encontrar sem querer no mercado

Izuku: Seria uma coincidência muito louca

Shouto: Mas a gente tá combinando de se encontrar lá

Shouto: Não entendi 

Izuku: kkkkkkk

Izuku: Tô só brincando, amor

Shouto: Aff

Izuku: kkkkkkkk

Shouto: Bobo 

Izuku: Tonto 

Checou o horário no celular uma terceira vez, apressando o passo. Havia concordado em esbarrar com Shouto no mercado às 15 horas, o que significava que já estava vinte minutos atrasado. Na verdade, vinte e dois minutos, mas que se dane.

A verdade é que, no momento em que combinara de se encontrar com seu namorado, sentira seu mundo virar de cabeça para baixo. Jamais entenderia por que havia corrido para o chuveiro ou por que havia levando trinta minutos para escolher uma nova muda de roupas- afinal, por que escolhera uma nova? Não conseguia explicar por que havia pego “emprestado” o perfume de sua mão ou por que estava mastigando aquela pastilha de menta que Shouto tanto gostava.

Por que passara tanto tempo checando sua aparência no espelho? Por que diabos hesitara em usar sua preciosa máscara do All Might?! Se sentia um bobo agindo assim, mas, bem, quem poderia culpa-lo? Já faziam dois meses desde a última vez que havia visto Shouto, e tinha que admitir que estava ansioso em ver o namorado. Será que ele se sentia da mesma forma?

Desacelerou, dobrando a esquina e o avistando imediatamente. Usava uma máscara preta e escondia as mãos dentro dos bolsos da jaqueta, um olhar ansioso e perdido em seu rosto. Olhava ao seu redor freneticamente, provavelmente procurando Izuku entre as poucas pessoas que entravam e saiam do mercado.

— Ei, Shouto! -Gritou, sua voz abafada pela máscara. Acenou e correu em sua direção, chamando-lhe a atenção- Me desculpa, acabei me atrasando. Levei muito tempo para convencer a minha mãe a me deixar sair- Inventou uma desculpa qualquer, rezando para que Shouto não percebesse sua mentira.

— Sem problemas- Shouto disse. Por mais que estivesse abafada pela máscara, sua voz continuava suave, um pouco mais grave do que nos áudios que ele lhe enviava.

Colocou as mãos sobre os joelhos e se curvou, tentando recuperar o fôlego. Sentiu Shouto colocar uma mão sobre seu ombro, sua respiração também pesada. Ergueu a cabeça e trocou olhares com ele, fingindo não perceber o cabelo ainda úmido e a ausência de luvas em suas mãos pálidas.

— Você esqueceu as luvas- Shouto comentou.

— Uhum- Endireitou-se, ficando cara a cara com ele- Você também.

Sorriram. Mesmo que não conseguissem ver os lábios um do outro, eles sabiam- e era isso que importava.

— Bem, vamos lá? -Estendeu a mão, olhando para a entrada do mercado- Minha mãe me deu uma lista de compras bem peculiar, então nada de me encarar estranho- Riu, tentando criar entre os dois aquele clima leve e bem-humorado de sempre. Voltou o olhar para Shouto, estranhando sua falta de reação- Shouto? Qual o problema?

Shouto encarava sua mão, fuzilando-a com o olhar. Não demorou muito para entender o porquê da hesitação.

— Pff.

Começou a rir, ignorando o olhar indignado que recebeu. Não era a primeira vez que ria de uma das reações fofas de Shouto.

— Me desculpa, não fique brabo- Puxou o tubinho de álcool gel do bolso e despejou um pouco nas mãos, esfregando-as- Aqui- Shouto lhe estendeu as mãos, e Izuku derramou um pouco- Agora está tudo bem!

Deram as mãos e entraram no supermercado, ambos com as bochechas coradas. Izuku apanhou uma cesta e guiou Shouto até o corredor de produtos de limpeza.

