Where's My Love escrita por Khaleesi


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Ahoooyyyy quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?

Eu não desisti dessa fic, e espero que também não tenham desistido de esperar! Finalmente consegui terminar esse capítulo depois de um mês tentando. Eu precisava de um descanso, colocar as ideias no lugar e tal, mas quando voltei pra história eu estava um pouquinho enferrujada. Enfim, por isso demorou tanto.

Só um lembrete rapido do que esta se passando na história, pq faz tempo: Fobos, o deus do medo, vem atormentando os meninos com visões e pesadelos. No capítulo anterior ele roubou a espada do Nico, e agora ele e Percy estão indo atrás do deus para acertar as contas.

Boa leitura ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791545/chapter/13

Quando Percy voltou ao carro, Nico tinha mandado Jules-Albert embora. O filho de Hades estalou os dedos e uma fissura maior que o veículo abriu-se no chão diante da lojinha de conveniência e engoliu o motorista zumbi, deixando uma enorme rachadura no chão como lembrança. Por sorte não tinha ninguém no posto àquela hora da madrugada, além do balconista dentro da loja que não parecia nem um pouco interessado nos únicos clientes do estabelecimento.

— Ele já nos ajudou bastante — dissera o garoto. Percy concordou, mas é claro que isso significava que agora ele teria de ser o motorista.

— Olha o que eu comprei — ele jogou um par de óculos escuros para Nico e colocou outro idêntico no rosto.

O garoto segurou seu par na frente dos olhos.

— Acho que está levando essa coisa de turista um pouco a sério demais.

— Vai ser bem mais fácil se misturar. E além do mais, eles são a sua cara, senhor "eu odeio a luz do dia" — Percy imitou a voz do garoto.

— Eu não odeio a luz do dia — defendeu-se Nico. — É ela que me odeia…

— Claro.

Percy terminou de abastecer o carro e tomou o banco do motorista. Depois de ajustar o assento e o retrovisor ele deu a partida, deixando o posto para trás, e seguiu pela pista vazia no meio da madrugada enquanto ele e Nico devoraram os pacotes de salgadinho que havia comprado.

Percy dirigiu noite adentro por quase duas horas antes de sentir suas pálpebras pesando. Nico havia se afundado no encosto do banco, observando a paisagem passar pela janela, mais quieto do que o comum. Ele estivera absorto em silêncio durante toda a viagem, como se estivesse segurando algo dentro de si. O episódio com a empousa parecia ter realmente o abalado. Percy não se lembrava de muita coisa, tudo o que vinha a sua mente era a cena do monstro inflamando, prestes a liberar uma explosão, e Nico seria atingido em cheio. Naquele momento, Percy ignorou o alto risco a sua própria vida para impedir que o garoto fosse ferido, ele não podia permitir aquilo. E então ele acordou sozinho naquele galpão, com as roupas praticamente destruídas pelo fogo, mas intacto. No entanto, Nico parecia agir como se ele ainda estivesse incapacitado pelos ferimentos, mesmo Percy tendo afirmado várias vezes que estava bem, graças a ele.

Estavam quase alcançando a cidade, mas ainda faltava muito até a hora do aquário abrir as portas. Ele e Nico concordaram em fazer uma pausa e continuar pela manhã. Aproveitariam para recarregar as energias antes do grande dia. Percy reduziu a velocidade e estacionou em um mirante que beirava a estrada, uma área feita especialmente para os turistas pararem e observarem a vista das montanhas que guiavam as rodovias do Colorado. 

Nico mexia incansavelmente nos óculos que Percy havia comprado, abrindo e fechando as hastes, mas sua mente parecia estar muito longe dali. 

— Você parece estar se divertindo, mas sabe, não vai ter como a gente ficar combinando se você quebrar o seu.

Nico parou o que estava fazendo, como se só então tivesse percebido. Ele deixou os óculos no guarda-copos próximo ao freio de mão e esfregou os olhos.

— Desculpe.

Percy queria muito perguntar, mas achou melhor esperar que o garoto tivesse a iniciativa. Se algo o estivesse incomodando, ele teria que dizer uma hora ou outra. Certo?

— Bem…Eu vou tomar um ar. Porque não tenta dormir um pouco? 

