Condomínio Laranjeiras, n° 88 escrita por Beykatze


Capítulo 2
Marco Saulo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ♥



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Marco chegou em casa e entrou, batendo a porta em suas costas, abandonando a noite fria que corria pelos corredores do condomínio.

— Cheguei – Anunciou. Sua voz ecoou pelo apartamento.. Estava tudo estranhamente silencioso e parecia abandonado, não acreditava que Rebeca já estava dormindo, ela dissera que o esperaria acordada.

— Amor? – Tirou os sapatos, deixando o par sujo na porta e chegou na cozinha usando apenas as meias velhas e esburacadas. Rebeca tentava jogar aquele par no lixo fazia semanas, ela provavelmente estava certa, iria se livrar da peça mais tarde.

Ouviu a televisão ligada no filme de romance preferido da esposa e abriu um sorriso, ela devia ter caido no sono, já conhecia de cor as falas e passos da obra, dormia facilmente o assistindo. Caminhou vagarosamente até o quarto escuro afrouxando a gravata e seus olhos demoraram a entender o que viam.

Sob a luz colorida e vibrante do filme, Rebeca Batista jazia no chão. Olhos cerrados, mãos perto do pescoço, como se lutasse para respirar, e uma tira vermelha ao redor da pele morena do pescoço.

— REBECA!

O homem se ajoelhando ao lado da esposa engasgando nas próprias lágrimas.

***

O jogo na televisão estava dois a dois, clássico a mil. Bernardo estava quase pulando do sofá, nervoso com o placar, quando seu celular tocou.

— Alô – Atendeu a chamada de Marco, que morava no apartamento de cima, sem prestar muita atenção.

— Bernardo?

— Cara, tu tá vendo o jogo? Eu nem acredito...

— Bernardo, pode vir aqui?

— Como assim? – Gaguejou. O vizinho não queria que ele saísse no meio daquela partida não é mesmo? Eles nem eram amigos, que droga, não podia nem esperar o intervalo, ao menos?

— Pode vir aqui? Aconteceu uma coisa.

— Que coisa? – Estranhou o conteúdo da ligação e a voz abafada do homem, começando a perder o interesse no jogo subitamente.

— É a Rebeca. Eu acho que ela está morta.

Susana, sua esposa, saiu do banheiro com uma toalha enrolada no corpo e outra na cabeça e parou na sala com as mãos na cintura, querendo saber com quem Bernardo conversava com aquela cara de enterro.

— Eu to subindo agora.

Desligou o aparelho, largando-o de qualquer jeito no sofá e absorvendo o choque sob os olhos grandes e castanhos de Susana, que esperava uma explicação.

— Ta subindo aonde agora? A essa hora...

— Era o Marco – Sussurrou.

— Quem? – Franziu as sobrancelhas.

— Nosso vizinho. Aquele que joga futebol comigo nos domingos.

— Ah, sim – Acenou positivamente com a cabeça indicando que continuasse.

— Ele disse que a mulher dele está morta.

Susana arregalou os olhos e correu para o quarto, para vestir uma roupa antes de ir com o marido para o apartamento possuida de uma curiosidade mórbida.

***

— Dalila, eu juro que aconteceu bem assim – Gargalhou Márcia conversando com uma amiga ao telefone – JU-RO! O que? Sim, sim, bem isso mesmo.

Enquanto falava, enrolava os fios das almofadas sobre a cama distraidamente.

— Espera um pouco, tem alguém me ligando – Afastou o rosto, lendo o nome – Ih, deixa eu atender, Dalila, é meu vizinho gostosão. Alô.

— Márcia?

— Oi, Marco, sou eu.

— Poderia vir aqui, por favor?

— Ah, claro. Já estou indo.

Afastou o celular rapidamente da orelha e nem ouviu o homem avisar:

— Eu acho que a Rebeca está morta.

