Shines like you. escrita por neverskies


Capítulo 1
Oneshot




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Sirius Black sempre tinha os braços ocupados no dia dos namorados. Várias garotas (e até mesmo alguns garotos) o cobriam de doces e de cartões. James, como capitão do time de quadribol, também recebia uma quantia generosa. Até mesmo Remus ganhava alguns, a maioria de Lily e de outras garotas que participavam do seu grupo de estudos. Peter geralmente não ganhava nenhum, mas os outros marotos achavam um jeito de presenteá-lo com chocolates e colocar nomes de garotas aleatórias escritos nos cartões.

Ao final do dia, os garotos se reuniam no dormitório, atiravam todos os chocolates no chão e se sentavam em roda para dividi-los; a brincadeira era ler todos os cartões e tentar adivinhar a quem eles se referiam. Sirius gostava desse dia, e sabia que Moony também. Remus não dava a mínima para os cartões ou romances adolescentes, mas se deliciava com a quantidade ridícula de chocolate que podia comer. Os outros garotos sempre o deixavam comer mais, visto que chocolate era praticamente a única coisa da qual o amigo alto e magricelo se alimentava. Nesta ocasião, Remus ficava feliz de ter amigos populares.

Quando a ressaca de açúcar começava a dar as caras, os garotos se davam boa noite e finalmente se preparavam para a cama.

E aí começava a parte estranha.

Sirius apanhou seu pijama, tirou o manto e as meias, desfez sua gravata e desabotoou a camisa. Porém, antes de trocar para o conforto das calças do pijama, lembrou de checar os bolsos. E lá, novamente, estavam eles.

Ele ganhara três pequenas trufas em formato de estrela e envoltas em um terrível embrulho vermelho-grifinória brilhante, que dava a impressão de que o chocolate era barato e de qualidade duvidosa (mas isso o fez sorrir mesmo assim). A tradição dos marotos de compartilhar os chocolates vinha desde o segundo ano de Hogwarts, mas esse mágico evento de encontrar o chocolate misterioso em seu bolso começou a acontecer apenas no quarto ano. Desde então, essa era a terceira vez que ele encontrava o chocolate barato em seu bolso na noite do dia dos namorados.

O garoto imaginava que quem quer que fosse a pessoa por trás disso queria ser o último a entregar o presente, para ter certeza de que Sirius o comeria ele mesmo, ou apenas para ser especial – o que, de fato, conseguia.

No entanto, nunca havia um cartão acusando o remetente. Quando tinha 15 anos, Sirius encontrou as trufas apenas no dia seguinte ao colocar as calças do uniforme. Ele perguntou aos garotos se sabiam quem havia os colocado ali, porém nenhum soube responder.

Durante o quinto ano, Sirius havia encontrado o bombom enquanto os garotos ainda liam os cartões. Ao retirá-los do bolso, Remus perguntou se poderia come-los. Sirius, entretanto, negou com uma piscadela e disse que aquele ali era especial e que vinha de algum admirador secreto. James praticamente gritou de surpresa, perguntando quem poderia ser, mas Sirius apenas deu de ombros dizendo que aquele era mais um dos Mistérios de Hogwarts.

Este ano foi igual. Estrelas de chocolate aparecendo magicamente em seu bolso na noite do dia dos namorados, novamente sem cartão. Antes de se deitar, Sirius abriu as cortinas da cama na esperança de receber alguma mensagem divina quanto a identidade do tal admirador (ou admiradora, ele se lembrou). O dormitório parecia quieto com todas as cortinas das camas fechadas, mas nada de diferente. Sirius suspirou, e então, pelo canto do olho, percebeu um movimento vindo da janela.

Iluminado pela luz azul da lua, Remus olhava para fora dos terrenos. Sem pensar duas vezes, Sirius caminhou em sua direção, se juntando a Remus para admirar a noite.

— Tanto chocolate te deixa contemplativo, Moony?

O garoto de cabelos castanhos deu um pulo, mas relaxou ao encontrar o olhar de Sirius.

— Oi, Padfoot — disse calmamente, e se inclinou novamente na janela, ainda exposto à luz azulada. Ao examinar o amigo, algo chamou sua atenção. — Você ganhou essas trufas de novo?

