Ouro e Prata - Símbolo de uma Promessa escrita por GolDKler


Capítulo 5
Capítulo 5




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Gabrielle

Estava amanhecendo quando fui para o vestiário. Tomei um banho frio para despertar. Me olhei no espelho do meu armário, o machucado já não era mais visível. Levou quase duas semanas para sumir a marca roxa do tombo que o interno havia me dado. Estava trabalhando há 19 horas seguidas. Meu corpo pedia por descanso. Um incêndio em uma fábrica de café havia deixado muitos feridos graves, lotando a emergência e as salas de cirurgia. O cheiro de queimado no corpo dos pacientes e seus gritos desesperados era difícil de suportar. Alguns residentes tiveram dificuldade. Cheguei em casa eram 5h14min e fui direto para cama. Acordei às 15h me sentindo totalmente recuperada. Meus horários malucos não me afetava mais.

Fiz algo leve para comer e me deitei vendo televisão. Peguei meu celular e mandei mensagem para Aline. Normalmente não me importava muito com celular, mas desde que começamos a conversar, não desgrudava dele. Ela era divertida e sempre tinha assunto para conversarmos. Eu sabia que ela tinha sentimentos por mim, mas esperava que se não correspondesse ela cansaria logo e se encantaria por outra, ela é jovem. Não queria lhe dar falsas esperanças mas também não queria me afastar. Nos encontraremos mais tarde para correr. Estávamos fazendo isso a quase um mês.

Próximo do horário combinado, fui para praça onde nos encontrávamos, e como sempre havia chegado primeiro. Fui me alongar. Terminei olhando em volta a procura dela, não era normal ela se atrasar. Então a vi não muito longe. Ela estava conversando com uma moça. A curiosidade me tomou, cheguei mais perto pra ver com quem ela falava. Não a reconheci, mas percebi que eram próximas. A moça segurava a mão de Aline. Seria sua namorada? Nunca perguntei, como ela tinha sentimentos por mim apenas acreditei que fosse solteira. Mas podia ser que ela já havia se desapegado se de mim.

A moça levou sua mão ao rosto da Aline, naquele momento me senti incomodada, e me aproximei sem pensar. Quando percebi já estava ao lado delas. Aline me viu e pulou para longe da moça.

— Você já chegou, não tinha te visto. - Falou toda nervosa.

A mulher que estava com ela me olhou com desprezo e voltou-se para Aline.

— Te vejo mais tarde, amore.

— Depois a gente conversa, Isabelle. - Aline falou para moça.

Ela se aproximou para um abraço mas Aline a impediu. Isabelle me deu olhar intimidador e foi embora.

— Vamos alongar? - Aline me convidou muito vermelha sem me olhar.

Eu não respondi apenas a acompanhei. Fizemos o mesmo trajeto de sempre sem trocar uma palavra. Eu percebia que ela me olhava. Me sentia irritada e chateada, mas não entendia o porquê. Não era ciúmes, eu não era mais capaz de amar alguém. Chegamos na praça nos sentamos para descansar. Para extravasar pouco o estresse acabei correndo mais rápido que o normal.

— Você está brava comigo? - Ela perguntou parecendo muito triste. Me senti mal por ela.

— Não. Me desculpe se passei essa impressão. Só não sabia que você tinha namorada.

— Ela não é minha namorada. Ela gosta de mim. E eu não gosto dela. Mas não sei como dizer isso a ela.

— Eu passei por isso a pouco tempo. - Eu me senti um pouco aliviada.

— Eu não quero magoar ela. - Seus olhos azuis brilhavam com iluminação da rua.

— Seja sincera. Diga a ela que você não sente o mesmo, nós não controlamos o que sentimos.

— Você está certa. Obrigada.

— Vamos embora. - Convidei.

A deixei em casa e fui para o apartamento de Crystal e Amabelle, aquela noite jantaria com elas. Durante o jantar contei o que tinha acontecido com Aline. Ela se entreolharam quando terminei.

— Você ta gostando mesmo dessa menina. - Amabelle começou.

