Accidentally In love! escrita por Regina Rhodes Merlyn


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá flores! Olha eu aqui travez!!! kkk.
Conforme falei a pouco, quando postei a One SnowMerlyn, estou em uma mini maratona-trilogia de ones com a temática Dia dos namorados. Essa é a segunda história e traz meu shipp amado e injustiçado da vida todinha: Rheese!
Também como mencionei na primeira One postada, tudo começou com o convite da Ciin Smoak (migs, beta e companheira de devaneios) para participar do Projeto Olicity Dia dos namorados. Me empolguei e meus outros dois shipps também ganharam suas versões da data mais romântica do ano, o que acabou se transformando em uma trilogia pessoal minha.
Logo mais, as dezoito, será a vez de Olicity ganhar sua versão dentro do Projeto, que aliás está divino! Passem lá pra vê.
E sem mais delongas vamos ao que interessa porque o tempo urge!!
Mais uma capa linda, maravilhosa, divosa, da Picasso da capas, minha linda flor Marielle. Xero pra tu! Te I love U!!
Boa leitura...Aguardo suas rewiews.... Bjinhos flores



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So she said what’s the problem baby; What’s the problem I don’t know;

Well, maybe I’m in love (love), think about it every time, think about it every time;

I think about it, can’t stop thinking ‘bout it….”

 

Vagão do metrô, Nova York (Sexta, 12/6 - 6:23 a.m)

Sarah

“...How much longer will it take to cure this? Just to cure it cause I can’t ignore it’s love, love! Makes me wanna turn around and face me, but I don’t nothing ‘bout love…” … me empolgo, seguindo a canção, cantando mais alto do que deveria, o riso não tão discreto do garoto a meu lado fazendo-me abrir os olhos, corando até a raiz do cabelo ao ver várias pessoas me encarando, umas rindo, outras com expressões indecifráveis.

Sorrio, encabulada, baixando a cabeça, fingindo procurar algo em minha mochila. 

“Como é possível um ser humano pagar tanto mico assim!!?!” - penso, rindo de mim mesma, respirando fundo antes de tornar a erguer a cabeça, olhando para fora, admirando a paisagem urbana através da janela. Inevitavelmente, cenas de alguns filmes ambientados por entre estes edifícios me veem à mente, especialmente a luta do homem aranha contra doutor Octopus. Não que seja fã  deste tipo de filme, mas  quem nunca viu ao menos essa cena em algum lugar? Ou se imaginou no lugar do rapaz, outrora magricela, saltando de prédio em prédio, voando por cima do trânsito caótico com a ajuda de suas teias biodegradáveis? Ou daquele beijo extremamente sexy na cena do beco?

É, Nova York tem sua beleza e encantos. Basta saber para onde olhar. Seus muitos bairros abrigam uma diversidade de culturas e conhecimentos que encantam e fascinam. Foi por isso que, dez meses atrás, escolhi a cidade para ser meu novo lar. Quer dizer, por isso e por minha mãe estar morando aqui.

Depois de tudo que aconteceu em Chicago e do tempo que passei em Dallas, refleti bastante e decidi que já era hora de reatar meus laços familiares (duas de minhas tias e um tio também viviam aqui). Aliás, ter ido para Dallas foi um erro, hoje vejo. Antes tivesse vindo direto para cá. Não havia me adaptado ao clima (depois do frio de Illinois, o calor do Texas era sufocante. Bem mais do que os verões de Chicago). Também não me dera bem com parte dos residentes, tanto na Psiquiatria quanto na emergência, sem mencionar que virei alvo do amor platônico de jovem que fazia acompanhamento psicológico na clínica do hospital. O garoto chegara mesmo a hackear minha redes sociais. Por sorte descobri em tempo de evitar um dano maior a ele e a mim. 

Meu mentor, doutor Logan Spencer, era um Psiquiatra brilhante, porém muito difícil de lidar. Durante aqueles meses, entendi o que doutor Rhodes passou para se adaptar a doutor Latham.

—Olha ele aí de novo, ocupando seus pensamentos, Sarah! - bufo, olhando para meus pés - Precisa tirá-lo da cabeça de uma vez por todas - murmuro, o aviso eletrônico de qual seria a próxima estação me fazendo erguer a vista depressa e por um segundo julgo ter visto um rosto familiar junto à porta divisória dos vagões. Não qualquer rosto. O rosto DELE - Que ótimo! Daqui a pouco vai ouvi-lo também. Isso que é gostar de sofrer! - resmungo, pondo-me de pé, ajustando a mochila às costas, me aproximando da porta de saída junto com a multidão, deixando o vagão tão logo a composição para na plataforma.

Sigo o fluxo de pessoas apressadas já aquela hora do dia, subindo as escadas que me levariam a rua e dali para Little Brazil era um pulo. Bem, nem tanto, mas me acostumara caminhar até lá e já não achava tão longe como nos primeiros dias( e sempre podia alugar uma bicicleta caso o tempo estivesse chuvoso, o que não era  caso hoje, ou quando estava muito atrasada, o que também não era o caso) e por incrível que pareça, pegara gosto não apenas pela caminhada (ou pedaladas) como exercício em si, mas também pelas conversas no caminho até o trabalho. 

Explico: sempre fui uma pessoa muito introvertida, com dificuldade para lidar com pessoas. Este foi meu maior desafio quando comecei a estagiar e durante o começo de minha residência no Med. Admito que ter aceito o convite de doutor Charles tinha me feito bem, no final das contas. Havia evoluído bastante, já era capaz de engrenar uma conversa com um total desconhecido se este ou esta me interpelasse no metrô ou dentro do ônibus (mantendo os parâmetros de segurança, evidente). Os meses no Baylor também deram sua contribuição muito embora por lá, meus tidos colegas de trabalho mais questionaram do que incentivaram meu crescimento. Cansei de escutar perguntarem o que estava fazendo na Psiquiatria se claramente não levava jeito para a coisa. E confesso que adorava quando meu mentor as contradizia. O problema é que nem sempre isso acontecia. Por isso tudo acabei me estressando a ponto de ter minha saúde prejudica. A física e a mental. Desenvolvi uma gastrite nervosa que me deixou de molho um mês inteiro, o que foi bom porque refleti e ao voltar, tranquei a universidade e resolvi me dar um ano sabático. Totalmente sabático. Ou seja: nada de hospitais, salvo em caso de ficar doente. 

Minha mãe vibrou, lógico, (ela continua não aceitando minha escolha mesmo após todos estes anos!) e tentou me convencer começar cursar Direito, idéia que refutei de imediato. Na verdade, não queria fazer nada que implicasse estar em uma sala de aulas, num banco de universidade ou em estágios. Custou um pouco, mas ela acabou aceitando. E foi assim que fui parar em um restaurante no pequeno e aprazível bairro nomeado Little Brazil por ter ali a maior concentração de brasileiros do Estado.

Foi meu tio James quem me apresentou ao lugar. Ele estava morando, ou como costuma dizer: na-morando, uma brasileira e uma bela tarde, cerca de dois meses depois de eu ter me mudado para cá, aproveitando que havia ido visitar minha mãe e eu estava a toa, me convidou a ir conhecê-la e ao bairro. Aceitei. Mais por curiosidade do que por qualquer outro motivo já que sempre ouvi de mamãe que herdara dele meu temperamento introvertido o que era estranho porque introvertido não seria a palavra que usaria para defini-lo. Ao menos não agora.

O acompanhei e no melhor estilo: vim, vi, gostei e voltei, me peguei aceitando o convite para trabalhar no restaurante dos pais de Maju (junção de Maria Júlia), no espaço gourmet que haviam inaugurado seis meses atrás, completamente dedicado a delícias preparadas com café. Tudo servido no espaço tinha ou era completamente feito tendo o café por base: bolos, cupcakes, docinhos diversos e, lógico, café em todas apresentações imagináveis. Do puro ao mais requintado Mocha. Como já tinha um pouco de experiência, não foi difícil me adaptar a rotina nem tampouco aprender preparar os mais variados cafés quentes e gelados. Admito ter ficado um pouco apavorada e insegura no começo, tanto pelo movimento absurdo que tinham durante praticamente todos os dias, de segunda a segunda (sério, esse pessoal era bem mais viciado do que eu. Na verdade, pareciam ser movidos a café e seus derivados!), quanto com as pessoas, sempre tão calorosas e dispostas a ouvir, aconselhar e principalmente apoiar. Os pais de Maju, Ana Amélia e Josafá, são pessoas incríveis. Desde o princípio me deixaram bastante a vontade, me ensinando pacientemente tudo que não sabia, corrigindo alguns errinhos do que sabia e me dando força, atitude que os funcionários também tiveram e têm até hoje. Fiquei surpresa com a facilidade com que me aceitaram entre si. Mas fiquei ainda mais surpresa com minha reação ante todo carinho e atenção que me dedicaram. Às vezes até meio que exageradamente. Abraços e beijos no rosto, em ambos os lado, se tornaram coisas naturais para mim e até sentia falta quando não recebia no mínimo dez por dia!!

—Bom dia Sarah, como vai? - a senhora Jones cumprimenta de sua “torre de observação da vida alheia”  (apelido dado por Maju), também conhecida como janela de seu apartamento no terceiro andar do prédio localizado na metade do primeiro quarteirão que conduz a Little Brazil e estanco, olhando naquela direção - Está um belo dia não? - acresce e sorrio gentil.

—Bom dia senhora Jones. Está sim e estou bem, obrigada - agradeço, acenando-lhe, retomando a caminhada.

Alexandre, irmão mais novo da Maju, me dera uma dica preciosa depois de termos, ele e eu, por culpa minha, reconheço, sido “alugados” por quase uma hora pela boa senhora um dia em que tínhamos pego o metrô juntos: quando alguém, em especial velhinhos solitários, mães solteiras e pessoas solitárias em geral, te perguntarem como está, responda curto e jamais, Jamais, pergunte, de volta, como estes estão a menos que disponha de tempo para ouvi-los. Pode acabar enredado em uma trama que vai desde o filho atrevido da vizinha do lado, ao sobrinho neto que dá trabalho a família inteira, passando pelos habituais problemas de saúde. Normalmente até gosto de escutar as pessoas, mas isto nem sempre é possível ou convém, logo, melhor evitar.

