When You Look Me In The Eyes escrita por Gray


Capítulo 2
Capítulo Único




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Hoje é dia 14 de fevereiro, também conhecido como Dia dos Namorados. Mas para minha família será conhecido a partir de agora, como o dia em que a filha caçula se casou com o garoto prodígio.

Hoje é a festa de casamento da minha irmã Ginny com o meu melhor amigo, Harry Potter.

Você deve estar se perguntando se eu não estou puto com essa reviravolta em minha vida, mas na verdade eu estou bem feliz. Estaria mentindo se eu dissesse que sempre apoiei esse romance. No começou eu quase matei o Harry.

Mas ainda bem que na época eu tinha uma excelente amiga que me fez abrir os olhos para enxergar que o Harry era o melhor para a Ginny — depois de tanto sofrimento que essa garota já passou — e vice versa.

Agora você deve estar se perguntando quem é essa amiga que colocou sanidade em minha mente. Pois eu te digo que ela é a sempre brilhante Hermione Granger.

Mione fazia parte da minha "gangue" com o Harry por todo o período em que estudamos na Hogwarts School. Éramos conhecidos pelos corredores como o Trio de Ouro.

Nunca entendi o motivo desse apelido, já que de ouro não tínhamos nada. Toda semana era uma detenção diferente e se não fosse pela boa lábia de Mione, teríamos sido expulsos da escola no primeiro ano.

Mas bem, o objetivo desse monólogo todo é que eu havia brigado com Hermione logo quando saímos do ensino médio.

O motivo? Mione havia começado um namoro com Viktor Krum, um aluno intercambista da Bulgária e bem, ele não era confiável.

Pelo menos eu não o achava confiável, existia alguma coisa nele que não era boa. Ele tinha uma aura muito esquisita. Enfim, o resultado, foi que no nosso baile de formatura eu resolvi conversar com ela e explicar o que eu sentia em relação ao namoro precoce dos dois e ela quase faltou jogar uma taça de champanhe na minha cabeça.

Minha irmã acabou conversando com ela, e segundo Hermione: — pelas palavras de Ginny — "Eu não tinha o direto de fazer isso com ela, não depois de anos agindo como se nós fossemos apenas amigos"

E bem, depois dessa declaração, Ginny e Harry passaram o dia todo acabando com a minha raça e eu finalmente percebi o que estava bem na minha frente: Hermione gostava de mim e eu dela, mas já era tarde demais para um nós.

Após a formatura ela e Krum realmente acabaram terminando, — ele precisou voltar pra Bulgária, mas ela não quis acompanhá-lo — e Hermione se mudou para a Irlanda para fazer a faculdade de jornalismo e quebrou todo o tipo de contato comigo.

Eu tentei ir atrás dela, telefonei, mandei mensagens, cartas, sinais de fumaça... Cheguei até mesmo a ir até a Dublin, passei o dia todo esperando ela passar em frente da faculdade, mas alguém a avisou e ela me deixou lá plantado.

Agora, quase 5 anos depois, ela está aqui.

No jardim da minha casa, o vestido verde claro das madrinhas, os cabelos castanhos e cheios presos em um coque simples. Sorrindo para todas as pessoas que a cumprimentam, uma covinha aparecendo toda vez que sorria, mais linda do que eu me lembrava.

Essa era a minha chance de conversar com ela, a última chance. E dessa vez eu seria um homem de verdade e não uma batata.

XXX

— Ron! Onde você estava? — minha mãe se aproximou de mim, as mãos estendidas para alisar meu paletó. — Parece que um caminhão passou por cima de você.. Olha isso! Todo amarrotado...

A sra. Weasley começou a bater a palma da mão em minha bunda, retirando o pó que não existia.

— Mãe! — reclamei, afastando sua mão de perto de mim. — Por Merlin, tá todo mundo olhando!

Ela olhou ao nosso redor, apenas Xenofílio Lovegood olhava em nossa direção, seu olhar vendo através de nós.

Apesar de excêntrico, Lovegood era um bom homem. Ele e a filha, Luna eram amigos da família de longa data.

— Ron, eu não queria forçar as coisas... Mas, quando você pretende conversar com a Hermione? — minha mãe perguntou roendo as unhas.

