Um eterno déjà-vu escrita por WinnieCooper, Anny Andrade


Capítulo 6
Décimo quarto dia


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos. Obrigada por aparecerem por aqui. Vamos lá ver nosso Scorpius reparar nos detalhes...



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Ele terminou seu banho e reparou que Albus havia acabado de acordar. Não precisava perguntar a ele dessa vez que dia era aquele. Sabia que era quinta. Desta forma se arrumou sem pressa e foi em direção ao café da manhã sozinho. Andou pelo corredor em que Frei Gorducho estava fazendo sua caminhada matinal e no último instante desviou não o atravessando.

— Bom dia Frei. – ele lhe cumprimentou e o fantasma o encarou sorridente.

— Bom dia jovem.

Começou a observar ele sair de perto flutuando e a voz de Dumbledore ao fundo veio lhe relembrar.

“A resposta está nos detalhes”.

— Frei... – o chamou chegando mais perto do fantasma. – Nunca parei para lhe escutar. Como virou um fantasma?

E o Frei lhe contou, que havia nascido há muitos anos atrás. Que havia dedicado sua vida a igreja e as pessoas com doenças. Tinha virado Frei e fazia milagres curando as pessoas com lepra com um pedaço de pau, mas os clérigos suspeitaram de si e mandaram o executar. Não conseguiu se tornar um cardeal, por isso seu assunto inacabado era voltado à religião. Retornou a Hogwarts e permaneceu como fantasma da Lufa-lufa todos esses anos.  Gostava de ouvir os estudantes e passar palavras de conforto e lições que havia aprendido durante todos aqueles anos, por isso era o fantasma mais querido do castelo, como Rose adorava lhe lembrar todos aqueles dias.

Scorpius havia gostado de conversar com ele. Sentiu-se leve e que estava parando, como era mesmo a palavra que Rose sempre lhe dirigia? De ser prepotente sem forçar. Apenas prestando atenção nos detalhes.

E foi pensando nos detalhes que chegou a mesa de café e reparou em Rose. Ela já estava sentada lá comendo. Tinha as bochechas rosadas, os lábios secos pelo inverno, seus cabelos esvoaçantes como nos dias anteriores. Mas ele não conseguia a olhar sem se lembrar de tudo o que viveram. Como queria que ela se lembrasse. Ela não lembraria, mas ele jamais se esqueceria daquele primeiro beijo deles. Por mais que viessem outros. O primeiro beijo que Rose lhe entregou porque quis.

— Bom Dia. - Sentou-se ao lado da garota. – estou um pouco atrasado hoje. Ela não havia encontrado o Frei chorando no dia, por isso havia chegado mais cedo que ele no café.

Não demorou muito para Lily aparecer questionando sobre se queriam apostar. Ele sabia o resultado e teve uma ideia. Não precisava de dinheiro, nunca tinha precisado. Sua família tinha boas condições financeiras.

Apostou certeiro. Iria ganhar com toda certeza.

— Lily minha aposta é em nome dos Elfos. Seu eu ganhar pode entregar tudo a eles, como um presente. – Scorpius acrescentou. – Mas sem dizer que fui eu. Combinado?

 A Potter mais nova achou aquilo muito estranho. Primeiro a aposta e depois o pedido, mas os ganhadores faziam o que queriam com o dinheiro deles. Ela apenas acenou afirmativamente.

— Você está bem? – Albus questionou estranhando o amigo que odeia quintas ter aparecido no café da manhã tão harmonioso.

— Surpreendentemente estou. – Começou a comer, e apesar de saber que chegaria atrasado para a aula de adivinhação não poderia perder a parte do dia que envolvia Lysander.

Estava debruçado em cima de panquecas cobertas com melaço quando voltou a olhar para Rose. A garota o analisava minuciosamente.

— Hei Rose, poderia avisar a professora que vou me atrasar, por que cheguei tarde para o café? – Scorpius impulsivamente segurou na mão da amiga apertando com força ao final da frase.

Rose ficou com as faces ainda mais vermelhas.

— Eu aviso. – Se levantou e foi para aula, mas antes olhou para trás tentando confirmar que era mesmo Scorpius e que ele realmente estava ali.

