Amália Swan escrita por Bells


Capítulo 7
VII




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Me contam sobre os Frios

 

Sam olhou ao lado de fora, onde o tempo começava a fechar.

— Amy, não quero atrapalhar a conversa, até porque imagino que milhares de perguntas estejam na sua mente agora, mas o tempo está fechando. Talvez seus amigos estejam indo embora, não acho que iriam sem você.

Amália olhou à janela. Realmente, nuvens carregadas começavam a se fechar em torno da região. Despediu-se de Billy com um abraço apertado.

— Espero que volte. – Ele lhe falou sério.

— O mais rápido que eu puder. – Ela respondeu com um sorriso, fazendo o homem sorrir também.

Os cinco jovens saíram da pequena casa vermelha e voltaram em direção à praia.

— Aí está você! – Bella falou quando a avistou. Estava junto de Mike, Jéssica e Jacob.

— Eu me atrasei? – Amy perguntou preocupada.

— Não, está tudo bem. – Bella lhe sorriu. – Onde estava?

— Em casa eu te conto. – Amália falou, ainda processando tudo que havia descoberto.

Despediu-se do grupo de amigos que fizera, acenou para Jacob e entrou no Suburban de Mike, rumo à Forks.

Quando chegaram em casa, Bella logo subiu ao seu quarto, parecendo não querer conversar com ninguém. Amy ficou parada um tempo na cozinha, sem conseguir pensar em muitas coisas, ainda impactada com tudo que acontecera no dia.

Charlie estava muito animado com um jogo de basquete que acontecia naquela noite, então não percebeu o comportamento estranho de nenhuma das garotas.

Naquela noite, Amália custou a dormir e, quando o fez, teve um sonho estranho.

A primeira cena que se apresentou na sua mente era a do dia do acidente. Seus pais estavam voltando para casa após um jantar do trabalho de sua mãe quando o carro explodiu.

“Foi implantada lá.” Ouvira o policial de Seattle falar para um companheiro. Aparentemente alguém colocara uma bomba lá.

Não era pra Amália ter escutado aquelas palavras, ela sabia, mas foi uma das poucas coisas que conseguiu captar do mundo quando viu a cena do crime pela primeira vez. Ela já havia sido afastada de Seattle, mas o crime que matara seus pais ainda era um mistério para a polícia local.

E então a cena mudou.

Ela estava na praia, em La Push. Seus pés estavam no mar e ela sentia a brisa marítima contra seu corpo. De repente escutou um uivo ao longe e, ao se virar em sua direção, seu pescoço foi agarrado. Não conseguia ver o ser que a segurava no ar, mas tinha olhos vermelhos como sangue.

Acordou assustada, ainda sentindo o aperto no seu pescoço. Respirou fundo, tentando se situar onde estava. Olhou para o seu relógio na cabeceira, não passava das quatro da manhã de domingo.

O medo preencheu seu coração e ela teve uma ideia maluca.

Tirou o pijama, colocando um abrigo quentinho e um tênis. Escreveu um rápido bilhete para Charlie e Bella, pegou as chaves da picape, esperando que sua irmã não se importasse, e dirigiu em direção à Reserva Indígena.

Chegou perto do litoral era 4hs40min da manhã. Levou o carro até o mais perto que podia da areia e respirou aquele ar. Como esperava, o fato de estar em La Push acalmou-a em segundos. Deitou no banco da picape, sentindo que conseguiria dormir finalmente. Então alguém bateu no seu vidro.

Levantou-se num pulo, com o coração batendo forte contra o peito.

A figura do lado de fora não parecia amedrontadora, na realidade.

— O que faz aqui? – A voz perguntou baixa.

— Amália? Está tudo bem? – Uma segunda figura apareceu.

Amy respirou aliviada ao perceber que reconhecia aquelas vozes.

— Embry, Quil, são vocês?

— Sim, somos nós! – Quil respondeu animado.

— Amy, o que faz aqui? – Embry perguntou confuso.

— Eu tive um pesadelo, minha primeira reação foi vir para cá. Não sei explicar, mas este lugar me acalma. – Amália disse com uma expressão envergonhada.

Embry abriu a porta de seu carro, fazendo um gesto para que ela saísse.

— O que vocês estão fazendo acordados essa hora? – Amália perguntou curiosa.

