Brincando Com o Fogo escrita por Carol McGarrett


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

A Deh me pediu a história por trás do nocaute que a Jenny deu em um suspeito com um sapato, que foi mencionado em Um Desastre de Dia dos Namorados.

Como eu adoro escrever Jibbs, resolvi fazer essa oneshot que milagrosamente, ficou pequena e pode ser em um único capitulo.

Espero que gostem!

Boa Leitura.



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Eu ainda não consegui acreditar que isso estava acontecendo. Ele me prometera que não estava de plantão. E pelo visto mentira na minha cara. Pelo segundo ano consecutivo.

O que era para ter sido uma noite romântica em algum lugar bem longe das preocupações do dia-a-dia, se tornou...

Uma noite em uma cena de crime, onde eu, depois de não sei quantos anos – são muitos, porém eu me recuso a saber a conta exata – estou de volta como uma agente de campo, do NCIS. Sob o comando do meu marido, que um dia foi o meu chefe. Parece até brincadeira do destino, ou alguma pegadinha de extremo mau gosto, mas não. É verdade.

E assim, inacreditavelmente, estou parada no meio de uma sala onde alguém brigou feio com a nossa vítima, tudo está revirado, a mobília está fora do lugar, os porta-retratos estão quebrados, há sangue no tapete e no encosto do sofá, ou seja, o caos completo de qualquer cena assim que sempre dá um trabalho para que possamos tentar entender o que aconteceu - algo que Abby adora fazer, geralmente usando McGee de fantoche – e a minha tarefa é tirar fotos, enquanto Jethro só dá as ordens.

Dei um suspiro frustrado para a minha roupa, meu vestido – que está parcialmente tampado com o casaco do NCIS -, meu sapatos, pensei no tempo que gastei me maquiando e arrumando meu cabelo que se encontra escondido pelo boné que Jethro colocou na minha cabeça e pensei que isso poderia ter sido evitado se tivessem me contado a verdade. Eu estaria em casa com a minha filha, vendo qualquer comédia romântica na TV ou revendo Orgulho e Preconceito pela centésima vez, deitada na minha cama com uma caneca de chá e, claro, estaria excomungando meu marido por me dar bolo no dia dos namorados, mas estaria confortável e não aqui.

E pensar que estávamos à meio caminho do hotel cinco estrelas que eu havia reservado. Uma noite na suíte presidencial, com tudo o que se tem direito.

Às vezes eu tenho certeza de que conspiram contra mim.

Vaguei meus olhos pelo caos à minha frente, tentando ver se algo estava completamente fora do normal. Nada parecia tão extraordinário. Olhei novamente, pois no fundo de minha mente tinha uma vozinha que me dizia que tinha sim alguma coisa errada.

Dei dois passos para trás e, meus olhos treinados vasculharam a sala mais uma vez. E lá estava... a prova que precisávamos, ou melhor que o NCIS precisava, eu nem podia estar aqui, não trabalho mais na agência. Com passos cuidadosos cheguei perto do que chamara a minha atenção. Uma marca de mão, completamente ensanguentada, e uma digital do polegar clara como a água.

— Abby vai adorar isso aqui! – Disse ao bater a foto.

Escutei alguém coçar a garganta atrás de mim. Me virei não muito feliz e Jethro estava parado na porta que dividia a sala de estar com a sala de jantar, tinha um sorriso presunçoso no rosto.

— Acho que você realmente estava sentido falta de ser agente de campo, Jen.

— Só estou quebrando o seu galho, Jethro. Cobrindo a vaga de Ziva que está tomando conta de Tali. Não se acostume e muito menos ache que era assim que eu esperava que essa noite terminasse. – Disse sem emoção.

É claro que ele não comprou a minha falação, o sorriso ficou mais aberto, alcançando seus olhos.

— Se é assim que você está se engando, Jen. – Ele se virou para onde McGee o havia chamado. – E, à propósito, essas cores ainda ficam bem em você.

Revirei os olhos quando ele saiu de perto de mim e me foquei em procurar mais alguma coisa entre os cacos de vidro. A cada pequeno passo que eu dava meus saltos esmigalhavam ainda mais os restos dos porta-retratos.

Outra marca de mão, as digitais não pareciam tão claras quanto da primeira, mas Abbs saberia o que fazer. Mais uma olhada e vi uma pegada, grande demais para ser da nossa Capitã, definitivamente masculina.