Sigo meu caminho, parando aqui e ali quando algo me chama atenção nas vitrines. Algumas daquelas lojas, mesmo estando fora do bairro, pertencem a descentes de brasileiros. Pessoas cujos pais vieram atrás do sonho americano e conseguiram realizá-lo, formando suas próprias famílias aqui. A maioria sequer conhecia o país de origem do pai, da mãe (ou de ambos) e nem todos demonstravam interesse em conhecer. Os que tinham costumavam frequentar o bairro a fim de estreitar os laços com os recém chegados, já que quase todos os dias havia alguém novo chegando.

—Sarah, bom dia - sorrio, retirando um dos fones em meu ouvido, parando para dar atenção a senhora sorridente que saia de uma loja de animais localizada no começo do segundo quarteirão, recebendo seu abraço carinhoso.

—Bom dia Mabel. Sua netinha está melhor? - quero saber tão logo nos afastamos.

—Tão melhor que já começou dar trabalho!! - brinca, seus olhos verdes esmeralda brilhando com intensidade - Obrigada por sua ajuda. Estaríamos perdidas sem você, criança - diz, me dando um beijo estalado na bochecha.

—Não foi nada. Precisando disponha, mas Marina está muito bem assessorada. A doutora Lewis é uma das melhores pediatras da cidade - elogio, os latidos do filhote marrom claro chamando minha atenção - Ele ainda está aí? - pergunto, indo até a vitrine, me agachando para falar com o bichinho, que apoia as patinhas na vitrine, latindo e abanando o rabinho com mais vigor - Olá bonitinho! - exclamo, arranhando o vidro com a unha (aprendi que bater é errado).

—Está a sua espera - Mabel diz e volto meu rosto ligeiro - Eu ofereci, entenda, mas ninguém se animou adotá-lo - conta.

—Só por que não tem raça definida? - indago, levantando.

—Muito provavelmente - admite ela, a filha surgindo a porta com a pequena Rita em seus braços.

—Ah, que bom que deu tempo! - exclama a jovem loira, os olhos de um verde tão intensos quanto o da mãe brilhando - Te vi aproximando e desci o mais depressa que pude para te dar isso aqui - estende um tapawer vermelho com algumas bolinhas coloridas dentro - Fiz ontem a noite, depois que Ritinha dormiu, para o Josh e como sei que gosta, separei alguns para você - diz, a garotinha abrindo seu sorriso sem dentes para mim.

—Obrigada - agradeço, segurando e beijando a mãozinha gorducha da bebê - Seu pai vai se derreter todo quando te conhecer! - comento, ambas, mãe e avó rindo divertidas.

—E como vai! Se pela vídeo chamada já fica todo bobo, imagina quando puder segurar a filha nos braços pela primeira vez!? - Mabel comenta com lágrimas nos olhos.

—Verdade - anuo, me esforçando para não chorar também.

Josh Bradley era um dos muitos soldados americanos a serviço no Iraque. Em uma de suas dispensas conhecera Marina através de amigos em comum. Como ela contara-me, foi amor a primeira vista. Em menos de seis meses estavam casados, vivendo seu conto de fadas. Mas logo ele fora chamado e teve de ir embora, deixando a esposa grávida de semanas. Agora estava voltando em definitivo e louco para conhecer a filha. Era lindo ver os dois conversando. Nem parecia estarem a quase três anos sem se ver pessoalmente. A história deles era o tipo que dava esperança e nos fazia acreditar que o amor, quando é verdadeiro, não somente pode como dá um jeito de acontecer.

—A conversa está boa, mas tenho de ir ou vou me atrasar - digo, olhando o relógio em meu pulso e ao fazê-lo tenho de novo a impressão de ver um rosto familiar alguns metros de distância.

—E quanto ao pequenino? Vai levá-lo hoje? - Mabel pergunta e olho o filhote novamente - Pela minha experiência posso te dizer que  não irá crescer muito, logo é o tipo ideal para se ter em apartamento - argumenta - Sem mencionar que um cachorro é bem mais fiel e companheiro do que alguns homens! - brinca, fazendo com que Marina e eu rirmos alto.

—Tenho de concordar - anuo, lembrando alguns casos que conhecia - Vamos fazer o seguinte: se até a hora em que eu largar ninguém o tiver adotado, fico com ele - prometo, me agachando junto a vidraça novamente - Ouviu isso pequenino!? Pode ser que vá pra casa comigo hoje - reitero, o bichinho parecendo entender, pulando nas patas traseiras e latindo com entusiasmo - Ok, agora preciso ir andando. Bom dia para vocês - me despeço, recomeçando caminhar devagar.

—Bom dia e Sarah... - me volto, deparando-me com as expressões sérias de mãe e filha -Fique atenta! - Marina alerta e enrugo o cenho, olhando na direção indicada, discretamente, por ela, estreitando os olhos.

Impressão minha ou alguém havia se escondido atrás de uma árvore?

—Ficarei - tranquilizo-a, sorrindo, acenando antes de continuar meu caminho, agora mais atenta, reduzindo o volume do celular a fim de poder escutar os sons a minha volta com mais clareza.

Havia caminhado alguns metros quando escuto o som de passos aproximando-se. Apresso meu caminhar, puxando a mochila que levava pendurada às costas para a frente, deslizando parcialmente o zíper da abertura frontal de forma me permitir pôr a mão lá dentro sem dificuldades, o que faço ao notar que os passos atrás de mim aumentaram também. 

Aumento ainda mais a passada, chegando quase a correr, sentindo meu coração acelerar ante a possibilidade de ser atacada em plena luz do dia, o que nem era tão anormal assim em se tratando de Nova York.

“Ah, mas se ele pensa que vai ter vida mole, está redondamente enganado!”— penso, enfiando a mão pela abertura, meus dedos tateando e encontrando a embalagem metálica e fria do spray de pimenta. Tá, eu sei que deveria evitar andar com algo do tipo na bolsa depois da situação embaraçosa no Med e que quase me custara o emprego na época. Mas estava morando em Nova York agora. Era quase regra uma mulher ter um desses na bolsa. Mais de até. Assaltos seguido de estupro ainda eram um mal incrustado no seio da cidade e eu, definitivamente, não estava nem um pouco a fim de entrar nas estatísticas. Ao menos não sem lutar!

Acelero ao visualizar a esquina de acesso a Little Brazil, tomando uma decisão: iria encarar seja lá quem fosse. Melhor dizendo: ia fazê-lo encarar o spray e dar uma lição! Ia aprender que nem todas as garotas são bobas!!

Decidida, dobro na esquina, encostando-me à parede, spray em mãos, o coração batendo forte ao escutar, agora mais claramente, os passos se aproximarem apressados. Logo que o homem alto e moreno surge, aciono o spray, não lhe dando tempo agir, a voz grave e inesquecível, que povoava meus sonhos nos últimos meses, me fazendo abrir a boca, surpresa.

—Jesus, Reese!! - exclama, levando as mãos aos olhos, recuando, quase caindo ao tropeçar em um dos pinos de proteção da calçada.

—Connor? ?? - inquiro, estupefata, inclinando a cabeça, segurando-o pelo braço, impedindo-o tropeçar uma segunda vez - Con...Doutor Rhodes, é o senhor?!?!?!? - interrogo, ajudando-o apoiar-se a parede.

—Claro que sou!! - responde, erguendo o rosto, abaixando as mãos, tentando me enxergar - Por que diabos fez isso? - pergunta, malcriado, e sinto vontade de o esmurrar.

—Porque estava me seguindo, foi por isso, oras!! - respondo no mesmo tom, segurando suas mãos - Não esfregue, vai piorar as coisas - ordeno, olhando em volta, suspirando - Vem, vou te levar ao restaurante e lavar seus olhos - digo, fazendo-o segurar em meu antebraço - Falei pra não esfregar!!! - ralho, estapeando sua mão livre.

—Tá ardendo, droga!! - resmunga, apertando forte meu braço ao julgar que cairia.

—Não vou te deixar cair Connor… Rhodes… doutor - me atrapalho, fazendo-o rir, para minha surpresa - Já estamos quase chegando - aviso, visualizando a entrada lateral do prédio aonde trabalhava, rezando para alguém da cozinha ter chegado - Espera aqui - peço, ajudando-o encostar na parede junto a porta.

Bato, aguardando uma resposta que não vem. Repito a batida, mais forte desta e vez e logo escuto a chave girar na fechadura, o estalido característico comunicando que a porta estava sendo aberta.

—Oi Sarah, bom dia - Rafael, o sous chef do restaurante cumprimenta, caprichando no sorriso sedutor.

—Bom dia Rafael, poderia abrir e segurar a porta, por favor - peço, ajustando minha mochila, que pendia.

—Claro - prontifica-se, fazendo-o sem perguntar o porque.

—Obrigada - agradeço, me voltando para Rhodes - Venha. Vou te guiar até o banheiro - aviso, segurando a mão que me estendia, mordendo o lábio inferior, preocupada, ao notar o inchaço em volta de seus olhos….Ai merda! Acho que ceguei ele!!

—Como é?

—Espero que não - os dois falam ao mesmo tempo, Rafael abrindo a boca, pasmo, ao visualizar o rosto de Connor, abrindo as mãos em um questionamento mudo.

—Depois - sussurro, agitando as mãos, conduzindo Connor ao banheiro dos funcionários ali perto - Tem alguém lá dentro? - pergunto por cima de meu ombro.

—Não...Acho que não - titubeia, o som da descarga sendo acionada o contradizendo - Talvez sim!! - corrige-se, rindo forçado, Vanessa, ajudante da cozinha (e uma de suas muitas ficantes, pelo que sei) abrindo a porta de supetão.

—Cristo!! - exclama, levando a mão ao peito, olhando de Rhodes para mim alternadamente - O que foi que….

—Explico já, já. Agora dá licença Vany - peço, fazendo-a sair do caminho sem delicadeza, praticamente empurrando Connor para dentro, tendo o cuidado de deixar a porta aberta, usando minha mochila para prendê-la - Vem - chamo, puxando-o em direção a pia - Abaixe a cabeça - oriento, ajudando-o apoiar as mãos na borda da mesma ao mesmo tempo em que abro a torneira na posição fria - Abra e feche os olhos para ajudar a eliminar o spray - peço.

—Espirrou spray de pimenta nele? Sério? - Vanessa pergunta, parada a porta, retesando-se repentinamente - Opa! Por que espirrou spray de pimenta nele? - interroga e noto Rafael arquear a sobrancelha.

—A pergunta correta aqui é por que o trouxe para cá depois de o ter feito - afirma, cruzando os braços na frente do corpo ao se apoiar na bancada, o gesto me fazendo lembrar o porquê de o evitar quando comecei a trabalhar aqui: era muito parecido com o Connor. Fisicamente falando, claro. Não fosse os olhos castanhos e o formato do queixo, poderia se passar por ele com certa facilidade - Se arrependeu do ataque? - acresce, desconfiando - Por que se arrependeu do ataque? - emenda.