— Ah, é sábado! Estamos apenas curtindo a brisa e conversando. – Quil explicou. – Vimos quando a caminhonete chegou, depois vimos ser você.

— Quer andar por aí com a gente? – Embry perguntou.

— Parece uma boa ideia. – Amy sorriu.

Os três caminharam tranquilamente até a areia. Amália retirou o tênis e molhou os pés, assim como em seu sonho. No entanto, diferentemente de seu sonho, ela não sentiu medo. Embry e Quil a ladeando lhe passavam uma sensação forte de segurança. A brisa que encontrava a pele deles era gelada e Amy reparou que nem mesmo com a luz pálida refletida pela Lua eles deixavam o tom cobre de sua pele para trás. Amália nunca de fato havia valorizado seu tom. Nunca o achara nada demais, nem feio, nem bonito. No entanto, naquele momento, ela agradeceu sua ascendência indígena, sentia-se bonita.

— Amy, qual a relação de sua irmã com o Cullen? – Embry perguntou um pouco hesitante.

A garota levou um susto com a pergunta repentina.

— Como?

— Quando vocês foram embora, contamos ao Jacob sobre o que descobrimos sobre seu pai. Ele ficou bem surpreso pelo fato de vocês serem primos, sabe como é... Então, depois disso, ele contou que Bella perguntou sobre algo que Sam havia lhe dito mais cedo. Que os Cullen não vêm aqui. – Embry explicou. – Por que ela se importaria?

— Eu não sei, de verdade. – Amália respondeu com um suspiro cansado. – Todos eles me dão arrepios, como se algo não estivesse certo, mas Isabella parece não se importar. Na verdade, ela parece cada dia mais encantada com eles, principalmente com o garoto mais novo, Edward.

— Eles te dão arrepios? – Quil perguntou. – Céus, você realmente é uma Quileute.

Amália não entendeu essa fala do garoto e Embry pareceu perceber.

— Existe um tratado muito antigo, beira a geração do bisavô do Jake e do Quil. – O garoto alto falou enquanto afastava os cabelos longos dos olhos. – Um acordo que diz que os Cullen não podem entrar na reserva.

— Por que não? – Amália indagou realmente curiosa e confusa. Uma coisa era ela não ir com a cara da família, outra, bem diferente, era existir pessoas que proibissem a entrada deles em algum lugar.

Quil olhou para o horizonte, como se procurasse o sol. A claridade do amanhecer já começava a aparecer, no entanto o sol não, afinal o céu era coberto por nuvens densas.

— Amy, você acha que teria algum tipo de problema você passar o dia aqui? – Quil perguntou. – Acredito que existem pessoas que podem lhe explicar as lendas da tribo melhor que nós. – Ele justificou.

— Eu avisei Charlie e, bem, ele confia muito em Billy, então creio que não será problema. – Ela falou pensativa.

— Ótimo! – Quil falou animado novamente. – Podemos aproveitar e fazer um cochilo lá em casa agora, o que acham?

A palavra cochilo despertou o cansaço da noite mal dormida no corpo de Amy, que logo concordou.

— Vamos! – Embry falou e, como se para confirmar, deu um bocejo.

Caminharam por algumas ruas estreitas até que chegaram numa casa de madeira branca com uma varanda na frente. Era maior que a de Billy, mas tão aconchegante quanto.

Depois de um sinal de Quil, entraram em silêncio, dirigindo-se ao quarto do garoto.

— Pode ficar com a cama, Amy. – Quil disse apontando para o móvel.

— Vocês têm certeza? – Ela perguntou baixinho.

— Sim! – Embry respondeu no mesmo tom, enquanto tirava um colchão de trás da porta e o colocava no chão. Quil fez o mesmo com um que estava embaixo da cama.

Os dois pegaram travesseiros e mantas e logo deitaram em seus colchões.

— Para de ser tímida, Amy! Deite logo! – Quil ralhou com ela, que apenas sorriu envergonhada, tirando seus tênis e deslizando para baixo da coberta.

Ali, num quarto novo e com garotos que conhecia a menos de vinte e quatro horas, adormeceu tranquila.

Acordou com a movimentação de Embry arrumando sua cama. Piscou algumas vezes, aceitando a claridade, antes de sentar na cama.

O garoto lhe sorriu culpado.

— Desculpe, não queria te acordar.

— Não tem problema. – Ela sorriu. – Que horas são?

