Green Light escrita por Tia Lucy


Capítulo 5
Capítulo 3 - Salvação


Notas iniciais do capítulo

Oilá diamantezinhos da tia, tudo bem com vcs?

Boa leitura :)



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Os dias estavam ficando mais quentes agora, prometendo ser uma primavera agradável e feliz. Pammy lia O Grande Gatsby, mais fervorosa do que nunca. Dessa vez, com mais esperança do que teve nos outros anos. Ela estava tão ansiosa. As palavras que acompanharam durante quase toda a sua vida, agora tinha um rosto, e logo teria uma voz. Mas uma voz de verdade, não os murmúrios e balbucios que Nick costumava fazer:

— Diretor — Pattie entrou na sala sem bater, com urgência na voz. — O paciente Carraway, senhor.

Só depois de ter vomitado as palavras, que a enfermeira chefe se deu conta da situação constrangedora. Enquanto o senhor Johnson permaneceu imóvel, pego de surpresa, constrangido, Pammy se levantou ajeitando a saia do uniforme, e correu em direção a porta, passando por Pattie sem olhar para ela.

Ela sabia muito bem o caminho para o quarto do primo, faria o percurso de olhos fechados, se precisasse. Havia duas enfermeiras na porta, hesitantes discutindo o que deveria fazer. Henri já estava lá dentro, agarrando Nick pelos braços, enquanto ele se contorcia. O rosto de Nick se transformou em uma careta transtornada, enquanto jorrava uma torrente de palavras desconexas da sua boca, seus olhos febris olhavam para todos os lados, como se procurasse alguma coisa:

— Larga, tá machucando ele — Pammy entrou no quarto, e tentou separar Henri de Nick.

— Você tá brincando? — Henri disse incrédulo.

— Larga ele agora — ela ordenou, firme na sua decisão.

Henri largou Nick e deu dois passos para trás, esperando que Pammy perdesse o controle. Ela estava concentrada em entender o que o primo estava falando, tentando colocar sua mão no ombro dele, sem apertar, sem agarrar, apenas tocar levemente:

— Eu preciso ir — Nick balbuciou, tirando a mão de Pammy do seu ombro. — Eu preciso... Jay...

O delírio fazia parte do efeito colateral da redução da dosagem, ela previa que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde. Nick estava delirando com a morte de Gatsby:

— Tá tudo bem Nick — ela falou calmamente, colocando a mão novamente no ombro dele. — Jay está seguro.

— Jay? — Nick a encarou nos olhos, o brilho febril ainda estava lá, mas ele parecia um pouco mais atento. Deixou que a mão permanecesse no seu ombro. — Onde ele está?

— Ele está seguro. Na torre, olhando para a gente — Pammy deu um leve aperto no ombro dele.

Nick ficou imóvel, sua respiração ainda era agitada, mas pelo menos não se debatia mais e nem tentava fugir. Pammy pôs a sua outra mão no antebraço do primo, massageando suavemente, continuando a falar tão suavemente quanto possível:

— É, Jay não foi para a piscina hoje — ela continuou. — Ele tá esperando você voltar do trabalho.

— Ele está? — Nick sussurrou, o brilho febril desaparecendo aos poucos, parecendo perdido.

— Está — Pammy segurou um pouco mais firme, arrastando o primo até a cama, o fazendo se sentar. Sua mão segurou a dele. — Mas você não pode ir ainda.

— Não posso? — ele sussurrou, olhando para algum ponto na parede.

— Ainda não, porque você prometeu que ia me esperar.

— Prometi? — seus olhos se encontraram, e Pammy confirmou balançando a cabeça.

— Jay está nos esperando para tomar chá — ela começou a esfregar as costas dele, e Nick voltou a ser o paciente tranquilo de sempre.

O diretor e Pattie entraram na sala, provavelmente demoraram por causa de uma discussão, pelo menos, era o que suas caras amargas denunciavam. Eles examinaram as expressões surpresas das enfermeiras, até verem com seus próprios olhos, como Pammy parecia ter controlado a situação:

— Se está tudo bem... — falou Johnson, desconcertado. — Acho que podemos voltar aos nossos postos.

— Eu vou ficar com o senhor Carraway — anunciou Pammy, vendo os outros saírem. — Só por garantia.

Quando ficaram sozinhos, Pammy ajudou Nick a deitar e o cobriu com a manta, o que foi bem fácil. Crises como essa seriam cada vez mais frequentes, e ela precisava estar atenta. Como os pacientes não acostumavam ter um enfermeiro ou cuidador próprio, Pammy tinha que pensar em algo para ficar ainda mais perto do primo.

Os olhos de Nick permaneceram bem abertos, e sua respiração estava levemente agitada. Pammy tentou ajeitar os cabelos do primo, que ficaram bagunçados durante a crise, colocando a mecha prateada atrás da orelha:

I've seen the world, done it all, had my cake now. Diamonds, brilliant, in Bel Air now — Pammy começou a cantar, sussurrando a música que a sua babá costumava cantar para ela, quando era criança. — Hot summer nights, mid-July. When you and I were forever wild — acariciou os cabelos de Nick num ritmo lento. Ela percebeu como a sua respiração normalizou, e seus olhos se fecharam. — The crazy days, city lights. The way you'd play with me like a child.