— É, e ainda sem cartão — Sirius sorriu, trazendo a mão que segurava o presente mais perto do rosto para observá-los.

— E acredito que ainda não descobriu de quem são.

— Bem, não. — Ele riu. — Mas eu me pergunto... Quem é? Por que fazem isso todo ano? Algum dia vou saber quem são?

Os olhos dos dois se encontraram por um momento, mas Remus rapidamente quebrou o contato.

— Ficando sentimental? Achei que você só tirava com a cara das garotas que te davam chocolate — o canto da boca de Remus se curvou em um sorriso curto.

— Oh, está com ciúmes, é? Fique em paz, meu caro Moony. Você é o único Homem Chocolate para mim. Pegar seus doces escondido deixa o gosto melhor, acrescenta uma especiaria chamada perigo — Sirius deu sua piscadela típica e mostrou as trufas novamente. — Mas olhe para essa embalagem, é terrível! — Ele riu. — É tão esteticamente horripilante que achei amável. E é a terceira vez que ganho eles, já é como um conforto sabe? Eu os aprecio, até, não acha estranho? O destruidor de corações, Sirius Black, ficando emocionado com um admirador secreto. — Ele baixou os olhos, sorrindo consigo mesmo.

— Acho que você só gosta quebrar os corações para colecionar os pedacinhos, não é? — Remus riu e deu uma cotovelada brincalhona no amigo.

— Calúnias! Eu apenas não namoro as garotas que eu pego, e quando eu pego alguém não é para preencher qualquer bobagem emocional.

Ao ver Remus elevar uma sobrancelha e abrir um sorriso travesso, continuou:

— Ah, meu puro, inocente bebê Moony! Algum dia você ainda vai experimentar estas luxúrias terrenas e então saberá do que estou falando.

— Eu posso imaginar muito bem, Sirius — respondeu baixo, com a sombra de um riso nos lábios.

— Moonikins, você deveria limpar esta mente impura. É só nos seus sonhos, não? Será que eu apareço neles às vezes?

Os dois riram com a provocação de rotina. Remus pareceu rir mais do que Sirius esperava. O garoto de cabelos negros estava acostumado a deslizar insinuações entre as conversas, tentando deixar Remus envergonhado – e sempre falhando.

Dessa vez não foi diferente. Remus não parecia envergonhado enquanto não parava de rir como se a ideia fosse absurda. De alguma forma, Sirius sempre buscava uma reação diferente, algum sinal de hesitação ou um rubor em sua face, um sinal de alguma coisa (qualquer coisa, mesmo sem saber exatamente o que). Resolveu então que apenas gostava de perturbar o amigo e se desvencilhou da trilha de pensamentos.

—Eu gosto de me sentir bem, e é isto. Eu não ligo se não consegui sentir nada por aquelas pessoas— Sirius concluiu.

— Não liga?

— Bem, acho que... Acho que teria sido bom. Não é que eu não tenha tentado, mas só não deu certo. Essa coisa de sentimentos, no caso. Mas essa pessoa dos chocolates, eu meio que queria conhecer ela. Eu realmente espero que isso aconteça alguma hora. Ou ao menos receber um cartão ano que vem, já que será nosso último ano.

Por um instante, Sirius achou ter visto um brilho de fúria no olhar de Remus, que desapareceu quase imediatamente. Ele ainda dava a Sirius um olhar intenso e indecifrável quando falou num tom ameno:

— Eu acho isso uma besteira, se me perguntar. Se não te disseram nada nesses últimos dois anos, duvido que será diferente ano que vem. E o que você faria se soubesse de quem é, de qualquer forma? Dar parabéns e mandar a pessoa pastar? Timidez nunca foi bem o seu tipo, Pads.

Remus olhava para o chão, e apesar da voz leve, seu humor fora claramente alterado. Sirius não sabia o que fez seu amigo se incomodar tanto com esse assunto bobo de dia dos namorados, mas tentou melhorar um pouco seu humor ao encontrar seus olhos e dizer calmamente:

— Eu poderia pensar que você está realmente com ciúmes, Moony — disse com outra piscadela, e dessa vez os olhos de Remus pareceram parar. Sirius empurrou levemente Remus com seu ombro de maneira afetuosa, torcendo para que o contato físico o amolecesse. — Bem, eu achei fofo. Eu ao menos agradeceria os presentes, não sou um babaca. — Remus ergueu uma sobrancelha com o comentário. — Bem, não sempre, pelo menos. Não me diga que você não ia querer conhecer a pessoa que te dá chocolates há três anos, se fosse você?

