Love Songs escrita por MStilinski


Capítulo 1
Someone You Loved


Notas iniciais do capítulo

bom, esse é um projeto novo que já estava na minha cabeça porque reparei que escuto muitas músicas românticas haha

a primeira música é: Someone You Loved do Lewis Capaldi.

boa leitura :)



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O local estava cheio. Era um pub bruxo em Hogsmeade, em uma sexta-feira a noite. Havia casais que haviam conseguido uma noite sem os filhos, solteiros a procura de alguém com quem pudessem ter um futuro, outros apenas procurando a próxima pessoa com quem passariam a noite, além de amigos de trabalho relaxando após mais uma semana de trabalho completa. O ambiente estava repleto de vozes animadas e em alguns momentos risadas altas.

Não havia mais medo nas ruas e no rosto das pessoas. Harry Potter havia vencido o Lorde das Trevas há três anos, o mundo bruxo já havia sido reconstruído e todos viviam em paz agora, sem nenhuma ameaça iminente das trevas. Ainda aconteciam no Ministério o julgamento de Comensais da Morte que eram encontrados – muitos fugiram quando Voldemort caiu -, mas, além de entretenimento e justiça, a visão dos antigos leais seguidores do Lorde não assustava mais ninguém.

Harry Potter e seus dois inseparáveis amigos se tornaram celebridades. Passaram anos salvando o mundo bruxo das tentativas imparáveis de Voldemort de retornar e quando ele retornou passaram ainda mais tempo apenas trabalhando e se focando em destruí-lo – o que conseguiram. Eram estrelas e mereciam isso, apesar de nenhum dos três realmente gostar de ser uma celebridade: Harry Potter, o maior astro entre eles, afinal, ele era O Escolhido, era o que menos gostava de todo o poder que tinha; Ronald Weasley gostava do reconhecimento e da fama, mas até mesmo ele já havia encontrado o limite até onde tolerava tudo aquilo; já Hermione Granger, que sempre apenas pensou em proteger os amigos e fazer a coisa certa, usando do seu cérebro brilhante para isso, possuía uma timidez notável, assim como uma falta de paciência para os tabloides de fofocas que adoravam estampar qualquer foto do Trio de Ouro na capa para a notícia mais tola que fosse, usando desse artefato apenas para atrair mais leitores curiosos.

Hermione Granger se encontrava nesse pub. Estava sentada no balcão, um copo de hidromel bem na sua frente praticamente intocado. Usava um vestido na cor azul escura que ia até um pouco antes dos joelhos e realçava o corpo bonito e curvilíneo que ela havia adquirido nos últimos anos ao entrar na vida de jovem adulta; um sobretudo preto descansava no colo junto com uma touca de lã da mesma cor, roupa suficiente para o início do outono britânico que ainda não trazia frio suficiente. Nos pés usava um salto stiletto preto, um tipo de sapato que havia aprendido a usar nos últimos anos – agora ela concordava que usar salto alto realmente trazia uma sensação de poder.

Hermione tinha poder. Era a assistente do Ministro da Magia, Kingsley Shackebolt, e estava sendo treinada para assumir o cargo de mais influência dentro da sociedade bruxa britânica em alguns anos - diante desse cenário, ela precisava se vestir de um jeito mais empoderado e os saltos faziam parte do seu novo visual.

Hermione deu um gole no hidromel, fez uma pequena careta diante do gosto notável de álcool misturado com mel descendo por sua garganta, e então olhou ao redor. Com um suspiro cansado – o dia havia sido longo, muitas tarefas e muitos arquivos lidos – chegou a óbvia conclusão de que tinha chegado cedo demais.

— Granger. – uma voz rouca chamou sua atenção, o dono da voz sentando ao seu lado.

Hermione focou os olhos na figura de Draco Malfoy.