—Sim e não - respondi, soprando ante seus olhares inquisidores - Eu o conheço, mas não o reconheci de imediato e vocês dois perguntam demais!! - bufo, dando atenção ao Rhodes novamente - Sente algum alívio? - quero saber.

—Não - responde, a voz abafada pela posição, tentando esfregar os olhos outra vez.

— Não faz isso! Sua mão está suja e só iria piorar a situação - ralho, procurando algum tipo de sabão.

—Vou pegar o sabonete neutro. Enquanto isso melhor você esfregar e abrir os olhos dele para a água escorrer - Vanessa aconselha, caminhando até a dispensa.

Faço o que sugeria, esfregando com suavidade a área em volta dos olhos de Connor, abrindo-os com cautela para que o jato gelado pudesse levá-los.

—Aqui, deixa te ajudar - se oferece a morena, prendendo o cabelo longo em um coque frouxo, colocando sabão em minhas mãos e a seguir em suas próprias, esfregando as mãos de Connor com vigor.

—Quando terminarem tragam ele para cá. Vou preparar uma receita que aprendi com uma ex namorada que vai ajudar diminuir a sensação de ardência - Rafael ordena, saindo de meu campo de visão.

—Por quanto tempo mais vou ter de ficar assim? - Connor reclama, movendo os ombros como que para aliviar a tensão, o movimento fazendo nós duas nos distrairmos ante a visão dos músculos ressaltados pela camiseta justa e somente então me dou conta que está à paisana, por assim dizer. Não usava roupas de quem acabara de deixar um plantão noturno, nem estava arrumado como quem fora alguma festa ou outro evento do tipo. Na verdade, estava bem simples: jeans e camiseta - Sarah, escutou o que eu disse? - questiona e pisco, deparando-me com o sorriso malicioso de Vanessa.

—O que?? - cochicho, ela mexendo as sobrancelhas sugestivamente.

—Sarah?? - chama outra vez, tentando erguer-se, mas o impeço.

—Mais cinco minutos - respondo, finalmente, esfregando seu rosto mais um pouco antes de o liberar - Pronto - aviso, fazendo uma careta ao ver que o inchaço piorara - Ai, merda! Me diz que não é alérgico a pimenta, pelo amor de Deus!! - imploro, Vanessa entregando a ele uma toalha felpuda.

—Não sou alérgico a pimenta - diz, secando o rosto com cuidado, olhando-se no espelho.

—Então por que seus olhos incharam desse jeito? - questiono tensa.

—Porque esfreguei - responde, tranquilo, me encarando - E não me cegou. Consigo te ver perfeitamente. Ou quase - avisa e sorrio, respirando aliviada.

—Vamos levá-lo lá para fora, vê a tal receita que Rafa falou - Vanessa lembra, chamando atenção para si - Oi, prazer, Vanessa Romes - apresenta-se, estendendo a mão de unhas perfeitas para ele, sorrindo sedutora.

—Connor Rhodes - retribui, apertando rapidamente a mão dela.

—Connor… Rhodes - minha colega de trabalho repete lentamente enquanto ele passa por nós - Connor ….RHODES!! - repete, quase gritando, o sobrenome dele, me fazendo reter o ar e a ele estancar, olhando-a - Connor Rhodes. Isso. Bonito nome - elogia de maneira desengonçada, deixando claro para mim ter recordado quem ele era.

Esclareço: nunca fui uma pessoa adepta a bebedeiras. Sempre fiz uso de bebidas, vinho em especial, com moderação. Mas, cerca de um mês atrás, acho, durante o casamento de um dos funcionários do restaurante, cometi a insensatez de misturar e exagerar na bebida. O resultado? Cantei, dancei em cima da mesa, pulei, gritei e quando a depressão alcoólica levou embora meu ânimo, me sentei, chorando, e praticamente obriguei aos dois, Vanessa e Rafael, me ouvirem lamuriar o quanto havia sido burra em nem ao menos ter tentado me aproximar do homem pelo qual nutri um sentimento por mais de três anos, que deveria ter aproveitado a chance quando esta surgiu (sabe Deus quando pensei que isto tivesse ocorrido!!) e que era uma estúpida por continuar nutrindo o maldito sentimento mesmo estando a quilômetros de distância e sabendo que poderia estar casado com a vaca (é, eu usei este termo ao me referir a ela) da doutora Bekker, terminando por revelar o nome do referido. Qual lição tirei daquela noite? Basicamente nenhuma!!

—Nos conhecemos de algum lugar? - Connor pergunta, nenhuma inflexão em sua voz que indicasse estar cantando minha colega.

—Não… mas já ouvi falar de você. Muito! - Vany frisa, me olhando e arregalo meus olhos, implorando a ela não falar - Mas isso fica para outra hora - diz, estalando a língua, adiantando-se em abrir as portas duplas que nos levariam ao salão aonde Rafael nos esperava junto a uma mesa.

—Por favor, não fala nada que falei sobre ele - sussurro ao passar por ela.

—Relaxa gata. Minha boca é um túmulo!! - brinca, beijando os dedos indicadores cruzados.

“Túmulo? Pois sim! Só se estivesse com a placa de cobertura trincada!!” … murmuro em pensamento, afastando uma cadeira ao perceber que Connor não a vira, enrugando o cenho ao notar um refratário contendo leite e um rolo de papel toalha.

—Para que isso? - quero saber, encarando-o.

—Já vai saber - responde, fazendo cena e rolo os olhos - Poderia sentar-se senhor…

—Rhodes - Vany adianta-se a Connor - O nome dele é Connor Rhodes - repete, pausadamente, Rafael abrindo o mesmo sorriso malicioso dela.

—Ahhh… Connor Rhodes!! - exclama meu amigo e bufo baixinho. Se depender desses dois para guardar segredo eu tô é lascada!! - Sente e apoie a cabeça ao encosto, erguendo-a um pouco, senhor Rhodes - faz questão de repetir o nome dele.

—Cresçam!! - deixo escapar, cruzando os braços, emburrada.

—Por que estou com a sensação de ser o único perdido aqui?- Connor inquere, obedecendo a Rafael.

—Porque é, mas não creio que vá ficar assim por muito tempo meu amigo - Rafa responde, tocando o ombro dele - Ao menos torço para que não - acrescenta, umedecendo duas porções do papel com o leite, dobrando-as - Leite integral gelado. Ótimo para aliviar a ardência. Minha vó ensinou - explica, acenando para alguém as minhas costas - Deixe sobre os olhos dele até reclamar estarem esquentando. Daí troque - me orienta - Nessa, ajuda lá atrás por enquanto -pede, me encarando, sério - Repete o processo umas quatro vezes pelo menos. Quando terminar pode liberar seu crus… amigo - corrige-se ligeiro - É o tempo para abrirmos - calcula, olhando o relógio, dando um tapinha em minhas costas antes de sumir por entre as portas duplas, Vanessa a seu lado.

Suspiro, me arrependendo, pela milésima vez, da maldita bebedeira. Puxo uma cadeira, sentando-me ao lado dele, permanecendo em silêncio por um tempo, mais por não saber o que dizer do que por estar sem graça com as insinuações soltas no ar por meus colegas.

—Desculpa por isso - peço quando o silêncio começa incomodar - Eu não ….

—A culpa foi minha - me interrompe, retirando ambas compressas de cima dos olhos, voltando o rosto para mim e respiro aliviada ao ver a vermelhidão e o inchaço reduzidos. Não muito, mas já haviam reduzido - Deveria ter insistido em te chamar ao invés de bancar o maluco perseguidor. Aposto que aquela senhora e a garota com o bebê ligaram para a polícia tão logo passei pela loja de animais - supõe e franzi o nariz.

—Espero que não - confesso, dobrando duas folhas de papel toalha antes de umedecê-las no leite, erguendo-me o suficiente para colocá-las sobre seus olhos - Disse que me chamou? - pergunto, atirando as compressas velhas ao lixo antes de sentar de novo, reparando que parecia mais magro e um pouco abatido. Também parecia ter envelhecido. Ou talvez fosse a barba por fazer a passar essa impressão. 

Ainda assim era o homem mais bonito que conheci até hoje.

—Chamei - confirma, tencionando voltar o rosto e por reflexo levo as mãos ao seu rosto, impedindo os tampões em seus olhos caírem.

—Bom dia Sarah - Ana Amélia cumprimenta, quase cantando, parando junto à mesa na qual estávamos, um enorme buquê de flores diversas em seus braços - Está um dia maravilhoso, não acha? - pergunta, enrugando o cenho ao notar Connor (finalmente) - O que aconteceu? - quer saber, o marido parando ao seu lado com uma enorme caixa de bombom em forma coração nas mãos.

—Ia perguntar a mesma coisa - diz, olhando de mim para Connor - Bom dia?! 

—Bom dia e me desculpem o incômodo - Connor adianta-se a mim, pondo uma mão sobre as minhas - Aconteceu que banquei o colegial inconsequente e Sarah me deu a lição merecida - resume, retirando minhas mãos com gentileza - Perdoe-me, novamente, estar incomodando, mas assim que meus olhos estiverem um pouco melhor, irei embora - comunica e sinto uma pontada de tristeza.

—Deixe-me adivinhar: spray de pimenta - Josafá presume, sorrindo de lado quando ele confirma - Não se apresse ir embora. Sei bem o quanto isso incomoda e dói. Leve o tempo que precisar - libera.

—Grato pela compreensão, mas não quero atrapalhar a rotina da casa - Connor diz, sorrindo gentil.

—Não vai. Não iremos abrir na parte da manhã - Josafá avisa, me pegando de surpresa.

—Não??? - inquiro, olhando de um para outro - Alguma data especial? - pergunto, sem qualquer cerimônia.

Uma das coisas que aprendi com a convivência com os brasileiros, é não me sentir culpada por fazer perguntas como está.

—Duas!! - Ana responde, erguendo os dedos - Uma foi consequência da outra - acrescenta, olhando o marido com enlevo - Hoje completamos trinta e oito anos de relacionamento, entre namoro, noivado e casamento - revela, sorridente - E em nosso país é dia dos namorados, data na qual me Josafá me pediu em namoro em um ano, em noivado no seguinte e quatro meses depois casamos - conta, seu rosto iluminando-se ainda mais (se é que isso era possível).