— Me desculpe por ter que ser cauteloso assim- Shouto disse, pigarreando um pouco—É que a saúde da minha mãe está um pouco frágil ultimamente, então todo cuidado é pouco.

— Ah, sim, é claro- Assentiu, procurando a prateleira dos detergentes- Já faz um ano que ela voltou a morar com vocês, né? Ah, aqui- Pegou o detergente e o pôs na cesta. Seu namorado assentiu, olhando para as prateleiras com desinteresse- E está indo tudo bem?

— Bem melhor do que no início, com certeza- Shouto agarrou uma embalagem de esponjas, atirando-a na cesta. Bem, fazia sentido que ele também tivesse compras para fazer, afinal eles haviam se encontrando no mercado apenas “por acaso” - Agora ela até consegue conversar com meu pai sem tremer.

— Hein? Eles têm se encontrado? -Izuku perguntou, franzindo a testa. Embora a família Todoroki fosse um assunto delicado, Shouto havia compartilhado com ele, meses atrás, que se sentia melhor depois de desabafar com ele, então Izuku já estava acostumado a fazer perguntas que o ajudassem a se abrir.

— Sim, ela quis assistir o nosso treino algumas vezes- Ambos pegaram uma garrafa de lustra-móveis, colocando-as na cesta- Ela queria ver se não continuava a mesma coisa de quando eu era criança.

— Ah.

Izuku parou, encarando Shouto com incredulidade.

— O que foi?

— Vocês continuam treinando?! Durante a quarentena?!

— Bem, sim...- Shouto murmurou, evitando seu olhar.

— Eu não acredito- Izuku resmungou, desanimado- Só eu que estou largado, sem treinar- Voltou a olhar para Shouto, fingindo irritação- E você ainda tem a cara de pau de me dizer que eu que tenho que me aquietar, seu safado! -Deu-lhe um tapinha no braço, e Shouto riu. Teve que manter as sobrancelhas franzidas para disfarçar o sorriso que dava por trás da máscara.

— É que você e o All Might não moram na mesma casa, né.

— Mas você e o Endeavor também não moram na mesma casa- Shouto riu de novo, e Izuku lhe bateu com mais força- Seu cara de pau.

— Ah- Shouto exclamou, olhando o bloco de notas em seu celular- Eu preciso de costeletas de porco.

— Minha mãe também pediu- Izuku disse, checando a lista que sua mãe lhe entregara. Sentiu o estômago se revirar e grunhiu- Ela com certeza vai fazia mais Katsudon.

— Karma.

— Shiu.

Caminharam até o corredor onde as carnes estavam, cada uma agarrando um pacote de costeletas. Izuku franziu o cenho, movendo seu olhar lentamente da cesta para Shouto.

— Não deveríamos usar cestas diferentes? -Izuku perguntou, cessando o passo.

— Trabalho demais- Shouto respondeu, indiferente.

— A caixa vai se confundir.

— Vai nada.

— Vai sim.

— Não vai.

Fuzilaram-se com os olhares, mas logo começaram a rir. Izuku se admirava com o nível de intimidade que havia conseguido construir com Todoroki desde seu primeiro ano na UA- jamais conseguiria uma reação dessas de Shouto dois anos atrás.

Entrelaçou seu braço com o do namorado, a máscara escondendo seu sorriso.

— Se ela se confundir, eu vou mastigar a sua cara todinha.

.

— Eu disse que ela ia se confundir- Izuku disse, passando pela porta automática. Encarou Shouto pelo canto dos olhos, erguendo e abaixando as sobrancelhas sugestivamente- Eu só não mastigo a sua cara por causa da máscara.

— Ah, sim- Todoroki disse, tentando disfarçar seu deboche- A máscara ridícula.

— Linda, você quis dizer- Lançou-lhe um olhar feroz. Não deixaria ninguém debochar do All Might na sua frente, nem se esse alguém fosse seu namorado.

— Sim, sim.