— Eu não estou! Não tem como eu gostar dela. Devo ter me apegado, só isso.

— Por que não? Para de bobeira Gabi. Você é jovem e muito atraente, tem um corpo maravilhoso, é inteligente e muitas outra coisas. Você pode amar sim, você só tem que se deixar ser amada.

— Ela está certa. - Para minha surpresa, Crystal concordou. - Você pode amar sim, e você merece ser amada. Só porque já amou antes não quer dizer que não vai amar mais.

Eu não falei nada só observei as duas.

A noite dormi muito mal pensando no que elas tinham me falado. Fui mais cedo para o hospital, cheguei uma hora antes. Me enfiar no serviço era ótima maneira de esquecer de tudo.

O dia estava tranquilo ao contrário do dia anterior. Fui para o refeitório sozinha, peguei algo para comer e sentei em uma das mesas que estava vazia. Olhei meu celular e tinha duas mensagem da Aline. Um “bom dia” que sempre mandava e outra dizendo que tinha conversado com Isabelle. Me senti aliviada com aquilo. Beatriz se aproximou.

— Posso me sentar? - Perguntou me olhando.

— Claro. - Puxei a cadeira para ajudá-la.

— Adoro estrogonofe. - Falou levando a colher à boca - E aí o que aconteceu?

— Como assim?

— Venho te observando. Você anda mais feliz ultimamente e hoje você está séria e pensativa. Se fosse outra pessoa diria que tem mulher na jogada.

Não respondi. Ela me encarava.

— Ah. Eu acertei? - Ela começou a rir. - Conseguiram te laçar? Quero conhecer essa sortuda.

Me levantei. Não tava afim de aguentar aquilo, mas ela segurou minha mão.

— Desculpe, eu estava brincando e exagerei. Vamos conversar?

 Me sentei novamente a encarando.

— Sei que não parece, mas sou boa conselheira. - Ela me olhou sorrindo.

Acabei contando da cena do dia anterior, ocultando nome da Aline.

— Você ta gostando dela!

— Não tem como. Eu não posso mais amar alguém.

— Você pode, e já está gostando dela! Mas tá com medo e insegura. Já amou alguém antes, né? Sente que está traindo essa pessoa, ainda tem sentimentos por alguém aí dentro. - Ela apontou meu peito. Ela acertou. Voltou a comer me observando.

— Agora me escuta. Muitas pessoas passam por isso. Tem seu grande amor e quando ele acaba se sente inseguro para o próximo, sente que está traindo. - Ela segurou minha mão entre as suas. - Viver o agora não vai apagar seu passado. Você merece ser amada e amar. 

Eu encarei nossas mãos enquanto pensava no que ela me disse.

— Obrigada. - Voltei a olhar para ela.

— Todos merecemos ser feliz. Mais de uma vez. Não se prive só porque já viveu uma história com alguém.

Permaneci em silêncio a observando.

— Quando quiser desabafar estarei aqui, sou uma ótima ouvinte - ela completou sorrindo gentilmente.

— Obrigada.

Continuamos conversando por algum tempo, me senti mais leve após nossa conversa. 

A noite mandei mensagem para Aline. Mesmo ainda não tendo certeza do que sentia. Mas queria descobrir.

 

Oi.

Abriu um restaurante novo aqui perto, topa?

 

Logo ela respondeu que sim. Me arrumei e fui buscá-la. Parei em frente sua casa e antes de apertar campainha ela saiu. Ela estava linda. Vestia uma calça preta um pouco justa e uma blusa branca decotada. Ela parecia muito nervosa e não posso negar que também estava um pouco.

Quando chegamos, o restaurante parecia lotado.

— Será que vai ter lugar? - Ela olhava curiosa para dentro.

— Tudo bem, eu fiz reserva.

Fui até um senhor na entrada. Ele sorriu.

— Boa noite. A senhorita tem uma reserva?

— Boa noite. Sim, está no nome de Gabrielle Silver Garcia.

Ele olhou uma folha confirmando e chamou garçom para nos acompanhar.

