A Matter of Tradition escrita por shewasevans


Capítulo 1
Me ajuda a terminar a minha história?




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Alice Fawcett possuía um certo apelo por tradições.

Na verdade, se você perguntasse aos seus amigos, todos diriam – uns em um tom menos lisonjeiro do que outros – que a jovem era a maluca das tradições. Das natalinas àquelas de aniversário, das antigas às novas, das particulares àquelas alegremente compartilhadas por todos... Alice Fawcett, de fato, adorava tradições.

E, por mais que gostasse da intenção de as seguir, era ainda mais apaixonada pela ideia de cria-las e transformá-las. Afinal, em sua cabeça, algo que não é capaz de se transmutar com o decorrer dos anos acaba por se perder em meio às gavetas empoeiradas das caixas de memórias das pessoas.

Assim, com o coração acalentado pelo pensamento de transmitir algo às próximas gerações, Alice possuía as próprias tradições para quase todo o tipo de acontecimento – englobando, por exemplo, celebrações, feriados e mudanças.

E, talvez, tamanha paixão acabasse por elevar às alturas suas expectativas em datas comemorativas. Então, justamente por isso, a doce lufana se encontrava especialmente amuada naquele dia dos namorados, repassando em um pergaminho uma lista de afazeres que criara para si mesma enquanto se aconchegava próxima a uma das lareiras do agradável Salão Comunal da Lufa-lufa.

Assar biscoitos em formato de coração? Feito.

Enviar cartões (colados aos doces) para todos os seus amigos? Feito.

Encomendar (junto de Lene) um cartão musical para irritar tanto Lily quanto James? Feito.

Encomendar (junto de Lils) um cartão musical para irritar tanto Marlene quanto Sirius? Feito.

Convidar Frank para... Alguma coisa? Um passeio talvez?

Suspirando em desistência, a morena acabou por traçar uma trêmula linha sobre o último item de sua lista – que mais lhe parecia uma sugestão de coragem que endereçara a si mesma. Afinal, por mais que certo grifinório colocasse o seu coração para dançar sapateado dentro do peito e a lembrança de beijos trocados com ele – em meio às estantes da biblioteca – deixassem suas bochechas em brasa, mal vira Frank durante aquela semana.

Para sua infelicidade, agora que pensara sobre o assunto, era quase como se ele a estivesse evitando.

E, de repente, a ideia fez com que algo gélido despencasse no estômago de Alice, deixando-a, de súbito, enjoada.

Se todos os sentimentos tivessem partido dela e o Longbottom encontrara outra pessoa com quem passar aquele dia... O que restara a ela? O que sobraria à pequena tradição que tanto almejava iniciar?

Engolindo, sôfrega, o nó que – sequer percebera – havia se formado em sua garganta, a morena se colocou em pé resignada. Os lábios em formato de coração apertados em uma linha tão fina quanto rígida, pois decidira que, da mesma forma que poderia criar e transformar, também era capaz de se desapegar de tradições – mesmo daquelas que mal haviam começado.

Logo, deixando resignadamente o Comunal de sua Casa para trás, dobrou o corredor em direção às Cozinhas a fim de ocupar a mente na confecção de mais uma iguaria culinária. Daquela vez, contudo, resolvera que poderia assar gigantescos biscoitos para Hagrid. Até porque, duvidava que – mesmo com sua natureza amável – o guarda-caças fosse receber muitos cartões naquele dia e a ideia de lhe fazer um agrado lhe encheu o coração de uma paz renovada.

Contente, seguiu rumo ao enorme quadro da bela pintura de taça de frutas a fim de fazer cócegas na pêra até que ela se transformasse em uma maçaneta. Porém, quando foi admitida no local, o queixo de Alice despencou com a visão imediata que teve.

Lá dentro, de avental e com os cabelos cor-de-avelã cobertos por uma fina camada de um pó branco ligeiramente espesso (que ela logo adivinhou se tratar de farinha), estava Frank Longbottom. E não apenas isso: mas o respeitado monitor da Grifinória parecia levar um grande sermão de um elfo doméstico carrancudo devido à sua falta de habilidade culinária.

Ainda assim, entre potes e panelas, ele continuava tentando – o que fez um sorriso esperançoso curvar os lábios da Fawcett quase que magicamente.

— Frank? — ela chamou ao se aproximar silenciosamente, uma das sobrancelhas escuras arqueadas e uma sugestão de riso em sua voz.