Ele usava um terno preto sob medida, a blusa preta lisa para dentro da calça, o cinto de couro ao redor da cintura, o sapato brilhante, o blazer do terno aberto. O rosto continuava o mesmo de anos antes, quando Draco era apenas um garoto mimado e incompreendido em Hogwarts, a única diferença era a barba loira rente ao rosto, bem cuidada e aparada. O cabelo estava mais curto e não era mais ajeitado para trás com todo aquele gel como nos tempos de escola, apenas mais curto nos lados e alto no centro da cabeça, uma pequena franja caindo na testa. Ele continuava atraente, uma beleza que Hermione sempre admirou, mas nunca admitiu – pelo menos não nos anos em que Draco Malfoy se comportava como um garoto totalmente irritante.

— Malfoy. – Hermione cumprimentou de volta.

Eles se encararam mais alguns instantes, antes de ambos rirem. Quem os observasse não entenderia, principalmente porque era quase de conhecimento público que o famoso trio nunca se entendeu com o herdeiro puro sangue Malfoy.

— Quanto tempo faz? – Draco falou, dando um gole no seu copo de whisky de fogo – Dois anos?

Hermione pensou um pouco.

— Sim, dois anos. Último ano em Hogwarts.

Draco assentiu e a encarou alguns segundos, com o par de olhos cinzas que Hermione, em um certo momento, conheceu muito bem.

— Nunca pensei que te encontraria em um pub. – ele tinha um sorriso discreto e divertido no rosto.

— Nunca pensei que te encontraria em Londres.

Draco riu.

Ouvia falar muito pouco de Draco em Londres. Após o final da guerra, houve a reconstrução de Hogwarts e Hermione voltou para seu último ano, dois anos antes, e Draco Malfoy também. Após a formatura, Hermione começou sua vida no Ministério – onde Harry e Rony já trabalhavam como aurores – e Draco Malfoy se mudou para a Alemanha, onde começou uma vida como medibruxo. Após a guerra a família Malfoy precisou pagar uma multa por ter se aliado ao antigo Lorde das Trevas, mas não foram presos devido ao depoimento de Harry de que Narcisa Malfoy havia mentido para Voldemort e o protegido. Todos eles se mudaram para território alemão e raramente eram vistos em Londres, apesar de Lucio Malfoy ainda ter muitos negócios na cidade – os Malfoy até podiam ter pedido o poder social, mas o econômico estavam muito longe de perderem.

Desde então, desde o dia em que Hermione saiu de Hogwarts como uma mulher formada, ela nunca mais viu Draco, exceto em um breve momento no dia seguinte a formatura deles e em algumas poucas manchetes do Profeta Diário durante os anos.

— Boa resposta. – ele disse – Só fiquei na cidade por hoje. Estamos vendendo a casa. Vim assinar os papéis.

Hermione assentiu.

— Finalmente conseguiu se desfazer da Mansão Malfoy então?

— É. Não havia mais motivos para manter os cuidados com a casa aqui. Não pretendemos mais voltar.

— A Alemanha realmente te conquistou?

— Ah, não. Provavelmente nunca irá. Muito frio, muito gelo, muita neve. – Draco fez uma careta e Hermione riu – Mas já construí uma vida e... Bom, não tenho motivos para desistir de tudo o que tenho lá e vir para Londres.

Eles se encaram um instante sentindo o peso da última frase dele e então ambos beberam de seus drinques como um artefato para evitar o significado por trás daquele olhar.

— E como você está? Assistente do Ministro... Não é pouca coisa. – Draco falou após alguns segundos.

Hermione sorriu.

— Não é. É bem cansativo na verdade. – ela disse – Muito trabalho e Kingsley é bem perfeccionista...

— Tanto quanto você?

Hermione franziu o cenho diante da provocação e Draco apenas manteve o sorriso divertido no rosto.

— Até mais, se quer mesmo saber. –  ela continuou – É muita responsabilidade. Mas estou gostando.

— Então em alguns anos teremos Hermione Granger como Ministra da Magia?

Hermione sentiu seu rosto queimar quando enrubesceu de vergonha; era sempre demais pensar que Kingsley estava a treinando exatamente para aquilo, que confiava em Hermione o suficiente para deixar o mundo bruxo sob seus cuidados.

