Rede de mentiras escrita por Clara Foster


Capítulo 12
A conversa


Notas iniciais do capítulo

Demorei muito a escrever esse capítulo. Em minha mente, há duas maneiras de se chegar ao final que pretendo e queria que este capítulo fosse decisivo nessa questão. Espero, dessa maneira, que a espera seja recompensada para vocês, meus leitores, pois foi com muito afinco que escrevi e reescrevi este e os capítulos que se seguem até o final. Espero que gostem! ;)



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Bella ficou surpresa quando abriu os olhos e percebeu que Edward era a pessoa ao seu lado. Não exatamente, estava na cadeira próximo a sua cômoda, mas ainda assim era a pessoa menos inesperada naquele momento. Franziu o cenho.

— O que está fazendo aqui? – Questionou ainda com o cenho franzido, desconfiada e com dor demais para conseguir pensar nos eventos anteriores. – Levei uma surra por sua causa.

Edward se permitiu sorrir naquele momento. Um sorriso tímido e que por um segundo fez com que Bella não respirasse direito.

— O que está fazendo aqui? – Repetiu impaciente.

— Esperando você acordar... Eu, bem, eu fiquei preocupado.

A expressão de Bella não suavizou.

— Estou bem. Pode ir embora. – Sua voz estava mais firme agora, sentia que estava recuperando o eixo de sua vida desde que Edward fora embora naquela noite.

Edward suspirou, profundamente cansado. Seu olhar demonstrava tensão, era como se ele não soubesse como dizer o que viria a seguir. É claro que Bella não acreditou nem um pouco que ele estivesse cansado de alguma coisa, e mesmo que acreditasse, jamais se culparia, não mais, pelas decisões que Edward tomara desde que decidiu reaparecer em sua vida.

— Eu quero ficar.

— Você não pode decidir nada.

— Eu sei... Mas eu quero ficar. Bella... – Ele respirou fundo. – Eu cansei de me afastar de você. Eu cansei de ficar longe por tanto tempo, nos bastidores de sua vida. Eu quero conhecer Renesmee, de verdade.

— Quer arcar com as responsabilidades agora que os momentos mais difíceis já passaram? – Bella indagou, provocando Edward. Precisava ver até onde ele suportaria, até onde sua farsa iria. Estava cansada de chorar e se lamentar infinitamente, estava cansada de tudo.

— Eu sei que não há momento algum que seja propício para a minha introdução na vida de Renesmee... Mas em algum momento ela pode querer conhecer o pai.

— Jacob é o pai.

— Você disse isso? – Edward parecia consternado com a situação. O cenho franzido, como o de Bella agora.

— Não. – Suspirou, percebeu que ser sincera, ao menos de sua parte, seria o mais fácil.

— Ela sabe quem é o pai? – Indagou Edward, com curiosidade profunda, Bella notou. Ele tamborilava os dedos impacientemente na coxa, tentando parecer descontraído quando na verdade estava ansioso. O coração de Bella murchou, não queria voltar a entender as manias de Edward.

— Não... Ela nunca, nunca, perguntou. Acho que só aceitou Jacob como o pai e nunca demos maiores explicações. – Respondeu sem encarar os dedos ansiosos de Edward. Fixou o olhar e a mente na mancha da parede que ficava bem ao lado do quadro amarelo que era de sua mãe. A mancha, do ponto de vista de Bella, estava atrás da orelha de Edward, assim, ao menos pareceria que ela olhava para ele.

— E como lidaria com essa questão? – a voz dele estava... Receosa?

— Eu não sei. – ela respirou fundo. – Eu não tinha a maior parte das respostas dos acontecimentos de minha vida desde que Renesmee nasceu.

— Apresente-me como o pai. – Bella encarou Edward ao perceber a súplica em seu tom de voz. As feições angustiantes de Edward deixaram Bella confusa.

— Por quê? – Estava cansada demais para fingir que não estava curiosa.

— Eu disse... Cansei. – Ele suspirou mais uma vez, Bella percebeu as olheiras profundas. – Por muito tempo eu me deixei influenciar pelas opiniões de meu pai, e durante esse tempo todo eu fiquei imaginando por qual motivo você mentiria para mim. Por qual motivo você diria que estava grávida para querer meu dinheiro... Um dinheiro que você supostamente não sabia. Eu pensei muito e não encontrei resposta nenhuma, eu não conseguia entender suas motivações. – Ele sorriu. – Me frustrava que eu conhecia alguém tão bem e não soubesse qualquer resposta para minhas dúvidas... Então um dia, eu estava pela cidade. – Edward respirou fundo, como se estivesse se preparando há meses para dizer tudo aquilo. – Eu busquei Alice em um banco, ela precisava de carona para nossa casa e eu estava de passagem. Eu vi você aquele dia, Bella.

Bella o encarou.

— E então decidiu que eu era o quê? Uma não-mentirosa? – O tom de ironia em sua voz foi maior do que ela esperava, mas ficou satisfeita ao ver o rosto de Edward se contorcer em angústia.

— Sim. – Ele foi direto ao ponto e franco, não hesitou ao encarar Bella com profundidade, com verdade em suas palavras. – Eu a reconheceria de longe, você estava sorrindo e usava um suéter verde. Caminhava alegremente e eu fiquei enfurecido no momento em que a vi. – Ele riu para si mesmo, como se ali houvesse uma piada, mas Bella não entendia a graça. – Achei que era uma droga, uma sacanagem imensa que você estivesse sorrindo depois da dor que me causou. Depois de suas mentiras, de sua ciniquez. – Bella abriu a boca para interromper, mas se calou ao perceber o olhar de Edward. – E então eu vi você estava acompanhada de uma garotinha e que ela sorria para o sorvete nas mãos, como se aquela fosse a melhor sobremesa depois de um dia absolutamente perfeito. Pensei por um momento que você realmente foi sincera comigo naquela noite. Que talvez não houvesse nenhum golpe e a criança fosse minha... Mas... – Ele encarou Bella com pesar. – Sua felicidade me deixou enfurecido, tive certeza naquele momento que você era a maior das mentirosas, então foquei na criança para que eu me controlasse a não sair do carro e tirar satisfação com você... E então, eu... Bem...