—Portanto, hoje é dia de comemoração! - Josafá decreta, esfregando as mãos - Vamos enfeitar todas as áreas e a fachada do prédio, preparar menus especiais e oferecer mimos aos casais que vierem aqui durante a tarde e noite - avisa - Sarah, vou te pedir para ficar uma horinha a mais hoje, pode ser? - pergunta.

—Claro. Sem problemas - respondi, sorrindo de volta - Vou levar Connor lá para cima e começar ajudar o pessoal - digo, estapeando minha testa - Desculpa, não apresentei vocês. Ana Amélia, Josafá Coutinho, este é Connor Rhodes, um amigo de Chicago - apresento-os.

—Ah! Da época em que trabalhava nos hospital - Ana lembra e confirmo com um aceno - Prazer em conhecê-lo e desculpa perguntar, mas por que espirrou spray de pimenta nele? Não o reconheceu? - pergunta, olhando-nos curiosa.

—Então…. - começo, ele me cortando.

—Como disse a pouco, a culpa foi inteiramente minha - Connor reitera - Não percebi que Sarah não havia me escutado chamá-la e ao invés de insistir, comecei a segui-la, assustando-a. Por isso me atacou merecidamente - assume, rindo sem graça - E como falei também, não vou me demorar. Só o tempo de recuperar um pouco mais a visão e a libero - reafirma.

—Como falei, tome o tempo que precisar - meu chefe reforça - Vou dar algumas ordens. Fique a vontade - reitera, oferecendo o braço a esposa.

—Eles me parecem um casal e tanto - ouço Connor comentar enquanto os observa sair e me volto a tempo de impedir ele passar as mãos nos olhos.

—E são - confirmo, lhe dirigindo o olhar mais duro que consigo - Vem. Vou te levar lá para cima…. assim que pegar minha mochila - digo, aguardando-o levantar-se.

—Melhor eu ir andando Reese. Estou te atrapalhando - diz e o encaro.

—De jeito nenhum. Não pode sair assim, com os olhos inchados desse jeito e não está me atrapalhando - minto, em parte, posto que deveria estar organizando minha bancada pois mesmo o restaurante abrindo apenas na parte da tarde, a parte do lounge aonde ficava a cafeteria sempre era uma das primeiras a ser procurada - Com disse, vamos subir que adianto minhas tarefas enquanto as compressas fazem efeito - sugiro, guiando-o até a escada que dava acesso a área superior - Espera enquanto pego minha mochila - peço, dando uma pequena corrida até a cozinha - Rafa, viu minha…- antes que completasse a frase, ele a atira em minha direção.

—Pensa rápido Sarah!! - diz, rindo ao me ver agarrá-la com certa dificuldade - Então esse é o famoso Connor! Bonitão - elogia.

—Disse isso porque se achou parecido com ele - Vanessa entrega, apoiando-se a bancada, já vestindo seu uniforme de trabalho - Gatão seu crush! Por isso não esqueceu dele. Eu também não esqueceria - afirma, piscando e me limito sorrir amarelo.

—Vou subir com ele, assim adianto as coisa. Já estão sabendo da novidade? - pergunto, ambos confirmando.

—Dia especial! Pensamos que haviam esquecido ou mudado de idéia já que andaram meio brigados, mas parece que as coisas se acertaram - Rafa comenta.

—Pois é - Vanessa anui, me encarando, repentinamente séria - Como ele está? O inchaço diminuiu? A propósito…- corre até um armário próximo, retornando com um vidrinho de colírio - Vi na internet que ajuda aliviar a ardência e a dor -justifica-se, em estendendo-o.

—Valeu e está melhor sim - respondi - Quanto tempo preciso manter as compressas? - pergunto, encarando Rafa.

—De quanto tempo precisa para se declarar? - devolve.

—Oi?? Como assim me declarar? Ficou maluco!!?! - rebato, espiando rapidamente para ver se Connor continuava no local que o deixara afinal, do jeito que minha sorte anda hoje, era bem capaz de ter vindo a meu encontro e escutar nossa conversa, mas para meu alívio continuava lá, me esperando pacientemente.

—Não Sarah, você que será se deixar passar essa oportunidade - Vanessa diz, e a encaro esperando ver tudo em seu rosto, menos aquela expressão resoluta - Pensa bem: quando pensou que o veria novamente, mesmo que de longe? - questiona, não me dando chance responder - E agora ele está bem ali, a seu alcance. Melhor: ele veio atrás de você e não o contrário. Quer oportunidade maior do que essa?? - inquere.

—Eu não posso simplesmente me declarar para ele assim, do nada, depois de quase dois anos sem nos vermos!! É ...loucura!! - argumento - E estou certa de que tem uma explicação para ele ter me seguido - acresço, fazendo uma careta ao ver Noeli se aproximar dele.

—Não perguntou ainda? Que raios tanto conversavam até agora?? - Rafa questiona, não esperando resposta - Não importa. Em parte está certa. Não pode ir se declarando, do nada. Ia te achar maluca. Estranha, pra dizer o mínimo - concorda comigo - Mas também acho que não pode perder essa oportunidade que o destino te ofereceu. Ele tem de saber o que sente nem que seja para te dar o fora e acabar com suas esperanças de uma vez por todas.

—Nossa Rafa, falando assim ela vai sair daqui direto para se declarar!! - Maísa, uma das garçonetes exclama, apoiando-se a bancada.

—Ok, sabichona. E o que aconselharia ela fazer então?? - Rafa questiona, encarando-a.

—Nada - Maísa diz, completando rápido - Agora, se fosse eu no lugar dela, tendo guardado esse sentimento por tanto tempo em meu coração, chamava ele para almoçar com a desculpa de saber as novidades e ai sim, entre uma conversa e outra, abriria meu coração e contaria como me sinto - enumera, sorridente, se voltando para mim - Se o cara te seguiu é porque tem algum interesse em você. Podia ter simplesmente te ignorado e seguido adiante. Você não o tinha visto, pelo que entendi, e mesmo que tivesse, não falou, acenou nem nada, correto? - inquere e aceno que sim - Então aproveita mulher!! Não é todo dia que o crush cai no colo da gente não. Vai lá e manda a real pra ele. Conta que tinha uma quedinha, que virou uma quedona e agora capotou de vez - discursa, me deixando confusa.

—Enfim…. - Vanessa chama minha atenção - Quem calça o sapato é que sabe aonde ele aperta - cita e arqueio a sobrancelha - Só segue seu coração. E se ele bater alto demais, de repente não precisa nem dizer nada. Ele já vai sacar tudo - diz, me deixando tensa - Agora vai cuidar de seu gatão - me empurra para fora.

Respiro fundo, caminhando ao encontro dele, agradecendo Maísa não estar mais por perto.

—Desculpa a demora. O pessoal tinha guardado minha mochila nos armários lá detrás - minto, ajudando-o levantar posto ter-se sentado - Não esfregou os olhos, esfregou? - quero saber.

—Não senhora - responde em tom divertido e rio - Mas admito que estão começando a incomodar muito - confessa.

—Neste caso melhor trocar o leite, que já deve estar quente, antes de fazer novas compressas - pondero, apoiando sua mão em meu braço - Vamos subir devagar - recomendo, subindo degrau por degrau cuidadosamente.

Ao chegarmos no salão, o conduzi a uma mesa mais no canto, perto de uma janela, abrindo-a para que não sentisse calor, me dirigindo para detrás do balcão tão logo o acomodo. Jogo o leite fora, pondo outra porção, gelado, pegando mais papel toalha. Dobro duas folhas de cada, umedeço-as, colocando sobre seus olhos após ter-se acomodado melhor, a cabeça apoiada no encosto estofado do assento.

—Vou me trocar e já volto para trocar as compressas antes de agilizar as coisas no balcão - aviso, ele anuindo com um aceno.

Deixo-o sozinho, caminhando apressada para os vestiários aonde me troco, colocando o uniforme e prendendo meu cabelo com duas tranças embutidas as quais prendo unidas ao final. Ponho o avental, faço uma maquiagem básica, guardo minhas coisas no armário e retorno ao salão, surpreendendo-me ao encontrar minha chefe conversando animadamente com Connor enquanto alguns funcionários que haviam chegado começam a decorar o ambiente. 

Após trocar as compressas e pingar um pouco de colírio nos olhos de Connor, me dedico ajudar o pessoal, parando vez ou outra para ver como estava, trocando as compressas uma terceira vez, agradecida pelo inchaço e a vermelhidão terem diminuído sensivelmente. Ofereço a ele um copo com suco e algumas torradas posto já ser mais de dez da manhã e não fazia ideia se havia tomado café, continuando meus afazeres.

Em determinado momento, precisei descer a cozinha e ao retornar não o encontro no lugar que deixara. Suspiro, triste, supondo que havia ido sem se despedir. E qual não é minha surpresa quando surge ao lado de dois dos rapazes que trabalham comigo, os braços carregados de corações de isopor e outras tranqueiras, fazendo questão de ajudá-los.

—Estou bem melhor e já atrapalhei demais a rotina aqui. Além do mais, está sendo divertido! - justifica-se quando pergunto o que estava fazendo, me olhando de maneira intensa - Está muito bonita - elogia, me fazendo reter o ar - Não que não fosse antes, mas está...diferente - diz, ainda me olhando e sinto o rosto esquentar - Não sei. Parece mais leve, descontraída…- observa, sorrindo daquele jeito que fazia meu coração falhar uma batida desde a primeira vez que o virá no Med. Melhor dizendo, faz!! - Nova York está te fazendo bem. Ou seria algum namorado? - sugere, e agradeço a chegada oportuna de Vanessa, me livrando ter de responder.

—Hora do almoço pessoal! O que estiver faltando terminamos depois de comer! Bora que o chef hoje vai nos fazer de cobaia, o que significa dizer que vamos comer bem para cara….ramba!! - corrige-se, rindo divertida, fazendo uma cara engraçada ao perceber a presença de Connor - Olá Rhodes, Connor. Ainda por aqui? Almoça com a gente não é? - pergunta, não o deixando responder - Evidente que almoça - determina, enlaçando-o e a mim ao mesmo tempo - Venham, tenho uma mesa especial para os dois. Assim podem por o papo em dia, contar as novidades, discutir sobre o clima, a política mundial, saúde, economia…- enumera enquanto nos arrasta (literalmente!!) escada abaixo.

No andar térreo, lavamos as mãos, sentando na mesa que realmente havia preparado para nós, não permitindo a nenhum outro funcionário sentar-se conosco.