 

 

 

— O que foi aquilo? — Henri perguntou, se sentando ao lado de Pammy, na mesa do refeitório.

— Eu nem tomei café — ela resmungou. Pammy mal pregou os olhos durante a noite, pensando no seu problema.

— Não seja por isso — o enfermeiro encheu uma caneca com café, e entregou para ela.

Pammy deu alguns goles, e se sentiu melhor com o calor que descia pelo peito, até o estômago:

— Agora você vai me contar, o que foi aquilo? — ele insistiu.

— O que foi, o que? — ela perguntou distraída.

— O que você fez com esse cara — Henri tirou uma carteira de cigarro do bolso, pegou um e ofereceu outro para ela. — Da onde você tirou aquilo de chá, e Jay?

— Você sabe — Pammy deixou que ele acendesse o seu cigarro. — Se você está cercado por loucos, vire um louco — o enfermeiro franziu o cenho, enquanto tragava a fumaça. — Eu só disse o que ele queria ouvir.

— Isso foi bem espero — o enfermeiro suspirou, recostando na cadeira. — Johnson ficou bem impressionado.

Pammy balançou a cabeça, dando de ombros, e tomou mais café:

— Não sei por que você insiste nele — Henri resmungou. — Você deveria me escutar, e se casar comigo. Eu guardei um dinheiro, sem falar nos títulos do governo, dá para viver muito bem longe daqui. Ou você quer passar a vida todo cuidado de doido?

Pammy tragou mais um pouco e se recostou na cadeira, olhando para o teto. Ela não queria ficar o resto da vida cuidando de doidos, mas não se importaria de passar o resto da vida cuidando de Nick. Afinal, ele cuidou dela por tanto tempo:

— Esse sorrisinho é um sim? — ele se aproximou, os dedos brincando com gole do vestido do uniforme dela.

Os dois se assustaram, com o barulho da cadeira sendo arrastada por Pattie. Era bem explicito, como a enfermeira reprovava a atitude de ambos:

— Preciso ir — Pammy se levantou, dando uma última tragada antes de apagar o cigarro.

— Johnson quer falar com você — disse Pattie, com um tom de voz azedo.

 

 

As janelas da sala estavam abertas, deixando o aroma das folhas entrarem no lugar, trazendo um pouco de paz para Pammy. Ela sempre pensava, como seria legal ter uma casinha cercada por arvores e flores. Pammy amava a casa de Nick em West Egg, sem mesmo nunca der visto:

— Ouvi dizer que você está muito impressionado — Pammy fez a sua melhor cara.

— Fiquei. Henri me contou como você conseguiu conter o senhor Carraway, só com sussurros e carinho — Johnson se aproximou, os dedos gordos deslizando pelo queixo dela. — Eu não deveria subestimar essa habilidade sua.

— Eu disse que tinha uma técnica de relaxamento — ela sorriu.

— Mas o caso, é que nunca aconteceu isso com o senhor Carraway antes — o diretor se virou e caminhou até a sua mesa. — Fico pensando se não é a medicação.

— Pelo o que eu li na ficha do senhor Carraway, a dosagem é a mesma — Pammy falou firme.

— Não é que eu não confie em você, docinho..., mas as outras. Pattie te olha estranho, creio que é coisa da idade — Johnson enfiou as mãos no bolso do jaleco, se sentando. — Eu deveria... não, ia sobrecarregar você.

— O que? — ela deu um passo à frente, um pouco agitada.

— Eu deveria deixar você como a cuidadora responsável pelo senhor Carraway. Ele é um paciente especial, precisa de cuidados.

— Especial? — Pammy perguntou fingindo curiosidade.

— Pessoas especiais o colocaram aqui, e deram uma boa quantia para que ele permanecesse aqui — ele continuou assim que Pammy assentiu. — Mas não deveria te pedir isso.

— Tudo bem, se o senhor quiser — ela deu o sorriso mais doce que pode, inclinando a cabeça levemente para o lado. — Não me importo com o trabalho extra. Só quero te agradar.

— E você me agrada, querida.

Johnson sorriu se levantando, indo na direção de Pammy para beijá-la.

 

 

 

Após a sua visita noturna na sala do diretor, Pammy passou para ver Nick, só para conferir e ver se ele estava bem. Por sorte, não tinha ninguém no corredor àquela hora. Os olhares ficaram piores depois que Pammy virou a cuidadora responsável por Nick, e ela se sentia horrível, mas tentava se focar na sua missão e ignorar os outros.

O trinco da porta fez um som mais alto naquele lugar silencioso. Ela empurrou a porta, e foi recebida por algo inesperado:

— Onde estou?

Nick estava sentado no colchão, com as costas na cabeceira da cama, olhando ao redor meio assustado, meio confuso. Pammy se aproximou calmamente, mordendo os lábios para tentar conter a emoção que sentia. Os olhos de Nick não tinham mais a névoa:

— Nick? — ela o chamou, sua voz tremula, nem acreditando que isso estava finalmente acontecendo.

— Quem é você? — ele perguntou inseguro.

— Eu — Pammy parou ao lado da cama, suas mãos nos bolsos do vestido do uniforme —, sou a sua salvação.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, e até a próxima :)



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