— Nossa que chique. Reserva. - Aline falou assim que nos acomodamos.

— Nem tanto. Eles têm grande rede e esse é meio que uma novidade, então pessoal vem conferir.

— Obrigada por me trazer. Mas não vou pegar leve na próxima corrida. - Ela parecia muito feliz.

— Ah não! - Fingi surpresa colocando uma mão no meu rosto, fazendo cara de quem tinha sido descoberta. - Você percebeu meu plano! - Aline começou a rir comigo.

O jantar foi ótimo, conversamos e rimos bastante. Ela parecia bem à vontade no final.

Saímos do restaurante caminhando até o carro que havia ficado um pouco longe. Já estava um pouco tarde. Estávamos chegando quando ela segurou minha mão e me puxou colando seu corpo ao meu, colocou a mão no meu rosto e me puxou para um beijo. Apesar a surpresa, eu não a impedi. Quando ela se afastou percebi que estava vermelha. Segurei sua mão e coloquei a outra em seu rosto e lhe dei um beijo mais lento e gentil. Me afastei e vi seu sorriso. Ela ficava linda sorrindo.

— Vamos. Está ficando tarde. - Falei e ela confirmou.

Entramos no carro e antes que qualquer uma de nós falasse algo, seu telefone tocou. Devia ser seu tio pelo que falava. Ela desligou quando estávamos em sua rua. Parei de frente a casa, mas ela não desceu.

— Gabrielle, o que minha prima falou no churrasco era verdade. Desde o dia que te vi no hospital eu me encantei por você.

— Também sinto algo por você. Vamos deixar acontecer.

— Então a gente tá namorando?

— Eu diria que se conhecendo.

— Estamos ficando? Posso ficar com outras pessoas então?

— O que? Não! - A surpresa e negação tomaram meu rosto.

Ela começou a rir.

— Ué, então a gente ta namorando. Se não, posso beijar outras. - Ela ria da minha confusão.

— Só quero ir devagar. Não quero te magoar.

— Eu estou brincando. Não vou ficar com ninguém. Eu não tinha menor intenção de ficar com alguém mesmo.

— Faz muito tempo que não sinto algo por alguém. Achei que não era mais capaz de sentir isso. Por isso quero deixar acontecer. Sem títulos, pelo menos por enquanto.

— Tudo bem. Eu não me importo com títulos. Obrigada pela noite maravilhosa. E a próxima é por minha conta. Vou pensar em algo e te aviso.

Ela soltou seu cinto e me abraçou. Me deu um selinho e saiu do carro. Fui embora a olhando pelo retrovisor.

No dia seguinte, chamei Amabelle e Crystal para o meu apartamento. Para contar a novidade. Esperava uma grande surpresa da parte delas.

— Cê ta zuando? - Crystal não acreditava.

— To tão feliz por você! - Amabelle me dava abraço forte.

— É sério mesmo?

— Sim, mas não estamos namorando nem nada.

— Parabéns estou muito feliz por você, minha irmã. - Crystal me abraçava também.

— Então, quando vamos conhecer essa sortuda? - Amabelle perguntou.

— Podemos marcar um dia. Mas eu ainda não quero contar nada a ela, então se comporte Dona Amabelle.

— Tudo bem. Isso é algo particular seu.

Elas estavam mais empolgadas que eu no final.

Combinei com Aline de trazê-la no domingo para conhecer elas. O restante da semana foi agitado conversamos pouco já que estava trabalhando turno da noite.

Fui buscá-la no dia combinado pela manhã para almoço. Ela entrou no carro animada. Parecia muito feliz.

— Bom dia! - Falou pouco tímida me olhando.

— Bom dia. - Respondi percebendo que ela estava um pouco vermelha.

Eu entendi o porque ela ficou vermelha. Soltei meu cinto, e lhe dei um beijo.

— Me belisca. - Ela falou enquanto eu colocava o cinto.

— Por quê?

— Acho que to sonhando e tô com medo de acordar.

— Você não está. Mas se quiser te dou um beliscão.