O sonserino resolveu aproveitar o que os elfos tinham oferecido de café, e provou um pouco de tudo. E só depois olhando o relógio e sabendo que encontraria Lysander no corredor, começou a andar em direção a sala de adivinhação.

— Bom dia Lysander. – cumprimentou o jovem quando viu que estava ao lado dele. – Não acha que estou com vários zonzóbulos em volta de minha cabeça?

O garoto olhou estranhando a fala dele, nunca tinha falando de zonzóbulos para ele.

— Sim, e eles são perigosos, podem entrar em sua cabeça e embaralhar seu cérebro. – comentou com ele.

— Me explique mais sobre esses seres, estou curioso. Minha áurea está verde?

— São seres invisíveis, só consigo enxerga-los por causa desses óculos. – então ele mostrou a Scorpius o óculos que carregava consigo. Era como se fosse um olho com longos cílios. – E sua áurea não está verde.

— Não? – perguntou estranhando. – É claro que ela está verde. Me diz isso todos os dias.

— Se ela estivesse verde eu teria que me limpar agora. Não é muito bom uma áurea verde. Significa várias coisas carregadas. Sua áurea está azul.

— Azul? – Scorpius não podia acreditar, depois de várias dias iguais, algo diferente estava acontecendo.

— Áurea azul significa autoconfiança, paz interior e capacidade de resolver seus problemas.

O sonserino começou a pensar consigo mesmo, depois de dias sua áurea indicava que ele estava bem consigo mesmo, isso significava alguma mudança? Ou seria o fato dele ter começado a reparar nos detalhes de seu dia e estar o vivendo completamente?

— Obrigado Lysander. Amanhã a gente conversa novamente.

— Sempre que quiser.

E ele começou a andar longe dele em direção à sala. Sentia-se cada vez mais leve e o fato de sua áurea estar azul significava que estava fazendo tudo certo. Dias atrás ele não acreditava em nenhuma palavra do Scamander esquisito, agora estava era feliz em saber de sua áurea azul.

— Com licença professora.

Ele entrou na aula assim que Trelawney permitiu e se encaminhou para perto dos amigos. Olhou para a lousa e viu que ela já havia escrito o tema da redação e a data.

— Não leu sua borra de café.

— Eu sei que dará uma lua. Significa mudanças. – respondeu a Rose, a amiga o olhou cada vez mais intrigada com as atitudes dele.

— Você! Chegou atrasado! Beba seu café para ver qual é sua borra para fazer sua redação. – era a professora ao seu lado. Ele obedeceu e entregou a xícara a ela sem curiosidade para saber novamente que teria uma lua ali.

— Uma árvore. – disse a professora analisando. Scorpius a olhou chocado – Procure em seu livro o significado e escreva uma redação de duas mil palavras.

Ele sabia que a professora não poderia errar a leitura de sua borra, mas mesmo assim pegou a xícara ansioso e tentou identificar a lua que sabia que estava ali. Só que o desenho de fato parecia de uma árvore.

— Você disse que ia dar uma lua. – comentou Rose reparando na feição confusa dele observando a borra de café da xícara.

— Achei que ia dar.

Ele pegou seu livro de adivinhação, abriu na sessão borras de café e encontrou árvore. “Quando sua borra parecer uma árvore, significa que os objetivos que está batalhando há muito tempo pra conseguir se concretizarão em breve. Esteja atento aos sinais”.

Ele sorriu internamente percebendo pequenas mudanças no dia. Talvez os detalhes estivessem ali, sua áurea azul, sua borra indicando objetivos alcançados. Pegou sua pena e pergaminho e começou a escrever sua redação do dia 3 de fevereiro de 2022.

Antes de ir para a próxima aula ele se lembrou de Eva.

— Vou ao banheiro Albus, talvez chegue um pouco atrasado na aula. – avisou ao amigo e se encaminhou para o lugar que sabia que a garota de cabelos esvoaçantes e olhos negros estava.

— Oi Eva... – a cumprimentou a assustando. Ela estava tentando praticar o feitiço das estações do ano.

— Oi... Você sabe meu nome? E é monitor. Olha por favor...