Olhei para ela, minhas orelhas claramente vermelhas de vergonha.

Era óbvio que eu não iria conseguir esconder por muito tempo meus sentimentos por Hermione... Minha mãe foi a primeira a saber, depois de Ginny e os gêmeos.

— Agora não é a melhor hora mãe... Vou falar com ela na festa. Agora é o momento da Ginny e do Harry.

Dizendo isso a cerimonialista apareceu, informando que a noiva já estava chegando e logo daríamos início a cerimônia. Consegui escapar de mamãe e fui para perto de Harry.

Ele estava abraçando com alguém, que logo identifiquei como sendo Luna. Seu noivo Rolf Scamander estava em pé ao seu lado, esperando ela terminar de sussurrar algo para Harry.

Me aproximei deles e dei um breve aceno para Rolf. Luna se afastou de Harry e deu um beijo em sua bochecha, se juntando a Rolf e caminhando despreocupada até onde a cerimonialista estava.

— Está tudo bem cara? — perguntei colocando meu braço sobre o ombro dele e apertando seu braço com a outra mão.

— Eu tô uma pilha de nervos! Conversar com Luna me deixou mais apavorado ainda... — ele respondeu passando as mãos no rosto, o óculos de armação redonda quase caindo de seu rosto.

— O que a Lovegood te falou? — perguntei soltando seu ombro e ajeitando o pequeno arranjo de flores brancas no bolso de seu paletó.

— Algo relacionado a 'zonzóbulos'... — ele passou a mão na calça, limpando o suor da mesma. — Como estou?

— Harry, relaxa. Tá tudo certo. — o tranquilizei apertando seus ombros.

Ele respirou fundo passando a mão mais uma vez em seu rosto. Ele não parava de se balançar, seus pés se movendo sem parar.

— Harry, arrumei um copo de água pra você... — uma voz clara e melodiosa falou atrás de mim.

Um arrepio passou por minha espinha e meu corpo paralisou. Me virei devagar, desde que ela havia chegado eu não a tinha visto tão perto de mim como agora.

Hermione estava paralisada, a mão segurando um copo de vidro com a água de Harry. Pude ver ele se mexendo em meu campo de visão, mas mesmo assim tudo ao meu redor estava embaçado.

Uma única pessoa permanecia nítida.

Se de longe Hermione estava linda, de perto ela estava deslumbrante. O vestido verde se destacando em sua pele morena, a maquiagem suave e quase imperceptível em seu rosto. Seus olhos castanhos se prenderam aos meus e por uma fração de segundo, pareceram não piscar.

— Obrigada Mione! — Harry cortou o clima, pegando o copo das mãos da morena e tomando a água em um gole só.

— Oi Hermione... — falei meio sem jeito. Eu precisava conversar com ela de alguma forma e seria estranho entrar com ela ao meu lado durante a cerimônia sem nem ter trocado uma palavra com ela antes.

— Oi Rony. — ela me respondeu me dando um sorriso discreto.

— Hermione, nós... — comecei a falar, mas a cerimonialista apareceu, nos orientando para formar a fila que a cerimônia ia começar.

XXX

Minha mãe e Harry estavam liderando a fila. Talvez seja estranho a sogra entrar com o genro na cerimônia, mas foi um pedido de Harry.

Ele havia perdido os pais em um acidente quando era bebê e a guarda ficou com seu padrinho Sirius e seu noivo na época, Remus.

Depois que nos conhecemos no ensino fundamental e minha mãe conheceu sua história, dona Molly meio que adotou o Harry como filho.

Sirius e Remus ficaram muito felizes com ajuda de minha mãe e apesar dos protestos dramáticos de Sirius, ele achou muito significativo Harry pedir para que minha mãe entrasse com ele, representando sua mãe biológica.

Logo após eles dois, estavam um casal de cada lado dos noivos: Fleur e Bill, Dean e Seamus, Luna e Rolf, Neville e Hannah, eu e Hermione.

Nós vínhamos por último pois, além de padrinho do lado de minha irmã, eu também era melhor amigo de Harry e Hermione estava como amiga de Harry.

A cerimonialista deu o comando e logo a fila começou a andar, uma música suave tocando ao fundo como trilha sonora.

