Baby I'm bleedin', bleedin'
Stay
Can't you give me what I'm needin', needin'
Every heartbreak makes it hard to keep the faith

Ochako abriu a porta da academia devagar, colocando apenas a cabeça pra dentro. Seus olhos varreram toda a extensão do local até encontrar Katsuki em um dos cantos, treinando sozinho com um saco de pancadas. Ela sorriu e entrou no recinto, indo na direção do loiro, que nem se virou ao ouvir a porta abrir e fechar.

— Oi! — Ela chamou-o quando parou atrás dele. 

— E aí — respondeu sem nem se virar para Uraraka, continuando a desferir golpe atrás de golpe no saco de pancadas.

A morena fez um bico por ele não a olhar e foi mais para o lado, ficando na visão periférica dele. Katsuki viu quando ela parou ali ao lado, de braços cruzados e um bico enorme, e parou com os golpes, olhando-a. Ochako aproveitou a deixa para se aproximar e depositar um beijo nos lábios do namorado, sorrindo.

— Vai demorar muito seu treino ainda? — perguntou, afastando-se para que o loiro continuasse o que estava fazendo.

— Não muito. Por quê?

— Bem, é que faz um tempo que não conseguimos sair ou ficar um tempinho só... nós dois… — A morena colocou uma mecha atrás da orelha do cabelo e começou a bater os indicadores, num sinal de nervosismo e vergonha. — Eu queria ver se você não quer sair pra jantar ou assistir um filme no meu quarto depois.

— Não posso. Marquei de treinar com o Kirishima antes do jantar.

— Ah… A gente pode sair pra almoçar, então!

— Preciso estudar essa tarde.

— Certo… — A morena franziu o cenho e desviou o olhar. O garoto parou com os golpes por alguns segundos, segurando o saco de pancadas enquanto virava o rosto na direção da namorada. Ele havia percebido que o tom de voz dela havia mudado, demonstrando que estava chateada, mas antes que pudesse perguntar, ela continuou a falar: — Bom, eu vou pro meu quarto, então. Até depois…

Ochako saiu de cabeça baixa do local, deixando Katsuki sozinho com seu treino. Quando chegou ao seu quarto, a morena se jogou na cama, encarando o teto de forma apática. Há quase um ano, ela e o garoto explosivo haviam começado a namorar, mas, às vezes, ela sentia que estava perto de um simples colega de turma. Bakugou sempre foi focado em seus objetivos e ela sempre admirou a determinação dele, contudo, a cada dia que passava, Uraraka sentia que uma parede erguia-se entre os dois, distanciando-os cada vez mais. Poxa, fazia quase um mês que os dois não passavam um tempo juntos, sozinhos, dando uns beijos ou só abraçados vendo um filme… Qualquer coisa que um casal faria e que ela sempre gostou de fazer com ele.

A controladora da gravidade às vezes sentia que apenas ela se esforçava na relação, que apenas ela corria atrás para estar sempre por perto dele, afinal foi inclusive ela quem correu atrás dele no começo do namoro. Ela sentia que se não fosse por seus esforços, ele estaria ainda mais distante. Mas até quando era obrigada a ficar nisso? Até que ponto ela se sentia capaz de ver esse relacionamento desmoronar? Por quanto tempo mais Uraraka teria que aguentar ver e sentir que Katsuki se distanciava cada vez mais, como se estivesse escorregando por entre seus dedos? Suspirando, decidiu que não precisava de nada disso e tomou uma decisão.

I've got a hundred million reasons to walk away
But baby, I just need one good one to stay

Ochako mordia o lábio inferior de nervoso. Levantou a cabeça para observar o namorado treinando com Kirishima — de novo —, enquanto esperava eles acabarem para conversar com Katsuki. Aparentemente, a garota havia chego já no final do treino, pois não demorou muito para os dois pararem. 

— Olá! — Ela se aproximou dos dois, batendo o punho fechado com o do Kirishima. Virou-se para Katsuki, continuando a falar: — Podemos conversar?

— Eu já vou indo. Falou! — O ruivo pegou suas coisas e saiu apressado do ginásio, percebendo que os amigos precisavam de privacidade.

Bakugou olhou para a namorada, vendo como suas expressões facial e corporal já demonstravam que algo estava errado. A morena ainda mordia o lábio e agora mexia nervosamente nos dedos das mãos.

— Tá… tudo bem? — Ele perguntou, incerto.