— Não vou te dedurar. Só vim te dizer umas coisas... – ele se aproximou dela e percebeu que a garota tinha a feição preocupada. – Não seja tão dura consigo mesma. Acredite que irá conseguir fazer esse feitiço e ir bem na prova amanhã. Além disso aposto que aquele garoto que gosta, te nota. Ele só é um pouco tapado para admitir agora. Não desista.

— Você... – ela começou a dizer completamente abalada pelas palavras certeiras dirigidas a ela. – Você me conhece? Como sabe tudo isso?

— Eu só sou observador. – lhe deu uma piscadela e saiu de perto da garota. Mas mesmo longe a lembrou. – Não desista e acredite em você!

Na aula de poções ele e Albus terminaram tão rápido devido a experiência de Scorpius em fazer a mesma poção todo dia. Que acabaram sendo solicitados pelos amigos. O professor acabou os deixando ajudarem os colegas, acreditava que quando os alunos se envolviam juntos na aprendizagem conseguia tirar mais deles. E Scorpius estava demonstrando uma ótima aptidão para as poções.

Mais do que poções, Scorpius estava gostando de ajudar os outros e o professor notou seu esforço e deu mais dez pontos para a Sonserina no final da aula.

— Senhor Malfoy, mais dez pontos para a Sonserina por ser benevolente.

Benevolente? Pensou consigo encarando o professor ao lado. Encaminhou-se ao lado de Albus para o almoço feliz estampando um belo sorriso no rosto.

— Qual foi à piada? Quero saber. – era Rose quando chegou à mesa e reparou na feição feliz do amigo. Scorpius comia as diversas saladas. Tinha aprendido a gostar de todas combinações que os elfos fizeram naquela refeição.

— Experimente essa salada de rúcula com beterraba. É a melhor da mesa, seu molho é adocicado combina perfeitamente com o gosto terroso da beterraba. – disse a amiga.

— Eu nem sabia que você sabia o que era uma beterraba, sempre rejeitou as saladas das refeições. – comentou ela pegando a salada sugerida por ele.

— Ele ganhou pontos extras para a Sonserina agora na aula de poções. Está todo orgulhoso. – disse Albus a prima justificando o comportamento do amigo.

Ela apenas ergueu as sobrancelhas e o encarou sorrindo.

— E sabe o que ele falou que fui Rose? Benevolente... – ele aproximou seu rosto do dela. – Ouviu bem? Be-ne-vo-len-te. O contrário de prepotente.

— Eu sei o que significa benevolente. – ela disse a ele afastando-se de seu rosto com as bochechas vermelhas.

Foram ver Hagrid antes da aula de trato das criaturas mágicas. E viu garota ganhando o amasso.

— São criaturas extremamente inteligentes. – disse o meio-gigante.

Scorpius estava mais que acostumado com a sequência das cenas e sabia que dali a pouco o felino ia rosnar para ele indicando que ele conseguia identificar pessoas desagradáveis para a dona. Mas para sua surpresa pela primeira vez ele não rosnou. Na verdade resolveu pular em seus braços. O garoto começou a fazer caricias no animal no fim da aula se encaminhando para assistirem o jogo de quadribol.

— Oras Déjà-vu, afinal está gostando de mim agora. – conversou com o amasso.

— Déjà-vu? – perguntou Rose intrigada com as atitudes dele.

— Achei que seria um bom nome para ele. Não lembra o gato que sua mãe tinha? – perguntou a ela tentando disfarçar.

— Gostei do nome. – ela sorriu pegando o felino em seu colo.

Chegaram ao campo de quadribol, mas ao invés de sentar na arquibancada com os amigos, resolveu ir para o outro lado da quadra.

— O que vai fazer? – perguntou Rose quando viu o garoto se distanciar deles.

— Estou indo em direção dos detalhes.

Rose se perguntava o que tinha acontecido com ele. Antes tão prepotente e não pensando nos outros, hoje tão benevolente e pensando no outro. Mas resolveu afastar os pensamentos de si e foi sentar-se para assistir seu irmão.

— E aí Lorcan. Beleza? – Scorpius sentou-se ao lado do irmão gêmeo de Lysander. – Eu sei tudo o que acontece nesse jogo, vou te ajudar.