Hermione enganchou o braço ao meu e apesar da roupa, pude sentir seu toque queimar em minha pele.

Lancei um olhar para ela, que olhava fixamente para frente concentrada, acompanhando os casais entrarem antes de nós.

— Mione? — senti o gosto de falar seu apelido dançando em minha boca, fazia muito tempo que eu não falava isso em voz alta. Seu rosto virou imediatamente para mim, pude ver um rápido brilho passando por seus olhos.

Uma surpresa por eu chamá-la pelo apelido, talvez?

— Sim Ron? — ela respondeu, olhando brevemente para mim e desviando o olhar para mirar o pequeno buquê de rosas brancas em suas mãos.

— Podemos conversar depois? — soltei em um suspiro. Meus ombros ficaram tensos enquanto aguardava sua resposta.

Começamos a caminhar pelo corredor, os convidados sentados nos olhando e eu fui obrigado a sorrir também, lançando alguns acenos com a cabeça para as pessoas que me cumprimentavam.

Hermione fazia o mesmo do outro lado e a demorar para me responder comendo minhas entranhas.

O corredor acabou e precisamos nos separar, cada um assumindo seu posto na formação do altar: eu ao lado do noivo, Mione ao lado das madrinhas da noiva.

Um segundo antes de nos separarmos, Mione lançou um "Me encontre perto da mesa do bolo quando acabarmos aqui." Ela falou tão rápido e baixo que quase não escutei, por meio segundo fiquei parado no meio da ação antes dela me lançar um olhar de aviso para sair do caminho.

Me direcionei para o espaço vago ao lado de meu melhor amigo, que estava incrivelmente mais inquieto que o normal e apertava a cada dois segundos suas mãos uma nas outras.

Não demorou até que a porta no início do corredor se fechasse e a música fosse trocada. Minha mãe sentada na primeira fileira de cadeiras começou a chorar, Fred precisou passar um lenço para que ela enxugasse as lágrimas.

Olhei para onde Hermione estava ao lado de Luna, que estava se balançando em um ritmo esquisito, os pensamento em qualquer outro lugar menos ali.

Mione pegou um lenço e passou perto do canto dos olhos, enxugando algumas lágrimas. Eu deveria estar olhando para ela descaradamente, já que ela olhou em minha direção assim que guardou seu lenço.

Lancei um pequeno sorriso para ela que me retribuiu com um sorriso constrangido por ter sido pega chorando.

A marcha nupcial se iniciou, fazendo Harry ficar empertigado em seu lugar, o olhar concentrado na porta branca fixada no meio do nosso jardim.

Um carro preto estacionou perto do "portal" improvisado, a porta do carro se abrindo logo em seguida. Meu pai já estava posicionado para levar sua caçula para o altar. As pessoas mais próximas lançaram exclamações de surpresa, deixando Harry ainda mais ansioso.

O carro preto saiu e a cerimonialista se posicionou em uma das portas, sua ajudante na outra e sincronizadas, elas abriram a porta pesada, revelando a noiva mais linda que eu já tive o prazer de ver.

Ginny estava linda, usava um vestido branco meio creme, — eu não faço ideia de como se chama essa cor, mas acho que ouvi ela comentando com Fleur de algo parecido como "off white" — os cabelos presos em um coque bagunçado, alguns fios ruivos escapando e emoldurando seu rosto pequeno e cheio de sardas.

Olhei para meu meu amigo e eu adoraria ter uma máquina fotográfica nesse exato momento para registrar sua reação ao ver Ginny. Ele estava claramente chorando, as mãos tampando sua boca escancarada em pura admiração.

Olhei para os convidados, todos de pé, alguns chorando e outros boquiabertos demais para chorar, admirando a pequena Weasley caminhando com meu pai, que chorava copiosamente.

Sirius e Remus também choravam de onde estavam, ao lado de minha mãe, o rosto vermelho e os olhos inchados.

Papai e Ginny chegaram perto do pequeno altar e eu precisei dar um cutucão em Harry para que ele pudesse ir até eles e cumprimentar meu pai.

Harry abraçou meu pai brevemente e deu um rápido beijo na testa de Ginny, antes de se colocar ao seu lado e juntos, se aproximarem de Hagrid para que ele desse início a cerimônia.