— Nem fodendo. Se eu fosse você, já teria queimado essa merda no quarto ano.

E com seu olhar Triste e Irritado de assinatura, Remus empurrou o braço de Sirius enquanto batia os pés em direção a sua cama, deixando Sirius contemplar as estrelas sozinho.

 Xxx

O último ano em Hogwarts. A última chance que Sirius teria de descobrir quem era seu admirador secreto.

E ele já tinha um palpite.

Agora, um ano depois, pensava mais claramente sobre os chocolates que ganhara no ano anterior, percebendo que o palpite já estava lá, enterrado em algum lugar de sua mente como uma pequena luz verde de esperança.

Após a pequena conversa com Moony (depois da qual passara inúmeras noites em claro pensando, regurgitando, ruminando cada palavra em sua mente), Remus pareceu estar de volta ao normal, completamente inabalado, e não portava mais aquele olhar; não parecia irritado (por algum motivo específico) e nem triste (mais do que o normal). Só o bom e velho Moony.

Ao invés disso, o que Sirius notou foi que tentava sustentar o olhar do garoto mais alto por mais tempo. E que sempre tentava sentar um pouco mais próximo dele no sofá do salão comunal. E que tudo o que Remus dizia soava muito mais engraçado do que qualquer outra pessoa falando a mesma coisa. E como sentia o impulso de tocar o ombro de Remus, ou braço, mão, qualquer lugar, quando o amigo estava interessado demais na conversa com outra pessoa.

.

Como era o último ano de Hogwarts, os marotos decidiram não manter sua tradição só para eles. Esse ano fora o recorde de chocolates e cartões que jamais haviam ganho, e decidiram compartilhá-los com os outros grifinórios do sétimo ano. Todos os amigos se encontraram no dormitório dos Marotos, trazendo consigo uma quantidade profana de doces, enquanto James e Sirius conseguiram afanar (muitas) garrafas de Whisky de Fogo. James dissera que seu plano era embebedar a todos e deixa-los no clima para se confessar para as pessoas que gostavam.

A verdade é que ele queria que Lily confessasse gostar dele, pois estava claro há algumas semanas que seu conceito sobre James havia mudado.

Alice e Frank já eram o casal mais fofo desde o quinto ano, mas pareciam animados para servir de cupido para outros casais, como Dorcas e Marlene. Mary provavelmente planejava uma boa ficada com todos os garotos disponíveis na festa, e os meninos prepararam uma porção extra da Torta de Maçã Raposinha para Peter.

No fim, os Marotos encontraram o dormitório lotado de pessoas. Cada convidado pareceu ter trazido mais convidados ainda, vindo até alguns alunos de outros anos. Um feitiço de silêncio fora colocado do lado de fora para conter a música alta. James inclusive recomendou usar uma senha para o caso de mais pessoas comparecerem, para a qual Peter sugeriu uma frase deveras obscena e ofensiva que foi muito bem recebida e utilizada.

Sirius estava orgulhoso. Todos pareciam estar se divertindo, comendo chocolate e outras porcarias, ficando bêbados. O quarto se tornara uma pista de dança e várias pessoas balançavam com a música trouxa escolhida por ele, Remus e Lily. Alguns casais já estavam se pegando pelos cantos (inclusive Dorcas e Marlene, para a alegria de Frank e Alice). Peter fez questão de enfeitiçar as camas do quarto para que apenas os seus donos pudessem dormir nelas, visto que já ficara traumatizado por conta de outras festas que ocorreram no dormitório.

Tudo corria suavemente. Sirius estava entretido numa conversa com James, Lily e mais alguns grifinórios, e percebeu como Lily não recuou quando James passou o braço entre seus ombros. Ele estava feliz, mas não podia evitar aquelas alfinetadas de ansiedade no estômago, checando seus bolsos a cada dois minutos que passavam. Nada de chocolates, pensou, desapontado.

Subitamente, sentiu alguém se aproximar. Sentiu um braço se colando ao seu, uma mão invadindo seu bolso.