— Acho que em algum momento sim.

Draco sorriu.

— Você merece.

Hermione sentiu o rosto queimar ainda mais.

— Ser medibruxo também não é fácil. – ela falou.

— Ah, não, não é. Não vou tirar o meu crédito também. – Hermione revirou os olhos e Draco deu uma risada fraca – Mas não se compara com cuidar de milhares de bruxos e tentar manter a ordem no mundo.

— Você realmente não tira a pressão da coisa...

— Ah, qual é. Você não tem problema com esse tipo de pressão, Hermione.

Ela não respondeu imediatamente porque ouvir seu primeiro nome vindo da boca de Draco era algo que ela não escutava há anos, mas sempre parecia diferente, uma novidade arrepiante e, ao mesmo tempo, algo totalmente estranho e proibido. Para ele, falar o primeiro nome dela era quase libertador.

— Talvez. Mas isso ainda vai demorar. – ela disse, de repente se sentindo desconfortável.

Draco apenas assentiu e eles ficaram em silêncio.

O pub ao redor continuava acolhedor e animado com todas as vozes, risadas e pessoas, mas a sensação crescente no estômago de Hermione e de Draco não condizia com o ambiente externo a eles. No subconsciente ambos pareciam chegar à conclusão de que o momento em que a conversa sobre os anos anteriores viria à tona estava cada vez mais próximo e parecia ser inevitável, afinal, era a primeira vez que se viam desde aquele último dia após a formatura. E havia uma certa... história. O tipo de história que não é possível de se ignorar.

Draco pensou que talvez tivesse errado ao vir falar com ela. Já devia ter voltado para casa na tarde dessa sexta, mas não visitava a cidade natal há anos e então simplesmente decidiu passar a noite e acabou chegando a esse pub, onde se encontrou com Blásio Zabini, seu amigo de longa data de Hogwarts e até mesmo da guerra, algumas horas antes. Estava sozinho em uma mesa do canto, um local mais ao fundo do bar, depois de o antigo amigo ter ido embora, quando viu Hermione entrar. Sentiu o frio no estômago no instante em que ela se sentou ao balcão de madeira lustrada do bar, pediu uma bebida e olhou ao redor, suspirando e procurando por algo.

Ela continuava linda. O rosto e o corpo já não eram mais de uma adolescente, mas sim de uma mulher e de uma mulher que emanava poder e liderança. O cabelo não estava mais tão volumoso e agora estava mais curto, um pouco acima dos ombros, a mesma cor de mel de anos antes. Quando Draco a viu, tentou por diversas vezes tirar os olhos dela, mas não conseguiu e então, antes que se desse conta, já havia ficado de pé e estava sentado ao lado dela. E agora ali estava – ao lado dela, sentindo o cheiro doce de baunilha que ela emanava, observando as mãos delicadas dela se contorcerem sobre o colo parecendo nervosa.

O assunto já estava entre eles e ambos sabiam disso.

— Vi no Profeta Diário sobre você e Weasley. Meus parabéns.

Hermione olhou para a própria mão, o anel prateado com alguns brilhantes ao redor de um pequeno diamante arredondado representativo do seu noivado com Rony que havia acontecido há apenas algumas semanas. Ela girou o anel em seu dedo distraidamente, lembrando-se do momento em que o recebeu: Hermione e Rony já moravam juntos desde o final do ano anterior, após mais de seis meses de namoro. Há algumas semanas ela chegou em casa cansada e com uma dor de cabeça explosiva, preparou um banho quando viu que Rony ainda não havia chegado e relaxou na banheira ao lado de uma taça de vinho tinto. Quando saiu do banho, o quarto estava repleto de pétalas de flores e velas que flutuavam pelo cômodo e Rony estava ajoelhado, o anel brilhando ainda na caixa de veludo vermelho. Ele fez a pergunta e Hermione sentiu uma bomba de felicidade explodir em seu peito e pulou nos braços dele repetindo “sim” dezenas de vezes.