Abri outro sorriso, esse caso não seria de todo complicado afinal.

Uma última conferida e não havia mais nada, assim que me virei dei de cara com Tony, que estava parado onde Jethro estivera e me olhava divertido.

— Matando a saudade, Jenny?

— Não, Tony. Cobrindo a vaga da sua esposa.

Ele ficou sério.

— É um dia difícil para se encontrar babás.

Eu bem que sabia disso.

— Sei que é. Agora tire esse sorriso do rosto e vá trabalhar.

— Sim, Diretora. – Ele respondeu.

Levantei uma sobrancelha.

— Escorregou. Força do hábito.

— Eu fui há duas cenas de crime com vocês, Tony, quando estava no cargo. Não era para ser um costume.

Ele deu de ombros e saiu para o carro.

Logo atrás dele vieram Ellie e Nick. E esses dois estavam dando os mesmos sinais que Ziva e Tony gritavam no passado. Jethro deveria ter queimado a Regra #12 há muito tempo, ninguém liga para ela mesmo.

Ou os dois não me viram, ou esqueceram quem eu era, ou estavam muito absortos um no outro para me notarem, só sei que ouvi:

— Acho que é a primeira vez que vejo o Gibbs tão arrumado. Só mesmo a Jenny para fazê-lo andar até de gravata. – Era Nick quem falara.

Ellie sorriu para ele. E eu soube que logo, logo esses dois seriam um casal.

— Acho que nenhuma cena de crime já viu duas pessoas tão bem arrumadas. Agora me pergunto, por que o Gibbs não contou para a Jenny que estava de plantão? – Ellie quis saber.

Eu fiquei imóvel. Então Jethro realmente mentira. Interessante.

— Você diria não para aquela mulher? Ellie, eu acho que até o Gibbs tem medo dela... e imagina dizer para a esposa que ele não vai passar essa noite com ela? Eu não iria querer estar na pele do Gibbs nunca... – Nick disse abrindo a porta e esperando Ellie passar.

— Você tem razão. Acha que ela vai dar conta de nos ajudar? Tem muito tempo que ela não vai mais em campo.

Resolvi ignorar o comentário de Ellie. Por dois motivos, primeiro eu não era tão velha assim; segundo, analisar e fotografar uma cena de crime é igual a andar de bicicleta, você nunca esquece como se faz.

Ducky – substituindo Palmer por essa noite – passou levando a vítima. Era hora de guardar tudo e ir para o estaleiro. Internamente rezei para que o prédio estivesse com o staff reduzido, não precisava de mais cochichos.

— Acabou aqui, Shepard? – Jethro veio perguntando, assumindo a forma como ele costumava me chamar quando eu era a sua subordinada.

Sim, Chefe. – Respondi sarcasticamente.

— Não temos a noite toda. – Ele falou já da porta.

Vai ser uma longa noite.

Caminhei atrás de Jethro pela entrada da casa, observando que era tudo muito simples por fora, contrastando com o interior que era até luxuoso demais para uma Capitã da Marinha recém divorciada.

— Eu aposto no ex-marido. – Tony disse ao longe.

— Pode ser qualquer um... – Ellie ponderou.

— Foi o ex. Sempre é! – DiNozzo parecia certo.

Guardei a câmera no estojo e fui para o carro, deixando os quatro especulando. Me joguei no banco do carona e esperei que Jethro tivesse a boa vontade de voltar. Olhei a hora, ainda dava tempo para curtir a noite.

Jethro veio, ligou o carro e seguiu para o Estaleiro.

— Sério? – Perguntei incrédula.

— O que? – Ele pareceu não entender.

— Jethro, por favor. Vamos aproveitar o resto da noite.

Ele não respondeu nada. Só acelerou o carro.

— Ao menos me deixe em casa ou perto de algum ponto de táxi.

— Deixar você voltar sozinha para casa, vestida assim, Jen? Não mesmo.

— Ciumento. Chauvinista. – Disparei.

— Agora está começando a realmente parecer com a Agente Shepard.

Ignorei o comentário e foquei nas ruas.

Como foi que minha noite se transformou nesse desastre todo?

Já no estaleiro, Abby nos esperava ansiosa. Crimes com cena para remontar eram o preferidos dela. E ela pareceu ainda mais feliz quando me viu.