Se justificou assim que viu a feição confusa do garoto. McGonagall estava ao lado, mas não relutou ao fato de Scorpius estar sentado logo atrás do Scamander, só desejava que ele fizesse uma narração limpa, já que o outro narrador dos jogos estava na ala hospitalar devido ter comido muito açúcar no café da manhã.

E Lorcan narrou, com ajuda de Scorpius ao lado que ia ditando todos os lances os nomes dos jogadores e parecia prever quando Hugo ia defender ou quando os lufanos fariam gol. No fim da partida. Quando o apanhador da Lufa-Lufa estava prestes a pegar o pomo Lorcan já estava familiarizado com os nomes e fez magistralmente a narração do desfecho da partida sem Scorpius.

McGonagall olhava os dois intrigada e já sabia quem chamar para substituir o narrador na próxima partida se ele não se sentisse bem. Scorpius Malfoy parecia o melhor narrador substituto se não estivesse jogando.

— Então senhoras e senhores vemos o quanto essa partida não foi sorte para os texugos, mas sim merecimento. O Weasley defendeu tudo com maestria e técnica, nunca foi sorte. Desta forma vamos todos comemorar pois: WEASLEY É NOSSO REI!

Scorpius não se aguentou e falou no microfone de Lorcan no final. Nunca havia imaginado torcer para a Lufa-Lufa, mas como todos esses dias eles tinham se provado merecedores da vitória ele sabia que poderia dizer em voz alta suas conclusões depois de quatorze dias vendo a partida estranha acontecer.

E Rose mesmo longe nas arquibancadas não focava os olhos em seu irmão que agora era ovacionado pelos companheiros de casa aos berros de “Weasley é nosso rei”, mas sim no amigo sonserino que ao lado de Lorcan dava socos no ar comemorando uma vitória inusitada.

— Albus, o Scorpius ganhou, ele ganhou a aposta. – disse Lily Potter ao irmão ao lado de Rose. – Como ele sabia esse resultado tão estranho?

— Não sei, ele está bem estranho na verdade. – Albus deu de ombros. – O que vai fazer com o dinheiro?

— Entregar aos elfos como ele pediu. – respondeu simplesmente a garota.

Rose voltou seu olhar para a prima não acreditando no que ela dizia.

— Ele vai dar o dinheiro aos elfos?

— Foi o que pediu no café da manhã se ganhasse, lembra-se?

Ela se lembrava, mas achou aquilo tudo tão absurdo que nem se atentou ao fato na hora.

— Posso ir te ajudar a levar o dinheiro aos elfos?

— É claro.

Antes de ir com a prima à cozinha, Rose viu o amigo parado olhando para frente embaixo de uma árvore lotada de neve. Pediu para ela lhe esperar e foi em direção a ele. Notou que o sol estava quase se pondo e ali a vista era ideal.

— Gosto de olhar o pôr-do-sol... – disse a ela antes que Rose dissesse qualquer coisa. – Gosto também de uma determinada rosa, e descobri o significado de cativar. – desta vez parou de olhar o sol que já estava bem baixo agora. – Tenho necessidade de ti, não sei se tu tens necessidade de mim, mas seja como for precisava te dizer isso.

— Quando a gente está triste demais...

— Gosta de olhar o pôr-do-sol.

Rose olhou para o garoto e deixou o instinto falar por ela. Colocou a mão no rosto dele que permitiu deitar-se como se confiasse tanto nela que conseguisse relaxar completamente em suas mãos.

— Estava triste? – Rose perguntou se esquecendo de que a prima estava a esperando.

— Eu acho que me acostumei tanto a olhar o pôr-do-sol que não gosto dele somente nos dias tristes, mas em todos os dias. – Scorpius abriu os olhos quando sentiu a mão da garota se afastando de sua face. – O pôr-do-sol traz um sentimento reconfortante na verdade.

— Nunca tinha pensado sobre esse ponto. – Rose sorriu. Tinha as bochechas coradas pelo vento gelado.

Os dois ficaram se olhando por um tempo. Rose sabia que aquele era o Scorpius que ficava escondido por trás da imagem de prepotente e grosseiro. Por isso ela continuava sua amiga. Esperando exatamente por aquele momento. Por aquele garoto que estava parado em sua frente.

Infelizmente Lily acabou arranhando a garganta tentando chamar a atenção da prima.

— Eu tenho que ir. – Rose disse se virando para ir embora.

