Finalmente o inverno despedia-se e dava lugar a estação favorita de Ochako: a primavera. Estação conhecida pela renovação da natureza, por dar início a um novo ciclo na vida dos mortais, um período para regar os jardins e, se tivesse sorte, apaixonar-se. Apesar de seu grande fascínio ser as estrelas, não podia deixar de amar as flores e absolutamente tudo que a primavera trazia consigo, desde as cores até os sabores, principalmente, o Hanami Matsuri — Festival de contemplação das flores.

Ver as diversas árvores de cerejeiras florescerem em todo país, para Uraraka, era a coisa mais esplêndida da primavera japonesa. Poder andar nas ruas e sentir o sol aquecendo sua pele, bem como sentir o perfume das flores, lhe trazia uma sensação de paz que não podia ser trocada por nada nesse mundo; parecia que o ar continha átomos de amor que só de respirar lhe enchiam do sentimento e faziam-na sentir-se em casa. 

Bom… ela queria estar em casa, pois eram em momentos como esses que a saudade de seus pais apertava, mas talvez “casa” não fosse a palavra certa, já que a U.A. também exercia essa função e exercia muito bem. A turma 2-A havia se tornado uma grande família, Lida e Momo, por exemplo, eram os grandes responsáveis por manter todos na linha, ou seja, os pais. Já o resto da turma pareciam filhos bagunceiros, exceto Bakugou que estava mais para um tio chato e reclamão, mas que sempre cedia aos desejos dos demais.

E como uma grande família não poderiam deixar o Hanami Matsuri passar em branco. Por isso, não foi surpresa para ninguém quando Mina sugeriu o tradicional piquenique sob as árvores de cerejeiras que haviam no campus, e todos prontamente aceitaram. Seria um festival interno, exclusivo para alunos e professores; um momento de lazer e descanso na rotina fatigante deles.

Porém, exatamente como toda família unida, eles não sabiam tomar decisões sem causar uma enorme confusão. Ochako não sabia como uma simples divisão de tarefas, na sala comunal, transformara-se em um grande debate sobre quem faria o quê; chegava a ser engraçado ver o representante tentando acalmar os ânimos, Mina tagarelando sem parar, Kirishima achando todas as ideias másculas, Sato falando todos os doces que podia fazer, Bakugou exigindo comidas picantes… etc.

Enquanto a ‘discussão’ seguia calorosa, Uraraka pesquisava em seu celular sugestões de decoração para o piquenique, não que precisasse de algo extraordinário — pois as cerejeiras eram as protagonistas do festival —, mas seria legal se todos tivessem um adereço especial, só não sabia ainda o quê.

E foi em algum momento daquela busca que acabou fuxicando o Instagram. E… uau! Tinha tantas fotos lindas! Os parques floridos eram de tirar o fôlego; festivais de danças e músicas ao ar livre; até sua mãe havia postado uma foto embaixo de uma árvore de ameixeira (a favorita dela), mas o que realmente chamou sua atenção foi a publicação de Hagakure. A amiga postou uma selfie, provavelmente tirada minutos antes de alguma aula já que estava de uniforme, com um filtro de flores e a seguinte legenda: “Podes cortar todas as flores mas não podes impedir a Primavera de aparecer.”¹.

Uraraka não pode deixar de sorrir discretamente. Era uma ironia terrível a primavera poder aparecer e Hagakure não, mas amiga parecia não se importar com esse fato e bom… de qualquer maneira a foto estava bem fofa. Talvez ela também devesse experimentar um daqueles filtros, não que fosse postar com uma dessas frases de efeito… era só pra testar mesmo. Então, saiu do feed de publicações e rolou para a câmera, procurando um filtro florido, acabou gostando de um que era uma coroa de flores rosas e mais algumas caindo pelo ombro.