— Papai e mamãe vieram observar os filhotes hoje!! Que legal. – Ela nos abraçou ao mesmo tempo. – Vai ser como os velhos tempos, ainda mais depois que o Leon está fora do país. – Ela tagarelou.

— Papai e mamãe? – Olhei para Jethro e ele deu de ombros.

— Só está faltando a Ruiva #02. Onde ela está? – Abby se virou para nossa direção, suas maria-chiquinhas voando junto.

— Em casa. – Respondemos.

— Eu já disse que amo quando vocês fazem isso?

— Abbs, foco. – Pedi.

— Eu estou quase lá. Falta só acabar de fazer o upload nessas fotos que você tirou, Jenny, e vou rodar a digital no AFIS.

— E quanto a cena em si? – Jethro perguntou.

— Muito confusa... Mas eu tenho quase certeza que foi armada.

Jethro encarou Abby.

— Quase certeza porque não me dediquei a ela com todo o meu tempo. Logo eu tenho a resposta certa, Gibbs! – A falante gótica saiu pela tangente.

Íamos sair quando as digitais nos deram dois nomes. Uma delas era da nossa Capitã Miranda Fleming e a outra...

— Ex-Marido? - Eu quis saber.

— Não. Esse Almirante aqui não tem ligações com ela, ao que parece. – Abby disse enquanto buscava qualquer informação nas bases de dados.

— Bem, eu não achei ligação nenhuma com a Capitã, mas já enviei para vocês tudo o que eu sei. E Gibbs, se ele for o culpado, vai ser o caso mais rápido que nós já resolvemos.

— Nunca aceite nada como garantido, Abbs. – Jethro falou e deu um beijo na bochecha dela.

Fomos para o elevador e eu já estava abrindo o arquivo que Abby mandara.

— Realmente não tem ligação aparente.

— Com você sempre tem um “mas”, Jen.

— Ainda está muito superficial. Porém, algo ainda está me intrigando.

— Que é? – Jethro me perguntou assim que chegamos na sala do esquadrão.

— Não ter ligação nenhuma também é suspeito. Por que as digitais de um Almirante estariam em nossa cena de crime?

— É o que temos que descobrir. – Ele me respondeu.

Pisamos perto das mesas e Ellie começou a falar a ficha da nossa Capitã. Ela fora casada com um advogado especializado em Direito Empresarial. E ele não tem nenhum vínculo com a Marinha.

Quanto ao nosso Almirante, ele ainda era o nosso principal suspeito. Só que para trazê-lo para o prédio, precisaríamos de mais do que uma digital como prova.

Assim, começamos a pesquisar. Viramos a noite na frente dos computadores, tentando achar algo e ao mesmo tempo formular teorias até que McGee encontrou um elo.

A Capitã não tinha vínculos com o Almirante. Mas o Almirante conhecia o ex-marido dela, pois ele trabalha na mesma Firma de Advocacia que o grupo de advogados cíveis que cuidou do divórcio do Almirante trabalha.

— Tudo bem... eu sei que avisei que foi o ex! – Tony se gabou.

— Agora prove! – Jethro o desafiou.

— Então Chefe... – Ele começou com um sorriso sem graça e assim que olhou para Jethro disparou: - Trabalhando nisso!

Eu me sentei na mesa de Ziva e comecei a buscar informações sobre a firma de advocacia. Fui à fundo até onde minhas credenciais da CIA me permitiam – ou seja, eu sabia quase tudo. – e, por fim:

— Isso aqui é interessante. – Falei e passei as informações para a tela.

Todos se levantaram e começaram a encarar os dados.

— E ela é? – Nick perguntou.

— A finada ex-esposa do nosso Almirante. Amelia Swan. Foi encontrada morta dentro da banheira. Uma cena muito parecida com a da Capitã Fleming. – Mostrei a foto. - O veredito foi ataque cardíaco fulminante, mas nunca fizeram uma autópsia, pois o ex-marido, que ainda era o contato de emergência dela, não permitiu.

— E onde está o que precisamos? – Jethro perguntou bebericando o café que ele tinha trazido.

