Paper Rings escrita por lostcullen


Capítulo 1
One shot (capítulo único)


Notas iniciais do capítulo

Essa é minha primeira one-shot. Deixem seus elogios, críticas e sugestões ♥



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Era um dia de outono especialmente quente quando decidimos, do nosso modo habitualmente espontâneo, que iríamos à praia.

Dentro da casa de seus pais, o ar circulava em lufadas frescas que faziam os sinos de vento ressoarem de forma tranquila pelo espaço aberto. Eu me recostava em seu peito, de olhos fechados, praticamente já dormindo quando sua mãe, Esme, pediu para que passeássemos com os cachorros.

Sempre que eu os visitava, era mimada de todas as formas possíveis e imagináveis. Os pais de Edward nutriam um carinho especial por mim desde que souberam por sua outra filha, Alice, que ele estava começando seu primeiro relacionamento sério.

Isso já havia completado cinco anos.

Da primeira vez em que fui conhecer sua família, eles fizeram macarronada em uma quantidade grande demais para cinco pessoas, só por meu nome ser italiano. Bem, eles não estavam errados... Eu era apaixonada por massas mesmo que nunca tivesse pisado na Itália ou nem mesmo tivesse ascendência.

Portanto, era impossível negar qualquer pedido de Esme ou Carlisle. Eles pediam e eu prontamente já estava fazendo, mesmo que, naquele momento, eu estivesse confortavelmente feliz e tranquila no peito de Edward. Já ele reclamou, como de costume. Contudo, era um filho dedicado e um dono de pet que se deixava fazer de gato e sapato por seus cachorros. Faz sentido?

Era início de tarde, após o almoço e, apesar de na sombra ser um dia relativamente fresco, o sol lá fora incidia com violência sob nossa pele, mesmo que mal tivéssemos saído de casa.

— Aceita apostar uma corrida? – Edward perguntou enquanto passávamos pelo portão, cada um já segurando um cachorro pela coleira.

— Você está louco? – Fingi olhar de cara feia, porque ele gostava de me sugerir coisas idiotas para me irritar, só para se entreter com o meu mau humor. Típico.

— Cadê o seu espírito competitivo, Bellinha?

— “Bellinha” é a sua cachorra, – que de fato se chamava “Bellinha”, apesar de ser um labrador maior do que eu – para você é senhora Bella, viu?

Ele sorriu aquele sorriso que deixava seus olhos apertados, quase se fechando. Era a coisa mais linda de se ver.

Porém, mal nos sobrou tempo para flertes disfarçados de implicância, pois os cachorros que passeavam com a gente, ao invés do contrário. Eram dois labradores energéticos que pareciam querer debochar de nós e nos envergonhar diante de toda a vizinhança, enquanto nos arrastavam de um lado para o outro.

Eles quebravam com todo o romantismo idealizado de um passeio de mãos dadas em uma tarde outonal.

No final de tudo, eu parecia ter corrido uma maratona, com uma mancha de suor perceptível se formando debaixo das minhas axilas. Ao passo que Edward permanecia intacto, ainda mais bonito, apenas com as bochechas rosadas a comprovar seu esforço físico. Era cruel.

Mas ele mal parecia reparar em mim. Ou se reparava, não se importava, pois me pegava nos braços mesmo que eu estivesse coberta de suor, como eu estava naquela ocasião.

— Você precisa visitar um endócrino. – Eu disparei, séria.

— O quê?

— Tem alguma coisa anormal sobre você, Edward. Você não sua. Isso é grave.

Ele gargalhou.

— É claro que eu suo, Bella. – Ele passou a mão em sua testa e depois esfregou nos meus braços para que eu sentisse. Ok, talvez ele realmente suasse um pouco.

— Ugh, vocês são nojentos! – Alice passou por nós rapidamente, em direção ao portão. – Poderiam aproveitar o dia dos namorados de outra forma, sem ser passando suor um no outro. Bem, estou indo lá almoçar no Jasper. Ah, Edward, aproveita e liga pra ele, como quem não quer nada, e diz que vou ficar muito brava se eu chegar lá e não tiver, no mínimo, pétalas de mil rosas espalhadas pelo chão da sala! – E saiu saltitando, sem esperar de fato por uma resposta.

Nos entreolhamos confusos. Era dia dos namorados?

— Bella, – ele me olhou cauteloso – eu realmente espero que você não tenha comprado nada pra mim, nem planejado nenhuma surpresa. Porque, bem... Me desculpa, mas eu esqueci completamente.