Naquele pouco tempo Nico havia se perdido nos próprios pensamentos de novo, então Percy soube que seria inútil tentar tirar algo dele naquele momento. Pulou do jeep e bateu a porta. O ar puro da noite preencheu seus pulmões; mesmo no verão, era impossível não estremecer diante da brisa que vinha da mata nas montanhas. Ele se acomodou no capô do carro de braços cruzados. O céu do Colorado tinha mais estrelas do que ele jamais havia visto em sua cidade natal. As encostas verdes caíam sob o mirante a se perder de vista. Ele poderia ficar ali a noite inteira olhando para aquela imensidão que sumia no horizonte. Por alguns instantes, chegou até mesmo a esquecer que no dia seguinte teria que enfrentar seus piores medos. Literalmente.

O baque da porta do carro se fechando tirou Percy de seu transe. Nico passou por sua visão lateral e parou diante da paisagem com um semblante sério, então encostou-se no capô ao lado de Percy, as mãos escondidas nos bolsos do moletom azul. Ele fitou o chão por alguns instantes, encarando os pés com as sobrancelhas franzidas. Percy apenas esperou para que o garoto se manifestasse; ele havia esperado a viagem toda, observando o comportamento de Nico que claramente dizia que ele estava escondendo algo. Mas se perguntasse, não receberia uma resposta honesta. Já tinha aprendido que o melhor jeito de obter respostas de Nico não era pressionando-o.

O garoto parecia totalmente absorto nos seus próprios pensamentos enquanto seu calcanhar direito batia incansavelmente contra o chão, fazendo balançar levemente o veículo. Quando Percy estava começando a achar que deveria tomar a iniciativa de perguntar, Nico ergueu a cabeça e limpou a garganta.

— Eu preciso te contar uma coisa.

Percy assentiu.

— Eu sei.

Nico imediatamente voltou-se para ele, os olhos abertos de espanto. Percy deu de ombros.

— Está agindo estranho o dia todo. Eu imaginei que fosse alguma coisa séria. 

— Eu não estava… Agindo estranho… — defendeu-se Nico, em tom baixo.

Percy cruzou os braços.

— Se você vier me dizer que quer enfrentar Fobos sozinho eu vou ser obrigado a te jogar desse penhasco.

— Eu não vou — disse ele. — Não é isso.

Percy voltou a relaxar sob o capô.

— Então… Qual é o grande mistério? 

Nico soltou um longo suspiro.

— Você vai descobrir de qualquer jeito. Eu só não quero que descubra do jeito errado.

Percy franziu o cenho.

— O que quer dizer?

Nico evitou seu olhar.

— Quero dizer que Fobos vai tentar usar isso contra mim e é melhor que você saiba de uma vez por todas.

Não era a primeira vez que o garoto escondia algo dele. Uma pequena irritação começou a se formar em seu peito.

— Por que está sempre mantendo segredos de mim?

Nico engoliu em seco.

— É mais seguro assim. Ou pelo menos era o que eu pensava — ele balançou a cabeça em frustração. — Eu não queria esconder nada, acredite em mim.

Percy baixou o olhar.

— Então não esconda — Percy respirou fundo. — Você pode me contar qualquer coisa. Achei que já sabia disso a essa altura.

O garoto cruzou os braços e pousou o olhar culpado sob o chão. Depois de meio minuto de nada além da brisa noturna assobiando contra seus ouvidos, Percy achou que Nico tinha se perdido no próprio silêncio. Ele mordiscava a parte interna do lábio inferior, como se estivesse ensaiando para falar.

— Depois da guerra… Depois que queimamos as mortalhas… Eu fui para o Mundo Inferior. Eu fui ver Annabeth, no Elísio.

Era isso? Percy já sabia que Nico a havia visitado. Eles nunca haviam tido nenhum tipo de entendimento mútuo sobre isso, mas Percy sabia. Nico havia sumido depois da guerra, tinha ido para o Mundo Inferior por semanas. Era de se imaginar que uma hora ou outra ele teria de encará-la. Na época, Percy chegou a pensar que Nico havia ido sem dizer nada pois temia que ele pediria para vê-la. Percy quase chegou a pedir. Quase. Ele sabia que não haveria volta se fosse até lá. Sabia que faria qualquer coisa para tirá-la de lá, e trazê-la para o mundo dos vivos, mesmo sendo impossível.