— Não precisa mais. - Falou rindo.

Foi menos de 10 minutos até chegarmos na garagem do prédio.

— Você tem até vaga aqui? - Ela perguntou confusa.

— Eu moro aqui também. Vamos para o elevador, é desse lado.

Ela me seguiu em silêncio. Parecia estar estudando o lugar.

— Chegamos. - Avisei antes de bater na porta.

Crystal quem nos atendeu.

— Olá. Aline, certo?

— Sim. -  Respondeu pouco envergonhada.

— Me chamo Crystal, sou a melhor amiga dessa chata aí. - Ela me apontou rindo.

Amabelle chegou na sala. Logo depois se apresentando.

— Você não tinha me dito que ela era tão bonita. - Amabelle me olhou maliciosa.

Fomos para cozinha Crystal conversava com ela. Eu ajudava Amabelle.

— Você ficou escondendo o ouro, né? - Ela falou baixinho meu lado. - Que gata. Ela parece ser nova.

— Acho que tem 20.

— Sabe se ela já...?

— Não fiz esse tipo de pergunta. E eu nem estou pensando nisso.

— Você vai pensar em algum momento. E vai ter que perguntar. Quer que eu pergunte se ela é virgem?

— Não se atreva. - A encarei como se fosse soltar lasers pelos olhos.

— Gabi, o babaca que cobriu as férias do meu parceiro. Também deu encima de você? - Crystal as interrompeu.

— É o Marcos, aquele que estava no churrasco. - Aline explicou.

— Sim, mas ele parou quando ameacei a cortar a minhoquinha dele.

Começamos a rir. Depois do almoço ficamos conversando. Aline já estava mais à vontade. Conversava animada com Amabelle.

Estava escurecendo quando saímos do apartamento delas.

— Gostei muito delas. - Ela falava animada.

— Elas são minha família.

— Você falou que seu apartamento era nesse prédio, certo?

— Sim, no andar de baixo por que?

— Eu queria conhecer o Miguel. - Falou pouco envergonhada.

— Claro, vamos lá.

Quando chegamos no meu apartamento, ela entrou observando tudo.

— Aqui meu bebê. - Apontei para o sofá onde estava deitado.

— Que coisa mais fofa. - O abraçou. - Adorei seu apartamento. É bem a sua cara. - Disse enquanto apertava um Miguel nada satisfeito.

— É bem simples. Não paro muito aqui também.

— Mas tem que descansar mais. - Se aproximou ficando centímetros de mim.

Seu olhos pareciam mais azuis de perto. Ela me provocou chegando mais perto falou meu ouvido.

— Então, você não quer me beijar?

— Está muito abusada.

Antes de terminar o que tinha a dizer ela me beijou. Nossas línguas se encontraram pela primeira vez. Sua mão agora estava entre meus cabelos. Ficamos ali por um tempo parando apenas para recuperar o fôlego.

— Eu te amo. - Ela falou do nada

Uma onda gelada tomou meu corpo. Junto de uma sensação que algo estava errado, não consegui falar nada. Me afastei dela um pouco.

— Desculpa, acho que é pouco cedo para falar isso.

— Está tudo bem. Mas é melhor a gente ir.

— Sim. - Respondeu muito vermelha.

A levei para casa e voltei para meu apartamento. Aquela sensação continuava.

Me deitei olhando o teto lembrando das palavras da Aline.  Eu devia me sentir feliz de ouvir "eu te amo". Mas me sentia confusa.

Meu celular apitou, era mensagem da Aline.

 

Obrigada pelo dia maravilhoso.

Sei que falei aquilo muito cedo, mas era verdadeiro.

 

Nos próximos dias eu foquei no trabalho.

— Bom dia, Dra. Silver. Faz alguns dias que não dividimos a mesma sala. - Falou Karine começando a se lavar.

— Faz sim. Estou entrando. - Dei-lhe um sorriso de canto entrei na cirurgia primeiro.

Ela logo se juntou a mim. Era um procedimento que ainda não tinha feito solo, mas já tinha acompanhado várias vezes; me sentia confiante.