—Sua amiga é muito…. Como direi?? - Connor estala os dedos, buscando a palavra certa.

—Audaciosa? Mandona? Enxerida? - arrisco, fazendo-o rir e novamente sinto meu coração falhar. A continuar nesse ritmo iria precisar dos serviços dele… como Cardiologista!

—Ia dizer espirituosa, mas estes também servem!! - brinca, e rio outra vez, corando ao notar que me olhava intensamente mais uma vez.

—Então...Ainda não me disse onde me viu mais cedo - lembro, pondo uma garfada generosa do creme em meu prato na boca a fim de mantê-la ocupada, garantindo não verbalizar qualquer pensamento que viesse a ter.

Agora que seus olhos estavam quase normais e relaxara, parecia ter remoçado uns dois anos no mínimo. 

—No metrô - diz e o encaro, confusa - Vi você, ou melhor, te ouvi cantando dentro do vagão. Até olhou na direção em que estava quando o sinal eletrônico soou, mas acho que não me viu…

“Vê eu vi, só não quis acreditar e preferi pensar que minha mente estava me pregando uma peça!!” — Não vi, não - minto, levando mais uma garfada à boca. Precisava mantê-la ocupada se não quisesse pagar um mico do tamanho do King Kong!!

—Foi o que pensei - sorri, limpando a boca com o guardanapo e me pego olhando aquela parte de sua anatomia com atenção exagerada, desviando o olhar antes que percebesse (espero!) - Como descemos na mesma estação, resolvi ir até você, mas a multidão evitou nos aproximarmos e te fez não me escutar chamar. Então resolvi te seguir - confessa - Quase te perdi umas duas vezes, mas sua mochila ajudou te localizar - conta e faço uma nota mental: não desgrudar daquela mochila nunca mais! - Ainda assim estava muito a frente e como usava fones não me ouviu te chamar uma segunda vez - informa, parando para comer um pouco do creme, me observando enquanto mastigava tranquilamente - Quando vi para onde se dirigia, fiquei curioso pois sabia que não havia nenhum hospital nas redondezas - comenta - Não está clinicando? - pergunta.

—Então….- começo, apoiando o guardanapo em meu colo, desviando o olhar para a mesa alguns metros da nossa ao escutar o gritinho alegre da neta de meus patrões - Não estou - confirmo, dando atenção a ele novamente.

—Por que, se é que não se importa em falar no assunto - pondera, entrelaçando os dedos, mãos apoiadas a borda da mesa, atento a minha resposta.

—Tive alguns problemas no Baylor, e também não me adaptei ao clima - conto, rindo sem vontade - Ainda assim permaneci oito meses e meio por lá, mas depois de ter passado quase um mês de cama por conta de uma gastrite nervosa, o que me fez refletir bastante sobre tudo que acontecera em minha vida nos dois últimos anos e decidi que me daria um ano sabático e que também iria reatar meus laços familiares, com minha mãe, no caso, por isso mudei para cá - revelo, uma sombra de tristeza transparecendo em seu rosto - Minha mãe até tentou me convencer começar a cursar Direito, mas refutei. Não queria nada que implicasse em estar em uma faculdade e estágios - confesso, arrancando-lhe um sorriso curto - Meu tio namora uma das meninas que trabalha aqui e acabei aceitando o convite dos proprietários em vir trabalhar e aqui estou! - abro os braços de forma abranger o lugar - E quanto ao senhor? Que faz em Nova York? Algum simpósio ou seminário de cirurgia cardiotorácica? Veio representando o Med? - interrogo, notando a tristeza agora ficando mais evidente.

—Não trabalho mais no Med - revela, me deixando em choque por um segundo.

Não conseguia imaginá-lo fora do Gaffney, muito menos do departamento de Cardiologia. Doutor Downey apostara tudo nele e estava certa de que não errara na escolha. Eu e metade do planeta com certeza!!

—Como assim não trabalha mais no Med? - pergunto, encarando-o, estupefata - Por que? O que houve? Doutor Latham cometeu a sandice de te dispensar? - interrogo, arrancando mais um sorriso discreto e triste - Se não quiser falar sobre o caso, entenderei - emendo, sentindo-me uma idiota por ter perguntado, a resposta demorando alguns minutos para vir.

—Aconteceu muita coisa desde que deixou o Med, Reese - começa, erguendo o olhar, a dor contida ali me fazendo querer abraçá-lo. Num impulso, ponho minha mão sobre a dele, transmitindo-lhe força - A começar por Daniel, que virou um fantasma, perambulando pelos corredores do hospital. Até voltar a beber por um tempo voltou. Foi preciso Miss Goodwin intervir para que entrasse nos eixos novamente e mesmo assim não era mais o mesmo. Ainda não é, embora o retorno de Robin trazendo a mãe para tratamento o tenham feito respirar novos ares, ainda que dolorosos - revela, contando-me tudo que se passara com meu ex mentor após minha partida, deixando-me entristecida.

Estava brava com ele, revoltada com suas atitudes, mas jamais pensei que sentiria tanto assim meu afastamento. Pelo contrário. Julgava que lhe traria alívio. Noah até comentou comigo, quando foi entregar meu caderno de anotações que pedi a ele buscar, o quanto o havia achado triste, mas pensei que tinha sido coisa de momento, por minha partida ser ainda recente, e que logo se recuperaria. Mas agora, ouvindo o relato de Connor, me senti culpada em não ter ligado para fazer as pazes quando a raiva passou e especialmente depois que entendi suas atitudes. Bem, mais ou menos.

—Eu… nem sei o que pensar!! - confesso, encarando Connor.

—Ele estava melhor da última vez que nos falamos -diz, suspirando.

—Que mais aconteceu? - inquiro, pressentindo isso não ser o pior e estava certa.

—Will e Nat romperam de vez - conta, detalhando o que sabia sobre os fatos que levaram os dois ao término da relação, desde o noivado no Molly’s, passando pela ameaça que o obrigou entrar no programa de proteção a testemunha, largando-a na porta da igreja no dia do casamento, a volta e todas as confusões as quais havia tomado conhecimento recentemente, em conversa com doutor Halstead (haviam estreitado os laços de amizade, ao que parece). Também conta-me sobre a relação entre April e doutor Choi, do aparecimento da irmã dele e que estavam, até onde sabia, se entendendo tão bem a ponto de irem morar juntos. Já Miss Goodwin estava tendo de lidar com a separação e os desmandos de uma tal Miss Garret, nova COO contratada pela direção do hospital.

Mas somente quando começou a relatar os motivos que o haviam feito pedir demissão do Med, que compreendi a tristeza e a dor em seu olhar. Fiquei chocada, não nego, na medida em que contava sobre o envolvimento de Bekker com o pai dele, da justificativa usada por ela, quando ele descobriu, para tal ato, mas principalmente pelas atitudes dela em relação a ele, Connor. Como o acusou, manipulou e prejudicou ao se sentir rejeitada.

Mas nada me preparou para o que veio a seguir: a morte de seu pai e como está acontecera, como Bekker havia tentado incrimina-lo e por fim como a verdade viera à tona ante a revelação da causa mortis do senhor Rhodes, culminando com o suicídio da própria, diante dele, ao perceber que seria descoberta e presa.

—Connor eu…. Não sei o que te dizer além de sinto muito - digo após um breve silêncio, a movimentação a nossa volta avisando que o horário de almoço findara e logo o restaurante teria suas portas abertas - Sinto que tenha passado por tudo isso. Sinto não ter estado por perto para ajudar, se é que conseguiria - pondero, confusa, erguendo meu olhar, olhando dentro do seu - E sinto tê-lo feito recordar isso tudo. Me desculpa - peço, pondo minhas mãos sobre as suas mais uma vez.

—Tudo bem Sarah. Ainda dói, mas falar, desabafar, me faz bem - diz, as lágrimas retidas umedecendo seus olhos, seus dedos entrelaçando-se aos meus com uma naturalidade surpreendente - Melhor nos levantarmos ou vamos atrapalhar o pessoal - chama atenção me fazendo perceber que as portas estavam sendo abertas.

—Sim, sim, claro - anuo, levantando-me junto com ele, recolhendo a louça suja - Se quiser ir andando, fique a vontade - digo, sacudindo a cabeça - Quer dizer, não que esteja incomodando ou atrapalhando. Não está - afirmo, olhando em seus olhos novamente, o divertimento ali contido me trazendo alívio - Mas é que, bem, já te prendi tempo demais. Deve ter outros compromissos…

—Não tenho - diz, ligeiro, sorrindo de um jeito novo que mexe comigo - Se importa se ficar por aqui mais um pouco? Será que seus patrões irão se incomodar? - questiona e os busco com o olhar, não os encontrando pelo salão.

—Acho que não. Mas por que quer ficar? - questiono-o, caminhando em direção a cozinha, depositando os pratos e talheres na janela de ligação com o salão principal, me voltando para ele novamente a espera de resposta.

—Sei lá. Acho que gostei do clima daqui - dá de ombros, olhando em volta - Além do mais, não tenho nada para fazer mesmo - diz e enrugo o cenho - Estava indo a um museu, ver uma exposição, quando te vi e resolvi bancar o stalker!! - brinca e rio junto com ele - Assim como você, estou dando um tempo. Até pensei em ligar para a Mayor e ver se ainda me queriam por lá, mas acabei desistindo - confessa.

—E por que veio justo para Nova York? - pergunto, curiosa, o lance de destino citado pelas meninas mais cedo me vindo a mente.

—Pelas opções de lazer e cultura - responde - E por ter um apartamento que pertenceu a minha mãe aqui, na cidade - revela, rindo feito menino, o que causa o efeito de milhares de borboletas voando em meu estômago - Também porque foi aqui minha primeira parada antes de ir para Chicago quando retornei aos Estados Unidos e confesso ter gostado do clima. Nunca tinha passado mais do que dias na cidade e quando o fiz, me apaixonei, só que já tinha me comprometido com o Med e ainda tinha Claire - lembra.

—Por falar nela, como está? - quero saber, subindo as escadas com ele logo atrás de mim.

—Melhor agora - afirma, parando de frente para mim quando atingimos o topo - Sofreu bastante com toda situação. Ficou brava com nosso pai e comigo. Xingou a nós dois. Chorou bastante e agora está tocando a Dolan com a ajuda de Randy - conta, orgulhoso - Temos nos falado quase todos os dias desde que deixei Chicago. Prometemos não perder o contato nunca mais na vida - revela, olhando em volta, esfregando as mãos - Então, por onde começo? Que posso fazer para ajudar? - pergunta e rio.