Afastaram-se do estacionamento do supermercado, encarando-se com desanimo. Haviam ficado quase uma hora inteira jogando conversa fora dentro do estabelecimento, mas, para eles, era como se apenas dez minutos houvessem passado.

— Você vai para casa agora? -Izuku perguntou, soltando a mão de Shouto.

— Sim...- Shouto respondeu, encarando sua mão esquerda com estranheza. Voltou a encarar o namorado, um brilho esperançoso em seus olhos- Quer que eu te acompanhe até sua casa?

— Ah- Izuku riu, levando a mão até sua nuca- Eu adoraria, mas acho melhor não. Se a minha mãe descobrir que eu fiquei a menos de dois metros de distância de alguém, ela vai surtar e não vai me deixar sair de novo.

Shouto inclinou a cabeça para o lado, confuso.

— De novo?

Izuku sorriu, e Shouto arregalou os olhos levemente, compreendendo o sorriso do namorado.

— Tenho certeza que a gente vai acabar se esbarrando por mais algum mercado- Midoriya disse, voltando a entrelaçar sua mão direita com a esquerda de Todoroki- Então, sim. De novo.

Ambos se encararam, o pouco das bochechas que ainda era visível completamente corado. Nenhum dos dois queria ser o primeiro a dizer “então é isso, até a próxima”.

Aquela era uma situação completamente idiota. Não era como se não fossem mais conversar ou ver um ao outro, pois era quase certeza que assim que chegasse em casa, Todoroki mandaria uma mensagem para se assegurar de que Izuku havia voltado ao lar em segurança. Mas, mesmo assim, não conseguia afastar aquele sentimento que lhe dizia para não ir embora.

— Então- Izuku disse, a voz suave. Shouto se perguntou se a voz dele sempre fora suave assim ou se apenas agora ele dava valor para tal característica.

— Então.

— Eu preciso ir...

— Eu também.

Nenhum dos dois se moveu. Isso já estava ficando deprimente. Izuku abriu a boca para se despedir, mas foi interrompido ao sentir algo vibrando em sua bunda. Meu celular, pensou. Tirou o celular do bolso, pronto para atender a ligação de sua mãe que, com certeza, já estava no auge do seu surto.

Foi quando aconteceu. E aconteceu tão rápido que sequer conseguiu reagir. Sua máscara estava em seu queixo e os lábios de Shouto se pressionavam contra os seus gentilmente. Izuku fechou os olhos ao sentir os dedos finos do namorado passearem por seus cachos, aproveitando cada momento daquele gesto. Midoriya abraçou-o com o braço direito, ignorando o desejo de jogar as comprar no chão para que pudesse abraça-lo dieito.

Acabou tão rápido quanto começou. Afastaram-se com relutância, ambos ofegantes e enrubescidos. Izuku sentiu os olhos encherem d’água, pressionando seu rosto contra o ombro de Shouto, escondendo seu embaraço.

— Eu não acredito que você fez isso- Resmungou, tentando recuperar o fôlego.

— Nem eu- Shouto lhe abraçou com o braço livre, inalando o cheiro fresco de xampu.

Apenas um ou outro carro passava por eles, e o celular de Izuku parara de vibrar durante suas caricias, então estava silencioso o suficiente para que se concentrassem apenas na respiração um do outro. Era tão bom estarem juntos desse jeito, como se apenas os dois existissem no mundo.

Izuku ergueu seu rosto, fitando os olhos de Shouto com tanto carinho, que o mais alto podia sentir seus próprios olhos encherem d’água. Encostaram as testas, os olhos vidrados um no outro, as respirações passadas. Como se fossem imãs, voltaram a aproximar as bocas, sem pressa, prontos para compartilharem mais um beijo.

— Usem a porra da máscara, seus merdas!

Separaram-se no susto, como se alguém houvesse despejado um balde de água fria em suas costas. Izuku arrumou sua máscara, encontrando o olhar da última pessoa que esperava encontrar em um supermercado.

