Revolution of the Daleks escrita por EsterNW


Capítulo 7
M. mora ao lado




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— Não precisamos desse paspalho para nada — Rani sibilou, irritada. Parte de seu estado de espírito natural. Ela foi a primeira a se manifestar na mesa após um grande silêncio. — Nós quatro somos capazes de sairmos daqui por nós mesmos. — Tamborilava as unhas curtas sobre a mesa, o olhar frio medindo seus parceiros de plano e companheiros de prisão.

Após a empreitada das duas Senhoras do Tempo, pouco tempo tiveram para dialogar sobre o breve contato que tiveram com o Mestre, deixando a espera e a ansiedade para os quatro se reunirem no pátio no dia seguinte. Ou supondo que houvesse dia no meio do espaço profundo.

— Serei obrigado a concordar com nossa cara Rani. — Monge apontou para ela com a cabeça, logo ao seu lado.  — O que é algo que deve acontecer uma vez a cada encarnação nossa. — Riu sozinho, enquanto a Senhora do Tempo ao seu lado revirava os olhos.

De todos os quatro presentes na mesa, a Doutora era a mais calada, o que era algo digno de nota, levando em conta sua personalidade expansiva. A postura taciturna era adquirida apenas quando havia muito a se considerar. E a afligi-la.

Como o Mestre havia parado ali? Como justamente aquela versão dele foi encarcerada ali? E a Guerra do Tempo? Por que todos eles estavam ali? Ele parecia saber quem estava por trás daquilo, já que mencionou alguém os observando por cima de tudo. Quem a encarcerou ali?

— O que você acha, Basil? — Khayin a chamou para a conversa e a Doutora percebeu os olhares do três sobre si. Sua mente finalmente voltou para seu corpo presente naquele banco. — Está calada demais, o que não é do seu feitio.

— Por que não me deixam tentar falar com ele outra vez? — sugeriu, ignorando as insinuações de Khayin. — Eu sou boa com diplomacia. 

Segurou a língua para não dizer “e sei como lidar com ele”. Estava conseguindo passar despercebida por trás de sua alcunha de Basil, não podia pôr tudo a perder. 

— E por que acha que justamente você vai conseguir convencê-lo? — Rani rebateu, descrente do pedido da outra.

— Não precisamos dele — Monge interveio, estufando o peito orgulhoso. — Meus planos são melhores do que os dele, posso muito bem nos tirar daqui. Com a ajuda de vocês, é claro.

— Eu sou a favor de deixarmos a Basil tentar — Khayin deu sua opinião, surpreendendo a Doutora. Ele era realmente imprevisível. — Não temos nada a perder. — Cruzou os braços, faltando apenas pôr as pernas sobre a mesa para parecer a figura de um detetive de filme antigo.

— Exceto mais tempo — Rani reclamou e então mais nada.

A porta do pátio foi aberta no mesmo instante e a reunião acabou por mais um dia. Os prisioneiros foram postos em fila indiana e levados para seus respectivos corredores, ladeados por guardas. Dois, quatro, seis passos e mais um prisioneiro de volta para a cela... Oito, dez, a Doutora de volta para a cela.

A porta fechou com um baque surdo às suas costas e ela ficou sozinha com os passos no corredor do lado de fora. Dois, quatro, não se importava em contar, porque tinha coisas mais interessantes no que pensar. Colocou as mãos nos bolsos e pôs-se a caminhar pelos poucos metros que possuía ali dentro. Costumava fazer isso para esticar as pernas de vez em quando e não perder a forma, mas essa não era sua preocupação nesse caso. Muito menos quantos passos poderia dar naquele cubículo, ficou tedioso após saber os números exatos em cada ângulo.

Da onde estavam tentando fugir? Que prisão era essa para prender Senhores do Tempo no meio do espaço que ela não conhecia? Só havia uma em específico para seu povo, mas não era assim que se lembrava dela. Quem estava por trás daquilo? Como conseguiu colocar tantos de seu povo no mesmo lugar?

Passo, passo, passo, virou um círculo mais uma vez, passo, passo, passo. A impressão era que estava sempre caminhando em círculos. Quando conseguia uma resposta, novas dúvidas surgiam e mais passos, passos, passos no escuro. Odiava ficar no escuro. Odiava mais ainda não saber o que estava acontecendo.

Ela soltou um grunhido, levando o próprio punho à boca.

— Conversar comigo mesma já perdeu a graça a essa altura — disse para as paredes. — Nenhuma de nós tem as respostas que preciso. Não que haja mais uma de mim...

Segurou as barras por sabe-se lá que vez desde que chegou ali, olhando para o ponto do espaço inalterável. Tudo ali era monótono e entediante. Talvez a intenção de seus captores fosse matá-los de tédio lentamente. Ou transformá-los em amebas lentamente, manipulando suas comidas, bebidas e até mesmo o ar. Às vezes fazia falta dar pelo menos um suspiro...

Sentiu um ponto entre suas sobrancelhas coçar e levou a mão até ali, uma pontada subindo pela nuca. A Doutora levou as mãos à cabeça, deixando-se escorregar pela parede até o chão. Quem estava tentando entrar?

— Contato. — Permitiu que a pessoa entrasse por uma fresta das grades mentais de sua mente, abrindo a comunicação.

Boa noite, senhorita — a voz quase ronronou dentro de sua mente, ecoando por suas paredes mentais.

