Sentada num banco de baloiço, encontrava-se Hinata, a rainha do submundo, descalça e com um vestido longo, preto e com várias raxas a mostrar as suas pernas torneadas, e com um decote enorme nas costas e outro mais pequeno á frente. A tocar na pele pálida havia várias joias em ouro por todo o corpo da morena. Os cabelos estavam presos numa trança adornada de ouro.

Na mão repousava um cálice de vinho.

Perguntava-se o que aquele idiota tinha na cabeça para ir lá e tentar “compra-la”, com aquele líquido carmesim, que apesar de delicioso, não era nada, comparado com tudo o que possuía e tudo que o Deus Itachi lhe oferecia.

Não queria mais nada, tinha tudo o que queria e o que não queria.

Mas…. Porque então aquele maldito vazio continuava ali?

Porque não ia embora? Porque não desparecia?

Porquê continuar ali atormenta-la?

Urrou irritada e lançou o cálice contra a parede, derramando aquele líquido carmesim por todo o lado.

—“O que falta afinal?” – Gritou irritada. –“Eu tenho tudo. Todos teme-me, todos imploram de joelhos para mim.” – Riu desgostosa. –“ Então o que falta? Porque deste maldito vazio que se faz presente?” – Perguntou aos quatro ventos.

Estava irritada com tudo aquilo odiava não ter respostas para o que sente.

—“O que te falta, minha querida Hinata!” – Diz risonho, enquanto acompanhava a brisa do ar. –“ Falta amor, minha rainha.” – Riu mais ainda. Vendo a irritação aparecer no rosto da bela morena. Era tão bela como todos diziam que ela era. –“Esse é o significado de veres o Deus Deidara aqui, a oferecer-te algo que nunca tiveste nas tuas mãos… Despertou-te algo ai dentro…” – apontou-lhe para o peito, deitado de lado, com um braço a suspender a sua cabeça, ainda no ar.

—“O que é que tu sabes, Orochimaru?” – Perguntou irritada.

—“Apenas sei o que vejo, aqui e no mundo dos terrestes. Os humanos são algo fascinantes sabias disso? Sentem coisas estranhas, mas ao mesmo tempo, são intrigantes.” – Deu de ombros. –“ Sei aquilo que vejo, olhando para ti, aqui e agora, e noto que esse vazio que tu sentes, é falta de amor.” – Senta-se em posição de índio. –“E veres aquele idiota, com um enorme sorriso, e que te mostra o que é ser feliz sem responsabilidades. O que é ser apenas ele, sem ter que que demostrar quem ele é na realidade. Isso é o que te impressionou.” – Sorriu, vendo-a a bufar. –“Isso fez com que tu o admirasses e o amasses, neste exato estante, por tudo isso.” – Passou calmamente ao lado da morena, acariciando-lhe a bochecha pálida e de uma pele tão delicada, que se podia assemelhar á mais pura seda que existiu. –“ Tu estas farta da escuridão, dos gritos, dos choros, das implorações, que te envolve aqui em baixo.” – Parou atrás dela. –“Tu estas farta da morte que esse lugar impregna. E veres aquele ser tão livre e tão feliz, revolta-te. Faz-te voltar ao passado de quando eras assim como ele, antes de tudo que ele te fez…” – Massageou-lhe o pescoço, vendo-a tensa, irritada, e com as mãos em punho, pronta para a socar.

Ela era perigosa e ele sabia-o.

—“ O que um reles mensageiro dos Deuses sabe?” – Perguntou irónica. –“O que tu sabes?” – Olhou-o nos olhos, vendo-o estreita-los, enquanto fechava as mãos em punho. –“ Tu não és nada, apenas és um reles no meio de todos outros Deuses. Tu não és nada, comparado com todos os outros… És alguém que serve apenas para fazer favores…”-Soltava cada palavra com prazer. Ela adorava ver o que elas causavam nos outros. –“Eu não sinto amor por ninguém, nem mesmo pelo Rei do Submundo. Não posso sentir, porque a morte toma conta de mim. A escuridão é a única coisa que ocupa o espaço do meu peito.” – Sorri amargamente. Odiava tudo aquilo, mas ela agora era assim. –“O que dizes-te ate agora, não serve para nada. O amor que tu falas, é para os fracos. Para os fracos, como tu, e o Deidara. Eu sou forte porque não o sinto, e nem deixo isso entrar aqui, não sou como a Ino, e como o Naruto. Eles são fracos, por sentirem algo como esse sentimento reles. São fracos.” – Riu.

