Heather escrita por 1 again


Capítulo 1
Capítulo 1 - Finalmente solteira


Notas iniciais do capítulo

Olá. Dediquei meu tempo para escrever esse capítulo, li, reli e até mandei para alguns amigos.
Escrevia para esse site desde pequena e agora voltei.
Espero que vocês gostem de ler, tanto quanto gostei de escrever.
É só o começo...



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— Ei, Cameron. – o sussurro a minha esquerda, que só poderia ter vindo de Peter, chamou minha atenção em meio a aula de história, que ao menos um de nós estava tentando prestar atenção.

Desviei os olhos focados no caderno e direcionei-os para o seu rosto. Ele estava com um sorriso muito maior do que o de costume e levantava as sobrancelhas de tal modo, que me deixou um pouco assustado. Alguma coisa havia lhe deixado incrivelmente animado e eu poderia ter certeza de que não era aquela maldita aula.

— Você não vai acreditar... – ele continuou sussurrando, ignorando completamente as palavras do Sr. Thompson, nosso professor de história, e me obrigando a fazer o mesmo.

Uma coisa sobre Peter é que ele sempre fazia isso, começava até as suas histórias e pensamentos mais previsíveis com a frase “Você não vai acreditar” e no final, as terminava com coisas que qualquer um seria capaz de acreditar, mesmo se não o conhecesse há tanto tempo quanto eu. A princípio, o meu coração disparava toda vez que ele falava isso, porém, com o passar dos anos – e com a repetição incansável da frase – meu pobre ser passou a se acostumar com aquele discurso e se segurar algumas vezes para não revirar os olhos ao ouvir a sentença.

Peter me lançou um olhar ainda mais animado e começou a balançar a cabeça em sinal afirmativo e eu só conseguia pensar no quão estúpido ele poderia parecer, caso alguém estivesse enxergando aquela cena de longe. Até porque, eu mesmo que a enxergava de perto, já estava achando um pouco ridículo. Por algum motivo, ele acreditava que apenas aquele gesto era suficiente para que eu tivesse entendido o que ele queria dizer, mas obviamente, não foi, o que não agradou muito meu melhor amigo, já que ele revirou os olhos e começou a escrever em uma das páginas de seu caderno.

Eu poderia ter obrigado Peter a desembuchar qualquer que fosse o motivo de sua animação, mas, para ser sincero, eu já estava acostumado com aquilo. Peter simplesmente ficava muito animado por coisas que não eram assim tão animadoras, a novidade provavelmente era de que teríamos bolo de carne no almoço, então voltei-me novamente para meu caderno e para as palavras monótonas que saiam da boca do Sr. Thompson. Porém, antes mesmo que eu pudesse me concentrar, Peter arremessou um pequeno papel – muito mal dobrado – na minha mesa.

Tudo bem, Peter era realmente uma pessoa que se animava facilmente, mas, por algum motivo, aquele bilhete me trouxe a sensação de ansiedade novamente e eu juro que senti meu coração errar os próprios batimentos cardíacos no mesmo momento em que meus olhos se arregalaram. Eu odiava o jeito que o suspense idiota de Peter era capaz de me abalar. Girei minha cabeça em sua direção enquanto franzia o cenho.

— Abra. – ele sussurrou apontando para o bilhete em cima da minha mesa com um sorriso maior ainda.

Soltei o lápis que estava em uma de minhas mãos e as voltei para aquele estúpido bilhete, eu estava nervoso e sinceramente, Peter não precisava tê-lo dobrado tantas vezes.

Você sabe quando recebe uma notícia tão ruim e indesejada que sente uma dor física? Aquela notícia que até mesmo seu subconsciente tem medo de ouvir e que você pode, mesmo que involuntariamente, pensar nela antes de dormir e torcer para que nunca não aconteça. Então, a dor trazida por essa notícia pode se manifestar de diversas maneiras, como um soco no estômago, uma dor de cabeça ou até mesmo uma pontada no coração, que ao invés de ter sido por uma agulha, foi feita por uma porra de tesoura de jardim.

“Heather está FINALMENTE solteira”

— Puta que pariu. – eu escutei alguém falar e quando percebi que toda a turma estava olhando pra mim, inclusive o Sr. Thompson, percebi que aquele alguém havia sido eu.

O sorriso no rosto do meu melhor amigo sumiu, ele agora assumia uma expressão extremamente confusa. O meu corpo inteiro estava quente agora e eu senti minhas bochechas pálidas ficarem coradas. “Droga Cameron” era a única coisa que se repetia na minha cabeça.

— Sr. Mays, queira me acompanhar a sala do diretor. – o Sr. Thompson me chamou em um tom severo, porém conseguia ver a surpresa em seu rosto. Definitivamente, não era algo que esperava-se vir de mim.

— Tudo bem professor. – falei levantando-me e enfiando o papel no bolso da calça, sem direcionar o olhar para Peter novamente até que saísse da sala.

***

Eu conheço Peter Henning desde que consigo me lembrar. Ele morava na casa do lado da minha, então, nossa amizade cresceu junto com a de nossas mães – inclusive, a mãe dele foi uma das pessoas que mais nos ajudou assim que meu pai foi embora, ou, como eu preferia dizer nos abandonou completamente de uma hora pra outra.