—Devagar com o andor! Ainda preciso ver com meus patrões se estariam dispostos a aceitar um funcionário relâmpago, temporário e sem nenhuma experiência no ramos!! - brinco, empurrando-o com meu ombro.

—E quem falou que não tenho experiência? - protesta, me seguindo até o balcão, pegando uma bandeja cheia de copos com agilidade e destreza - Saiba que já lavei muito prato e servir muita mesa nessa vida, senhorita espertinha! - exclama, andando entre as mesas com rapidez e segurança, sem derrubar nenhum copo, ganhando aplausos dos rapazes, que observavam a cena, fazendo uma mesura exagerada em agradecimento ao repor a bandeja no local de onde a havia tirado - Quando deixei o país, não pude contar com meus recursos financeiros de imediato, Teve todo um trâmite legal, entravado por meu pai na época, e por conseguinte tive de me virar para sobreviver - conta, apoiando-se ao balcão com aquele sorriso no rosto.

—Ok senhor espertinho. Mas ainda assim tenho que falar com os chefes. Prometo elogiar sua agilidade e habilidade com as mãos - brinco, fazendo uma careta, olhando dele para o barista atrás do balcão - Isso parecia bem mais legal e com menos duplo sentido em minha mente! - admito, ambos rindo - De qualquer forma, quero que vá ao banheiro lavar bem seus olhos com água corrente e depois pingue colírio. É o tempo que encontro Ana e Josafá - ordeno, ele tocando a fronte com a ponta dos dedos.

—É para já senhorita. Ouço e obedeço - brinca, piscando antes de seguir para o banheiro, me deixando a admirá-lo feito uma boba, sobressaltando-me ao sentir o toque em meu ombro, fazendo com que me voltasse para Douglas, o barista.

—Vai um babador aí lindinha?!? - me provoca, rindo quando estiro a língua para ele, indo a caça de nossos patrões.

Encontro-os no andar de baixo, organizando a premiação para os casais que viessem ao restaurante ou ao lounge naquela tarde e noite. Nenhum dos dois se opõem a presença de Connor, contanto que ele deixasse claro se pretendia receber pelo serviço que prestasse e que pagariam conforme a tabela vigente para casos assim, o que ele prontamente dispensa justificando que pretendia ficar apenas por ter-se sentido bem em companhia de todos.

Para minha surpresa, ele realmente demonstra uma desenvoltura admirável tanto servindo mesas, quando ajudando por detrás do balcão posto o movimento ir triplicando a medida que a noite cai, a notícia de que casais seriam premiados se espalhou como rastilho de pólvora. Em dado momento havia fila de espera para adentrar o prédio. Ao que parece, o dia dos namorados no Brasil é tão popular quanto aqui.

Muitos pedidos de namoro e noivado são feitos. Declarações das mais diversas, desde as mais sérias, com direito a joelho no chão e anel de brilhante, as mais estranhas e divertidas (um sujeito pediu a mão da namorada em casamento vestido como um dos personagens do desenho Obelix, provocando uma crise de riso generalizada quando, ao final, após o Sim dela, suas calças arriaram por serem grandes demais para ele). Um outro, mais romântico e desajeitado (entenda desafinado pra caramba!), precisou ser socorrido para não levar um fora homérico além de destruir nossa audição! Por sorte Connor e Douglas foram em seu auxílio, o que rendeu a ele um Sim e a mim mais batidas descompassadas ao ouvi-lo entoar uma balada romântica ( e céus, como canta bem!!).

Também me surpreendeu ao ajudar na cozinha (falei que ele estava bastante inquieto, circulando por todos os ambientes do restaurante? Não? Pois estava!).

—Lindo, rico, gostoso, educado, sabe cozinha e ainda por cima canta!?! - Vanessa enumera quando estou me preparando para ir embora - Amiga, se tu não pegar, me avisa em qual lixeira da cidade vai descartar porque eu pego viu! E como pego!! - brinca, me cutucando.

—Na dúvida se vai encontrar uma lixeira grande o suficiente para tal, a do meu prédio aqui do lado é tamanho extra! Só avisa o horário que passo para recolher!! - Maísa entra na brincadeira, ambas se afastando com sorrisos maliciosos quando ele se aproxima.

—Já vai indo? - pergunta, enxugando as mãos, atirando o papel toalha feito um bolo na lixeira e rio ao lembrar a brincadeira das garotas a pouco - O que foi? Disse algo engraçado? - questiona, enrugando o cenho.

—Nada não. Só uma bobagem que me veio a mente - desconverso - Estou indo sim. Já deu minha hora. Se quiser ficar mais um pouco..

—Não, não. Eu vou com você - apressa-se, postando-se a meu lado - Tem de falar com alguém, avisar que está de saída ou é só ir embora? - quer saber.

—Aviso quando passar pela cozinha - explico, descendo as escadas, ele me seguindo de perto - A propósito, pode levar seu jantar, se quiser. Ana pediu para te avisar que liberou já que não quis receber pagamento - conto, guiando-o pela lateral, evitando o salão principal aonde mais um pedido inusitado acontecia.

Paramos, em um acordo silencioso, observando a cena se desenrolar, rindo da expressão de susto da garota ao ver o namorado sair de dentro de um bolo gigante.

—Não foi a mais original, mas conta pontos pela coragem - Connor comenta quando recomeçamos andar.

—E por não ter destruído a parte verdadeira do bolo quando saiu da falsa - acresço, abrindo a porta vai e vem que dá acesso ao coração do restaurante, me dirigindo ao balcão maior, no canto, aonde duas embalagens com nossos nomes já nos aguardavam.

—Boa noite casal! - Rafa cumprimenta ao nos ver, me fazendo corar até a raiz do  cabelo - Preparei as marmitas de vocês quando me avisaram que sairiam juntos. Espero que gostem - avisa, sem desviar a atenção da frigideira que sacolejava a certa distância do fogo.

—Seja lá o que for, vamos amar, Rafa - Connor responde, pegando ambas sacolas, tratando-o como se fossem velhos amigos - Até qualquer dia e desculpe se atrapalhei em algum momento - pede.

—Não atrapalhou em nada e volte sempre que quiser, seja como cliente ou como ajudante - Rafa declara, largando a frigideira e nos dando atenção - Só não apareça se fizer essa jovem sofrer, porque aí te enfio no meu forno sem dó nem piedade! - ameaça-o, sorridente.

—Ok, as definições de constrangimento foram atualizadas com sucesso!! Agora que me envergonhou pelo restante do ano, vou indo. Até amanhã - despeço-me, girando nos calcanhares, seguindo direto para a saída.

—Até e lembrem-se… - Rafael chama, me fazendo parar e cometer a burrice de olhar para trás, Connor fazendo o mesmo - Até meia noite é dia dos namorados. Divirtam-se e façam algo que eu faria, mas sem exageros!! - aconselha, rindo alto quando faço um gesto nada educado em sua direção antes de bater a porta.

—Desculpa por isso. Eles são meio bobos de vez em sempre!! - peço sem me voltar para Connor, meu rosto ainda ardendo de vergonha.

—Tudo bem. Sei que estavam brincando - diz e sinto algo se quebrar dentro de mim.

“Seu coração, sua tonta!!”...minha consciência exclama em alto e bom som…” Achou mesmo que teria alguma chance com um cara como ele? Qual é? Cai na real garota!!” ….completa e suspiro, deixando um “Achei” escapar mais alto do que deveria.

—Achou o que? - escuto-o perguntar e fecho os olhos por um segundo.

—Que a loja de animais ainda estaria aberta - minto, apontando a vitrine escura - Pretendia adotar o cachorrinho marrom ainda hoje - lamento, procurando-o com o olhar, enxergando-o dormir tranquilo no fundo da gaiola - Aquele lá - indico-o - Como não tem raça definida, não o querem comprar nem adotar - conto - Ao menos ainda está aí. Quem sabe amanhã dá tempo pega-lo - me animo, seguindo com ele a meu lado agora.

— Trabalha amanhã? - quer saber, seu braço roçando o meu, provocando um formigamento gostoso.

—Uhum. Na parte da tarde até o domingo de manhã. Folgo o restante do dia e a segunda - revelo, não sei bem porquê.

—Sei - ele limita-se dizer, calando-se.

Fazemos o restante do percurso até a estação de metrô em silêncio absoluto, Connor quebrando-o ao chegarmos a entrada do lugar.

—É aqui que nos despedimos - declara, partindo mais um pedaço do meu coração - Foi um prazer te rever e ver que está tão bem Sarah - diz, me dedicando um sorriso luminoso - Desculpe o mal jeito mais cedo e obrigada por tudo. Pela paciência em especial - agradece.

—Por nada doutor Rhodes - digo, vendo-o enrugar o cenho - Espero que se recupere e possa voltar a clinicar em breve. Sei que ama o que faz e também deve desejar honrar a confiança posta no senhor por doutor Downey - declaro, rindo sem vontade.

—Desejo sim - confirma, me encarando, sério, por um tempo indeterminado - Até qualquer dia Reese - despede-se, me pegando de surpresa ao se inclinar, deixando um beijo rápido em meu rosto, tocando o canto de minha boca, se voltando e afastando-se se esperar resposta.

—Até...Connor - digo para suas costas - A propósito: acho que amo você!! - sopro, enxugando uma lágrima teimosa, girando nos calcanhares, adentrando a estação sem olhar para trás.

Aquela noite, demoro adormecer e por conseguinte acabo perdendo a hora. Mesmo indo trabalhar apenas a partir das treze horas, costumava acordar cedo para deixar o apartamento arrumado antes de sair.

Também tinha de pegar o metrô em determinado horário ou fatalmente me atrasaria. Sem mencionar que, aquele dia especificamente,  pretendia passar no pet para confirmar a adoção de bolinho de chocolate (nome que escolhi para o cãozinho marrom). Mesmo estando atrasada, decido parar.

—Oh meu bem, eu sinto muito, mas logo que abrimos um rapaz passou e comprou o bichinho! - Mabel informa, tocando meu braço carinhosamente - Nem fui eu que o atendi pois ainda não havia descido. Derek, quem o fez - o rapaz que trabalhava ali se aproxima, meio sem jeito.