Suspirei com alívio.

— Ai, graças a Deus você também esqueceu! Eu não fazia ideia.

E desse jeitinho funcionávamos bem.

— Essa é a mulher que eu amo! – Ele gritou em direção à rua, dramaticamente forçado.

— Cala boca, Edward.

— Quer ir à praia? – Ele perguntou de súbito.

— Claro. – Devolvi também de forma impensada.

Seriam planos simples se a praia mais perto não ficasse a uma hora de distância.

Apenas colocamos uma garrafa para gelar enquanto preparamos sanduíches e procuramos por uma canga. Felizmente, eu tinha, aos poucos, tomado conta da sua gaveta de meias, onde eu deixava alguns pertences de emergência. Com certeza, uma mulher precavida e praiana como eu, não podia ter deixado de fora um conjunto de biquínis.

Depois de nossos rápidos preparativos, subimos no carro – diga-se de passagem, sem ar-condicionado – e colocamos o pé na estrada.

O dia dos namorados podia não ser de grande relevância para nós, mas acho que esquecemos completamente como era importante para outros casais. Dessa forma, o que era para ser uma viagem de uma hora, se tornou uma hora e meia e depois duas, em trechos em que o carro praticamente nem saia do lugar por minutos a fio.

Estávamos no que parecia ser um forno para ser humanos, embrulhados em uma velha lataria de alumínio. O rádio não funcionava e eu já estava mau humorada, como de praxe.

Edward nunca se abalava, já estava acostumado. Mas também nunca deixava de tentar me distrair. Suas tentativas geralmente eram tão esdrúxulas, que acabavam por funcionar.

Eu balançava minha perna, impaciente, e tampava o sol no rosto com a mão, bufando de tédio e de calor.

— Isabella, não se irrite... Nunca ouviu dizer que o importante é a viagem e não o destino? – Ele disse com afetação forçada, batendo no volante para causar um impacto forjado. Ele era extremamente debochado e ria de si mesmo, pois sabia que era tosco.

O pior de tudo era que eu ria também, porque nosso senso de humor era completamente ridículo.

Ele então começou a tamborilar os dedos no volante e murmurar uma melodia conhecida. Porém, não conseguia identificar qual era.

— Que música é essa? – Me virei para ele, já distraída do calor.

— Aquela que você sempre canta. – Ele voltou a murmurar.

— AH! Você tá cantando Taylor Swift?

— Isso mesmo! Lembrei, só esqueci o nome.

— Paper rings. – Informei e comecei a acompanhar seus murmúrios descoordenados, não era à toa que eu tinha demorado para reconhecer. – I like shiny things, but I’d marry you with paper rings, aham! That’s right! Darling, YOU’RE THE ONE I WANT!

O trânsito retomou o seu fluxo normal e fomos berrando a letra da música até chegarmos à praia. Ao final da viagem – que acabou por ser rápida, já que estávamos muito empolgados – Edward já sabia toda a letra da música.

Estávamos vermelhos, roucos e muito felizes. Mesmo quando ele não conseguiu encontrar uma vaga, seguimos cantando alto e assustando as pessoas ao nosso redor.

— I hate accidents except when we went from friends to this – gritamos pela milésima vez. – AHAM, THAT’S RIGHT! D-A-R-L-I-N-G, YOU’RE THE ONE I WANT! – Sempre que cantávamos essa parte, apontávamos um para o outro, numa breguice sem fim.

Quando, por fim, surgiu uma vaga, o céu parecia estar escurecendo. E com o sol por trás das nuvens, o dia antes quente, se tornou frio. Ainda mais na beira da praia.

Estava ventando bastante e ele protegia meus olhos da areia com suas mãos, enquanto se esforçava para ver o caminho por nós dois. Geralmente, eu reclamava dos seus gestos exagerados de cuidados comigo, mas às vezes era bom demais ser protegida por ele para protestar.

Assentamos nossos poucos pertences na areia e fomos mergulhar para tirar o suor do corpo. A praia estava mais cheia do que de costume devido à data, portanto passamos pelas pessoas e seus guarda-sóis não sem uma certa dificuldade.

Por sua vez, o mar estava revolto e gelado. Eu arrastei um Edward sem coragem para dentro, até ele se acostumar com a temperatura. Não demorou para que começássemos uma guerra, jogando água um no outro. Também não demorou muito para que outros casais começassem a nos olhar de cara feia quando o vento começou a espalhar água neles.