— Dá para esperar? – Cutuquei. – Então, voltando. Amélia e seu irmão, eram herdeiros de um conglomerado de empresas de logística. Tinha filiais praticamente no mundo todo e, quando do divórcio, o Almirante Swan brigou para que 50% das ações que pertenciam à sua esposa passassem para ele. E advinha quem foi o advogado que defendeu a parte de Amelia?

— Richard Fleming? – McGee completou.

— O próprio.  Acontece que Fleming e Swan se conhecem. Foram criados na mesma cidade e têm um passado em comum. – Cliquei em mais um botão e mostrei uma foto de um time de futebol do ensino médio. – Reconhecem esses dois?

Todos olharam para a foto.

— Tudo bem... isso foi muito planejado, mas como vamos provar que Amelia não foi morta?

— Eu li algo sobre a morte dela, saiu nas colunas sociais de várias revistas e a cunhada disse claramente que Amelia era saudável, além de nova demais, para morrer de ataque cardíaco fulminante. O irmão dela garante que ninguém na família tem algum problema congênito, e a falta de uma autópsia só aumentou a desconfiança de todos.

— E como vamos realizar uma autópsia nela?

— O irmão de Amelia. Derek também nunca se conformou com a forma como a morte foi rotulada. Além do mais, como o divórcio não estava completamente finalizado, o Almirante ficou com a parte que cabia à ex-esposa. Tudo porque Fleming atrasou os documentos da empresa... Derek O’Connel ainda briga para tentar reverter essa decisão e, um dos pleitos dele é que a morte da irmã possa ser esclarecida. Particularmente eu não duvido que Fleming e Swan tenham bolado um plano para que cada um matasse a esposa do outro. Tinha muito dinheiro envolvido. Eu só não consegui acesso, ainda, em contas bancárias de algum dos dois...

— O dinheiro poderia ser a pista que falta.... – Tony falou.

— Vou colocar alguém da inteligência da minha equipe para seguir os rastros desses dois. - Falei e fui pegando o meu celular para discar. Jethro tomou o aparelho de minhas mãos e apontou para McGee.

— Essa é a equipe. Nada de envolver a CIA. – Ele falou me encarando para depois. – McGee.

— Vou procurar qualquer coisa, Chefe. – E ele se pôs a digitar na velocidade da luz.

Aproveitei que Jethro ficou distraído com a busca de McGee e roubei o café dele.

— Mas o que....

— Eu fiz uma grande parte do trabalho. Minha recompensa. – Pisquei para ele. Pelo canto do olho vi que Torres ficou espantando com a minha ousadia. Ele não sabia de nada mesmo.

Antes que Tim tivesse alguma informação sobre o algum dinheiro, Abby nos chamou.

— Eu consegui provar que a cena foi armada, ou quase... – Ela disse com um rodopio.

— Como, Abbs?

— A sala é realmente fruto de uma briga. Mas a cena no banheiro não, ali só há digitais do Almirante. Estão vendo esse sangue nesse pedaço aqui é da nossa capitã, e deve ser do ferimento que ela tem no couro cabeludo que Ducky encontrou e nós não vimos porque foi limpo. Mas a do banheiro não tem nem uma gota... muito estranho, não?

— O Almirante a pegou de surpresa e depois a levou para o banheiro? – Conjeturei.

— Na verdade, ele a surpreendeu enquanto ela estava no sofá. Fleming lutou e o jogou contra essa mesa aqui. – Ela apontou para uma mesa de madeira onde tinha os restos dos porta-retratos. Ele se cortou aqui, e antes que a Capitã Fleming pudesse subjugá-lo, ele a dopou com uma injeção de Cloreto de Potássio. Se não tivesse a briga, se o Almirante só tivesse injetado o conteúdo da seringa nela, ela teria sido declarada morta com infarto fulminante. – Abby terminou.

— Não encontramos nenhuma seringa na cena. – Ellie comentou.

— Mas tinha um pedaço da agulha na perna da Capitã. Deve ter se quebrado quando ela tentou se defender.

Jethro olhou para mim. As circunstâncias seriam idênticas na morte da Ex Sra. Swan e da Capitã Fleming, se eles não tivessem brigado.

E foi nesse momento que McGee veio andando depressa na nossa direção. Ele achara o link entre Fleming e Swan.

E-mails trocados com todo o plano.