Mestre... — disse seu nome, tendo a cautela de aumentar cada uma de suas defesas lentamente.

Percebo que já comentaram bastante sobre mim. — Ele riu brevemente, o som parecendo ecoar por seus ouvidos. — Gostei de você da última vez que nos falamos, sabe? Tive a sorte de poder encontrá-la com certa facilidade.

— Como conseguiu abrir essa conexão? Da última vez, precisamos de mim e Rani para contatar você.

A risada do Senhor do Tempo ecoou mais uma vez. Aquele tipo de quem exala superioridade por todos os cantos. Não precisava sequer vê-lo para imaginar o sorriso de escárnio em seu rosto.

— Parece que sua cela não é tão longe da minha. A solidão começa a se tornar tediosa após algum tempo e costumo deixar a mente vagar por aí. Os outros Senhores do Tempo são enfadonhos demais, letárgicos, eu diria. Agora você... Você, minha cara, é deveras interessante.

— Agradeço o elogio — ela permitiu-se um pouco de sarcasmo, fora de seu habitual. 

Por nada. Continuando, já que com certeza irá me perguntar. Talvez pela conexão que estabelecemos ontem, consegui chegar até você com mais facilidade. Apreciei nossos breves instantes de bate papo. Ajuda a me tirar do tédio e não me fazer perder minhas habilidades sociais.

— Você não parecia satisfeito com a proposta da Rani — a Doutora começou, sentindo um ruído de desagrado passar por sua mente. Talvez ele tenha bufado do outro lado. — Acredita que somos todos tolos por tentarmos escapar daqui? Você parecia ter consciência de quem está por trás da nossa prisão, de todos nós.

— A mesma ladainha de ontem? Da última vez, deixei que vocês duas guiassem a conversa, agora, minha cara, eu tomarei as rédeas dessa vez.

— Você quem é o convidado por aqui.

— Como vocês eram da outra vez — ele rebateu. — Você parece saber muito bem quem eu sou, enquanto eu não sei nada de você. Qual é o seu nome, senhorita?

Basil — ela respondeu no ato, sem ao menos hesitar. Havia uma identidade para sustentar ali. — Por que você está separado de nós?

— Uma pergunta por uma resposta?

— Nada mais justo, não?

— Se deseja que seja assim... Os Senhores do Tempo o quiseram. Seu nome me parece familiar, Basil... Você não faz ideia do porquê está aqui, correto?

— Precisamente — a Doutora manteve o bate e rebate das perguntas e respostas. Os dois estavam no mesmo nível ali. — E o que você fez para que eles quisessem que fosse assim?

— Você sabe muito bem qual o destino dos desertores em nosso povo. 

— A Guerra do Tempo... — a Doutora acabou não se contendo, uma informação conectando a outra enquanto a maior parte da sua mente se ocupava em manter o contato. Então aquela versão do YANA era mais jovem do que aquela que encontrou em sua décima encarnação? Então ele ainda conseguiria fugir dali de alguma forma.

Exato. Você esteve lá, não? Sabe exatamente porque eu dei o fora de lá na primeira oportunidade que tive. Prefiro o tédio eterno em Shada do que mais um dia naquele inferno.

A mente da Doutora quase deu um estralo com uma simples palavra na última frase do seu companheiro de prisão.

Desculpe, você disse Shada? Nós estamos em Shada?!

Ela não pôde deixar de se exaltar, seu interlocutor rindo do outro lado da conversa. Sua gargalhada parecia ecoar pelas paredes de sua mente, indo e voltando.

Você não sabia onde estamos? Esse tempo todo não sabia? — Ele continuou rindo e a Senhora do Tempo levou as mãos até as têmporas, se forçando a continuar.

Essa não é a Shada que eu conheço, e eu já estive aqui antes. Onde estão as capsulas de animação suspensa? Como somos permitidos interagirmos desse jeito? Nunca foi assim.

O Mestre riu novamente, um som que estava se tornando irritante na mente da Doutora.

Ao que parece, você ainda tem muita coisa para descobrir por aqui, minha cara... Por hora, diga aos seus amigos que aceito.

— O que?

— Diga a seus amigos que aceito participar do plano. Talvez seja bom para me tirar do tédio. Boa noite, Basil. Espero nos encontrarmos novamente.

A Doutora abriu os olhos, vendo a mesmice da sua cela, enquanto a gargalhada do Mestre ainda parecia ir e voltar nas paredes da sua mente. Ele devia estar mentindo, não havia outra explicação…


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Notas finais do capítulo

Ester:
E não é que a Doutora tá conseguindo segurar esse disfarce de Basil? Só resta ver por quanto tempo vai durar...
Confesso que o diálogo desse cap foi um dos que eu mais gostei de escrever até agora :~
Até mais, povo o/

CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO:

[...]

— Recrutamento? – perguntou ela um tanto confusa após a explicação. 

[...]

— Mas o que está fazendo?! – Khayin olhava para os lados preocupado, e o Monge e a Rani se levantaram de seus lugares, também surpresos.

[...]

— Sabem que isso é extremamente arriscado – irrompeu Rani quase gritando. – Voltem pros seus lugares, rápido, ou eles irão ferir todos nós.

[...]

— Nunca vi isso acontecer. O que poderiam fazer? 
— Tirar algumas regenerações, nada demais. Bom, se você sabe se regenerar...
[...]