— Obrigada. Foi há poucas semanas. – ela respondeu e então levantou os olhos para ele – Você se casou. Também preciso lhe dar os parabéns.

Draco assentiu. O silêncio entre eles nasceu novamente e então ele virou o restante do whisky de fogo e acenou para o homem careca que estava atrás do balcão. O bruxo chegou ali em alguns instantes, serviu o copo de Draco com mais um pouco da bebida alcóolica e se afastou novamente diante de um novo chamado na outra ponta do balcão em formato de meia lua.

— Não imaginei que soubesse disso. – Draco disse, olhando para a própria mão esquerda e observando a aliança dourada e brilhante em seu dedo. – Tem apenas cinco meses.

— Eu soube por Gina.

— Como?

Draco não entendia como Gina Weasley podia saber de seu casamento. Foi há poucos meses, não foi noticiado por jornais britânicos e foi uma cerimônia pequena e intimista, apenas seus pais e os Greengrass, os pais de Astoria – agora sua atual esposa – e alguns amigos muito próximos de ambos. O próprio casamento havia sido reservado, ocorrendo na sala de estar da casa de verão da família de Astoria, em Barcelona. Definitivamente Gina Weasley não estava lá.

— Ela estava cobrindo a Copa Mundial de Quadribol pelo Profeta na Alemanha. Acho que ouviu alguns jornalistas locais comentarem. – Hermione deu de ombros – Então me enviou uma carta e me contou.

— E por quê?

Hermione deu um suspiro frustrada. Não queria falar disso.

— Ela disse que era a minha chance de impedi-lo. – ela disse – Falou que me ajudaria se eu quisesse.

Draco assentiu. Ele não esperava aquilo, não sabia que era algo que havia passado pela cabeça de Hermione.

— E você quis?

Hermione o encarou irritada, perdendo a compostura de antes. Quando se tratava de Draco Malfoy o humor dela parecia flutuar entre extremos, passível de mudança a qualquer segundo.

— É claro que não. Decidimos isso anos atrás.

— Não impedir casamentos?

— Não se envolver na vida um do outro.

Draco maneou a cabeça, concordando e relembrando.

Provavelmente a mesma coisa se passava na cabeça de ambos naquele momento.

O dia seguinte a formatura, bem cedo, o sol havia nascido há poucos minutos. O trem partiria em algumas horas, a última viagem da vida de ambos no Expresso de Hogwarts – seus últimos momentos juntos. Combinaram de se encontrar no Salão Principal e lá estavam, em roupas comuns e expressões frias, como se estivessem a caminho de assinarem um contrato, mas era apenas um disfarce. Sentaram na ponta da mesa da Lufa-Lufa – apesar dos dezenove anos e da bagagem emocional que carregavam, algo que definitivamente mostrava o quão longe eles estavam de serem vistos como crianças, eles ainda sentiam que era uma traição a suas casas sentar na mesa de sua maior rival, um comportamento ironicamente infantil. Alguns poucos raios de sol iluminavam o grande salão, dando um aspecto triste ao lugar.

Depois de um ano letivo de um romance improvável eles tinham que decidir o que fazer. Eram inteligentes e racionais demais para saberem que aquilo, aquele relacionamento, não tinha futuro fora dos portões de Hogwarts. Nenhum dos dois nunca imaginou que eles teriam algum tipo de relacionamento, que dirá um futuro – se anos atrás alguém lhes dissesse que se envolveriam romanticamente eles teriam a mesma reação: desgosto e um pequeno nojo ou então talvez achariam divertido por virem aquilo como algo tão improvável. Mas aconteceu. Um relacionamento nasceu e foi fruto de pesadelos da guerra, noites na Torre de Astronomia em que ambos tentavam organizar a vida pós-queda de Voldemort, conversas simples e no início cheias de provocações e briguinhas infantis, até o momento em que repararam que possuíam algo em comum: estavam quebrados.