—“ Achas que eles são fracos, porque sentem o amor?” – Perguntou rindo-se histericamente, irritando a rainha. –“Eles são mais fortes que tu… sabes porquê?” – Aproximou-se, sentindo a aura negra em volta da morena. –“ Porque eles amam e são amados na mesma intensidade, por todos á sua volta e tu…” – Olhou-a nos olhos com os braços abertos. -“ Tu não tens ninguém á tua volta. Olha… Está tudo vazio, só se vê escuridão. Ninguém gosta de ti. E isso irrita-te, porque como Rainha do Submundo, achas que todos deviam estar aos teus pés, mas estás enganada. Todos têm medo de ti, só isso, que todos sentem por ti.” – Riu vendo-a mais nervosa ainda.-“ Isso irrita-te, não é? Saber que todos te respeitam pelo medo que sentem por ti!” – Rapidamente levou a mão á boca, arregalando os olhos. Esta por sua vez trincou os dentes com bastante força, a raiva que sentia era enorme, e naquele momento só desejava a morte daquele maldito Deus reles que estava ali na sua frente. –“Espera… Espera. Nem respeito sentem mais por ti, sabes porquê? Porque nem Itachi, que te amava tanto, te respeita. A vossa história, de como se conheceram, de como tu passas-te a ama-lo, deixou de existir, para ti. Tu tornaste-te amargurada. Sempre que vais á terra, simplesmente destróis tudo aquilo que tocas!” – Diz irritado. Não conhecia mais a morena, a alegre, feliz e encantadora Hinata que era antes de Itachi a ter sequestrado por se ter apaixonado por ela. –“ O que aconteceu para mudares tanto e tornares-te tão mesquinha e impiedosa com todos?” – Estava irritado com tudo aquilo. Com a transformação da morena, com o que aconteceu.

—“ Quem julgas que és, para falares assim comigo? –“ Gritou revoltada. –“ Não te esqueças que estas no meu reino, e deves-me respeito. Porque eu juro que mais uma palavra para ofenderes-me, eu faço tudo para não saíres mais daqui, mesmo que implores de joelhos, por misericórdia.” – Ameaçou-o. –“ Agora desaparece da minha frente e nunca mais aqui voltes.” – Virou-lhe as costas e entrou no seu quarto.

—“Hinata, já te esqueces-te o que Itachi te fez? Esqueceste-te o que a tua mãe passou com tudo o que ele fez?” – Perguntou mesmo sabendo que não teria resposta, por parte da morena. –“ Tornaste-te em alguém sem escrúpulos, sem coração, totalmente diferente do que eras.” – Negou com a cabeça. Estava revoltado com toda aquela situação. –“ Tu amas o Itachi?” – Perguntou, mas mais uma vez, sem resposta. –“ Ele traio-te por escolher Ino e as outras Deusas. Ele não é fiel a ninguém, nem mesmo a ti, e tu sabes isso. Por isso essa frieza. Tu o amas verdadeiramente. Mas sabes uma coisa Hinata?” – Sorriu amargamente. Sabia o que estava a causar nela. Mas ele tinha que lhe abrir os olhos. – “Ele não foi o único a destruir isso. Tu fizeste escolhas que te levaram a destruir esse sentimento que ambos sentiram de verdade. Ambos o destruíram. E tu agora queres que todos sofram o que sofres-te, e o que sofres ainda. Queres que todos chorem, como choras-te. Que implorem, como tu imploras-te.” – Contestou, estava a tocar na ferida aberta, ele sabia-o. Ela não era mais a mesma, nem quando estava junto á mãe durante os seis meses, que era obrigada a isso. –“ O que vês no Deidara era o que tu eras antes. E sabes que o amor deixa todos mais fortes, por mais que digas o contrário.” – Deu de ombros. Tudo o que dizia era verdade.

—“ Eu já te disse Orochimaru. Mais uma palavra e eu destruo-te.” – Rugiu irritada. –“ Não queiras testar a minha paciência, que neste momento encontra-se nula.” – Berrou nervosa.

—“ Porque estas assim então Hinata? Se não sentes nada relacionado ao amor, porquê tanta raiva?” – Perguntou curioso.

—“Eu já avisei… “ – Era um aviso. O seu último aviso, e ele sabia-o. Por isso tinha que ser rápido.

—“ Sabes, realmente nada disto me importa… É a tua vida afinal. –“ Ouviu-a a rir-se, olhou sério para ela.

—“ Finalmente dizes algo de verdade. E tens razão, nada disto é da tua conta. Por isso desaparece.” – Ordenou.

—“Mas só te digo mais uma coisa.” – Ignorou-a e continuo. –“ Tu não vais chegar a nenhum lado assim, apenas irás destruir todos e tudo em que tocas, por estares tão focada no passado.” – Pausou, para respirar fundo.

—“ Tens três segundos, Orochimaru, para desapareceres da minha frente. Três segundos…” – Diz fria e rude. Em nada era a Hinata que conheceu antes do seu sequestro.

—“Sabes Hinata.” – Tornou a falar. –“ As verdades doem e pesam muito. Eu sei o quanto sofreste e sofres por tudo o que o teu marido fez e faz ainda. Mas não é transformares-te em alguém amargurado e revoltado, que vais ser feliz. Pelo contrário, vais ser muito infeliz e vais sair destruída. O que passou, passou, não devias viver no passado para sempre.-“ E assim foi embora, deixando a Rainha a pensar nas suas palavras, enquanto destruía tudo o que tinha pela frente.

Sabia o quanto foi duro, mas era necessário. Tinha visto como tratou e ficou o loiro, quando este lhe levou o cálice de vinho.

Ela tinha raiva pelo que lhe aconteceu. Raiva por todos serem felizes, e ela pressa ali, onde só há morte, gritos, choros, implorações e escuridão.

—“Maldito sejas Orochimaru…” – Gritou com ódio demasiado evidente na voz.