—Desculpe Sarah, mas o cara insistiu em levar o Bolinho. E ainda fez questão de pagar por ele mesmo sabendo que era vira lata - conta, empolgado - Comprou ração, vacinou, vermífugo, levou caminha, shampoo, coleirinha com placa de identificação, uma porção de brinquedos - enumera - Só não falou qual nome pretendia pôr nele - diz, sorrindo amarelo - Eu sei que você o queria …

—Não tem do que se desculpar Derek - o interrompo - O combinado era que o levaria somente se ninguém se interessasse por ele, o que não foi caso - lembro - E esse cara parece que vai cuidar bem dele já que comprou tudo isso - digo, rindo se vontade.

—Verdade - Mabel anui - E ainda pagou em dinheiro - revela, me acarinhando novamente - Quem sabe não aparece outro que te interesse, não é mesmo? 

—É. Quem sabe - anuo, tentando não demonstrar meu desânimo, me despedindo sem alongar o assunto usando a desculpa, válida, de estar atrasada.

Não nego: foi duro ter de sorrir durante aquele dia depois do fora velado que Connor me dera e de perder Bolinho. Me sentia desanimada e tive de me esforçar para não chorar em alguns momentos. Por sorte, nenhum dos meus colegas perguntou nada a respeito, mesmo tendo notado minha tristeza.

Ao final de meu turno, no domingo pela manhã, estava tão cansada que aceitei a oferta de Rafael em me levar em casa, de carro, mal prestando atenção a sua conversa com Vanessa, que pediu carona a ele, durante o trajeto.

—Sarah, tudo bem? - ela pergunta em dado momento e a encaro pelo retrovisor interno - Me parece ...triste.

—Tudo. É só cansaço - minto, em parte - Nada que um bom banho e uma noite de sono bem dormida não resolvam - completo, desviando o olhar ao entrarmos na rua aonde moro.

—A propósito...Connor esteve no restaurante ontem pela manhã, antes de você chegar - Rafael revela e me volto ligeiro, buscando seu olhar no retrovisor - Queria seu endereço - comunica, fazendo suspense um segundo antes de completar - Algo sobre ter de fazer uma entrega especial - conta, acionando a buzina.

—Entrega especial?? - pergunto, esticando o pescoço ao mesmo tempo em que me espremia entre os bancos dianteiros do veículo, visualizando o homem de pé em frente ao prédio no qual moro, segurando um monte de sacolas e uma coleira na ponta da qual uma bolinha de pelos marrom escuro agitava-se - Bolinho de chocolate!!! - vibro.

—Jura que tá enxergando só o cachorro?!? - Vanessa inquere, gargalhando alto ao me ver descer antes mesmo de o carro parar por completo, correndo ao encontro do pequeno ser peludo, que me saúda com lambidas.

—Desculpe não ter te avisado, mas o idiota aqui esqueceu de pedir seu número ontem - Connor pede, me fazendo levantar com o filhote nos braços - Mentira. Queria te fazer uma surpresa - confessa, sorridente - E contei com vários cúmplices, para o caso de querer usar seu spray novamente!! - exclama e me volto para o carro.

—Opa! É nessa hora que nos despedimos desejando um bom final de domingo a todos. Saída estratégica pela esquerda!! - Rafael cantarola, ele e Vanessa acenando enquanto o carro se afasta.

—Então… Se decidir usar o spray saiba que vim preparado - Connor avisa e me volto para ele outra vez, rindo ao vê-lo usando um daqueles óculos de proteção - Só para o caso de ….- faço-o se calar com um beijo, tímido e meio desengonçado, mas que me dá a coragem que precisava posto ele não repelir.

—Eu acho que te amo Connor Rhodes! - declaro, a surpresa estampando-se em seu rosto bonito, especialmente por estar com a barba feita (nada contra, mas prefiro assim) - Sempre senti algo por você, desde a primeira vez em que nos vimos, mas nunca tive coragem de assumir e menos ainda de te falar. Não me julgava atraente o suficiente, interessante o suficiente, boa o suficiente para alguém como você - admito, pela primeira vez , em voz alta - Mas o que sentia foi crescendo a ponto de precisar sufocar quando percebi que não tinha chances… E de repente você me aparece do nada e desperta tudo que pensei ter enterrado com uma força absurda e….- paro, puxando o ar com força, sustentando seu olhar - Eu sei que não sente o mesmo e nem poderia esperar que sentisse, mas precisava dizer. Não podia deixar que saísse de minha sem que soubesse, o que não implica em que tenha de se sentir responsável ou culpado. De jeito nenhum! Tenho plena consciência de não ser correspondida…

—Não posso dizer que sinto o mesmo, Sarah - me interrompe, silenciando-me ao tocar meus lábios - Mas, se disser que me é indiferente, estaria mentindo. Nunca o foi, para ser honesto - revela, deslizando o dorso de sua mão por meu rosto delicadamente - Nunca te olhei de maneira romântica, é fato. Mas me preocupava e tinha carinho por você, especialmente depois que passamos a nos conhecer um pouco melhor por conta das doenças de Robin e de seu pai - relembra, me pegando de surpresa ao me dar um selinho - E depois de ontem, como poderia sair de sua vida quando trouxe tanta alegria e leveza para a minha em tão poucas horas? Como poderia ignorar o calor que aqueceu meu coração mesmo depois de nos separarmos na estação? - declara, sorrindo da mesma forma como sorria no Med sempre que nos víamos pelos corredores e percebo que aquele sorriso era meu. Não por ser sedutor ou empático. Era meu por ser simples, límpido, espontâneo, sincero e verdadeiro. Mas acima de tudo era meu porque nunca o vi sorrir daquela maneira para mais ninguém!! - Então…- me tira do devaneio - Se estiver disposta a ser paciente enquanto curo minhas feridas, se estiver disposta me ensinar como te amar, espero que aceite esse meu pedido de namoro atrasado e me ajude a merecer, todos os dias, que me olhe exatamente da maneira como me olha agora! - pede, envolvendo minha cintura - Não prometo que será fácil. Tenho muitas feridas sangrando ainda, mas prometo que irei me esforçar em merecer seu amor - concluiu, pondo uma mecha de meu cabelo por detrás da orelha, olhando dentro de meus olhos - Que me diz? Aceita? - pergunta e lhe dou meu melhor sorriso.

—Sim!! - respondo, sorrindo de volta - Sim!!! - repito, erguendo-me na ponta dos pés para beijá-lo.

………………………………..

“...Come on, come on! Turner a little faster; Come on, come on! The world will follow after; Come on, come on! ‘cause everybody’s after love;

So I said I’m a snowball running; Running down into the spring that’s coming all this love; Melting under blue skies;

Belting out sunlight shimmering love….”

Little Brazil, três anos depois ( 12/6/2023)

Narrador

—Cornélius Reese Rhodes, quantas vezes já disse para não correr?! - Sarah ralha, agachando-se na tentativa de pegar o filho, que escapa, correndo em direção a Connor, que conversava com o Will do outro lado do salão, o cirurgião agachando-se para recebê-lo em seus braços.

—Minha nossa!! Ele é sempre tão elétrico assim!? - Claire pergunta, massageando a própria barriga já evidente em seus cinco meses de gravidez.

—Sempre! - Sarah responde, sorridente, voltando-se para a cunhada - Só sossega quando dorme - completa

—Sério? - inquere a empresária, arqueando a sobrancelha, admirada ante a confirmação dela - Não seja como seu priminho filha! Nada de correrias!! - recomenda, baixando o olhar para o ventre, provocando risos.

— Seu sobrinho só conhece duas velocidades Claire: rápido e mais rápido!! - Vanessa brinca ao se aproximar com uma bandeja em mãos, piscando, depositando-a sobre a mesa perto delas - O ministro está chegando - avisa, arrumando os docinhos uma terceira vez.

—Obrigada, Vany,  e já falei para deixar isso. Hoje é convidada - Sarah ralha, a garota sorrindo-lhe de volta.

—Força do hábito gata! - justifica-se, atirando um doce na boca, girando graciosamente, caminhando em direção ao balcão, cumprimentando o grupo que chegava.

—Sarah, está tão linda!! - April elogia, estendendo-lhe as mãos, cumprimentando-a com um beijo afetuoso no rosto.

—Obrigada April. Você também - retribui, olhando por sobre a cabeça dela - Doutor Choi, Maggie, Miss Goodwin,  Natalie, que bom que puderam vir! - cumprimenta-os, recebendo o carinho de cada um deles.

—Não podíamos perder um momento tão especial na vida de ambos - Sharon Goodwin diz, beijando o rosto dela - E me chame de Sharon - pede, sorrindo gentil.

—Ok, Sharon - Sarah corrige-se, seu olhar sendo atraído pela dupla que se aproximava um pouco reticente - Doutor Charles! - sopra, indo ao encontro do antigo mentor, surpreendendo-o com um abraço apertado - Me desculpa - pede, com voz embargada, após alguns minutos de silêncio por parte de ambos, afastando-se para ver-lhe o rosto - Me desculpa ter demorado tanto ligar, por ter sido tão intransigente com o senhor quando tudo que quis foi me proteger. Me desculpa ter dito tudo aquilo quando partir e principalmente me desculpa tê-lo desapontado - enumera, algumas lágrimas correndo mansamente por seu rosto.

—Hei, não há nada do que se desculpar! - Daniel Charles retruca, usando o polegar para enxugar cuidadosamente a face dela - Nada de choro antes da hora ou vai estragar essa linda maquiagem - diz, olhando-a ternamente, recebendo um sorriso tímido - E saiba que não me desapontou, em hipótese alguma - garante, segurando firme suas mãos - Se alguém aqui deve um pedido de desculpas, este sou eu - afirma, não a deixando protestar - Não, minha querida, o erro foi meu em não ter confiado em seu julgamento, em duvidar que seria capaz de enxergar a verdade sendo que já me dera provas de que poderia fazê-lo. Agi mal, mesmo não tendo intenção, e quebrei o que mais havia de precioso em nossa relação: a confiança - relata, enxugando outra lágrima antes que escorresse - A tinha como uma filha e talvez por isso meti os pés pelas mãos, para variar, assim como havia feito com Robin - confessa - Espero que possamos voltar a fazer parte da vida um do outro mesmo estando distantes - deseja, ela anuindo com um gesto firme de cabeça.

—É claro que faremos! - afirma, depositando um beijo carinhoso no rosto do Psiquiatra, voltando-se para a mulher ao lado deste - Robin, bom te ver - diz, sincera - Posso te pedir uma coisa? - pergunta, completando antes que a outra respondesse - Se importa que Daniel me acompanhe? Iria sozinha até o altar, mas agora que ele está aqui, gostaria de tê-lo a meu lado, você deixa? - reitera.