XXX

Aproximadamente 40 minutos depois, estávamos enfileirados aguardando Ginny e Harry passar pelo corredor de padrinhos para que pudéssemos jogar as pétalas de lírios.

Jogar pétalas de lírios nos noivos foi uma ideia de Sirius, um tributo a mãe de Harry já que o nome dela era em homenagem a delicada flor.

Após uma sessão interminável de fotos com os noivos, os padrinhos foram finalmente liberados para a festa.

Caminhei diretamente para a mesa de bebidas, pegando uma taça do quer que fosse aquele líquido rosé e o entornando de uma vez só. Olhei para os convidados, metade deles sendo da nossa família. Perto da mesa do bolo, pude ver a pequena Victorie correndo atrás de Teddy Lupin, que segurava sua tiara de daminha.

Se você está se perguntando porque esse garoto tem o mesmo sobrenome de Remus, aí vai uma rápida explicação: Sirius tem uma prima que queria ser mãe, mas não queria se casar pra isso; Remus queria um filho; Sirius apresentou os dois e assim nasceu Teddy Tonks-Lupin. Fim da história.

Estava distraído vendo Dora parar o filho de correr e uma Fleur tentando acalmar a pequena criança de cachos loiros em seu colo e nem me atentei a uma figura alta e morena se aproximando de mim na mesa das bebidas.

— Será que é errado torcer para que duas crianças se tornem um casal quando forem mais velhas? — ela soprou perto do meu ouvido, me fazendo dar um salto e quase derrubar minha taça no chão.

— Você está falando da minha sobrinha? — perguntei a ela, pousando a taça na mesa e olhando na direção da pequena Weasley. — Bem, se você não contar nada pro Bill, então eu posso concordar com você. Weasley e Tonks virando a família mais numerosa de toda a Inglaterra.

Hermione riu com o meu comentário, bebericando o líquido rosé que eu havia bebido a pouco.

— Então... Como está a vida na Irlanda? — puxei assunto falando a primeira coisa que passou na minha cabeça. Eu queria iniciar a conversa de outra forma, mas seria estranho demais iniciar a conversa com alguém que eu não via há tantos anos com um "e aí, desculpe a demora mas eu te amo" ?

Mione colocou a taça vazia de volta na mesa e pigarreou antes de me responder, me deixando apreensivo com seus movimentos calmos e contidos.

— Está sendo legal Ron. Eu me adaptei rápido por incrível que pareça... Arrumei um estágio na filial do Profeta nos primeiros meses de faculdade e depois que me graduei eles me chamaram para assumir uma coluna. — ela comentou modesta, dando de ombros ao terminar a frase.

— Que bom Mione... Eu realmente não esperava nada menos do que um futuro promissor pra você. — elogiei, mas aparentemente meu tom foi meio irônico, pois percebi ela se empertigando e pude sentir uma réplica bem feita dançando em seus lábios. Fui mais rápido. — Quer dizer, você sempre foi muito bom em tudo o que fazia e eu sempre soube que iria conseguir tudo o que sempre desejasse.

Ela pareceu baixar a guarda ao ouvir minha retratação e relaxou os ombros. Suspirei aliviado.

— Hermione, eu... — tomei coragem para começar a conversa de verdade, mas fui interrompido por um furacão ruivo, que entrou no meio de nós dois e desatou a falar com Hermione, a arrastando logo em seguida.

Não entendi o que a minha mãe estava fazendo, ela simplesmente apareceu e arrastou Mione para conhecer o resto da família, me interrompendo a conversa que poderia ser a mais importante da minha vida.

Eu não consigo entender dona Molly Weasley, uma hora ela estava me questionando quando eu falaria sobre meus sentimentos com Hermione e depois ela estava a arrastando pelos cantos, cortando nosso momento.

XXX

Passei o restante da festa sendo afastado de Hermione.

Alguém lá em cima estava de complô contra mim, pois durante a festa inteira alguém aparecia para nos interromper e ou tirar Mione para dançar ou me puxar para conversar com algum parente que eu não via a anos.

A festa já estava nos finalmente, a cerimonialista já havia avisado que o bolo seria servido em alguns minutos e logo os convidados começariam a ir embora também.