Hermione ainda não havia lidado com as perdas e Draco ainda não havia se perdoado por ter ficado ao lado de alguém que deu fim prazerosamente a tantas vidas. Encontraram certo conforto um no outro e de repente tudo mudou. Se ignoravam durante o dia, apenas ocasionalmente trocando olhares divertidos de quem estava aprontando algo, e se encontravam na Torre de Astronomia a noite, onde ficavam deitados juntos olhando para as estrelas, esperando respostas dos céus para a felicidade genuína e confusa que encontraram nos braços um do outro, respostas para o coração tomado de paixão que compartilhavam. Durante as rondas nos corredores de Hogwarts a noite, como Monitora-Chefe, na maioria dos dias Hermione era surpreendida por Draco – ele chegava de repente, a rodava pela cintura e Hermione ria até eles se abraçarem no meio do corredor e trocarem um olhar intenso de alegria por simplesmente estarem um com outro.

Certa vez, em um desses abraços seguidos de beijos calorosos no meio de um dos corredores do segundo andar que Hermione monitorava naquela noite, eles foram pegos pela Diretora McGonagall. Os dois se afastaram ao ouvir alguém limpar a garganta e os olhos cinzas e castanhos se arregalaram juntos ao verem que a própria diretora era quem havia os pegado no flagra – Hermione ficou com medo de ser castigada, algo que manchasse seu histórico perfeito, além de temer que a professora viesse conversar com ela sobre como era perigoso seu envolvimento com o garoto Malfoy, algo que seu subconsciente a alertava constantemente; já Draco apenas temeu que Minerva pensasse que ele queria machucar Hermione e o obrigasse a ficar longe dela, porque as duas opções eram as últimas coisas que ele queria em sua vida naquele momento porque Hermione era a sua única coisa boa.

Contudo, Minerva apenas os encarou alguns instantes e depois assentiu levemente como se compreendesse algo. Talvez tudo aquilo fosse mais óbvio e mais comum para ela do que para o jovem casal. A diretora não disse nada sobre os beijos ou o abraço ou o significado daquilo, apenas mandou que Draco voltasse para o primeiro andar, que era onde ele deveria estar para monitorar os corredores do castelo. Draco se afastou rapidamente e Hermione continuou parada, envergonhada e assustada, mas Minerva apenas disse que não contaria nada a ninguém e Hermione apenas agradeceu.

Até o momento ela ainda era uma das poucas pessoas que sabia do envolvimento deles. Ela e Gina, que ficou sabendo pela própria Hermione ainda na época de Hogwarts, já que a amiga também havia retornado para finalizar seus anos letivos, e Hermione acabou contando tudo a Gina em uma tentativa falha de entender o que sentia. Gina nunca foi contra, mas também nunca apoiou, apenas pediu que Hermione tomasse cuidado e disse que sempre prezaria pela felicidade da amiga. Talvez tenha sido por esse motivo que Gina havia mandado a carta sobre o casamento de Draco – uma chance de Hermione realmente analisar como estaria mais feliz e senão ao lado de Rony que então ela fosse ao encontro de quem a fizesse bem.

Naquela manhã, dois anos antes, após a formatura, com o Grande Salão pouco iluminado e exalando a sensação de tristeza, Hermione e Draco chegaram a uma conclusão. Eles foram felizes juntos durante aqueles meses em Hogwarts, ajudaram tanto um ao outro e aprenderam tanto sobre perdão e tolerância juntos que eles sempre seriam significativos um para o outro. Nunca esqueceriam. Mas não dariam certo fora dali. Ninguém de suas famílias e círculos de amigos os aceitariam e eles contavam com tais pessoas como um ser humano conta com o sol para sobrevivência. Não conseguiriam aceitar a rejeição e raiva que enfrentariam. Além disso, tinham planos futuros planejados e muito distintos – a família de Draco já esperava por ele na Alemanha e Hermione já havia aceitado a oferta de emprego de Kingsley no Ministério da Magia Britânico. Não podiam jogar tudo o que queriam e todos que os amavam para o alto por causa de um amor de meses.