— Nove e meia. – Ele respondeu, enquanto dobrava a coberta. – Quil! – Chamou. – Acorde! – Ele disse enquanto cutucava o amigo com o pé.

— Só mais uns minutinhos, vô. – O adolescente resmungou.

— Eu não sou seu avô! – Embry disse rindo, enquanto tirava o travesseiro de debaixo da cabeça de Quil e o batia em seu rosto.

— Embry, cara, eu vou te matar. – Ele falou enquanto tentava abrir os olhos.

— Sem agressões físicas na frente da moça, Quil.

— Bom dia, Amy. – Ele falou levantando meio corpo, apoiando-se em seus braços.

— Bom dia! – Ela falou doce.

— Acho melhor sairmos logo, antes que seu avô veja que ainda estamos aqui. – Embry falou e estendeu a mão para ajudar Quil a levantar. – Vamos todos no Billy hoje, será bom para lhe explicarem algumas coisas!

Amy apenas assentiu, enquanto colocava o tênis. Prendeu seu cabelo com a borrachinha que havia ficado em seu pulso durante a noite e abriu a porta do quarto.

Os três saíram da casa, indo direto à cabana do Billy, o que dava mais ou menos três minutos de caminhada.

Bateram na porta e quem a abriu foi Sam.

— Bom dia! – Amy o cumprimentou animada.

Um cheiro gostoso vinha de dentro da casa e Amália percebeu que estava com muita fome.

— Entrem, entrem, a Sue está fazendo um bolo! – Ele falou e os três entraram.

A casa estava ainda mais cheia que no dia anterior, mas Amália se sentiu bem entre todas aquelas pessoas calorosas. Leah sorriu ao vê-la, assim como Billy.

— Charlie me ligou pedindo se você estava comigo. – Ele falou. – Eu vi a picape de Bella estacionada perto da praia, então falei que você estava na reserva. – Ele lhe sorriu.

— Obrigada, Billy, fui resgatada ontem a noite. – Ela falou rindo um pouco ao apontar para Embry e Quil.

— Muito bem, o bolo está pronto. – Sue chegou com a forma, algumas facas e guardanapos. Logo, todos já haviam se espremido na sala de Billy e compartilhavam do bolo.

— Então, a filha do pequeno Guilan achou sua casa, hm? – O maior dos homens falou. Harry Clearwater, Amy supôs.

— Foi uma grande surpresa, senhor. – Ela falou cuidadosa. Sentia-se bem-vinda num geral, mas tinha medo de irritar algum dos mais velhos.

— Não me chame de senhor, pequena borboleta, apenas Harry. – Ele lhe sorriu amável.

— Ok, Harry.

— Nós achamos que a Amy merece ter conhecimento sobre o acordo, sabe como é, agora que ela é uma integrante da família também. – Embry disse. – Até porque ela estuda na mesma escola que os Cullen e porque Bella parece ter um interesse pessoal neles. – Embry logo mirou Jacob, que se encolheu.

— Eu também acho justo. – Quil logo se adiantou, sendo apoiado por Sam e Leah.

— Muito bem, Billy, faça as honras. – O avô de Quil, o Velho Quil, disse.

— Amy, você conhece alguma de nossas histórias antigas, sobre de onde viemos... quer dizer, dos Quileutes? — começou ele.

— Não, na verdade. – Ela admitiu.

— Bom, são um monte de lendas, e dizem que algumas datam da grande inundação... Ao que parece, os antigos Quileutes amarraram as canoas no topo das árvores mais altas da montanha para sobreviver como Noé e a arca. — Ele sorriu, para me mostrar como dava pouco crédito a essas histórias. — Outra lenda diz que descendemos de lobos... E que os lobos ainda são nossos irmãos. É contra a lei da tribo matá-los. E há as histórias sobre os frios.

— Os frios? – Amy perguntou, sentindo-se arrepiar.

— Há histórias dos frios tão antigas quanto as lendas dos lobos, e algumas são mais recentes. De acordo com a lenda, meu avô conheceu alguns. Foi ele quem fez o acordo que os manteve longe de nossas terras. – Billy continuou. Atrás dele, Jacob revirou os olhos.

— Seu... avô? – Amy perguntou.

— Ele era um ancião da tribo, assim como Billy. – Harry tomou a palavra. - Olhe só, os frios são os inimigos naturais do lobo... Bom, não do lobo, mas dos lobos que se transformam em homens, como nossos ancestrais. Você pode chamar de lobisomens.