Estava em pé perto da mesa onde os convidados deixaram os presentes, uma taça de espumante na mão, pensando em sabe Merlin o que, quando dedos frios e finos agarraram meu braço. Me puxando na direção contrária da festa.

Já estava pronto para xingar quem quer fosse a pessoa quando olhei para o "sequestrador" e parei no meio de um suspiro.

Hermione estava agarrando meu braço com força, seu rosto sem nenhuma expressão detectada.

— Mas o que...? — sussurrei enquanto ela me levava para longe da festa, as luzes ficando mais longe na medida em que nos afastávamos do jardim e ficávamos mais perto da casa.

— Eu to cansada de ser interrompida pelas pessoas e me corroendo de curiosidade pra descobrir o que raios você quer tanto falar pra mim Ronald! — ela esbravejou, caminhando para trás do casebre onde meu pai guardava as ferramentas.

Ela me empurrou para dentro do casebre, me fazendo tropeçar nos meus próprios pés e fechou a porta atrás de si.

O lugar ficou um breu, nenhuma luz iluminando o ambiente. Limpei a garganta ante de falar, meus olhos sem enxergar um palmo diante de mim.

— Er... Você quer conversar no escuro...? — fiz a pergunta, sabendo que ela era idiota. Antes de ouvir sua resposta, comecei a passar a mão acima da minha cabeça, procurando a cordinha que acendia a luz do lugar.

— Mas é claro que não. Acende logo essa... — ela começou a reclamar, me arrancando um sorriso.

Ela odiava quando faziam perguntas óbvias demais para ela. Encontrei a cordinha e a puxei no mesmo segundo em que ela terminava sua frase.

— ... luz. Ah! — uma luz branca e um pouco fraca iluminou o ambiente ao nosso redor. Mione piscou duas vezes, fazendo seus olhos cor de mel se acostumarem com a claridade repentina.

Ela limpou a garganta, olhando ao redor do casebre bem arrumado de meu pai. Havia um pequeno sofá marrom que ele tinha tirado da sala para ajeitar os pés, encostado em um canto, um cortador de grama vermelho bem ao lado.

No balcão de ferramentas, várias caixas de ferro estavam as bertas, ferramentas de todos os tipos brotando de dentro delas. Nas paredes, vários posters antigos de propagandas de brinquedos da Gemialidades Weasley.

— Então...? — ela disse, mudando o peso do corpo para o outro pé.

— Então... Certo... Eu vou direto ao ponto, porque se depender do universo, alguém vai encontrar uma forma de nos interromper de novo e acredite quando eu digo que eu já fui sabotado por tempo demais. Uns 10 anos para ser exato.

Sem perceber, eu estava andando de um lado para o outro pelo casebre, o espaço pequeno demais para minhas pernas muito longas. A cada três passos eu precisava voltar o caminho, o fim do casebre bem diante dos meus olhos e voltava a repetir todo o caminho de novo.

— Hermione, eu sinto muito por ter sido um completo babaca com você nos últimos anos. Ou melhor, por ter sido um babaca por todo o tempo que fomos amigos enquanto você morou aqui. — ela abriu a boca para retrucar, mas eu lancei um olhar para ela e eu não sei o que ela viu neles, pois fechou a boca e piscou duas vezes para mim. Continuei. — Eu estava cego. Pelo que? Eu não fazia ideia na época, mas eu tive tempo suficiente nesses últimos 5 anos para pensar o que eu estive fazendo de errado.

"Acontece que eu estava mentindo para mim mesmo, todo esse tempo. Eu fui um mentiroso de merda e eu me sinto um otário por ter feito isso. Se eu tivesse parado dois segundos inteiros para refletir sobre as minhas atitudes, eu teria percebido. Hermione, eu amo você. Sempre amei. Eu só me dei conta disso quando você começou a namorar aquele búlgaro metido e eu sei que eu não deveria ter percebido isso só quando uma concorrência apareceu, mas fazer o que se inconscientemente eu estava tentando me sabotar?"

Tomei fôlego antes de continuar, a parte mais importante eu já havia falado, mas ainda havia uma ou duas linhas que eu precisava falar a ela. Olhei para a mulher a minha frente, ela havia ficado ereta onde estava. Os braços antes cruzados, agora estava largados ao lado do corpo, uma das mãos em frente ao seus lábios.