O tom, por mais suave que tivesse sido, no entanto, fez com que ele se sobressaltasse, derrubando sobre a bancada (e sobre si) metade do conteúdo cor-de-rosa da tigela que tinha em mãos – causando uma gargalhada de Alice e um praguejar nada educado do elfo que lhe ensinava tão rigidamente.

— Alice?! Droga! Não era para você estar aqui! Oh, merda! Estraguei tudo! — o rapaz xingou, mais para si do que para ela, à medida que o seu rosto atingia a cor exata de uma beterraba.

Para a criatura mágica, aquilo fora o suficiente e, com um estalo, ele desistiu do rapaz. Alice, por sua vez, estava disposta a lhe dar uma pequena outra chance.

— Você não me queria aqui, Frankie? Você não parece me querer em muitos lugares ultimamente... — ela comentou baixinho, a mágoa transparecendo em sua fala por mais que ela lutasse para a omitir.

— Não! Não é isso! — ele se atropelou com as palavras, desesperado para fazer com que ela entendesse a sua real intenção: — Eu estava tentando fazer cupcakes para te dar de presente — admitiu embaraçado, por fim, coçando a nuca com uma das mãos e deixando um rastro de farinha também ali.

E, com a confissão, o interior de Alice pareceu se aquecer por completo, derretendo-se diante do quão adorável fora a atitude dele e do quão absurdamente bonito ele parecia, mesmo que coberto por massa de bolo.

— Você não precisava ter feito isso — comentou somente porque a sua educação a obrigava, diminuindo a distância entre ambos e roubando um beijo de uma de suas maçãs do rosto tingidas de escarlate.

Com o gesto, a boca da lufana acabou encoberta, também, por uma tênue camada de farinha. E, para Frank, ela também não poderia estar mais adorável com seus grandes olhos cor-de-chocolate a lhe encarar com tamanha intensidade.

— Eu queria... Para acompanhar o seu outro presente.

— Meu outro presente? — questionou, a impetuosidade sendo substituída por palpável curiosidade em suas feições delicadas.

— Aqui.

E, com isso, ele indicou uma das poucas bancadas da cozinha que ainda se encontrava limpa e na qual repousava um grosso livro que aparentava ter sido encadernado à mão. Em sua capa de couro marrom escuro, uma colagem com letras de tecido coloridas havia sido realizada para que formasse o seguinte título: “O grande livro de tradições de Alice e Frank”. Mas, quando os dedos longos de Alice percorreram as suas páginas, logo notou que elas se encontravam em branco e, com o cenho franzido em confusão, voltou a encarar o grifinório.

— É um livro que precisa ser preenchido — explicou com um dar de ombros aparentemente descontraído, embora parecesse ligeiramente ansioso — Por nós dois, mas... Apenas se você quiser, é claro.

A resposta acabou por se perder entre as bocas de ambos, pressionadas em um beijo que parecia querer transmitir – de um para o outro – todo o amor que os envolvera e fazia com que seus corações martelassem em um ritmo único, parecendo quase que fora ensaiado.

E, mesmo não dita, os dois sabiam qual seria o desenrolar daquele episódio.

Afinal, Alice – um dia – Longbottom ainda amava tradições.

E Frank Longbottom sempre amara Alice.

Amar um ao outro, portanto, era uma tradição que ambos pretendiam manter pela eternidade.

 

—  ∞  — 

 

Anos mais tarde, um par de grandes olhos cor-de-céu analisava um gigantesco livro que encontrara durante a organização do sótão de Neville. Até porque, o Longbottom – agora um renomado herbologista e adorado professor – resolvera se mudar para a antiga casa dos pais, uma vez que essa era mais próxima à Hogwarts e ao ateliê de Luna, a sua – e ele mal conseguia acreditar em tamanha sorte!— namorada.

Contudo, o chalé – que uma vez fora lar de Alice, Frank e do pequeno fruto de seu amor – encontrava-se na mais perfeita bagunça e, para tornar o caos uma quase tragédia, o Longbottom possuía plantas que lhe eram queridas demais e que precisavam ser abrigadas em sua nova casa.

E, foi no meio da desordem, que Luna surgiu com o seu novo achado.

— Nev! — chamou-o alegremente, fazendo com que cabelos castanho-escuros surgissem de dentro de um baú repleto de utensílios de culinária enferrujados.