— Espero não precisar sujar minhas luvas doutora. - Karine parecia estar de muito bom humor.

Respirei fundo fechei os olhos por alguns segundos me concentrando apenas no paciente. 

A cirurgia levou 4 horas e foi um sucesso.

— Ótimo trabalho, eu realmente não precisei sujar minhas luvas.

— Obrigada, doutora. Eu tive uma ótima professora.

— Ta tentando ganhar mais pontos comigo para receber mais cirurgias ou por que entrou para minha família? - Me olhava como expressão séria.

Senti meu rosto queimar. Olhei dos lados e não havia ninguém perto respirei aliviada.

— Não precisa se preocupar. Não vou misturar vida pessoal com trabalho. Mas se você magoar minha sobrinha vai se ver comigo. - Ela agora sorria.

Karine saiu rindo divertida. Eu fiquei lá olhando o nada por algum tempo. Ter sua inimizade era última coisa que queria. 

Naquela tarde fui para emergência, gostava de ajudar lá. Recebi a ficha de uma paciente que acabara de dar entrada, me direcionei a sua cama lendo a ficha.

— Bom dia, eu sou a Dr. Silver. - Me apresentei para a paciente. - Sra. Mônica Ribeiro, irritação pele e suspeita de anemia.

— Não estou tão ruim assim, estou doutora? - Ela falou assustada quando cheguei.

— Não se preocupe. Vamos fazer alguns exames para ver essa alergia. A senhora toma algum medicamento?

— Não, mas estou grávida de 4 meses.

— Isso não está na sua ficha. 

— Eu não escondi, é que aquele médico não perguntou nada, só falou que não era cirúrgico.

— Qual doutor atendeu a senhora?

— Um rapaz jovem, loiro. Acho que era Martins.

— Obrigada.

— Espero não causar problema para ele. Mas prefiro que você cuide de mim Dra.

Silver.

— Sim eu vou cuidar da senhora e do seu bebê. Já sabe qual sexo? - Puxei assunto tentando distraí-la.

— Ainda não, queremos surpresa. Meu marido ta parecendo uma criança que vai ganhar presente de natal, tamanho a alegria. Com a minha idade engravidar é muito difícil. Não tínhamos muita esperança. Esse bebê é nossa pequeno milagre. Nos casamos há 4 anos. Queríamos engravidar sem tratamento, sabe?

Ela se empolgou falando do bebê, dava pra notar sua alegria com o filho. Acabei me simpatizando com ela. Apesar de termos que manter uma linha entre médico e pacientes isso era inevitável, somos humanos afinal de contas.

Arrumei a ficha da paciente e pedi para fazer os exames. Fui comunicar a chefe dos residentes do ocorrido. Um erro desse pode custar a vida de um paciente.

— Doutora, os resultados. - Uma enfermeira me entregou toda sorridente.

— To de olho em você. - Karine falou nas minhas costas.

Levei um grande susto. Quando foi que ela chegou aqui?

— De olho no que? - Perguntei sem entender.

— Eu estou brincando, Silver. Você é muito popular. Espero que minha sobrinha não seja ciumenta, pro seu próprio bem. - Ela ria.

Não a respondi, infelizmente minhas suspeitas estavam certas, os resultados dos exames de Mônica eram os piores possíveis.

— Ah não! Câncer!

Mostrei a Karine, seu sorriso foi logo substituído por expressão negativa.

— Pede mais exames e chama a oncologia, ela é sua paciente?

— Sim, e está grávida.

— Terá que interromper a gravidez. Vamos eu te ajudo a dar a notícia.

Não foi fácil mas eu falei o que precisava, aquele era meu trabalho. Os novos exames foram tão ruins como o primeiro, o câncer estava muito avançado e era inoperável. Ela teria de oito meses a um ano vida no máximo sem tratamento. A gravidez acelerava o câncer.

Mesmo interrompendo a gravidez e começando imediatamente todo o tratamento doloroso, ela teria em torno de dois anos.