Tudo dependia se Fleming conseguisse atrasar os papeis sobre a propriedade do conglomerado. Swan tinha prometido uma porcentagem generosa para que isso fosse feito. Acontece que tinha no meio do caminho um acordo pré-nupcial entre o Almirante e sua esposa. E foi por conta desse acordo que ela foi morta.

Uma série de discussões depois, e uma outra oferta generosa por parte de Swan, Fleming concordou em forjar o ataque cardíaco em Amelia. E ele era a pessoa perfeita, pois era o único com acesso direto a ela que não causaria suspeitas, pois sempre conversava em particular e na casa dela.

Depois do assassinato, os dois ficaram um tempo sem trocar nenhum e-mail, até que um dia, Fleming envia um e-mail para Swan, dizendo que Miranda descobriu a conta no exterior e depois os e-mails trocados. Com essas provas em mãos, ela contaria a verdade para a família de Amelia.

Esse contato era de cinco dias atrás.  

— Hora de trazer o Almirante e o advogado. - Jethro falou.

Eu e Jethro fomos em um carro. Tony, McGee, Ellie e Torres no outro.

— Por que essa cara? – Ele quis saber a certa altura.

— O caso está praticamente elucidado. Deixe que os quatro terminem isso.

— Depois de tudo o que você fez, não quer ver o desfecho?

— Jethro, por favor. Você prometeu que nesse ano não teria cenas de crime no Dia dos Namorados. Aliás, você mentiu para mim. Eu ouvi Bishop e Torres conversando. Você nunca ficou de folga na noite de ontem.

Meu marido ficou calado.

— Típico. – Resmunguei.

Chegamos na casa do Almirante. Definitivamente ele tinha se dado bem com a morte da esposa.

Ficamos divididos em dois trios. McGee, Ellie e Nick foram cobrir os fundos, Jethro, Tony e eu entramos pela porta principal.

Estávamos esperando somente o Almirante na casa, mas com que surpresa descobrimos que ele tinha um visitante.

Richard Fleming estava lá e assim que nos viu, saiu correndo, derrubando Ellie no caminho.

Jethro e Tony estavam tentando imobilizar Swan que resistia à prisão. Nick estava mais preocupado com Ellie do que com o nosso suspeito que corria. McGee, completamente fora de forma, não aguentou correr atrás dele.

Sobrou para quem?

Saí correndo na mesma direção que Fleming tinha seguido. Para a minha sorte ele não era tão rápido e nem saiu pulando muros, seria impossível fazer isso de vestido e de saltos.

Em um cruzamento ele ficou em dúvida sobre o que iria fazer, corri mais rápido e o derrubei.

Ele lutou, pegou a minha arma e eu me vi tomando um tiro nesse momento. Ou não. Ele não tinha muita perícia e logo o desarmei, jogando a pistola longe. Mesmo assim ele não desistiu e, sendo mais forte e maior do que eu, conseguiu me jogar no chão e tentou sair correndo para pegar a minha SIG.

Desarmada e certa de que não queria levar um tiro, peguei a única coisa que tinha em minhas mãos para poder me defender.

Meu sapato de salto.

Tirei os dois e antes que Fleming pudesse virar na minha direção e apontar a arma, acertei uma bela sapatada no rosto dele. Ele caiu um tanto grogue no chão. O imobilizei, dessa fez sem ter como ele escapar, e gritei:

— Alguém aí pode me passar as algemas?

Jethro foi quem chegou primeiro e me passou o par que estava com ele. Algemei Fleming e nós dois o levantamos do chão.

— Quem é você? – Ele me perguntou. Quando olhei para o rosto dele vi que a sola do meu sapato ficou carimbada bem na sua bochecha e seu nariz estava sangrando – A Mulher Maravilha?

— Desde quando a Mulher Maravilha é ruiva? – Respondi de mau-humor.

 Jethro olhou para Fleming e tentou segurar a risada. O que durou até que Fleming e Swan estivessem seguros cada um em uma sala de interrogatório, depois de terem confessado todo o esquema.

Fleming matou Amelia Swan por ganância, Cinco milhões de dólares. E agora pegaria perpétua.

Swan matou a Miranda por poder. Ter o controle de metade de um conglomerado de empresas de logísticas era tudo o que ele queria para continuar com o tráfico de drogas e pessoas que ele tinha se envolvido. A pena de morte o esperava.

Depois das confissões de mais de um crime, nosso trabalho estava terminado. E cada um foi para casa.