— Podemos nos encontrar na biblioteca? – Scorpius a segurou pela mão exatamente igual havia feito durante o café da manhã. – Por favor?

— Scorpius Malfoy querendo me encontrar na biblioteca? Hoje o dia está realmente estranho. – Ela sorriu. – Mas te encontro lá.

A garota saiu correndo, mas sentia uma alegria inexplicável como se soubesse o que lhe aguardava, como se tivesse vivido aquilo antes. Igual ao nome de seu amasso. Déjà-vu.

Scorpius ficou mais um tempo olhando o céu mudar de cor. Mas sabia que ainda tinha alguns detalhes para reparar antes que o dia chegasse ao fim, para outro exatamente igual recomeçar.

Caminhou lentamente para o castelo. Pensando sobre qual sopa escolheria para o jantar. Já tinha experimentado todas. E apesar de continuar comendo no fundo não gostava de nenhuma, mas precisava de comida.

Acabou optando pela que não tinha experimentado ainda pela aparência feia que tinha. No fim descobriu que era tão ruim quanto à aparência. Não voltou com Albus para o dormitório da Sonserina, apesar disso foi andar pelo corredor que sabia que Pirraça estaria.

— Está cansado é... – o Poltergeist apareceu por cima de sua cabeça.

— Ei Pirraça tenho algo para lhe dizer.

— Eu não converso com jovens como você...

— Mas vai gostar. – a criatura não o contradisse o que permitiu Scorpius continuar. – Dois garotos do sétimo ano estão tentando sair do castelo agora para irem a um bar em Hogsmeade. É melhor detê-los não acha?

— Não está blefando comigo? – perguntou não acreditando muito na pedra de ouro que o garoto estava lhe entregando.

— Não brincaria com você. Estão indo pro Hall exatamente agora. – Scorpius levantou seu relógio na frente dos olhos dele.

Viu o Poltergeist sair voando em direção ao Hall.

— Se estiver mentindo para mim será pior. Vai ficar todo preto.

Scorpius sorriu enquanto ouviu a ameaça dele. Logo depois ouviu os berros dele para o zelador indicando que havia dois garotos da Grifinória tentando fugir do castelo.

Gostou de conhecer Kevin e Kurt, mas sabia que eles precisavam sentir um pouco de medo ou entender que a vida não era só descumprir regras indo para bar. E não queria vê-los expulsos da escola quando o zelador descobrisse eles no fim da noite chegando ao castelo.

Sentia-se como um pai cuidando, doeria no começo, mas era o melhor para o futuro. Resolveu se encaminhar para sua sala comunal e tomar um banho para se encontrar com Rose na biblioteca.

Porém quando estava a caminho do aposento lotado de livros lembrou-se de outro detalhe.

— Boa noite senhor Dumbledore. – disse ao quadro do ex-diretor. Entrou na sala da McGonagall com a senha que tinha usado no dia anterior. Precisava falar uma coisa ao velho senhor.

— Boa noite. – ele respondeu reparando em Scorpius. – Parece tanto o senhor Malfoy quando novo.

— Sou Scorpius, filho dele. Vim aqui lhe dizer que estou vivendo os detalhes.

— Detalhes? – perguntou confuso.

— Se são nos detalhes que estão às respostas eu estou vivendo eles. E posso te confessar que foi meu melhor dia. E olha que esse dia nem acabou.

— Interessante. – disse o velho de barbas longas e brancas. – Algo a ver com tempo não é?

Scorpius arregalou brevemente os olhos pela última frase dele.

— O Tempo é cheio de mistérios e os detalhes são o que fazem toda diferença. – continuou Dumbledore. – Tenho certeza que está vivendo melhor agora.

— Muito melhor. – ele confirmou com a cabeça. – Só vim lhe agradecer. Mesmo que acorde manhã na mesma quinta-feira, jamais vou esquecer esse dia cheio de detalhes.

E ele desceu as escadas feliz como há muito tempo não se sentia. Parecia que estava encerrando um ciclo longo e difícil de aprendizado. Mas ainda tinha a melhor parte. Rose o estava esperando na biblioteca.

Ela ficava especialmente bonita com a luz da biblioteca e todos aqueles livros em volta. Como se diferente dos outros os cheiros das páginas lhe desse vida.