Ao receber a notícia ela entrou em pânico. Seu marido que estava ao seu lado tinha chegado e começou a chorar.

— A senhora tem que decidir. Cada dia que perdemos significa muito no seu tratamento. - Dra. Sandra especialista da área explicava cada passo seu tratamento.

— Eu preciso pensar, vocês podem nos dar um minuto?

— É claro.

— Dra. Silver poderia ficar? - Mônica me chamou. 

Confirmei. Ela pediu para seu marido também sair, ele aceitou um pouco a contragosto.

— O que você faria em meu lugar? E por favor deixe de ser médica por um momento, quero que diga como se fosse minha amiga. - Ela segurou minha mão entre a suas carinhosamente.

— É impossível eu me imaginar em seu lugar. A dor e angústia que está sentindo não pode ser entendida por terceiros que só se imaginam em seu lugar. Mas a senhora tem que decidir por você, não pelos  médicos ou pelo seu marido. A senhora tem que tomar a decisão que o seu coração mandar.

— Obrigada, Dra. Silver. Posso te chamar de Gabrielle? É um nome tão bonito, combina com você!

— Pode sim.

— Chame aquele bando de abutres e o meu marido, por favor.

Quando todos voltaram para o quarto, ela falou sobre a sua decisão.

— Quero levar minha gestação até o fim. Eu escolho o meu bebê milagroso.

Seu marido começou a chorar de novo.

— Se fizer isso, a senhora vai ter menos de um ano e não temos certeza que sua gravidez chegará até o fim. A senhora tem que pensar muito bem sobre isso.

— Eu já pensei doutora. - Disse firmemente. - Eu não quero o tratamento. Não vou passar meu último ano de vida careca, vomitando e passando tanto mal que desejaria a morte no final.

Saímos do quarto e fui providencia a alta dela.

— Silver, você tem noção do que fez? - Sandra estava muito irritada.

— Eu não fiz nada. A decisão foi dela.

— Não, você colocou na cabeça daquela mulher que ela vai ter seu filho. Como se não tivesse dezenas de riscos só pela sua idade. - Ela segurava meu braço.

— Eu posso saber o que está acontecendo aqui? - Karine chegou.

— Sua aluna impulsiva acabou de condenar uma paciente. - Me acusou, soltando meu braço.

— A paciente fez a escolha dela. Silver não fez nada. Apenas tratou a paciente como uma paciente.

Elas se encararam por algum tempo. Sandra foi embora pisando com raiva.

— Você devia escolher melhor seus inimigos. Ela queria te devorar.

Aquele foi um dia difícil. Mas quando se trabalha com vidas, sempre tem dias assim. Às vezes até piores.

Dias depois, fui jantar na casa dos pais da Aline. Eles foram muito receptivos com o nosso relacionamento. Que estava indo bem, apesar de ainda me sentir um pouco desconfortável e insegura.

 

**********

 

Dois meses depois oficializamos o nosso relacionamento. Eu me sentia mais confortável ao lado dela.

Pedi para Amabelle me ajudar a comprar um presente para Aline. Iríamos comemorar um mês de namoro e seu aniversário na próxima semana. Ela escolheu um tênis que estava em alta no mercado que achei a cara dela.

Fui para sua festa de aniversário, a casa estava lotada. Era sempre assim. Jeane veio me encontrar no portão.

— O que você comprou pra ela? - Perguntou toda curiosa.

— É surpresa. - Respondi vendo sua cara de insatisfeita.

Já tinha me acostumado com a aglomeração, tinha alguma amizade com todos ali. Eles me tratavam como se fosse da família.

— Tava com saudade já. - Aline veio me abraçar.

Janaína e Olívia riam atrás dela. Retribui seu abraço e ela me levou até seu quarto onde estavam os presentes.

— Agora quero meu presente de namoro. - Falou maliciosa me puxando para dentro quarto enquanto fechava a porta.

Trocamos alguns beijos e logo descemos, antes que alguém desse falta da gente. Me sentia uma adolescente fazendo aquilo. Mas era muito bom.