Eles decidiram que tudo acabava ali. Não se veriam mais, não contariam sobre o relacionamento para ninguém, não se envolveriam em nada que fosse relacionado ao outro. Era o melhor, a decisão mais lógica para pessoas tão opostas.

Eles nunca se perguntaram se o amor deles seria maior que tudo aquilo.

— E como vão os preparativos? – Draco cortou o silêncio, o sorriso divertido voltando ao seu rosto novamente, ignorando todos os pensamentos e momentos que haviam passado por sua cabeça nos últimos minutos – Não consigo te imaginar empolgada em escolher que tipo de flor vai enfeitar o local.

Hermione riu, se sentindo aliviada por a tensão entre eles parecer momentaneamente inexistente.

— Bom, uma coisa interessante sobre a assistente do Ministro: ela também pode ter uma assistente. – Hermione falou e foi a vez de Draco rir – Eu dou algumas ideias, ela vai atrás de tudo e me trás as opções e então escolho tudo em menos de um minuto.

— Eficiente como sempre.

— Tempo é uma coisa muito preciosa para se perder, Draco.

Hermione franziu o cenho ao ouvir o nome dele saindo de seus lábios, ao sentir o movimento que sua boca fez ao dizer aquela palavra. Não dizia aquele nome em voz alta há anos, mas já havia pensado nele. Já teve momentos nos últimos anos em que apenas se pegou pensando em Draco, em como ele estaria, se havia conseguido finalmente deixar os fantasmas de seu passado para trás por completo.

— E como você conheceu Astoria? – Hermione perguntou, encarando os olhos cinzentos dele.

Draco deu um pequeno sorriso e encolheu os ombros.

— Eu já a conhecia. – falou – A irmã mais velha dela estudou em Hogwarts nos mesmos anos que nós, mas Astoria só chegou à escola anos depois e eu simplesmente era indiferente a ela porque a via como criança. Durante a guerra os Greengrass se esconderam na Alemanha e quando me mudei para lá nossas famílias se reaproximaram novamente. 

Hermione assentiu e bebeu um pouco do hidromel.

— Weasley parou de te fazer chorar? – ele perguntou.

Hermione encarou Draco, lembrando-se de uma das noites na Torre de Astronomia em que eles dividiram um cobertor e ela o contou que durante anos havia sido apaixonada por Rony. Draco a surpreendeu dizendo que sempre desconfiou e que confirmou suas suspeitas no sexto ano, quando viu Hermione chorando na escadaria segundos depois de ter visto Rony e Lilá entrando em um armário de vassouras.

Draco manteve a expressão neutra diante do olhar dela, da análise que ela fazia tentando entender se ele estava a provocando ou se ele iria falar mal dos Weasley quando, na verdade, ele apenas realmente queria saber se ele a fazia feliz.

Um flash de memórias passou pela cabeça de Hermione de todos os momentos em que Rony a fez rir, em que eles sentaram juntos na varanda da casa onde moravam e fizeram planos para o futuro, quando comemoraram as conquistas que ambos obtiveram nos últimos anos – quando ela pensava nele, só pensava em como ele a fazia se sentir amada e cuidada.

— Sim. Ele me faz bem. – foi tudo o que Hermione respondeu antes de piscar e dizer: - E Astoria? Ela te faz bem?

Como sempre, Hermione soube expressar diretamente o que ela queria saber sem usar de disfarces como Draco sempre fez.