— Lobisomens têm inimigos mortais? – Amália perguntou confusa. Eram muitas informações.

— Apenas um. – Billy falou.

— Então veja você - continuou Jacob - por tradição, os frios são nossos inimigos. Mas aquele bando que veio para o nosso território na época do meu bisavô era diferente. Eles não machucavam como os outros da espécie deles faziam... Não deviam ser perigosos para a tribo. Então meu bisavô fez uma trégua com eles. Se prometessem ficar longe de nossas terras, nós não os revelaríamos aos caras-pálidas.

— Se eles não são perigosos, então por que são inimigos? – Amália tentava acompanhar a linha de raciocínio.

— Nunca se deve confiar nos frios, sempre há um risco aos seres humanos que ficam perto deles, mesmo os civilizados. – Billy falou. – Nunca se sabe até quando resistirão ao instinto da fome. – O tom assumido foi sombrio.

— Civilizados? – Amália perguntou visivelmente confusa. Leah a olhava compreensiva, eram muitas informações para um dia só.

— Diziam eles que não caçavam humanos, apenas animais. – Harry desdenhou, como se isso não fosse uma boa desculpa.

— E o que isso tem a ver com os Cullen? – Amy perguntou, tentando ligar os pontos. – Eles são como os frios que seu avô conheceu? – Perguntou para Billy.

— Não. – Billy fez uma pausa dramática. – Eles são os mesmos.

Amélia sentiu sua pressão cair. Respirou fundo, tentando fazer o cérebro processar tudo.

— Agora há mais deles. – Velho Quil acrescentou. – Um macho e uma fêmea a mais, mas os outros cinco são os mesmos. Ephraim Black, que é seu bisavô também, fez o trato com o líder deles, Carlisle. Eles se foram antes de eu nascer, mas retornaram.

— E o que eles são? – Amália perguntou com a curiosidade maior que tudo. – O que são os frios?

— Bebedores de sangue. – Harry respondeu. – O povo no qual você foi criada os chamaria de vampiros.

Amália deve ter feito uma expressão horrível, pois Sue logo interveio.

— Muito bem, chega de lendas. Não queremos entregar a garota traumatizada para Charlie, não é? – A esposa de Harry afagou seus cabelos.

O resto do café da manhã foi mais tranquilo, por mais que Amy tenha se mantendo calada na maior parte do tempo. Ao mesmo tempo que ingeria o bolo, digeria a história ouvida.

Pelo menos de uma coisa ela tinha certeza, não estava louca. De alguma forma seu corpo sempre soube que os Cullen eram encrenca. Sendo a lenda verdade ou não, não extinguia o fato de eles serem proibidos de entrar nas terras Quileutes.

Amália se sentiu aliviada por isso.

— Então, descobri que somos primos. – Jacob falou ao seu lado, avaliando-a. Não havia percebido ele chegar, mas correspondeu o olhar.

— É o que me parece. Terceiro grau. – Ela comentou.

— Olhe, não leve essas lendas a sério, ok? Às vezes eu acho que os anciões da tribo pararam no tempo com algumas crenças. – Ele revirou os olhos.

— Então você é cético? – Amy perguntou com um tom desafiador.

— Olhe, todos com o mínimo de senso nessa sala são, ok? As lendas são culturais, todos conhecemos, mas é tão mito quanto os Deuses do Olimpo. – Ele falou novamente. – Só não encrenca com isso, tá legal? De resto, seja bem-vinda à família.

E então saiu, indo de encontro a Quil e Embry.

Sam e Leah se aproximaram dela, sorridentes.

Conversaram por algum tempo, até que Amy viu no relógio de parede ser 11hs.

— Pessoal, muito obrigada por tudo, mas eu acho melhor eu ir. – Ela falou enquanto se despedia. Correu sozinha até a picape perto da praia e dirigiu calmamente até em casa.

No caminho, mil pensamentos a cercavam e logo sentiu falta da sensação de segurança que tinha quando estava em La Push.

Com o coração apertado, tomou uma decisão. Não contaria nada para Bella. Não podia, não tinha esse direito. Era um assunto da tribo. O fato dela ser da tribo não fazia com que Bella também fosse. Não podia compartilhar isso.

Seria segredo, por mais que tinha medo das consequências que esse segredo causaria.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Comentem!



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