Deixou o aparelho no bidê e abriu o armário, para trocar de roupa. Vestiu uma blusa vermelha de manga curta, com um decote em v no peito, que expunha seus seios de modo sensual e trocou as calças de moletom por um jeans justo. Não sabia porque ele a chamava, podia para pedir uma ajudinha ou para uma noite louca de sexo selvagem. De qualquer modo, se vestiu para surpreendê-lo e foi até o elevador com um sorriso no rosto rosado.

— Boa noite – Cumprimentou Bernardo e Susana, que moravam no mesmo corredor que ela. Tentou não fazer contato visual com o casal, que estava muito sério.

— Noite – Bernardo sussurrou. As portas metálicas se abriram e os três entraram, apertando o mesmo botão para o andar de cima.

— Parece que estamos indo para o mesmo lugar – Comentou sorridente.

— Eu duvido muito – Susana murmurou estreitando os olhos.

Márcia ignorou a alfinetada, aquela burra não sabia de nada e ainda achava que tinha direito de ser grossa. Um riso escapou dos lábios enquanto se imaginava xingando a mulher e contando e ela tudo o que ela não sabia. Esse dia chegaria e ela mal podia esperar para ver a boca carnuda aberta e a pele negra roxa de raiva.

As portas se abriram mais uma vez e todos saíram, indo na mesma direção para a surpresa geral. Pararam na porta de Marco e Bernardo bateu algumas vezes, antes do homem abrir.

Marco era um homem branco, de estatura mediana, corpulento (ou o que Rebeca costumava chamar de “fofinho”), olhos e cabelos castanhos e sempre bem penteado e arrumado. Entretanto, naquela noite, seus olhos estavam vermelhos, o rosto estava inchado e a roupa desgrenhada, assim como o cabelo.

— Marco? – Márcia sussurrou vendo o estado dele, completamente confusa.

— Podem entrar – Pediu dando espaço. Suas mãos estavam trêmulas e ele fungava sem parar – Ela está no quarto.

Susana sentiu o estômago embrulhando, não queria ver a morta jogada lá, mas não tinha escolha. Caminhou devagar agarrada no braço do marido, percorrendo o apartamento com passadas rápidas.

O quarto estava escuro e Rebeca estava no chão, em uma pose sofrida.

— Ela... Ela realmente se foi – Bernardo concluiu desviando o olhar rapidamente.

— Você já ligou para alguém? – Susana indagou com suavidade.

Marco negou com a cabeça e Susana sacou o celular do bolso do casaco velho que usava, discando o número da polícia.

— Boa noite. Tem uma moça morta aqui no Condomínio Laranjeiras, número 88. Apartamento 34. Obrigada.

— Eu acho que a gente devia sair daqui – Bernardo sugeriu tocando as costas do outro homem – Para não atrapalhar quando a polícia for investigar.

— Investigar? – Márcia gaguejou.

— Foi um assassinato – Susana falou sem paciência guardando seu aparelho – Eles precisam descobrir quem foi.

— Ai meu deus – Levou as duas mãos até a boca. Susana revirou os olhos, como odiava aquela mulher. Até mesmo em uma situação como aquela ela queria aparecer e ser a estrela.

— Vamos sair daqui – Marco disse baixinho, assentindo enquanto saia do quarto, sendo seguido pelos três – Eu chamei vocês aqui porque... Eu não sei. Eu não tenho muitos amigos aqui no condomínio e eu precisava de alguém aqui.

— Sem problemas, Marco – Susana deu um aperto amigável no braço dele, confortando-o.

— É que... Você é meu amigo de futebol – Falou para Bernardo com um riso sem graça e se virou para Márcia – E você faz as unhas da Rebeca... Fazia. São as três pessoas mais próximas de mim aqui. Eu precisava de alguém, sabe.

— É normal precisar de pessoas – Susana sorriu fracamente – Somos seres sociais.

— Ai meu deus – Márcia murmurou mais uma vez.

— Vamos sentar ali fora – Bernardo guiou o grupo para o corredor – Não queremos atrapalhar nada daqui.

— Quem faria isso com ela? – Marco afundou o rosto nas mãos, no momento em que sentou no chão frio, chorando copiosamente enquanto aguardava a ajuda chegar.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :D
E ai, de quem vocês suspeitam?



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