Foi uma bela festa comi muito bolo e brigadeiro. Quando o pessoal começou a ir embora, eu pensei em acompanhar, estava exausta.

— Dorme aqui? - Ela pediu quando anunciei que estava indo.

— Vou trabalhar amanhã cedo.

— Você pode ir daqui. Por favor, fica?

Acabei cedendo. Eu sabia o que ela estava querendo, eu não tinha conversado com ela ainda. Pelo jeito seria essa noite. Mas na casa dos seus pais não era o lugar que tinha em mente.

Ajudei eles a arrumarem um pouco as coisas.

Fui para o quarto. Aline já havia arrumado um colchão de casal no chão para nós duas. Senti uma onda fria passar pelo meu corpo. Como falaria com ela?

— Vista essas roupas para dormir.

— Obrigada. - Ela percebeu que estava nervosa.

Fui ao banheiro me trocar, quando voltei ela já estava deitada com a televisão ligada.

Me deitei do seu lado.

— O que está vendo?

— Um filme que Janaína me falou. Mas já vou desligar.

— Pode continuar. A luz não me incomoda.

— Gabrielle você está nervosa? - Ela me olhava curiosa. - Você é virgem?

— Quê? Não!

— Eu achei que você era. Fiz uma aposta com Janaína mas parece que perdi.

— Você apostou sobre minha virgindade com sua prima? - Perguntei rindo um pouco.

— Ela falou que você já tinha tido alguém. Eu achei que não, porque você é um pouco travada.

— Eu só não estou pronta ainda.

— Tudo bem. Eu não quero te forçar. Eu só quero dormir agarrada com você essa noite.

Talvez ela não tivesse acreditado que não era mais virgem. Mas ainda não estava pronta para contar tudo a ela.

Ela respeitou minha decisão. Mas gostava de me provocar. O dia que dormiu em meu apartamento, ela fez questão de esquecer a toalha para me pedir enquanto terminava o banho. Ela conseguia me tirar do sério, mas ainda me sentia bloqueada nessa parte.

 

**********

 

Já tínhamos completado 3 meses de namoro. Eu percebi que meus sentimentos por ela estavam aumentando. Minhas inseguranças e medos estavam ficando de lado.

Era um dia como outro qualquer. Estava passando os pós operatórias quando meu celular apitou avisando que uma mensagem tinha chegado. Assim que saí do quarto do paciente, peguei meu celular para ver. Era da Aline, me convidando para ir na sua casa a noite. Já estava acostumada a ir jantar com eles. Confirmei e continuei meu dia.

Fui para casa tomar banho e me trocar e logo fui para casa dela.

— Chegou cedo. Eu nem tomei banho ainda. - Aline falou ao abrir a porta.

— Achei que ficaria feliz de eu chegar mais cedo.

— Eu to muito. - Ela riu maliciosa.

— Seus pais não chegaram ainda? - Percebi que não tinha ninguém ali!

— Eles foram num encontro de casais na nossa antiga cidade. Só vão voltar amanhã. - A segui até o seu quarto - Vem. Fica à vontade, vou tomar um banho.

Ela foi para o banho e eu fiquei sentada em sua cama vendo televisão. Fazia um tempo que Aline vinha me provocando para chegarmos lá. Eu estava me segurando.

— Estou pronta. - Ela falou saindo do banheiro.

Olhei ela estava só de calcinha com uma blusa regata um pouco transparente sem nada por baixo.

— O que acha, amor? To bonita? - Ela falou já sentando em minhas pernas.

— Muito. - Respondi tentando me controlar.

Ela me beijou lentamente. Nós não tínhamos tido nossa primeira vez ainda. E ela queria agora. Eu não iria negar e nem conseguiria.

Nosso beijos começaram a se intensificar. Nos separamos. Sentia sua respiração ofegante. Ela pegou minha mão levou até a beira da sua blusa, como se me pedisse para tirá-la. E como eu negaria aquilo? Eu a tirei, e admirei seu corpo maravilhoso. Ela tirou minha jaqueta, e começou a desabotoar minha blusa enquanto beijar meu pescoço.