— Ela estava em paz — continuou Nico.

Estava? — repetiu Percy já temendo a resposta.

Nico engoliu em seco.

— Ela não está mais no Elísio. Ela… escolheu renascer. 

Se Percy não tivesse apoiado as mãos no capô do carro, ele provavelmente teria tombado em cima de Nico. Ele conhecia as regras do Mundo Inferior. Ele sabia que ela estava lá o tempo todo, todos os dias precisava se segurar para não ir até lá e arrombar as portas de Hades e exigir que ele a libertasse. Ele nunca poderia vê-la novamente, mas ela estava lá. Tão perto, e ao mesmo tempo tão longe. Percy viveria sua vida inteira, e ela ainda estaria lá. Talvez quando ele mesmo tivesse seu fim na mão de monstros, ou deuses, ele a veria novamente e então poderiam finalmente ficar juntos… Mas aquela sentença, aquelas três palavras mudavam tudo. Era real, ela havia partido para sempre. E Percy nunca mais a veria novamente.

— Por que? — foi tudo o que conseguiu dizer.

Nico balançou a cabeça.

— Eu não sei, Percy — sua voz estremeceu ligeiramente — Ela queria que você seguisse em frente.

Percy queria muito perguntar o que mais ela havia dito sobre ele, mas sabia que estaria apenas se machucando ainda mais. Relaxou o punho que se fechara involuntariamente e respirou o ar puro das montanhas tentando controlar a palpitação que havia começado em seu peito. Virou-se para Nico, que ainda evitava seu olhar.

— Por que está me contando isso? Por que agora?

Nico relutava em dizer o que estava em sua cabeça, Percy não precisava ser um gênio para perceber isso. O garoto abaixou a cabeça e fechou os olhos momentaneamente.

— Eu vi tanta gente morrer — começou ele, em um tom soturno — Não foi tão difícil me acostumar com isso. A morte é o desapego total… É sobre saber aceitar o fim, e deixar tudo para trás. Eu sempre soube disso, mas quando Annabeth se foi… Eu não pude deixar para trás. Eu devia algo a ela. Ou talvez… Eu precisasse de algo que só ela poderia conceder…

— Do que está falando?

Nico virou o rosto e o escondeu nas dobras do moletom sobre seu ombro.

— Perdão. Eu fui até ela para pedir perdão.

Percy não queria perguntar. Queria encerrar aquela conversa ali, entrar para o carro e seguir pela estrada em silêncio. Mas buscou dentro de si alguma força que o fizesse continuar.

— Por quê?

Algo corroia Nico por dentro, era nítido, pela maneira como ele se agitava daquela maneira contida, como seus braços tremiam mesmo estando cobertos pelo casaco, ou como seu olhos mantinham-se fixos em algum ponto distante, como se temessem a aproximação de alguma monstruosidade que somente ele podia ver. 

— Porque… Eu…

Ele fechou os olhos com força, Percy tinha quase certeza que a palidez excessiva em seu rosto não era somente o resultado da luz do luar. Nico balançou a cabeça repentinamente e se afastou do capô do carro, dando as costas a Percy e fugindo da verdade.

— Esquece, eu não devia ter dito nada. Essa foi uma péssima ideia.

Ele se apressou para dentro do carro, mas Percy o alcançou e o segurou pelo braço antes que ele tocasse a porta. Nico parou, ainda de costas.

— Por favor, só esqueça que eu comecei isso — disse ele. — Não vale a pena.

— Você disse que Fobos usaria isso contra você, é claro que vale a pena!

Nico se recusava a encará-lo, e Percy se recusava a soltá-lo enquanto não obtivesse respostas.

— Você estava certo — disse Nico — Eu quero enfrentá-lo sozinho.

Os nervos de Percy se inflamaram.

— E até quando vai fugir disso? Você começou, agora termine!

Sua voz saiu mais alta e grave do que ele esperava, mas não era raiva, ou nenhum outro sentimento negativo que a dominava. Ele simplesmente estava cansado daquela perseguição de gato e rato em que ele e Nico estavam presos desde… Bem, desde sempre. Sua intenção não era assustar Nico, ou pressioná-lo, mas parecia que era exatamente isso que estava fazendo. De qualquer forma, ele não recuaria agora. Sabia que se recuasse naquele momento não haveria volta.