Foi dessa mesma maneira quando eles disseram que se amavam pela primeira vez. Logo depois do jantar, Draco a puxou para trás da estátua de uma gárgula quando Hermione saia do Grande Salão sozinha e ela ficou irritada com ele já que eles estavam muito expostos ali. Draco disse simplesmente que estava a caminho do dormitório e não conseguia parar de pensar nela e então, de repente, ele precisava vê-la, disse que nada mais importava, apenas que ele queria ficar com ela, estar ao lado dela. Ele disse tudo aquilo de uma vez, em um fôlego só, enquanto as palavras – “eu te amo” – rodavam em sua cabeça mais uma vez, como acontecia há dias, e ele não conseguia dizê-las. Hermione sorriu para ele, lhe deu um selinho e sussurrou no ouvido de Draco que o amava também, antes de sair andando apressada, as bochechas vermelhas e queimando, o coração acelerado como nunca tinha acontecido. Draco ficou parado naquele mesmo lugar com uma alegria crescendo em seu peito por minutos, tentando assimilar tudo, até o Professor Slughorn o ver e o mandar “encontrar seu caminho”.

Ela sempre foi direta e disse o que precisava dizer quando tinha certeza e quando precisava. Draco nunca conseguiu se expressar bem o bastante, nunca aprendeu a fazer isso – ele era melhor em guardar tudo para si. Foi por isso que no último dia em que a viu, no dia em que chegaram a uma conclusão final, suas últimas palavras para Hermione foram “se cuide, Granger”, ao invés das três palavras que ele realmente queria dizer.

Draco desviou os olhos de Hermione alguns segundos. Astoria o fazia bem – ela era divertida, séria e fria, como ele, como ambos aprenderam em sua família, um tanto quanto calorosa, tinha um brilho no olhar de ingenuidade que Draco admirava, um brilho de quem não havia sido quebrada na vida ainda. Ela o fazia se sentir bem consigo mesmo, havia lhe ensinado a ser uma pessoa mais esperançosa. Draco se sentia compreendido com Astoria ao seu lado e ele a admirava de tantas maneiras.

— Sim. – foi tudo o que ele respondeu e era verdade. – Nós realmente conseguimos.

— Conseguimos?

— Ficar longe um do outro.

Hermione assentiu, suspirando.

— Na época, eu não pensava que seria possível. – ela disse.

— Eu também não. Mas tomamos a decisão correta.

— Sim, é claro. Tomamos, não é? – Hermione voltou a encará-lo e havia uma pequena e quase imperceptível dúvida em sua voz. Será que eles realmente haviam tomado a decisão correta? Não se pode jogar um grande amor fora de maneira tão fácil e esperar que não sinta a dor.

Draco compartilhava do mesmo sentimento. Ele respondeu com outra pergunta, porque eles nunca saberiam se realmente haviam tomado a decisão certa ou não.

— Você já chegou a pensar no “e se?”

— E se tivéssemos ficado juntos?

Draco assentiu.

— Muitas vezes. E você?

— Mais do que consigo contar.

— Bom, uma coisa eu tenho certeza: se tivéssemos ficados juntos seria um choque para o mundo bruxo inteiro.

Draco riu.

— Iriamos virar capa de revistas. – falou.

Hermione assentiu com um sorriso divertido no rosto.

— Seria a fofoca do ano.

— Provavelmente da década.

— Não iríamos saber lidar com os holofotes.

— Fugiríamos de Londres por isso.

— Provavelmente iríamos para os Estados Unidos.

— Não teríamos nada a perder, minha família iria me odiar e seus amigos iriam ficar com raiva por um bom tempo. – Draco falou e Hermione riu, concordando – Mas seus pais poderiam nos visitar.

— Ah, é. Um lado bom de não saber tanto sobre o mundo bruxo assim. Com o que trabalharíamos então? Tão longe de casa, evitando os jornais.

— Você poderia trabalhar com algo trouxa.

— É, é uma opção. Acho que algo relacionado a livros. E você?

— Ficaria em casa cuidando das crianças.

— Dois filhos.

— Dois filhos? Não acha trabalho demais?

— Sempre achei solitária ser filha única. – Hermione encolheu os ombros.

Draco pareceu concordar.

— Dois filhos. Um menino e uma menina então.

— Poucos anos de diferença. Seriam bons amigos.

— E seriam excepcionalmente lindos. Porque, convenhamos, Granger, eu e você? Somos pessoas muito bonitas.

Os dois se encararam e riram depois de toda a visualização do que eles poderiam ter sido, de como tudo seria agora. Draco bebeu um pouco do whisky e a encarou.