— O que estamos fazendo aqui?

— Ontem eu te contei em outro lugar, mas hoje acho que a biblioteca pode ser o lugar perfeito. – Scorpius sorriu. – Mas vamos deixar tudo isso de lado?

— Não estou entendendo nada do que está falando.

— Não importa na verdade. – O sorriso do garoto não deixava seus lábios. – o que queria na verdade era que pudéssemos ler algo juntos. E que lugar mais apropriado que a biblioteca?

Na verdade ele tinha gostado tanto daquele momento com ela, procurando informações em páginas e mais páginas de livros. Linha após linha. Que dali em diante a convidaria para ir a biblioteca todos os dias. Seria uma tradição deles, livros após o jantar.

— Isso é tão esquisito... – Rose disse, mas não resistia a ofertas de leitura. Aquele local era um de seus preferidos do castelo todo. Não podia evitar. Fazia parte de quem ela era. – O que quer ler?

— Podemos começar com O pequeno príncipe?

— Porque tenho a certeza de que já conhece essa história muitíssimo bem? – Ela perguntou, mas como sempre andava prevenida tinha o livro enfiado em sua bolsa. Ela o usava na maioria das vezes que alguém lhe pedia um conselho.

Já tinha entregado outras edições para alguns colegas ao longo dos anos que passou ali na escola, incluindo uma edição especialmente bonita que deu para diretora. A senhora se emocionou bastante e Rose percebeu que certamente ela já o conhecia. O principezinho sempre é a escolha certa.

Era seu livro trouxa preferido. E poderiam sim começar com ele. Sentaram-se próximos encostados em uma estante ao fundo. Longe dos olhares curiosos e perigosos pelo tardar da noite, e confortáveis para debruçar sobre uma leitura trouxa.

Rose abriu o livro e começou a ler para si. Mas Scorpius a cutucou sorrindo.

— Leia para mim. Por favor...

E ela voltou a ler, agora com a voz alta o suficiente para Scorpius ouvir, mas não tão alto para serem descobertos.

“Quando eu tinha seis anos...”

Ela foi lendo com toda a empolgação que habitava seu ser, como sempre acontecia quando relia aquela história tão peculiar. Scorpius por sua vez encostou-se nela deitando sua cabeça no ombro da garota. Por ser mais alto que ela ficou todo torto e desengonçado, mas parecia completamente concentrado na leitura.

Quando Rose terminou fechando o livro lentamente e dando um suspiro. Ele se afastou dela e como havia feito durante a maior parte do dia sorria.

— E agora? – Rose questionou. – Vai me dizer o que esta acontecendo?

— Eu só queria passar mais tempo com você. Têm dias que acho que não ficamos juntos o suficiente. – Ele voltou a segurar a mão dela com força.

— Têm dias que você odeia tudo e todos. – Rose desabafou, mas não afastou sua mão. Suas orelhas pareciam chamas de tão vermelhas, por sorte o cabelo solto as cobria não permitindo Scorpius de descobrir tal característica.

— Eu sei. – Ele admitiu. De certa forma não poderia negar. Escondeu-se tanto atrás do sobrenome Malfoy, nas atitudes que o protegiam que acabou virando o prepotente egoísta que não se importava com nada. – Odiar é muito cansativo.

— Sério?

— Muito. Primeiro você acaba se afastando de todos, depois mágoa a todos, tudo se repetindo e você não consegue mudar. É terrível.

Rose não sabia o que falar, mas sua mão permanecia no mesmo lugar, sendo agarrada pela dele.

— Eu resolvi tirar uma folga. – Scorpius suspirou. – Por tempo indeterminado.

— E o que te fez pensar nisso?

— Eu acho que o tempo e os detalhes. – Respondeu por fim. – Podemos ler algo mais?

— Já está ficando tarde.

— Por favor Rose! Eu quero ficar aqui mais um pouco. Aproveitar isso por mais tempo.

Seus olhos acinzentados tinham um brilho e um entusiasmo que Rose jamais tinha reconhecido a não ser quando ele e Albus ganhavam os jogos de quadribol, mas ali estava o garoto com aqueles olhos esperando uma história, esperando Rose lhe contar algo novo.