Sirius não sabia para onde olhar. Não queria se desapontar e parecia que seu coração saltaria para fora do peito. Após a conversa com Moony no ano passado, uma pulga desconfortável se alojara lá.

Porém, ao colocar sua própria mão no bolso, não foi preciso olhar. Uma onda quente de emoções que não saberia nomear tomou ferozmente o seu corpo. Enquanto a mão familiar se removia do bolso, os dedos de Sirius correram por três estrelas, que certamente estariam envoltas em um terrível papel vermelho brilhante. Segurando a respiração, o garoto finalmente olhou para cima.

Remus, com uma expressão vazia. Remus, com um olhar de derrota. O garoto alto deu um sorriso completamente deslocado e se afastou.

Ar, pensou Sirius, preciso de ar.

Estivera certo. Tudo que havia tentado esconder nos confins de sua mente estava agora dançando a hula em frente aos seus olhos. Era uma explosão de sentimentos em sua cabeça, todos muito confusos, mas que gritavam desesperadamente por Remus.

Aquela maldita conversa há um ano o fizera se questionar. Remus parecera estar com ciúmes de uma forma estranha. Após aquele dia, Sirius propositalmente ignorava seus sentimentos por seu melhor amigo. E se tivesse entendido errado? Não seria surpreendente, já havia sido chamado de desatento diversas vezes, mas isso se tratava de Moony, e se estivesse errado, tudo mudaria. E a amizade que tinha com Remus era uma das únicas coisas da vida que Sirius não estava disposto a arriscar.

Porém, Sirius havia se permitido perceber como Remus agira de forma estranha, quase suspeita, conhecendo tão bem o rapaz cheio de segredos. E mesmo se ele não fosse o tal admirador secreto (embora Sirius tivesse passado o ano inteiro rezando para que fosse), Remus ao menos se importava o bastante para ficar com ciúmes.

O que era um pouco estranho, parando para pensar. Moony estava com ciúmes de si próprio? Seria algo tão idiota e característico de Remus, pensou com afeto.

Mas era verdade. Sua falsa esperança era verdade. Seu palpite era verdade. E seus sentimentos por Remus eram tão verdadeiros que chegavam a doer. Por que não havia feito nada antes? Sirius era sempre tão precipitado em suas ações, por que não fora com isto? Se tivesse sido, os dois não estariam andando em círculos por anos, literalmente.

— Sirius, está tudo bem? Você está encarando o quadro de Sabrina, a Bailarina por um tempão; você estava com seu copo o tempo todo?

Sirius saiu de seu transe quando Lily delicadamente tocou seu ombro, já tentando pegar o copo do garoto para verificar se havia algo de estranho.

— Ninguém drogou minha bebida, Lily. Ao menos acho que não. Espero que não. Espera, e se isso tiver sido uma alucinação? — Disse à beira do pânico. Será que haviam colocado alguma substância em seu copo? Parecia pouco provável, nem se sentia bêbado ainda. Segurou os chocolates em sua mão. Pareciam reais o bastante.

— Sirius, diga algo com nexo.

— Remus — ele a encarou intensamente, mas Lily continuou com um olhar desconfiado, como se estivesse louco (ou drogado). — Remus era meu admirador secreto. Ele veio enfiar isso no meu bolso e depois saiu correndo — Sirius mostrou as estrelas de chocolate para a amiga. Ele já havia se gabado o bastante sobre ter um admirador secreto e abanado seus chocolates feios na cara da amiga.

— Bem — ela disse, com os olhos grandes de uma corça e um sorriso no canto da boca. — O que você está esperando? Vá atrás dele!

E quando Sirius saiu de seu estado de choque, ele correu.

Xxx

Merda.

Merdamerdamerdamerda

Remus estava fodido.

Completamente, absolutamente, irrevogavelmente fodido.

Por que havia escutado James? James e Lily, se lembrou. E Alice e Frank. E Dorcas. E Marlene.

Basicamente todos seus amigos se encontravam em sua lista negra no momento, menos Peter que não dava fodas o bastante para se envolver no assunto.

Mas especialmente James e Lily.

Eles que o convenceram a fazer isso. Infelizmente para Remus, ambos haviam descoberto que ele era o admirador secreto ainda no quinto ano. Ele tentara negar, mas seus amigos o conheciam bem demais, droga. Ao menos juraram não dizer nada.