— K-Kaachan! -Gaguejou. Sentiu suas mãos começarem a suar- O que está fazendo aqui?!

— Que tipo de pergunta é essa, caralho? -Katsuki retrucou, sua cara formada na carranca de sempre- Vim fazer compras, já que aqui é um supermercado, e não um puteiro.

— Ciúmes? -Shouto debochou, também arrumando sua máscara.

— Como é que é?!

— Calma! -Izuku enfiou-se entre os dois, criando uma barreira que ao mesmo tempo que dizia “não se matem” também dizia “não me matem” -Nós já estávamos de saída, né, Shouto?

Todoroki assentiu, erguendo as sacolas. Izuku fez o mesmo, e Katsuki grunhiu. Embora tivessem se entendido há mais ou menos um ano, Izuku duvidava que algum dia Katsuki fosse abandonar o seu jeito agressivo e grosseiro. Bem, talvez fosse assim que a amizade deles funcionasse.

— Bem, eu vou indo- Izuku disse, já caminhando na direção de sua casa- Até mais, Shouto, Kaachan.

— Até- Shouto disse, indo na direção oposta.

— Sumam logo daqui!

.

Atirou-se na cama, os cabelos ainda molhados do segundo banho que tomara no dia. Podia ouvir sua mãe cantarolando na cozinha, cozinhando algo que ele esperava que não fosse Katsudon. Estava até surpreso que o ânimo dela estava bom, pois, depois da bronca que recebera, achou que ela iria ficar algum tempo chateada.

Suspirou, virando-se de lado e pegando o celular. Um sorriso se formou em seu rosto ao ler a mensagem de Shouto.

TODOROKI SHOUTO

Shouto: Levei bronca da minha mãe...

Izuku: kkkkkkkkk

Izuku: Eu também 

Izuku: Ela tá surtada

Shouto: :(

Izuku: Se arrependeu de ir? 

Shouto: ...

Shouto: Não 

Izuku: Nem eu 

Izuku: Aliás

Izuku: Acho que vou ter que ir no mercado semana que vem...

Izuku: Mal cheguei em casa e minha mãe já reclamou que o xampu tá acabando ai ai 

Izuku: Sem condições

Shouto: Então eu também vou. 

Izuku: Talvez a gente se esbarre por lá 

Shouto: Que

Shouto: Mas a gente não tá combinando de se encontrar lá? 

Izuku: Ai Shouto, você é muito tonto hasuhdsuhsuhsad

Shouto: Não entendi 

Shouto: >:( 

Izuku: dhudsahudsdsa

Izuku: Semana que vem então? 

Shouto: Por mim tudo bem. 

Izuku: :> 

Izuku: Eu te amo muito, viu

Shouto: Eu te amo mais. 

— Izuku- Ouviu sua mãe lhe chamar- A janta está pronta!

— Já vou! -Respondeu, atirando o celular ao seu lado.

Ergueu-se da cama em um pulo, pondo uma expressão tranquila em seu rosto. A última coisa que queria era ficar em maus termos com sua mãe.

Aproximou-se da cozinha, sendo recebido pelo meio sorriso de sua mãe, que fingia estar emburrada, e por um cheiro familiar. Sentiu sua expressão se iluminar.

— Decidi fazer Soba para a janta- o favorito de Shouto, Izuku pensou. Talvez, depois de tanto tempo comendo Katsudon, acabasse virando seu favorito também.

— Eba!

Realmente, eba.


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Notas finais do capítulo

Acho que o Izuku ficou um pouco occ nessa fanfic, mas é que eu quis retratar ele e o Shouto de uma forma mais real/moderna. Próxima fic que eu fizer eu tento trabalhar melhor a personalidade deles, juro.
Qualquer errinho de gramática que encontrarem, por favor, me avisem!
Se curtirem a fic, favoritem e comentem por favor, porque a autora não é feita de alta autoestima não. ♥
Até a próxima!



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