Aquilo em seus olhos eram lágrimas?

Puta merda, essa não era a reação que eu estava esperando.

Puxei o ar, me preparando para concluir meu monólogo e sair correndo dali o mais rápido e longe que as minhas pernas suportassem. Eu sei que eu estaria quebrando meu próprio contrato de ser um homem de verdade e assumindo o grande saco de batatas que eu era, mas eu não havia previsto esse tipo de reação de Mione.

— Por fim: eu tentei, juro que tentei ir atrás de você assim que você embarcou naquele maldito avião. Eu fui atrás de você no voo seguinte, eu fiquei horas acampado na frente da seu campus, esperando vocÊ passar... Mas você nunca apareceu. E eu voltei pra casa. Eu deveria ter...

— Espera. O que você disse? — ela me cortou, uma mão estendida para me silenciar. Seu rosto um misto de confusão. — Você foi atrás de mim na Irlanda?

— Sim. Eu peguei um voo no dia seguinte. Eu queria ir na mesma hora, mas não tinha mais voos disponíveis, então eu comprei uma passagem pro outro dia. Eu passei a noite no aeroporto esperando o voo. — respondi, sem entender onde ela queria chegar.

Ela suspirou, seu peito subindo e descendo, como se estivesse difícil de respirar. Franzi a testa. Mas que porra...

— Você acampou do lado de fora da faculdade? Eu não vi você lá.

— Como não viu? Eu estava bem na porta. — falei sem entender.

— Você foi no campus certo? Eu estudei na Trinity College.

— Espera... Você não estudou na University of Dublin? — perguntei confuso. Eu tinha certeza de que era essa faculdade.

— Eu mudei de faculdade um mês antes de ir. Eu lembro de ter comentado pra você e pro Harry antes da gente brigar. — ela disse calma.

Eu não acredito que eu havia me enganado de faculdade. Eu era muito burro mesmo.

— Mas que merda! Eu passei um dia todo congelando na frente da faculdade errada? É claro que você nunca iria aparecer, você tava do outro lado da cidade...!

Ela deu uma risada melodiosa com meu desespero. Olhei para ela sem entender sua reação, minha boca aberta em descrença.

— Você nunca foi bom retenção de informações Ron... — ela explicou, um sorriso brincando em seus lábios. Os olhos cor de mel ainda estavam marejados, mas eu não sabia dizer se as lágrimas eram por ter rido de mim ou porque ela havia ficado emocionada de alguma forma.

— Enfim, independente se eu fiquei plantado no campus certo ou não, a questão é que eu fui atrás de você, eu estava disposto a expor meus sentimentos naquela época e estive disposto por todo esse tempo. Agora que você está aqui eu não poderia deixar essa oportunidade passar e...

Não consegui terminar a frase.

Hermione quebrou a pequena distância que nos separava, segurou meu rosto firmemente com suas mãos macias e juntou nossos lábios com um desespero e uma vontade que eu não sabia que existia dentro dela.

Minhas mãos voaram em direção a sua cintura, minhas palmas circundando sua silhueta, puxando o pequeno corpo para mais perto do meu.

Por Merlin! Por quanto tempo eu sonhei com seus lábios juntos aos meus? Como eu pude sobreviver por tanto tempo sem conhecer o sabor de seus lábios, a textura de seu beijo...?

Não era com nada do que eu já havia experimentado, mas era infinitamente melhor do que todos os outros.

A forma como nossos corpos se encaixavam perfeitamente só me dava mais certeza de que ela era a mulher da minha vida. Como eu pude esperar por tanto tempo pra ter certeza de que era ela?

Suas mãos deixaram meu rosto ao mesmo tempo em que minha língua pediu passagem para entrar em sua boca. Suas mãos pequenas agora puxavam os fios ruivos do meu cabelo, os deixando uma completa zona enquanto minha língua passeava por cada canto de sua boca, sua língua fazendo carinho na minha.

Minhas mãos passeavam pelo seu corpo, seu corpo curvilíneo me deixando louco, a cada centímetro de seu corpo que meus dedos tocavam, ela se jogava para mais perto. Como se quisesse fundir seu corpo ao meu.