—Evidente que sim! - a morena responde, sorridente, pondo-se de lado ao notar a aproximação de Connor e Will - Connor, doutor Halstead - cumprimenta-os, segurando o braço do garotinho nos braços do cirurgião - E este deve ser o pequeno Cornélius!!! - exclama, beijando a mãozinha do menino, que sorri, escondendo o rosto no pescoço do pai.

—É sim - Connor confirma, orgulhoso.

—Também conhecido como Speed Racer! - Will brinca, dando um selinho na esposa ao postar-se a seu lado - Só espero que não seja genético ou Claire e eu teremos de providenciar equipamento de proteção para nossa garotinha! - brinca, encolhendo-se ante o beliscão dela.

—Tá de brincadeira? Uma pirralha tendo nossa genética e a dos Rhodes ser uma criança normal? - Jay Halstead o provoca ao se aproximar, parando perto do grupo, Hailey a seu lado - Zero chance disso acontecer!! - decreta, provocando risos.

—Há, há, há! Tão engraçadinho - Will rebate - Embora deva admitir a veracidade da observação!! - reconhece, causando mais risos.

—Liz vai fazer companhia ao priminho mais velho quando começar correr -Jay afirma, desafiando-o - Aliás, se ela puxar a você, tenho pena do pequeno Cornélius aqui!! - brinca outra vez, mexendo com o menino, este voltando os olhos azuis como os do pai para o detetive, agitando-se.

—Obrigado por tirá-lo da inércia, Jay! - Connor exclama, tendo dificuldade em conter o filho.

—Posso segurá-lo? - Daniel pede.

—Claro - Connor e Sarah dizem juntos, o cirurgião entregando-o ao Psiquiatra.

—Olá rapazinho, como vai? - Daniel diz, aveludando a voz, segurando uma das mãos do menino - Seu avô era um homem forte e decidido, assim como seus pais e sua tia são.  Os amava, do um jeito meio torpe, mas amava e estou certo de que ficaria imensamente feliz em saber que recebeu o nome dele - observa, emocionando Claire e Connor.

—Tudo bem que quiseram homenagear o avô, mas prometam que irão entender se ele quiser mudar de nome aos dezoito!! - Will brinca, quebrando o clima triste que ameaçava se instalar, recebendo sorrisos discretos em resposta.

—O que vocês andam fazendo? - Robin pergunta, mudando de assunto - Confesso ter ficado surpresa ao saber que não estava com a doutora Manning - admite, olhando do ruivo para a Pediatra e a seguir para a empresária - Como isso aconteceu? - quer saber, completando ligeiro - Se não se importam em falar sobre isso.

—De jeito nenhum - Natalie adianta-se, sorridente - Está tudo muito bem resolvido entre nós - assegura.

— Depois que Connor deixou Chicago, Claire e eu nos aproximando por conta da troca de mensagens. Quando ele não conseguia falar com ela, me pedia para transmitir o recado e vice versa. Assim fomos, aos poucos, descobrindo alguns gostos em comum e daí a coisa fluiu naturalmente - Will revela, beijando a mão da esposa.

—Que legal - a médica diz, olhando para Connor e Sarah - E vocês, estão trabalhando no mesmo hospital? - pergunta.

—Não voltei a clinicar ainda. Na verdade, retomei meus estudos depois que nosso filho nasceu - Sarah revela - Estou no terceiro período da faculdade de Nutrição e pretendo continuar trabalhando aqui - conta.

—Eu não estou trabalhando diretamente em nenhum hospital, embora dê plantão no New Amsterdam quando precisam - Connor revela - Optei por dar aulas na universidade, assim tenho mais tempo livre para ajudar com nosso filho e Sarah pôde retomar os estudos - conta, voltando-se ao escutar chamarem.

—Connor, Sarah, já podemos começar - Josafá avisa, conduzindo o ministro até a mesa que serviria de altar, fazendo com que os presentes se posicionassem, Will e Claire encarregando-se do sobrinho, deixando Connor livre, os três posicionando-se de lado do altar enquanto os demais convidados perfilando-se de forma a formarem um corredor por onde a noiva passa, conduzida por Daniel Charles, este entregando-a a Connor.

—Caríssimos! Estamos reunidos aqui para celebrar a união deste jovem casal - começa o ministro, arqueando a sobrancelha ao escutar limparem a garganta, Connor rolando os olhos - Como dizia, estamos reunidos para celebrar a união deste jovem casal diante de Deus e dos homens. Em tempos em que o amor tornou-se algo fora de moda, é gratificante saber que ainda existem casais dispostos a compartilhar uma vida, constituir família, viver juntos no amor - discursa, olhando-os - Os noivos escreveram seus votos? - pergunta.

—Sim - respondem.

—Fiquem de frente um para o outro e podem dizê-los - orienta, eles obedecendo.

—Connor …- Sarah começa, puxando o ar com força, controlando as emoções - Quando nos conhecemos, senti algo diferente, especial e com o passar dos dias este sentimento foi crescendo, mas por razões alheias a minha vontade, tive de sufocá-lo - relembra, suspirando - Naquela época, nem de longe imaginava os rumos que minha vida tomaria, nem o quanto as decisões que tomei me afastariam de você. Foi preciso estar longe para entender que o que sentia era amor. Mas era tarde demais. Havia te perdido - nova pausa onde respira, fechando e abrindo os olhos rapidamente - Mas olha o que o destino me aprontou! Justo quando me conformara, quando aceitara que não teria mais você, ele te traz até mim, no momento e lugar mais improváveis, e faz do que seria uma mera coincidência, um acaso, uma nova oportunidade. Não poderia perdê-la não é? - pergunta, fazendo-o rir pequeno - Mas quase perdi por pura covardia! - confessa, respirando fundo mais uma vez - Aquela noite, na estação do metrô, quando nos despedimos, tinha certeza de que te perdera de vez. Que nunca mais te veria… E novamente o destino me contrariou, graças a Deus! - exclama, provocando risos, olhando no fundo dos olhos dele enquanto conclui - E hoje estamos aqui, juntos, com nossos amigos, com nosso filho. Que mais poderia desejar? - inquere retoricamente - Te amei no passado…. Te amo no presente…. Te amarei para sempre! - declara, emocionada.

—Sarah…- Connor começa após um breve silêncio, a voz embargada - Como te falei naquela manhã de domingo a quase três anos, não poderia dizer ter sentido o mesmo quando nos conhecemos por inúmeras razões - afirma, beijando as mãos dela - Não me era indiferente, mas o que nutria por você naquela época tinha outra conotação, menos romântica, mais racional - lembra, olhando-a intensamente - A proximidade forçada daqueles dias, abalaram este meu pensamento, mas assim como o fez, por razões igualmente alheias a minha vontade, reneguei a idéia de estar começando a sentir algo mais por minha jovem e doce colega de trabalho - confessa - Mas o sentimento já havia se instalado em meu coração e ali ficou, adormecido, até o dia em que a ausência de visão me fez enxergar com uma clareza absurda!! - exclama, causando risos em alguns e estranheza em outros - Ainda assim relutei em aceitar pois havia me quebrado de tal forma, que jamais pensei alguém conseguiria colar os caquinhos tamanho era o estrago - declara, aquela altura boa parte dos convidados chorava - Mas você conseguiu! Quando me rendi e te deixei entrar na minha vida, em meu coração, você juntou cada mínimo caquinho e o colou tão bem colado, que aqueles a olharem de fora têm a certeza nunca ter-me quebrado! - respira fundo, aproximando-se mais dela - Você me devolveu a alegria, o gosto de viver e me deu o maior dos presentes depois de seu amor: nosso filho. Que mais poderia desejar? - parafraseia - Te amei aquele dia, quando me aceitou em sua vida….Te amo hoje…. Te amarei para sempre! - conclui, entrelaçando seus dedos.

—As alianças - o ministro pede, Will adiantando-se, entregando a Connor a caixinha de veludo negro contendo o par de anéis em ouro e prata - Enquanto a coloca, repita as minhas palavras - orienta, aguardando o cirurgião posicionar o anel no dedo anelar de Sarah, ditando as palavras que ele repete na medida em que insere o anel.

—Sarah, receba esta aliança como sinal visível de meu amor e fidelidade. Prometo te amar, honrar e respeitar, na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza, na riqueza ou na pobreza, todos os dias de nossas vidas!

—Connor, receba esta aliança como sinal visível de meu amor e fidelidade. Prometo te amar, honrar e respeitar, na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza, na riqueza ou na pobreza, todos os dias de nossas vidas!

—Tendo os nubentes feito seus votos, pelos poderes a mim investidos pela santa madre igreja e pelo Estado de Illinois, eu vos declaro marido e mulher, diante de Deus e dos homens, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo! Aqueles que ELE uniu, ninguém separe - conclui, olhando-os a sorrir - Pode beijar a noiva - libera, um coro de “Vivas”  reverberando pelo salão.

—Que cerimônia linda!! - Kimberly elogia alguns minutos depois, suspirando.

—Dá até vontade de casar! - Maísa exclama, fazendo Rafael recuar um passo.

—Eles formam um casal realmente muito lindo - Robin Charles diz, Daniel, Claire, Will, Maggie, Josafá e Ana corroborando, em silêncio, observando-os dançar tendo o filho com eles, Adam Ruzek quebrando-o.

—Ok. Está tudo muito lindo, mas será que alguém poderia me esclarecer uma coisa? - pergunta, voltando-se para o bolo recém partido - Entendo os cães enrolados a eles. Entendo o bebê engatinhando - enumera os enfeites no topo - Só não entendi uma coisa: porque raios a bonequinha da Sarah tá espirrando spray de pimenta no bonequinho do Connor? - quer saber, Rafael, Vanessa e Maísa rindo divertidos, a primeira postando-se diante do grupo.

—Tudo começou em um vagão de metrô….

“...Come on, come on! Move a little closer; Come on, come on! I want to hear you whisper; Come on, come on! Settle down inside my love;

Come on, come on!Jump a little higher; Come on, come on! If you feel a little lighter;

Come on, come on! We were Once Upon a time in love!!

We’re accidentally in love! Accidentally in love! Accidentally in love!....”

Accidentally In Love

Couting Crows

 


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Notas finais do capítulo

É isso! Dever quase cumprido. Dentro de alguns minutos minha Ciin irá postar Mesa para dois (dividi com ela a tarefa de postar ou não daria conta!) e terei comtemplado meus três shipps favs: Rheese, SnowMerlyn e Olicity forever!!!
Espero que tenham gostado.
Até breve.
Bjinhos flores



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