— Não. — Ela respondeu, soltando um suspiro em seguida. — Eu sou sua namorada, Katsuki, mas nunca consigo ficar um tempo com você. A gente só tem se visto nas aulas e nas refeições. Faz quase um mês que a gente não passa um tempo juntos! — A morena decidiu apenas jogar a bomba de uma vez, sem enrolações.

— Estamos sozinhos agora…

— Você me entendeu! — Ela passou a mão no cabelo, ficando agitada. — Eu quis dizer sozinhos, como um casal, fazendo coisas de casal, não treinando ensandecidamente.

— Eu sempre disse que meus treinos eram importantes, são como eu vou alcançar meu objetivo de ser o melhor herói.

— Eu sei! Só que… você também concordou em me dar atenção nesse relacionamento. Eu sinto cada vez mais uma distância entre nós dois e você não está ajudando a diminuir, está apenas aumentando.

— E o que você quer que eu faça? — Bakugou fechou a cara.

— Me trate como uma namorada! Já pensou nisso? — Sua expressão também ficou irritada por alguns segundos, logo amenizando-se. A morena soltou um suspiro alto antes de continuar: — Eu entendo que é o seu sonho, Katsuki, de verdade. Entendo sua determinação em ser o melhor sempre. Mas eu peço que entenda que um relacionamento não é algo apenas para dizer que tem, precisa de cuidados e de atenção, coisa que eu não tenho recebido faz um tempo. Eu não sei se eu quero ficar num relacionamento apenas por ficar… — A voz da morena foi diminuindo, mas ainda era o suficiente para ele ouvi-la.

Bakugou arregalou os olhos para a namorada, dando um passo na direção dela. Seu coração parecia bater dentro de seus ouvidos, sua respiração pesou e suas mãos começaram a suar. Ela estava dizendo o que ele achava que ela estava? O loiro abriu e fechou a boca algumas vezes, até conseguir encontrar as palavras que precisava e proferí-las:

— O que diabos você tá falando?

— Acho… Acho que você me entendeu… — Uraraka abaixou o olhar, não conseguindo sustentar a intensidade com a qual o loiro encarava-a.

— Não — respondeu simples, mas em um tom de súplica que a garota nunca tinha ouvido. Katsuki deu mais alguns passos até ficar perto o suficiente da garota. — Ochako, não faz isso…

A morena não conseguia responder. Sentiu seus olhos se encherem de água e sua visão começou a ficar turva, o que significava que se tentasse falar, as lágrimas cairiam com força. Abaixou a cabeça e respirou fundo algumas vezes, tentando se acalmar para ao menos conseguir terminar de falar o que precisava. Poderia chorar o tanto que precisasse depois, sozinha, em seu quarto.

— Eu… — Sua voz saiu embargada, mas Ochako pigarreou para tentar melhorar. — Eu preciso… Se eu não te procuro, você não me procura, porque tá sempre treinando e me deixando de lado, e eu… não quero isso pra mim.

— Não faz isso, Ochako, por favor. — A voz de Bakugou estava num tom baixo e suplicante. Ela olhou para cima e viu que ele também estava com o rosto molhado, os olhos expressando desespero. — Não me deixa… Eu vou mudar, eu vou melhorar, eu… Eu faço qualquer coisa!

— Não vai dar certo. — Ela fungou e sentiu as lágrimas começarem a cair livremente por suas bochechas. — Vamos acabar caindo nessa mesma situação de novo, depois de um tempo.

— Não vamos! — O loiro levantou as mãos e segurou o rosto da Uraraka, secando as lágrimas dela. — Eu amo você, Ochako, e eu prometo que não vamos. E você sabe que eu não minto nem quebro promessas… 

— Katsuki, eu…

— Por favor, Ochako… Eu prometo…

A morena encarou as orbes rubis por alguns segundos, sentindo a disposição do namorado em realmente mudar e esforçar-se. E ele estava certo, afinal, ele nunca mentia nem quebrava promessas.

— Uma chance. — Ela disse, assentindo com a cabeça.

— É tudo que eu preciso. — Bakugou respondeu, dando-lhe um selinho e a abraçando pelo pescoço, sussurrando em seu ouvido: — Eu te amo.

— Eu também te amo — sussurrou de volta, passando os braços pela cintura dele e afundando o rosto em seu peito.

Ochako sentiu que a parede estava abaixando aos poucos, aproximando-os novamente. Ela sentia que esse era o Katsuki por quem havia se apaixonado e com quem havia começado a namorar. Seu coração acelerou e ela sorriu, suspirando com um certo alívio.

Talvez ela só precisasse da confirmação e de uma única razão para ficar.