— O que é isso? - Ela olhava as alianças que carregava na corrente. - Por que ta escrito Gabrielle e Alexis aqui? - Ela me olhava sem entender.

— Não é nada d... - Tentei explicar mais fui interrompida.

— Como assim não é nada? Você carrega duas alianças com seu nome e de outra, e não é nada? Essa dourada é parecida com dos meus pais! - Aline me olhava incrédula. - Você é casada?

Ela já estava de pé vestindo a blusa totalmente vermelha. E dessa vez era de raiva.

— Não sou. - Tentei explicar de novo, mas ela não deixava.

— Se não é porque carrega alianças escondida? Você deve me achar muito imatura para acreditar que não é nada!

— Essa Alexis que é ela sua esposa? Sua noiva? Me fala! Você ama ela? Fala!

Eu não respondi e ela ficou ainda mais irritada.

— FALA! - Ela gritou tão alto que daria para escutar na rua.

— Eu a amo mas não é o que...

— Cala boca. - Ela começou a chorar. - Você nunca falou que me amava e agora sei porque você já amava outra.

— Aline não é nada...

— Vai embora. Sai da minha casa agora.

— Aline me deixa ex...

— Nunca mais quero ver sua cara! Some daqui! - Ela jogou minha jaqueta. - Vai embora!

Eu desisti e fui embora. Ela era cabeça dura de mais e não me ouviria. Entrei no carro e fui para casa. Cheguei e fui direto para cama. Abracei meu travesseiro e chorei até pegar no sono.

Acordei com dia ainda escuro. Olhei a hora. Teria que ir trabalhar daqui a pouco. Me levantei e peguei meu celular para ver se ela tinha me mandado mensagem, mas não tinha nada. Procurei pelo seu contato e sua foto havia sumido. Ela havia me bloqueado. Então era isso? Tinha acabado ali? Talvez fosse melhor assim e não devia me envolver com mais ninguém. Então por que eu tava me sentindo tão mal?

Tomei banho e fui direto para o hospital, sem fazer café, não estava com fome. Chegando lá, me lembrei do que Karine havia me dito. Teria que evitá-la agora. Fui para o quadro de cirurgia, ela estaria a tarde toda operando. Só teria que evitá-la na parte da manhã.

Eu estava na sala de raio x checando alguns exames quando ouvi sua voz.

— Está difícil te achar hoje, Silver. - Ela falou em um tom sério.

Olhei assustada. Ela estava com uma  expressão séria que eu nunca tinha visto.

— Preciso conversar com você. Agora!

Eu concordei e a acompanhei. Uma hora iria ter que enfrentá-la. Ela me levou até uma sala de sobre aviso vazia. Entramos e ela trancou a porta. Eu sabia me defender mas só usaria força se realmente precisasse.

Ela se aproximou e puxou gola da minha blusa. Tirando o colar com as alianças e lendo que estava gravado nela.

— Então é verdade. Você estava fazendo minha sobrinha de otária.

Ela segurou meu braço com força.

— Aline foi o que? Um brinquedo? Era sexo que queria? Porque se for tem uma dúzia de meninas aqui louca pra dar pra você. - Ela continuava a fazer pressão meu braço.

— Quem é essa Alexis?

O ódio que crescia em mim não me deixava falar. Senti sua unhas me furando.

— Não vai falar?

— Não devo satisfações para você. - Falei com ódio.

— Quem você pensa que é? - Ela soltou meu braço e juntou no colarinho do meu uniforme me apertando com raiva.

— Eu me arrependo muito de ter te levado para minha casa, para minha família. Tenho nojo de você. Nunca mais se aproxime da minha sobrinha ou de qualquer um da minha família, ou juro que quebro sua cara.

Ela me soltou. Saiu da sala bufando. Meu pescoço queimava onde a blusa forçou. Demorei para contar a Crystal. Não queria, deixá-la preocupada. Falei que ela tinha visto as alianças e que não me deixou falar. Fiz ela me prometer que não faria nada.


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