No caminho até a sala do esquadrão, Jethro pôde, finalmente, soltar a gargalhada que ele tinha segurado pela última hora.  

— Mas com um sapato, Jen? – Ele me perguntou.

— Era o que eu tinha, Jethro. O que você queria? – Fui curta e grossa, estava mais interessada em olhar o estrago no meu sapato, tinha quebrado o salto dele assim que bati na cara de Fleming.

— Poderia ter me esperado, ou a qualquer um da equipe. – Ele falou me guiando para o elevador, depois de me ajudar a vestir o meu casaco. Vergonhosamente estava descalça ao seu lado, carregando meus sapatos em minhas mãos. Nem queria saber como estava o meu cabelo.

— Claro, eu esperava e tomava um tiro no meio da testa! Jethro, será que você não percebeu algumas coisas?

Ele levantou a sobrancelha me instando a continuar.

— Tony e McGee estão completamente fora de forma. Nick estava mais preocupado com Ellie do que com o suspeito que fugiu. E você...

— Eu sempre vou ser o seu parceiro, Jen.

— Você está velho, Jethro. Custou para me alcançar. Eu teria morrido se tivesse esperado.

A essa altura, já estávamos na porta do NCIS, o turno da manhã chegando enquanto nós estávamos indo embora. A grande maioria das pessoas que passava por nós me lançava olhares cômicos, e dúbios. Acho que ninguém nunca viu uma mulher descalça na vida.

— E só para você saber. Me deve um novo par de sapatos. – Falei para Jethro quando entrei no carro. Mais uma conferida na minha roupa e deduzi que até a meia-calça que eu usava poderia ir para o lixo, estava toda desfiada.

— Por que eu te devo um par de sapatos?

— Se você não estivesse tão velho, eu não teria precisado quebrar o salto do meu sapato na cara do Fleming. – Falei enquanto ele arrancava.

Jethro me encarou.

— Eu não vou comprar um par de sapatos de $1.500,00 dólares para você, Jen! – Ele protestou.

— Mas vai, sim senhor!

— Não vou!

Ele é teimoso.

— Você quer mesmo brincar com fogo, Jethro? – Ameacei.

Ele deu um sorriso de lado.

— Tudo bem, só não reclame. – Cruzei meus braços e esperei que chegássemos em casa.

Ele mal parou o carro no meio fio e eu já estava descendo. Não tive tempo de abrir a porta, pois Lizzy estava saindo para escola e praticamente trombou em mim.

— E como foi a noite de... – Ela parou me olhando. – Mamãe, você brigou em um bar? – Perguntou sorrindo.

Era tudo o que me faltava!

 - Não. Pelo segundo ano consecutivo, seu pai mentiu para mim e eu fui parar em uma cena de crime.

Ela tentava segurar o riso.

— E o cachorro de alguém te atacou?

Revirei os olhos e passei por ela.

— Mamãe! – Ela implorou.

— Sua mãe correu atrás de um suspeito e o nocauteou com uma sapatada, Liz. – Jethro falou.

— Uma sapatada?! Isso é sério? – Ela parecia animada para escutar a história.

— E você vai tomar uma se não sair para escola agora! – Falei do segundo andar.

— Ela tá furiosa com você, papai. Boa sorte! – Liz falou sem pesar algum e fechou a porta.

Ouvi os passos de Jethro subindo a escada. Logo ele estava no quarto.

— Não tivemos uma noite, mas podemos ter um dia... Liz só chega na parte da tarde. – Ele veio para perto de mim.

Eu estava dentro do closet, saí de lá com todas as coisas que Jethro iria precisar, uma muda de roupas, travesseiro, coberta.

— Eu vou aproveitar o meu dia, na cama, Jethro. E você, no porão ou no sofá! – Disse entregando as coisas para ele e o empurrando para fora do quarto. – Feliz Dia Dos Namorados.

— Jen! – Ele resmungou.

— Eu te disse, Leroy Jethro Gibbs, você quer brincar com fogo, então se prepare para se queimar!

— Isso tudo por conta de um par de sapatos?

— Não é só um par de sapatos, Jethro. São dois anos resolvendo crimes com você no dia dos Namorados. E esse é o meu presente para você!! – Bati a porta na cara dele e passei a chave.