Estava pronta para fazer o teste quando percebeu que a câmera não estava no modo selfie, mas sim enquadrando perfeitamente a pessoa a sua frente, Midoriya. E ele estava tão distraído, tão natural… tão lindo! A coroa de flores lhe caia bem, principalmente, por causa do sorriso bobo, possivelmente provocado por algum comentário literal demais de Todoroki. Suspirou levemente enquanto contemplava a imagem em seu celular. 

Será que deveria tirar a foto? Ou seria melhor guardar a imagem só na memória? Ochako afundava-se cada vez mais no sofá à medida que a dúvida ia corroendo sua mente. A verdade é que achava um desperdício não registrar esse momento, mesmo toda aquela espontaneidade não sendo nenhuma novidade para ela — pois o tempo de amizade a fizera presenciar muitas cenas como essa —, entretanto, seria a primeira vez que capturaria a imagem só para si. Mordeu o canto do lábio e não hesitou nem mais um segundo em tirar a foto.

— Ficou tão bonito… — sussurrou baixinho.

E lá estava ela mais uma vez o admirando. O fato era que Ochako não podia evitar esse sentimento, muito menos impedi-lo de crescer, desde o exame de admissão; desde aquele primeiro tapa até a promessa de se ajudarem a evoluir, ela não pode safar-se da paixão latente e gradual. Apesar de conseguir mantê-la camuflada no verão, escondida durante o outono e aquecida no inverno, a primavera parecia querer renovar o sentimento já conhecido, de maneira sublime, fazê-lo florir dentro de si mais uma vez.

— O que é tão bonito? — Deku perguntou, após uma súbita aproximação.

Ochako rapidamente bloqueou a tela do celular e, inevitavelmente, ficou tão rosada quanto as flores de cerejeiras da estação.

— Não é nada de mais, Deku-kun... — respondeu, sorrindo amigavelmente. Teria que dar uma desculpa mais convincente já que fora pega no flagra.

— Eu não queria te atrapalhar… — Sorriu enquanto acenava com as mãos, como se pedisse infinitas desculpas por distraí-la, Ochako achava fofo. — Mas você parecia estar tão encantada que pensei… pensei que talvez tivesse achado alguma ideia pro festival.

Sim, ela havia achado! Porém não era uma que queria compartilhar com todos, de preferência guardaria a sete chaves.

— E-eu tava só olhando aqueles filtros de primavera do Instagram... — disse ainda tentando disfarçar o constrangimento — E pensei que talvez pudéssemos... usar coroas de flores durante o festival. É… isso! Não precisa ser flores de verdade, podemos fazer umas de papel…

— Que ideia mais romântica, Ocha-chan! — exclamou Mina, entrando na conversa.

— Devo concordar com você, Mina-san — assentiu Momo ao ouvir a ideia. — Posso fazer os arcos e podíamos nos dividir na produção das flores, tem alguns origamis bem fáceis de fazer.

— Seria incrível, Yaomomo! — Ochako falou realmente feliz por aquela foto ter rendido uma boa ideia. 

— Uraraka-chan, quero ajudar na produção! — Deku se pronunciou, deixando-a uma pouco mais feliz.

— Eu e o Bakubro vamos ajudar também! — disse Kirishima.

— Não me mete nisso, Cabelo de Merda! — Bakugou gritou, tentando esquivar-se. — Nem ferrando vou usar essa porra!

E somente isso fora necessário para fomentar um novo debate. Ochako sabia que Katsuki cederia no final, mas enquanto isso não acontecia, não pode deixar de observar a maneira como Mina e Deku defendiam sua ideia, principalmente o Deku. Era como se aquela fosse a ideia mais maravilhosa do mundo inteiro, devido tamanha empolgação e euforia. Ele exalava tanta paixão e sinceridade que era inevitável não sentir-se atraía, da mesma forma como um campo florido atraía um enxame de abelhas. Sua mãe sempre lhe dissera que o simples perfume de uma flor pode vir, a ser um grande amor na sua vida² e bom… talvez ela tivesse toda razão, porque Izuku exalava um perfume que ela jamais gostaria de deixar de sentir.