— Sim? — ele questionou, aproximando-se dela e passando carinhosamente os dedos calejados por entre suas mechas loiras muito claras a fim de retirar um fio prateado de teia de aranha que se enredara nelas.

— Sinto que descobri algo importante! – exclamou orgulhosa, indicando o exemplar envolto em poeira que abraçava firmemente contra o peito.

E o sorriso nos lábios cheios dela acabou por dar a Neville a sensação calorosa e doce que se obtém após um generoso gole de chocolate quente em uma noite rigorosa de inverno, aquecendo-o por completo.

— O que é, Lu? — perguntou, ajudando-a a descer a velha escada, de cordas e tábuas de madeira, que levava ao local onde se encontravam para que a luminosidade presente no corredor do segundo andar os alcançasse.

Então, com um sopro ansioso, a ex-corvina liberou uma névoa de pó que quase como mágica – apesar da momentânea irritação que lhes causara em seus narizes – revelou um vultoso exemplar manufaturado em couro. Em letras garrafais, embora com a cor apagada devido à passagem de tempo, lia-se: “O grande livro de tradições de Alice e Frank”.

Diante do título, o coração do herbologista falhou uma batida ao passo que, ao seu lado, a excitação da Lovegood mal conseguia se conter em seu diminuto corpo. E, aos saltos, ela puxou-o escada abaixo até a sala de estar – razoavelmente já arrumada – para que se ajeitassem no sofá a fim de examinar qualquer que fosse o conteúdo daquela curiosa obra.

— Pronto?

Entrelaçando os seus dedos aos dela, ele acenou com a cabeça.

— Com você? Sempre.

Assim, juntos, Luna e Neville (re)descobriram a memória – há muito perdida – de Alice e Frank Longbottom.

A primeira, encontrava-se absurdamente encantada com seus enormes olhos de centaurea ainda mais arregalados ao se deparar com as maravilhas – dos grandes aos pequenos gestos – realizadas pelo casal. Já o segundo, acabou por permanecer calado à medida que as páginas eram percorridas e a emoção lhe entorpecia os sentidos, conectando-se aos pais como nunca diante de feitos dos quais, outrora, apenas tomara conhecimento por histórias. E, também, ligando-se à lembrança deles através de momentos que foram unicamente dos dois e, até mesmo, dos três — quando alguns recortes passaram a incluir o pequeno Neville.

— Nev? — a loira tornou a chamar quando tornaram a fechar o livro e o silêncio permaneceu intacto, tomando o rosto dele entre suas mãos pequenas em uma tentativa de decifrar o turbilhão de sentimentos que transbordava do olhar castanho com o seu próprio.

— Eu encontrei, Luna — as palavras, por fim, encontraram o caminho para fora de sua boca. Afinal, a constatação a seguir lhe parecia até difícil diante da impossibilidade que o achado de sua namorada significava: — Finalmente, encontrei a minha história!

Em resposta, a de olhos cor-de-céu apenas jogou os braços ao redor do pescoço dele em um enlace apertado, pois sabia a importância que cada um daqueles remendos de memória tinha para aquele que tanto amava.

— Fico imensamente feliz que a encontramos, Nev, mas você sabe que esse não é o fim dela, certo? Você ainda tem muito a escrever. Ou, como sua mãe diria, mais tradições a criar — sussurrou com os lábios grudados à orelha dele, causando-lhe arrepios em sua nuca tanto pela proximidade quanto pelo impacto de suas palavras.

— Ei, minha lua... — o de olhos cor-de-terra chamou, capturando carinhosamente o queixo dela entre os dedos e erguendo o rosto que absurdamente adorava a fim de ter a atenção completa daquele olhar que parecia abrigar o universo — Você me ajuda a terminar de escrever a minha história?

E o amor se derramava de cada sílaba de sua pergunta.

— Com você? Sempre.

Juntos, confeccionariam o próprio livro de tradições. Afinal, Luna e Neville tinham apenas o resto de suas vidas para criar e recriar os próprios costumes, recortar e registrar os seus momentos.

Escrevendo, assim, a sua própria história.


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Notas finais do capítulo

Olá! Essa história foi escrita, com uma boa dose de amor e carinho, para a querida Alice da minha Lily: Jess. E eu espero, do fundo do meu coração, que você tenha gostado da leitura, meu bem! Amo você. ♡
xoxo, shewasevans.



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