— Os olhos. – Bella completou, certamente sabia do que estava falando naquele momento e ao perceber que Edward concordava com sua afirmação, tinha certeza de que sempre esteve certa todo aquele tempo, Bella odiou por muito tempo os olhos de Renesmee. – São seus olhos.

— Idênticos. – Ele concordou. – Não são apenas a cor, eu vejo a resignação que enxergo toda vez que me vejo no espelho. Eu percebi ali uma moldura, enxerguei pela primeira vez com nitidez, meus olhos estavam límpidos e encaravam um sorvete ao lado da mãe... – Ele sorriu. – Eu decidi que precisava conhecê-la. E me desculpar.

— Essa última parte foi improviso. – Bella ergueu uma sobrancelha.

— Em partes. – Ele sorriu, mas ainda era possível notar o cansaço em seus olhos. – Sabia que eu precisaria conversar com você antes, apresentar a minha proposta... Me desculpar profundamente. Eu precisava me preparar para o meu caminho de redenção, saber como aparecer, quando e o que dizer. Eu precisava, antes de mais nada, me desculpar e deixar que você decidisse.

Bella percebeu que o encarava.

— Há mais? – Seu coração palpitou um pouco e ela decidiu que talvez não quisesse que houvesse mais.

— Há. – Ele agora ficou mais sério, qualquer sorriso desaparecendo de sua feição. Uma preocupação latente nascia e podia ser sentida por Bella, mesmo com a distância de anos os separando. – Eu fui o comprador de sua casa... Eu enfrentava um dilema sobre acreditar ou não em você, então fiquei de olho nas notícias de Forks e percebi o anúncio de sua casa. Pedi que Rosalie a comprasse, que oferecesse mais do que valia, queria garantir que o dinheiro chegasse para você de alguma forma... Quase como um pedido de desculpas, mas ainda distante, porque não queria te ver. – Ele respirou fundo. – Mas no meu caminho de redenção, eu tomei algumas decisões precipitadas e outras melhor pensadas, por assim dizer.

— O que foi? – Perguntou Bella.

— Eu abri mão de tudo que minha família pode oferecer. Preparei uma conta bancária somente minha, há dinheiro ali o suficiente para que eu comece qualquer negócio... Mas eu abri mão de todo o resto, renunciei qualquer direito e antes de voltar, certifiquei-me de que Carlisle veria você apenas uma vez, ouviria o seu lado da história e então iria embora para viver a minha vida da maneira como eu deveria desde o começo... Com Renesmee, e talvez com você. – Ele encarou Bella com seriedade. – A decisão é somente sua dessa vez, eu fico ou vou embora dependendo de sua resposta. Serei sincero, prudente e responsável, como o pai que eu deveria ter sido há cinco anos.

Bella engoliu em seco, não sabia o que pensar. Quando imaginava Edward voltando para sua vida, pensava em súplicas diversas, lágrimas e joelhos no chão. Em seus pensamentos, Edward parecia firme e arrependido, ela jamais imaginou que na realidade, ele estaria tão ferido quanto ela. Anos de sua vida moldados por uma pessoa que não se importava com nada além de um materialismo individual, narcisista, que dependia de uma troca monetária para se ter amor e carinho. Bella não conseguia imaginar como sairia de uma situação como aquela, se ela fosse Edward, também não poderia dizer que agiria da melhor maneira há cinco anos se sua realidade fosse a de Edward.

— Não sei se ainda é o suficiente. – Disse, por fim. – Preciso pensar, ponderar os prós e contras... Não tenho garantias de que você não a abandonará novamente depois de conhecê-la.

— Dou minha palavra. – Edward prometeu.

— Não sei se é o suficiente, Edward. Sinto muito, não sei. – Bella podia sentir uma dor de cabeça nascendo, sabia que tomar aquela decisão não seria fácil. – Preciso de tempo, uma semana. Uma semana e te forneço uma resposta...

Edward assentiu silenciosamente. Levantou-se e afagou as maçãs do rosto de Bella, ao que ela se encolheu com o terno toque da pele de um antigo amor. Receava que suas decisões poderiam significar uma mudança não apenas na vida de Renesmee, mas em sua própria.

Edward notou a hesitação de Bella e virou-se para sair do quarto, delicadamente abrindo a porta, de maneira que não a incomodasse, quase como se soubesse de sua dor de cabeça que nascia. E que provavelmente a incomodaria durante o resto do dia. No entanto, antes de sair, hesitou por um momento, suspirou e finalmente perguntou o que parecia ser mais um dos motivos para o seu cansaço nos últimos tempos.

— Uma vez você comentou sobre gêmeos... Qual era o nome do segundo bebê? Eu nunca soube.

Bella respirou fundo, doía falar dele, seu segundo filho... Mesmo depois de cinco anos.

— Billy. – Respondeu com a voz fraca, tentando inutilmente esconder a dor que se aproximava do coração.

— Billy... – Edward testou o nome, gostando da sonoridade e sorrindo sinceramente. – Aposto que ele teria os seus olhos. – Ele sorriu e então se afastou, fechando a porta devagar, sem fazer barulho, e deixando Bella sozinha com seus pensamentos.


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