— Seríamos felizes? – perguntou.

Hermione o olhou e o peso de tudo que eles haviam sido caiu sobre os dois novamente. Eles nunca teriam a resposta para o que aconteceria se tivessem decididos ficarem juntos, mas tinham a resposta para algo – haviam se amado e cuidado um do outro de um jeito imensurável, um amor quase de outro mundo. Não se esquecia alguém fácil assim; as estatísticas para se esquecer alguém que lhe marcou de tal forma são quase nulas.

Hermione sorriu para Draco, sabendo que por mais que se passassem anos ela nunca o esqueceria. Sempre se lembraria do rosto dele, do toque, dos beijos, das risadas. Nunca iria apagar isso.

— Completamente felizes. – ela disse.

Draco sorriu de volta.

— É. Seria uma boa vida.

— Seria sim.

Hermione sentiu um vento frio chegar nas suas costas e olhou para trás a tempo de ver a porta do estabelecimento se abrir. Harry e Gina entraram de mãos dadas, a ruiva revirando os olhos e Harry rindo de algo. Logo atrás deles, Rony entrou, dizendo alguma coisa – provavelmente o motivo das reações adversas de Harry e Gina – e então ele tirou a touca preta da cabeça e balançou os cabelos ruivos que ficaram totalmente bagunçados em segundos. Os olhos castanhos dele olharam o pub ao redor ansiosos e então seus olhos se encontraram com os olhos castanhos de Hermione e ela sorriu.

Nunca saberia sobre a sua vida com Draco, mas estava ansiosa para saber de sua vida com Rony.

— Tenho que ir. – ela disse, voltando o olhar para Draco enquanto ficava de pé, pendurando o sobretudo e a touca em um dos braços. – Foi bom ver você.

— Eu sempre vou te amar, Hermione. – ele disse de uma só vez, antes que o tempo deles acabasse outra vez, como havia acabado há dois anos.

Hermione sorriu. Um sorriso sincero, genuíno.

— Eu também sempre vou te amar, Draco.

Eles se encararam mais alguns segundos, cada um decorando cada pedaço um do outro para guardarem para si, porque aquela provavelmente era a última vez que iriam se ver. Se lembrariam daquele encontro casual anos depois, ao observarem as estrelas e lembrarem dos encontros na Torre de Astronomia ou então quando lessem uma matéria minúscula sobre o outro em um canto das páginas do Profeta Diário, seja para anunciar o casamento ou anunciar a chegada do primeiro filho. Sempre se perguntariam se o outro estava bem. Se haviam tomado a decisão certa. Se perguntariam sobre o próprio “e se?”.

Nunca teriam uma resposta.

Hermione se afastou e foi para perto dos amigos. Cumprimentou Harry e Gina com um abraço – a última, sendo mais atenta que os dois homens, havia notado o homem com quem Hermione falava e perguntaria isso a ela no dia seguinte, em um almoço animado e barulhento n’A Toca – e então cumprimentou o noivo com um beijo e logo focou sua atenção na piada que Rony contava e que ele prometia ser hilária.

Draco deixou alguns galeões no balcão e virou o restante do whisky. Lançou um rápido olhar para os dois casais e viu Hermione com um sorriso antes de dar um beijo no noivo e seu olhar se encontrou alguns segundos com o de Gina Weasley e ele soube que ela havia o reconhecido e que Hermione ouviria perguntas sobre isso assim que possível.

Quando ele chegou à porta do local, os casais já estavam se acomodando em uma mesa no canto do pub. Draco pegou o seu sobretudo preto que estava em um cabideiro ao lado da porta e o vestiu, pronto para ir para casa, em um país próximo e mais frio, e pronto para ver sua esposa novamente, para se sentir bem e feliz ao lado dela pelos anos que lhes restavam.

Ele olhou para trás.

Os olhos cinzas e castanhos se encontraram uma última vez.


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Notas finais do capítulo

espero que gostem!



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