Mordi seu lábio inferior quando ela puxou com um pouco mais de força meu cabelo.

Depois do que pareceu uma eternidade, nos separamos sem fôlego, as testas encostadas uma na outra.

— Wow. — foi a única coisa que eu consegui pronunciar, a mais idiota que eu disse nos últimos... 10, 15 minutos? A quanto tempo estávamos nesse casebre?

— Isso é tudo o que você consegue dizer Weasley? — ela provocou, seus olhos me fitando, as pupilas dilatadas.

— Vai parecer clichê e eu sei o quanto você odeia esse tipo de sentimentalismo, mas... Hermione, eu não aguento mais um dia sem você aqui. Você é a luz que faz minha escuridão desaparecer. — sussurrei pra ela, uma mão acariciando sua bochecha e a outra em sua cintura.

Ela me olhou, seus olhos cheio de água de novo. Um sorriso melancólico em seus lábios.

— Você é um romântico muito cafona sabia? — ela riu, uma risada parecida com pequenos sinos — Mas é por causa desse seu humor de quinta que eu me apaixonei por você Ronald Weasley.

Meu coração errou uma batida quando eu ouvi a frase. Fechei os olhos e os abri rápido, temendo estar em um sonho. Ela riu da minha reação e voltou a falar, sua mão subindo para o meu pescoço novamente.

— Não se faça de surpreso Ronald. Depois do que aconteceu nesse casebre é mais do que óbvio que eu também sempre gostei de você e que eu estou disposta a tentar fazer isso dar certo. Eu sempre amei você Ron.

A beijei novamente, não me importando o quão desesperado eu podia parecer. Abracei com tanta força que levantei ela do chão facilmente, suas mãos segurando firmemente meu pescoço para não cair. A girei, fazendo com que ela parasse de me beijar e soltasse uma gargalhada tão alta e sincera, que aqueceu meu coração.

A coloquei de volta no chão, buscando seus lábios mais uma vez. Merlin! Eu poderia morrer beijando seus lábios e não me importaria.

Esperei por esse momento a minha vida inteira e não seria agora que eu a deixaria ir embora.

A puxei para o sofá marrom encostado na parede, eu sabia que ele não iria cair com o nosso peso, pois papai já o havia arrumado a muito tempo, ele só não havia encontrado tempo para o levar de volta para casa.

Me sentei, puxando Hermione para se sentar no meu colo, sua mão agarrando minha gravata e a puxando, desmanchando o nó dela. Minhas mãoS estavam em toda parte de seu corpo. Sentindo-o, explorando, apertando cada centímetro dele e gravando cada pedaço em minha memória.

Hermione se afastou poucos centímetros de mim, apenas para olhar nos meu olhos, um milhão de palavras rodeando a sua cabeça.

Depositei um beijo rápido em seus lábios cheios, fazendo carinho em sua bochecha macia.

— Tudo bem, eu sei que amanhã você vai ter bastante coisa pra me dizer. Vamos só aproveitar esse momento, o aqui e agora.

— Posso ficar a noite toda apenas olhando pra você, Ron. — ela sussurrou, as mãos descendo pelo meu blazer e o retirando.

— Posso me contentar com você chamando meu nome a noite inteira também se não houver nenhum problema... — joguei no ar, minha mão apertando o quadril dela logo em seguida, dando ênfase no que a gente poderia fazer ali.

— Foda-se o quarto. Eu esperei tempo demais por isso. — e dizendo isso, ela se inclinou sobre meus lábios, a urgência palpável entre nós dois.

E bem, o que aconteceu depois vai ficar para uma outra hora. A única coisa que posso adiantar, é que ficamos naquele casebre por um bom tempo, a luz franca acabou se apagando em algum momento, mas pouco nos importamos.

Não era necessária luz em nossa volta, mesmo nunca estando nesse patamar um com o outro, nossos corpos sabiam exatamente onde o outro estava, mesmo no escuro. Nossas mãos sabiam exatamente onde o outro começava e terminava, caminhando sozinhas pela extensão dos nossos corpos, achando os caminhos certos, provocando, brincando, testando.

Não me lembro a hora em que caminhamos para fora daquele casebre, mas certamente me recordo de nunca mais ter saído do lado de Hermione Jean Granger.

 

FIM


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