Eu e Peter costumávamos fazer tudo juntos. Todos sabiam que onde Peter Henning ia, Cameron Mays estaria atrás – ele sempre teve um porte de protagonista melhor do que o meu. Quando Peter entrou no futebol, lá estava Cameron como reserva de goleiro. Quando Peter resolveu que experimentaria skate, lá estava Cameron o assistindo nas arquibancadas, após quebrar o braço tentando fazer uma das manobras. E quando Peter decidiu que seu lugar era dentro das piscinas, Cameron finalmente se encontrou em algum esporte.

Tínhamos em torno de dez anos quando ela apareceu. Peter havia se mudado para uma casa menor com algumas quadras de distância, dando espaço em sua antiga casa para que Heather e sua família se mudassem para lá. Tudo começou com um jantar de boas-vindas que minha mãe achou que seria uma boa ideia – e obviamente ela também convidou Peter e os sua família – Porém, em menos de duas semanas aquela garota estava em todo os lugares e o principal deles era na mente de Peter.

No lugar de uma dupla, éramos agora um trio. Não me leve a mal, eu adorava Heather, ela nunca tinha feito nada para que eu não gostasse dela, mas era extremamente irritante como eu parecia estar excluído de qualquer que fosse a situação em que aqueles dois estavam envolvidos. Seja por ela morar na casa que já fora de Peter, ou porque tinham o mesmo gosto musical ou até porque os dois possuíam olhos verdes.

— Eu tenho olhos azuis! – eu gritei pela milésima vez, depois de eles soltarem a estupidez dos olhos verdes.

— E desde quando azul e verde são a mesma cor? – Heather indagou rindo, o que fez aquele idiota do Peter rir também, porque era óbvio que ele nunca discordaria da perfeita e dona da razão Heather.

Durante várias noites eu imaginava e até torcia que Heather e sua família tivessem que se mudar repentinamente para o Alasca e nunca mais voltar, para que pudesse voltar a ser apenas Peter e eu. Até que aconteceu. Bom, ela não se mudou para o Alasca, mas parou de falar com a gente com a mesma frequência, passou a andar com algumas meninas mais velhas e até o final do ensino fundamental já havia nos cortado totalmente de sua vida e namorava um garoto no primeiro ano, Breandon Willians.

Eles faziam um ótimo casal, os cabelos longos e ruivos – e perfeitos – de Heather combinavam com o tom escuro da cabeça de Breandon e, apesar de ele também não ser do time dos olhos verdes – assim como eu – ela pareceu estar muito contente com ele até o atual momento, o que não era verdade, já que nos últimos dez minutos eu havia descoberto que o seu namoro de quase dois anos chegara ao fim.

— É Cameron – o Sr. Finnigan, diretor do colégio começou seu sermão para cima de mim. – Isso não se enquadra muito bem com o seu histórico. – ele estava querendo dizer que eu era um certinho fodido.

A sala dele tinha paredes amarelas queimadas e as cadeiras eram azul marinho, assim como as cores da escola o que, pra mim, sempre fora uma combinação estranha para a sala do diretor.

— Eu sei Sr. Finnigan – eu disse, tentando parecer menos apreensivo do que realmente estava. Não por estar na sala do diretor, mas por causa daquela notícia idiota. – E eu estou amargamente arrependido. – continuei, na cara dura. – Você sabe quando perde a noção do quão alto pode expressar seus pensamentos? – arrisquei.

— Não. – ele disse juntando as mãos em cima da mesa e entrelaçando-as, como se fosse fazer uma oração. – Mas sei que você é um garoto bom, então só vou te dar uma advertência que não vai para o seu histórico. Mas preciso da assinatura de seus pais. – ele disse entregando-me o clássico papel de advertência.

— Tudo bem, diretor. – Falei tentando me convencer de que manter meu histórico impecável faria aquela situação ser um pouco melhor.

— Pode se retirar Cameron, está na hora do almoço de qualquer forma. – Ele me apontou a porta, assim como comissários de bordo apontam as saídas de emergência.

Assim que sai da sala e fechei a porta, respirei fundo e passei uma das mãos no rosto, enquanto a outra segurava aquela advertência ridícula.

— E aí, quanto tempo de detenção? – Peter levantou de uma das cadeiras do lado de fora da sala do Sr. Finnigan, fazendo-me perceber pela primeira vez que ele estava ali.

Eu o encarei, franzindo o cenho, sem responde-lo.

— Preciso saber pra planejar o tamanho da merda que vou ter que fazer Cam. – ele falou com uma expressão preocupada, como se aquilo fosse realmente importante, me fazendo rir involuntariamente.

Droga de Peter Henning me fazendo rir mesmo quando estava desesperado.

— Só uma advertência, Robin Hood. – falei levantando o papel branco e mostrando-o. Ele abriu um sorriso.

— Olha quem agora é um encrenqueiro. – ele disse rindo enquanto ajeitava a mochila no ombro e caminhávamos em direção a cantina.

— Eu odeio você. – disse e revirei meus olhos.

Eu não só conheço Peter Henning desde que consigo me lembrar, como também sou apaixonado por ele.


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Notas finais do capítulo

Obrigada pela atenção :p
Me diz o que você achou?



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