Esta noite, Remus estava ganhando estranhos tapinhas no ombro de seus outros amigos. O garoto se sentiu traído, porém James afirmou que apenas contara a eles que Remus gostava de alguém e tentaria confessar esta noite. Remus ficou aliviado, mas imaginou que os outros adivinhariam de quem ele gostava de qualquer forma.

Então James e Lily o encurralaram. Conseguiram convencer Remus de que eles ainda seriam amigos mesmo que Sirius o rejeitasse. O convenceram de que Sirius nunca o odiaria, e eles seriam sempre os Marotos, ninguém o deixaria para trás. E se ainda assim Sirius fosse um merdinha, embora duvidasse disso, James faria questão de pendura-lo pelo pé e mostrar aquela cueca de corações para a escola inteira até que Sirius pedisse desculpas. Isso fez Remus rir e se acalmar imaginando a cena, e talvez tenha ou não chorado com as palavras suaves e abraços dos dois amigos.

Porém, no exato momento em que ele deslizou os chocolates na droga do bolso de Sirius, se arrependeu imensamente. Como pudera ser tão estúpido? É claro que James e Lily falariam quaisquer coisas para acalmá-lo na hora, mas seria uma questão completamente diferente quando Sirius o rejeitasse. Mesmo que o garoto não o odiasse, a atmosfera certamente se tornaria estranha entre eles.

James tentaria fazer o meio de campo, mas passaria mais tempo com o seu irmão. E Lily claramente começaria a namorar James, então também teria que manter distância de Remus. Peter sempre seguia James, então no fim Remus se tornaria um Lobisomem Solitário. E então os garotos se formariam e nenhum emprego o aceitaria com a sua condição, e então se tornaria um Lobisomem Solitário, Pobre e Desempregado e Sirius nunca mais falaria com ele.

E então ele seria um triste homem de 30 anos e Lily ocasionalmente faria uma visita e traria alguns cookies por não saber se Remus tinha o que comer, e então falaria sobre os 5 filhos e 7 gatos dela e de James, mas iria embora o mais rápido possível pois ficar sozinha com um Lobisomem Depressivo certamente seria muito desconfortável. E então quando ele tivesse uns 35 e não aguentasse mais, provavelmente morreria acidentalmente por deixar o fogo aceso e todas as janelas fechadas (ou ao menos seria o que a sua carta diria).

Mas agora voltando aos fatos.

O fato que Sirius absolutamente não era gay. Bem, Remus havia o visto beijando um garoto ano passado, mas isso não significava que o amigo era gay, não é? Sirius também já havia beijado James algumas vezes enquanto eles faziam jogos com bebidas pois James tinha certeza de que Lily gostava daquilo, e isso não fazia James gay.

A mente de Remus o convenceu a procurar mais evidências de que o garoto não jogava para o seu time. Bem, as garotas amam ele!, pensou, mas quando fora a última vez que Remus o vira com uma garota? Ele conseguia apenas recordar de uma vez, no terceiro ano. Sirius e Mary de mãos dadas, mas Sirius dera o fora nela depois de uma semana, pois Mary só queria me beijar o tempo todo! E Sirius havia achado o ato um tanto nojento. Depois disso, havia ocasionalmente algumas garotas, nenhuma das quais Remus conhecia. E Sirius fazia questão de não manter qualquer contato com elas depois de alguns beijos.

Mas isso não importava agora. Remus se desvencilhou da trilha de pensamentos. Ele correra no instante que os olhos de Sirius encontraram os seus, porque não queria chorar e estragar a festa. Entretanto, ao chegar na torre de astronomia, nenhuma lágrima se formara em seus olhos. Ótimo, estou catatônico também, pensou.

Decidiu apenas olhar para as estrelas e pensar no que falar para seus amigos no dia seguinte. Diria para James algo como pois é, cara, não funcionou e o amigo o daria um tapinha nas costas enquanto Peter ofereceria chocolates a ele. Ou melhor, ele poderia mapear esconderijos e criar um cronograma para não encontrar com os colegas de quarto pelos próximos cinco meses. Decidiu que a segunda opção era melhor.

No momento em que começou a pensar em bons lugares para se esconder, ouviu um barulho vindo da escadaria e gelou.

