O Passado do Lobisomem escrita por Heringer II


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ^^



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Depois que Aldo se tranquilizou, voltamos para o jardim do asilo e ficamos sentados lá por um tempo, tomando café.

— O café está bom, não está? – perguntei, tentando iniciar um assunto.

Aldo não respondeu. Virei meu rosto para a xícara e pensei em outra coisa para dizê-lo.

— Eu não vou embora hoje. – falei.

Aldo olhou para mim. Não perguntou nada, mas eu sabia que ele queria entender o que eu tinha acabado de dizer.

— Vou ficar com você esta noite. Não posso te deixar sozinho sabendo que a qualquer momento você pode tentar aquilo de novo.

Aldo deu um leve sorriso e respondeu.

— Para alguém que não tinha a menor intenção de cuidar de mim, você está se importando muito agora.

Retribui o sorriso.

— Por que quis fazer aquilo?

— Sabe, garota... Eu vim morar nesse asilo por decisão própria. Ninguém me colocou aqui. Eu vim para cá porque queria fugir.

— Fugir de quem?

— Não estava fugindo de uma pessoa, mas de algo.

— O quê, então?

— Do passado. Eu não queria revivê-lo. Quero enterrá-lo de uma vez por todas. Por isso que eu fiquei tão irritado quando você pegou o álbum de fotos pela primeira vez. Não queria que ninguém soubesse da minha vida antiga porque até mesmo eu quero esquecer ela.

— Se aquele álbum de fotos te traz tantas lembranças ruins, por que não se livra logo dele?

— Por mais que para mim aquilo traga péssimas lembranças, eu não devo negar que aquelas fotos tem uma importância histórica. Boa parte de uma história não contada sobre Lampião está naquele álbum de fotos.

— Então por que não o doa logo para um museu?

— E todo saber que eu matei Lampião? E ainda por cima matei milhares de outras pessoas a mando dele? Não, obrigado. Prefiro esperar a minha morte. Aí a pessoa que for arrumar meu quarto para fazer o memorial que encontre o álbum e o doe para um museu!

— Mas os seus crimes já prescreveram, não foi? Fazem mais de 20 anos!

— Não é com prisão que eu estou preocupado, Evelyn.

— Então com o quê?

Aldo suspirou fundo e me explicou.

— Imagina se soubessem que a pessoa que matou um dos maiores criminosos do país está aqui, morando num quarto pequeno de um asilo numa cidadezinha do interior? Imagina se soubessem quantas pessoas eu matei? Quantos detalhes eu sei sobre o cangaço que não estão escritos em nenhum livro de história? Quem deixaria este velho em paz?

Não falei nada, mas concordei com Aldo com a cabeça. Então, fiz outra pergunta.

— Quer me falar sobre o tiroteio na fazenda?

— Talvez.

— Quem eram aqueles homens?

— Se quiser mesmo saber, vai ter que prometer ficar calma.

— Por quê?

— Evelyn... Está na hora de saber a verdade sobre o tal lobisomem.

Aquilo me deixou assustada e ao mesmo tempo curiosa. Aldo pediu que eu me aproximasse dele, porque o que ele iria falar, falaria baixinho, pois não queria que ninguém mais ouvisse.

— Desde janeiro deste ano, um grupo de criminosos começou a atacar as fazendas do interior da cidade. – Aldo começou a falar. - Matando os animais e os fazendeiros. No entanto, eles não atacavam de maneira normal.

— Como assim?

— Esses bandidos se denominam como “novo cangaço”. E tem uma particularidade neles. Eles fazem de tudo para que os ataques dele pareçam ter sido feitos por uma fera.

Eu olhava para Aldo com uma cara de desentendimento.

— Apesar de estarem armados até os dentes, eles evitam ao máximo usá-las para atacar as fazendas. Eles usam luvas, aparentemente feitas por eles mesmos, com facas que simulam garras de um lobisomem. Só atiram se realmente for necessário. Aparentemente a intenção deles era propagar essa lenda, e pelo visto, conseguiram.

— E como é que você sabe disso?

— Numa noite, uns quatro meses atrás, eu fui até uma serra próxima a uma das fazendas, para gravar o meu diário olhando a lua, como era meu costume. Foi quando eu os vi se aproximar. Eles invadiram a fazenda e mataram os animais e o fazendeiro, não com as armas, mas com as luvas de garras, igual fizeram em todas as outras fazendas que atacaram. De vez em quando, eu tendo impedi-los, acabo com boa parte deles, mas eles sempre voltam, o que me leva a acreditar que seja alguma quadrilha.

— E por que eles estão fazendo isso?

— Isso eu não sei. Mas é bem que provável que eles queiram acabar com todas as fazendas do interior rural, por sabe-se lá o motivo. Só faltam duas para serem atacadas: Águas Claras e Terra do Dente-de-leão.

— Então deveríamos ir para uma dessas hoje à noite?

— Não. Não vão atacar hoje.

— E como você sabe?

— Eles perderam muitos homens no último tiroteio. Com certeza vão tirar essa noite para se estabilizarem novamente. No entanto, devem atacar uma dessas fazendas na noite de amanhã.

— E onde eles conseguem homens novos? Digo... Eles não acabam?

— Isso eu não sei responder.

— Então deveríamos nos preparar e evitar algum novo ataque!

— Não! Evelyn, me escute! Não pense em se meter nessa história, eu não quero que você se envolva em algo tão perigoso assim.

— Mas você se envolveu!

— Evelyn, isso não é como uma manifestação, onde no máximo um policial vai irritar seus olhos com spray de pimenta ou te dar um choque com um taser. Eu estou falando de uma quadrilha real que vai usar armas reais para te matar se você se colocar no caminho deles.

— Mas qualquer coisa eu tenho você para me ajudar, pensa que eu não vi como você agiu no tiroteio na fazenda Pôr do Sol?

— Uma coisa é eu me concentrar unicamente em derrotar a quadrilha, outra coisa é eu precisar derrotar a quadrilha e proteger você ao mesmo tempo.

— Mas...

— Evelyn, escute, eu não vou mais me intrometer nesse assunto. E você também não vai!

— Quer dizer que você tem a plena noção de que homens serão assassinados e de que fazendas serão destruídas, e mesmo assim você prefere não evitar essas coisas?

— EU TENTEI EVITAR! – Aldo virou para mim, gritando, em seguida abaixando a voz para não chamar mais a atenção das pessoas lá dentro do asilo. – Sabe quantas noites de sono eu perdi para ir a pé até a zona rural só para enfrentar aqueles...

— CHEGA! – gritei interrompendo-o. – Que tipo de pessoa você é, hein? Guarda traumas de coisas que aconteceram há décadas, desanima fácil, deixa um trauma lhe colocar pensamentos suicidas, admita que por trás dessa sua personalidade arrogante está um homem covarde! É isso que você é, entendeu? Um covarde! Se você não quiser se envolver nisso, ótimo, seu velho idiota, ótimo! Vá se deitar naquela cama imunda e durma, se é que a sua consciência não vai pesar no seu travesseiro!

Quando eu me calei, fiquei só esperando a bronca que Aldo iria dar. Ele virou-se, olhou para mim e perguntou.

— Você sabe atirar?


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Notas finais do capítulo

Ok, agora o negócio ficou sério