— Nico, por favor… Me diga. O que quer que seja… Só me diga.

Sob seus dedos o músculo do braço de Nico retesou-se, e então estremeceu, mas Percy não o soltou. O vento soprou forte sobre os dois, fazendo as pontas dos cabelos de Nico dançarem sobre seu pescoço. Percy esperou, determinado a não deixá-lo fugir de novo.

O garoto levou alguns instantes para ceder. Virou-se lentamente para ele, apenas o suficiente para olhar Percy nos olhos. Um choque inicial pegou Percy de surpresa; primeiro ele percebeu que talvez Nico finalmente colocaria as cartas na mesa. E depois, chegou à conclusão que aquele segredo dizia respeito a algo muito mais profundo do que ele poderia imaginar. As feições no rosto de Nico traduziam o que ele não conseguia dizer em voz alta, tão bem que Percy quase pôde escutar. Pelos poucos segundos em que se viu preso a aqueles orbes escuros, seu estômago se contraiu como se ele estivesse em queda livre. Por que estava se sentindo daquela maneira? Era tão familiar e estranho ao mesmo tempo… Quase como uma tempestade se formando dentro de seu peito, algo que ele jamais poderia controlar. Era Nico o responsável por tudo aquilo que estava acontecendo com ele? Antes que seu cérebro chegasse a alguma conclusão, Nico agarrou a gola de sua camiseta em um movimento repentino e o puxou em sua direção, seus lábios se encontraram a meio caminho.

Quando Percy entendeu o que estava acontecendo, já era tarde demais. Suas pálpebras se fecharam involuntariamente e seus lábios responderam naturalmente ao beijo como se estivessem esperando aquilo. Todo o seu corpo cedeu ao toque de Nico quando as mãos finas envolveram seu rosto; um toque delicado e carregado de ternura.

A mente de Percy deveria estar borbulhando de perguntas, mas estranhamente era como se ele tivesse sido anestesiado. Pela primeira vez em muito tempo ele não pensou em nada. Seu cérebro parou de torturá-lo e deixou que seu corpo se guiasse sozinho, esquecendo que existia um mundo ao seu redor e se entregando ao momento. Se entregando a Nico.

Como se pretendesse se afastar, o garoto deu um passo em falso para trás, perdendo o equilíbrio e levando Percy consigo quando suas costas toparam contra a porta do carro. Percy apoiou as mãos no veículo para se segurar, cercando as laterais do garoto. Então uma lucidez súbita pareceu atingi-lo. Tão rápido quanto o puxou para si, Nico o afastou. Seus lábios se descolaram, deixando um rastro de calor entre os dois. Nico o fitava com o rosto vermelho e os olhos arregalados como se tivessem acabado de cometer um crime. 

As bochechas de Percy queimavam e sua respiração refletia a bagunça deixada por aquela tempestade em seu interior. Com o rosto vermelho e igualmente ofegante, Nico ainda segurava sua camiseta, pressionado contra a porta do carro. Percy não achou que seria capaz de se mover mesmo que tentasse. 

Ele não precisou de palavras, no entanto. Durante aqueles poucos segundos em que ambos tentavam absorver o que tinha acabado de acontecer, ele finalmente entendeu tudo o que Nico carregava consigo. Toda a culpa… Todos os olhares inseguros… A maneira como ele agia ao redor de Percy… Tudo começou a se encaixar em sua cabeça tão rápido que ele mal pôde acompanhar.

— Eu não devia… — Nico tremia em seus braços. — Me perdoe Percy…

Ele se desvencilhou bruscamente, empurrando-o, e avançou em direção à pista. Ainda atônito, Percy continuou seguindo seus impulsos e se apressou na direção do garoto.

— Nico…

— Volte pra casa. Eu vou terminar isso sozinho.

Percy imediatamente soube o que ele ia fazer. 

— Espera!

Ele correu e estendeu a mão, mas antes que pudesse alcançá-lo Nico desapareceu nas sombras, deixando-o sozinho na escuridão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso, não me matem :)

Vou voltar assim que possível, fiquem bem e até mais!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Where's My Love" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.