Só queria saber quanto tempo eu aguentaria longe dele.

—--------------

Levou cinco – longos— dias. Jethro no sofá, eu no quarto com aquela cama imensa só para mim, e Lizzy mais perdida que cego em tiroteio tentando entender o que havia acontecido de errado.

Passamos quatro dias sem nos falar. Eu fingindo que ele não existia. Jethro furioso demais comigo por estar dormindo no sofá. Liz virou a intermediadora. A certo ponto se cansou e mandou uma mensagem que não faria o papel de pombo correio entre nós.

No quinto dia, assim que desci as escadas, Jethro não estava mais em casa. Não tinha escutado aquele telefone da idade da pedra tocando, o chamando para um caso, mas talvez eu estivesse debaixo do chuveiro na hora.

Fui para o trabalho, porém passei o dia todo pensando como iria resolver as coisas entre nós sem dar o braço a torcer. Era o período de tempo mais logo que ficávamos sem nos falar. E, verdade seja dita, eu já estou sentido falta dele do meu lado...

Por mais que eu pensasse, eu não consegui achar uma solução. Cheguei a cogitar uma quebra acidental do meu carro e ele teria que vir me buscar, mas lembrei que tinha seguro e ele jogaria isso na minha cara.

Fingir que estava passando mal? Ele mandaria Lizzy.

Qualquer outro motivo que não fosse de vida e morte, ele nem se dignaria a atender o telefone.

Droga!

Assim, sem achar uma resposta que não incluía eu engolindo o meu orgulho e dizendo que sentia falta dele, fui para casa. Ao chegar, notei que estava toda escura, nem uma luz irradiava das pequenas janelas que vinham do porão.

Estranho, a essa altura, Liz já tinha que estar em casa.

Testei a porta, estava destrancada. Na mesma hora peguei a minha arma na minha cintura e entrei com cuidado. Um passo, dois... cheguei até a divisória da sala de televisão e de jantar.

E paralisei.

A mesa estava posta como se eu estivesse em um restaurante cinco estrelas e não em casa. A única luz que tinha no ambiente vinha das velas que estavam sob a mesa e em cima da lareira.

Dei um passo para trás para poder guardar a minha arma e assim que o fiz, esbarrei na única pessoa possível.

E eu nem tinha escutado os seus passos, nem sabia de onde ele tinha vindo.

— Foi você que? – Perguntei embasbacada.

Mas os olhos dele também estavam analisando o ambiente.

— Não foi você, Jen?

Fiz que não com a cabeça.

Nós dois guardamos nossas armas e paramos encarando a mesa. Foi quando eu notei.

Um bilhete.

Jethro também tinha visto e o pegou. Imediatamente fui para o lado dele, ficando na ponta do pé para poder ler o que estava escrito.

Oi vocês dois!

Resolvi por um fim nesse clima de pré-divórcio e preparei isso para vocês. Por favor, finjam que ainda é a noite do dia dos namorados e aproveitem o momento. Eu tenho certeza de que hoje ninguém vai ligar para nenhum de vocês – se alguém fizer isso eu mesma vou assombrar essa pessoa pela eternidade. Não se preocupem comigo, eu e a equipe vamos jogar boliche.

Tenham um excelente final de semana.

Vejo vocês dois no domingo à noite.

E antes que um de vocês dê um treco, estou abrigada na casa da Abby.

Amo Vocês!

Lizzie

Minha cabeça estava pousada no ombro de Jethro quando acabei de ler o bilhete, depois de cinco dias, era até tentação demais...

— Ela só volta no domingo à noite... – Não era uma pergunta que ele me fazia, era uma afirmação.

— É o que ela disse. – Dei de ombros e tentei me afastar o mais devagar possível.

— Quando foi a última vez que nós dois ficamos sozinhos por tanto tempo? – Jethro estava virado na minha direção, à distância de um braço.

Confesso que perdi a fala diante da intensidade do seu olhar.

— Paris... – Sussurrei.

Com um passo ele diminuiu a distância e já me tinha em seus braços.

— Não podemos fazer essa desfeita para a nossa filha, não é mesmo? – Ele sorria de lado e eu tive que me controlar para não esquecer o motivo da minha raiva.

Que se dane a minha raiva. Que se dane os dois anos resolvendo crimes na noite dos namorados!