Nem fodendo.

Remus pensou em só continuar encarando a janela. Se ignorasse o garoto que viera atrás dele, talvez fosse embora. Sua mente continuava a mil quilômetros por hora tentando pensar em alguma saída para essa situação que não envolvesse ele saltando pela janela, quando ouviu um pigarro silencioso seguido de uma voz familiar.

— E aí, Remus. Achei que te encontraria aqui em cima.

Sirius estava ofegante, como se estivesse correndo. Não pode esperar pra me dar um fora, não é?

— Uh, então — o garoto de cabelos pretos estava com os braços cruzados sobre o abdome, claramente desconfortável. Remus se perguntou se morreria antes de chegar ao chão caso decidisse pular.

— Olha, eu sei, tá bem? — Remus disse em tom alto, se surpreendendo. — Você não precisava ter vindo até aqui.

— Você... sabe? — Sirius disse levantando uma sobrancelha.

— Sim. Eu sempre soube. Eu e aqueles malditos presentes de dia dos namorados... Eu não planejava contar que era eu, sabe. Tipo, nunca. Mas então James e Lily e os amigos idiotas deles me coagiram, e mesmo que eu soubesse que eu não devia eu... — Remus ouviu uma risada baixa e finalmente levantou seus olhos do chão, percebendo as risadinhas irritantes de Sirius. — Que foi?

— Só acho engraçado — Sirius disse, dando alguns passos em frente. Se Remus já não estivesse encostado na janela com certeza tentaria ir mais para trás. — Que você sempre pensa demais e não diz nada. Mas quando fica nervoso... — e sorriu aquela droga de sorriso típico de Sirius Black, que poderia fazer a Antártica inteira derreter enquanto chegava mais perto. — Não consegue parar de cuspir tudo pra fora.

— Ok Siri- Pads — apelou para o apelido e respirou fundo. Remus realmente não estava com saco para isso. — Só volta pra festa, tá? Eu sei o que você vai dizer, e francamente, eu não quero ouvir.

Sirius o olhou, incrédulo.

—E o que exatamente você afirma saber?

— Que você me rejeitaria. Que não gosta de garotos. Que não me vê dessa forma. Que tudo vai ficar tão bizarro agora, e mesmo que você tente ser compreensivo, ainda vai me achar esquisito e quando a escola acabar só a Lily vai continuar me visitando para falar sobre as sete crianças-gatos dela e do James e ir embora e aí eu vou esquecer o fogo e-

Ele foi calado pela mão de Sirius, que repentinamente se encontrava em sua face, o dedão sobre seus lábios trêmulos.

— Merlin, será que você nunca cala a boca?!

Remus estava tão exasperado que não havia visto o garoto se aproximar tanto assim. A mão em sua face se moveu para trás de seu pescoço quando de repente-

Ele está me beijando?

Será que eu me atirei da torre acidentalmente e estou tendo uma alucinação pré-morte?

O beijo foi suave e curto. Remus parecia ter congelado no lugar e não correspondeu. Suas faces ainda estavam muito próximas, os olhos se encontrando, enquanto Remus tentava dar algum sentido ao que acabara de acontecer.

— Você está bêbado? — Perguntou em tom baixo, tentando parecer calmo, embora a ansiedade ainda fosse perceptível.

— Não.

— Usou alguma droga?

— Você é a única droga que eu preciso — e deu uma piscadela brincalhona.

A cabeça de Remus estava ficando sem mais explicações para aquele beijo estranho.

 — Isso é uma piada? Porque eu não achei engraç-

— Droga, Remus, não! É tão difícil de acreditar que eu também gosto de você?

Remus pareceu paralisar ainda mais.

— Espera você... Quê? Mas você gota de garotas!

— É sério? Eu fiz questão que você me visse agarrando um cara, achei que ia entender o recado.

— Mas eu... eu não entendo. Você gosta de mim? Especificamente? — Sirius acenou que sim, contendo a risada. — Padfoot, você pode literalmente piscar duas vezes pra qualquer garota – ou garoto, acho – dessa escola que eles vão instantaneamente tirar toda roupa, e você gosta de-

— Não se atreva, Moony.

— Você gosta de um lobisomem ansioso e sem-sal que se veste com suéteres feios e sofre de uma severa falta de autoconfiança?