— Tudo bem. – Ela vasculhou a bolsa mais um pouco.

— Carrega quantos livros ai?

— Pelo menos uns quatro. – Ela riu nervosa. – Gosto de estar preparada.

Naquela noite, algo tinha feito ela escolher livros trouxas, não sabia ao certo o motivo. Apenas uma sensação. Escolheu Peter Pan.

— Peter Pan?

— O menino que não queria crescer. – Sorriu. – Mais um clássico trouxa.

Scorpius se ajeitou próximo a ela, mas dessa vez ofereceu o ombro para a garota. E tirou o livro de suas mãos.

— Eu leio. Para você descansar sua voz.

E começou a ler. Rose demorou um pouco, mas quase na quarta página se permitiu tomar o ombro do amigo para si. Deitou sua cabeça e ficou escutando a voz de Scorpius tomando conta do ar. Era confortável e fechar os olhos parecia inevitável.

Ficaram naquela posição por muito tempo. Ela não dormiu, mas sentia-se envolvida em névoa de palavras perdendo algumas em certos momentos. Percebendo o estado da menina e tendo certeza que logo chegaria o momento que seu dia voltaria a se repetir Scorpius resolveu que poderia continuar a história no outro dia. Poderiam começar logo com ele, deixando o pequeno príncipe para outro momento.

— Hora de dormir. – Disse fazendo Rose se endireitar. Estava linda com os olhos fechados e encostada nele. Mas não queria vê-la desaparecendo.

Foram caminhando pelo corredor até a entrada do salão comunal da Grifinória.

— Para você. – Rose entregou o Peter Pan ao garoto. – Eu conheço a história, já li. É um presente meu para você nunca ter medo de crescer.

Scorpius apertou o livro contra o peito sabendo que em poucos minutos ele desapareceria e voltaria para bolsa de Rose. Quem sabe na noite seguinte conseguisse o ganhar novamente.

— E lembre-se sempre que o problema não é crescer. O problema é esquecer.

— Obrigado Rose. Pelo melhor dia da minha vida.

Ele estava pronto para ir embora. Mas foi a vez de Rose segurar em sua mão o impedindo de ir.

— Obrigada. Por resolver prestar atenção nos detalhes.

Rose colocou-se nas pontas dos pés para alcançar os lábios de Scorpius e o beijou exatamente como no dia anterior. Com suavidade colocando no beijo todos os agradecimentos por ter permitido ela reconhecer o mesmo Scorpius que fazia parte de seus pensamentos, por ele ter permitido que Rose o enxergasse doce e benevolente como ela sempre quisera enxergar. Scorpius se perguntava se podia considerar-se sortudo. Um sortudo em ter vários primeiros beijos com ela.

Dessa vez o beijo acabou antes do tempo final.

— Não sei, mas isso me deixou com uma sensação de déjà-vu. – Rose sorria.

Ela não se lembrava de nada, mas pensar que o sentimento dela de alguma forma guardava algo daquele momento era o que Scorpius precisava para se sentir mais feliz.

— De certa forma é uma benção ou uma maldição... – parou de falar. Mas em seus pensamentos estavam “é uma benção ou maldição ter vários primeiros beijos com você”.

Ela estranhou sua fala, mas não perguntou pelo final. Resolveu entrar.

Dessa vez ele pode esperar a garota dizer boa noite e passar pelo quadro.

— Nos vemos amanhã. – Sua doce voz um pouco embriaga pelo momento.

Ele acenou confirmando.

Sabia que iam se encontrar. Mas infelizmente a menina não se lembrará desse novo primeiro beijo. Enquanto ele guardava cada um deles na memória e no coração.

Quando deitou-se voltou a ler o livro de onde tinham parado. Mas o sono foi mais forte e o derrubou rapidamente. Ele segurou o livro com braços em um abraço firme. Sabia que desapareceria, mas não podia deixar de sentir que enquanto abraçava o livro também abraçava Rose.

No momento que acordou percebeu algo errado. O livro estava lá em seus braços.


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Notas finais do capítulo

Então, devo dizer que esse é praticamente o ultimo capítulo, mas temos digamos um bônus que postaremos amanhã para tudo não ficar no escuro. Nos digam o que acharam.