— Mas é claro que não. – Passei meus braços por trás de seu pescoço e o trouxe para perto de mim e o beijei.

Ele correspondeu no mesmo segundo.

— Eu senti sua falta. – Sussurrei contra a sua boca quando nos afastamos.

— Engolindo o seu orgulho, Jen? – Jethro sorriu presunçoso.

— Não, Jethro, salvando as suas costas! – Respondi com um sorriso.

— Sei... – Ele me puxou pela cintura. – Vamos ou não aproveitar a noite?

— Achei que já estávamos fazendo isso!

Ouvi sua risada em meu ouvido.

— Um dia, me lembre de agradecer Elizabeth por isso. – Ele me pediu.

— Talvez no domingo. Porque hoje eu tenho outras ideias em mente, mas primeiro, vamos jantar, porque essa mesa...

—-----------

Já era mais de oito horas da noite quando Abby me deixou na porta da minha casa. Na prática eu não via ou falava com meus pais desde quinta-feira à noite e internamente, torcia para que eles não estivessem brigando.

Passei as últimas setenta e duas horas preocupada com o fato de que tudo tinha chegado ao fim. Abby me garantiu que eu estava exagerando. Tony falou que era mais fácil a terra ser atacada por alienígenas do que meus pais se divorciarem.

Eu ainda não acreditava. Nunca tinha visto os dois ficarem tanto tempo sem se falarem. E quando argumentei isso, Ziva abriu um sorriso.

— Vai por mim, Liz. Vai acabar tudo bem.

E foi com muito medo de encontrar a casa vazia ou parcialmente destruída ou até mesmo as coisas de meu pai na calçada, que voltei.

A primeira coisa que notei era que a luz da sala de TV não estava acessa. Meu estômago se fechou. Minha ideia genial tinha sido um fracasso.

Cautelosamente destranquei a porta e entrei em casa. Tirei minhas botas e pendurei meu casaco. Ali, cada um em seu lugar, estavam os casacos de meu pai e minha mãe.

Talvez a notícia não fosse tão ruim. Eles só não estavam conversando.

Passei os olhos pela sala de tv, pela sala de jantar e pela cozinha. Nenhum deles estava à vista.

Subi as escadas. A porta do quarto deles estava aberta. A cama arrumada com dois travesseiros. Não sabia o que pensar.

O escritório de minha mãe estava aberto e apagado. Não parecia que ela tinha ficado por ali nas últimas horas.

Talvez ela tivesse viajado com urgência.

Desci devagar, ainda não tinha a coragem de chamar por nenhum deles. Eu estava realmente com medo de que tudo tivesse dado completamente errado e um tivesse matado o outro ou que cada um tinha ido para um lado depois de sexta-feira.

Na cozinha, ainda sem saber, vi que a luz do porão estava acessa, pelo menos um deles estava em casa.

Tomei cuidado por onde andava e cheguei na porta.

A cena que eu vi...

Na mesma hora tirei meu celular do bolso e tirei uma foto.

Minha mãe estava sentada na bancada, despreocupadamente balançava as pernas, enquanto meu pai falava qualquer coisa com ela. Ambos estavam sorrindo e, ainda não tinham notado a minha presença, de tão absortos que estavam olhando um para o outro.

E vendo aquela troca de olhares eu me perguntei como pude ser tão besta de acreditar que eles iriam se separar.

Voltei devagar e fui para o meu quarto. Meu sorriso maior que os dos dois apaixonados lá embaixo.

No final, tudo tinha se acertado, eu só esperava que eles tinham aprendido a lição, porque eu vi no semblante de cada o quanto cinco dias separados custou a eles, mas como são teimosos e gostam de brincar com o fogo, não duvido que isso ainda vai acontecer de novo.

E eu espero ter ideias o suficiente para poder mostrá-los o quanto eles se amam. Ou eu só torço para que o próximo Dia dos Namorados não seja outro desastre completo!


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Notas finais do capítulo

Eu juro que Gibbs não aprende.... um dia vai ser ele quem vai levar uma sapatada. Oppss, ele já levou!
Santa Liz que resolveu o problema dessa vez! O que seria desses dois se ela não existisse?

Espero que tenham gostado! A carente aqui adora comentários, não sejam tímidas ou tímidos!!

Obrigada por lerem e até a próxima fic...
xoxo



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