Suprimimos um riso e saímos do mar quando as caretas se tornaram excessivas.

— Você viu a cara feia que o cara da cueca de oncinha estava fazendo pra gente?

— O quê? Ele estava usando uma cueca de oncinha? – Eu não tinha reparado.

Edward riu escandalosamente.

— Não, era brincadeira. – Ele fazia piadas que só tinham graça para si mesmo. No entanto, eu acabava por me juntar a ele, pois as piadas eram horríveis e descabidas, mas a sua risada era engraçada.

— Isabella, nossas coisas. – Ele observou. – Eu não tô vendo.

— Para, Edward. Minha barriga já tá doendo, eu não quero fazer xixi. Não me faz rir.

— Não, é sério. Olha, – ele apontou para onde a canga vermelha deveria estar – sumiram.

 Ele incrivelmente falava sério.

— Puta merda, Edward! Nossos sanduíches naturais!

— Porra, Bella! Nossos telefones!

— Edward, a gente não trouxe telefones!

Ele suspirou aliviado.

— Ah, é verdade.

Naquela altura, estava ventando muito e um borrão vermelho passou na nossa frente.

— A canga! – Eu apontei. – Edward, não fica parado aí! Ela tá voando.

Ele então percebeu que ia sobrar pra ele correr atrás, enquanto eu esperei cobrindo meus olhos para me proteger da areia que batia no meu rosto com violência.

Alguns minutos depois, ele retornou, vitorioso, com os braços estendidos mostrando o tecido vermelho como um troféu.

— Meu herói! Boa, amorzinho.

— Nossa, você nunca me chama de “amorzinho”. Que brega, Isabella.

Beijei sua bochecha, porque para mim mais valia uma implicância disfarçada de elogio do que o elogio em si.

— E os sanduíches?

— Provavelmente levaram. O que você esperava? Que os sanduíches estivessem embrulhados aqui?

— Eu tinha uma esperança.

Ele desamassou o tecido e, para a nossa surpresa, o pacote de guardanapos, de alguma maneira, ainda estava ali.

— Pelo menos sobrou alguma coisa. – Ele deu de ombros.

Era realmente mais do que podíamos esperar.

Forramos a canga novamente numa parte menos disputada da areia e descansamos, sem nenhuma água para beber.

Todo o dia até aquele momento havia sido um fiasco. Recapitulei mentalmente os eventos desde o passeio com os cachorros até as horas de engarrafamento no sol e a perda dos nossos sanduíches. Mas, mesmo assim, eu tinha me divertido, cantado até ficar rouca e gargalhado até a barriga doer. Minhas bochechas ainda estavam doloridas e eu aceitava essa pequena fadiga muscular facial de bom grado.

Fui além e puxei na minha memória todos os sucessivos eventos que eram para ser desastrosos, mas que com ele se tornavam uma história engraçada para se contar. E em todos esses cinco anos, como eu era amada e respeitada com toda intensidade do mundo.

E como eu amava todos os seus trejeitos, sorrisos de deixar os olhos pequenos e piadas ruins. Como eu queria ter uma casa com sinos que ressoassem ao vento e fotos bregas de casal emolduradas em porta-retratos, com as lembranças de dias conturbados e especiais.

Naquele momento, sem pôr-do-sol romântico, apenas uma tempestade de areia e uma mão grudada na sua e a outra no pacote de guardanapos, percebi que me casaria com ele mesmo com anéis de papel. Ainda que eu gostasse de coisas brilhantes.

 E era isso que eu iria fazer, pois apesar de todas as minhas inseguranças, sabia que ele sentia o mesmo.

Então, improvisei com alguns guardanapos feios anéis de papel.

Edward me olhava com um sorriso divertido e um olhar confuso.

Ofereci um para ele e perguntei:

— Edward Cullen, você aceita se casar comigo? – E do nosso modo habitualmente espontâneo, ele respondeu:

— Aceito.

Então coloquei no dedo apropriado o anel de papel, que ao contrário do nosso amor, era efêmero e se desmanchou antes mesmo de se estabelecer em seu lugar.

E colamos nossos lábios salgados de mar e areia, num beijo embaraçado e com participação especial do meu cabelo, um beijo que era totalmente a nossa cara.

Mesmo de olhos fechados, conseguia sentir o seu sorriso de apertar os olhos e soube que tudo estava na mais perfeita ordem caótica que eramos nós dois.

 


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Notas finais do capítulo

Música "paper rings" da Taylor Swift



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