— Sim, especificamente a parte dos suéteres, mas eles são fofos. E você também é, Moony. Você é a pessoa mais legal, querida, doce, simpática e gentil que eu conheço. E eu odeio que você não veja isso. — Suspirou. — E eu gosto de você Remus. Não, acho que eu posso até dizer que eu te amo, droga, e isso já faz tempo. E agora que eu sei que você também sente isso não vou mais te deixar questionar os meus sentimentos, entendeu? Eu te amo e é isto. Aceite.

Remus começou a resmungar alguma coisa sem sentido em voz baixa enquanto Sirius se aproximava novamente, encostando o nariz no seu.

— Não fala nada. Só deixa eu te beijar.

— Ok.

E quando os lábios se encontraram novamente, dessa vez Remus reagiu. Ardorosamente. Já estava se derretendo feito manteiga, e a única coisa que conseguia pensar era sim, porque aquilo era bom pra caralho e os lábios de Sirius eram tão deliciosos que beijá-lo era a única coisa que queria fazer pelo resto da vida. Foda-se o dever de casa.

Sirius beijava gentilmente, mas deixou que a ação se intensificasse quando sentiu uma mordida de leve em seu lábio inferior. Os dedos de Sirius exploravam o peito de Remus, as costas e mais baixo...

A mão de Remus se emaranhava nos cabelos de Sirius, e quando puxou levemente ouviu um gemido baixo, e Remus decidiu que sua nova missão era ouvir aquele mesmo som novamente.

Remus não tinha ideia de quanto tempo ficaram lá. Em algum momento, o garoto havia trocado suas posições e prendido Sirius contra a parede ao lado da janela. Enquanto beijava e mordia levemente o pescoço do garoto de cabelos negros, ouviu um riso abafado.

— Você é a pessoa mais sexy que eu conheço também — Sirius comentou baixinho.

— Que?

— É essa sua energia de professor sexy, eu adoro — e plantou alguns beijos ao longo do maxilar de Remus, devagar.

— Ah é? — Remus riu em deleite. — Quer que te bote na detenção?

— Só se eu for um mau garoto — Sirius sorriu maliciosamente. — Vem, vamos voltar pro dormitório. A festa já deve ter acabado.

Eles desceram da torre de mãos dadas, parando ocasionalmente em cantos escuros para mais um beijo.

Quando entraram pela porta do retrato, Remus se lembrou do feitiço que Peter colocara nas camas mais cedo, deixando Sirius furioso e xingando o garoto mais gordinho.

Quando o sol nascesse, James ficaria preocupado vendo a cama vazia dos amigos que não teriam voltado para o dormitório. Entretanto, ao descer para o salão comunal segurando os ombros de Lily com seu braço, ficaria aliviado, iria sorrir e dar um merecido high-five com a garota ao encontrar Sirius e Remus enrolados um no outro, dormindo naquele sofá em frente à lareira.

BONUS

Eu queria incluir essa parte mas não tinha muito onde colocar então estou fazendo uma cena bônus. Meu headcanon pra essa fic é que o Remus é terrível com aesthetics.

Xxx

— Você realmente acha eles feios? — Disse Remus, abrindo um dos chocolates para dar ao seu namorado.

— Sim. Parece que um elfo doméstico tinha que escolher um presente vendado, então escolheu um pelúcio que vomitou esse embrulho. Tenebroso. — Colocou o bombom inteiro na boca, tentado lamber os dedos de Remus quando afastou sua mão.

— Eu achei que combinava com você quando escolhi. — Remus disse ao abrir outro chocolate e botar na boca.

— Você está me chamando de feio, Lupin?

— Acho que não usaria exatamente essa palavra para descrever a sua aparência.

— Então você diria que eu sou um garoto bonito? Lindo? Uma estrela magnífica? O mais belo de todos?

Remus ergueu uma sobrancelha.

—É, por aí.

Ele sorriu e beijou com gosto o namorado.


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Notas finais do capítulo

QUeria agradecer a Pan por betar tmb mtt obgg!!

Espero que tenham se divertido!! Nunca tinha escrito fics em português, e essa é minha primeira fic wolfstar também. sempre gosto de opiniões hihihi
obg por lerem!



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