Between the Lines escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 1
1995 - I




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DESFECHO DO TORNEIO TRIBRUXO

O Torneio Tribruxo deu-se fim ontem com a vitória de Hogwarts. Harry Potter foi o vencedor.

 

— Só isso?

Tonks jogou a edição do Profeta Diário em cima da mesa ao lado da cafeteira. Café podia até ser uma bebida trouxa, mas era mais fácil de conseguir e menos prejudicial à saúde do que qualquer poção para manter-se acordado.

— Rita Skeeter fez coberturas enormes sobre o Torneio Tribruxo e agora eles só mandam uma nota? — ela perguntou.

Kingsley apenas deu de ombros, tomando um gole da sua caneca, esquentada pela sua varinha.

O Quartel General dos Aurores não era nada como ela tinha pensado quando estava em Hogwarts. Na sua imaginação, eles passariam mais tempo caçando bruxos das trevas do que de fato preenchendo papeladas e resolvendo coisas tão cotidianas.

Eles não tiveram muitos bruxos das trevas para caçar desde a derrota de Voldemort em 81. Isso se não fosse contar a sua experiência em Hogwarts com Madame Rakepick.

— Não é assim que o Profeta Diário trabalha — disse Tonks.

Kingsley suspirou, vendo que ela não deixaria o tema de lado, como ela nunca fazia, e pôs a sua caneca de lado.

— O filho de Amos Diggory morreu — ele contou — As pessoas não têm falado de outra coisa nos corredores.

As notícias se espalhavam rápido.

— Desculpe-me se depois dos artigos sobre Hagrid e Harry Potter eu não consigo acreditar que Rita Skeeter tenha sensibilidade — ela retrucou com uma careta.

Ela gostava do meio gigante. Passou muitas tardes indo até a cabana do guarda caças junto com Charlie. Eles tinham aprendido a esquentar os biscoitos dele na lareira de forma que se tornassem comestíveis por bruxos, e eles não eram tão ruins. Com certeza eram melhores que os dela, que sempre derrubava a fornada no fogo ou os esquecia até queimarem.

— Além do mais, eles não puseram nem uma nota sobre ele — voltou a pegar o exemplar do dia para procurar por mais informações em outras páginas.

Nada. Nem na seção de obituários.

Céus, ela odiava os jornais bruxos. Por que precisavam pôr as informações nas laterais, fazendo com que tivesse que girar o jornal para poder ler? E aquela fonte horrorosa que não dava para entender nada? Os jornais trouxas eram tão mais fáceis de compreender.

— Você sabe, eles teriam que falar sobre como ele morreu — Kingsley disse em um tom de voz baixo — e eles não querem que isso se espalhe.

— Muitos bruxos morreram antes no Torneio Tribruxo. É por isso que ele parou de acontecer. Deviam ter pensado nisso antes de ressuscitá-lo.

Jogou o jornal na lata de lixo. Era só um monte de papel inútil. Devia ser a edição mais fina que já tinha saído da gráfica.

Não foi a isso que Kingsley se referiu, mas eles não tocaram mais no assunto pelo resto da semana.

Era uma sexta-feira à noite e Tonks tinha ficado presa no trabalho por causa do idiota do Proudfoot, que tinha lotado a sua mesa de relatórios e informes, enquanto todos os seus colegas iam para casa ou para um bar beber. O Ministério estava praticamente vazio, com exceção do vigia noturno no átrio, e ela precisou sair pela saída de visitantes já que todas as lareiras foram lacradas por segurança e não era possível desaparatar de um dos prédios mais importantes da Grã Bretanha.

Precisou respirar fundo enquanto a cabine telefônica elevava-se para que o seu cabelo ficasse em uma tonalidade que sua mãe consideraria aceitável. Não é como se os trouxas não tivessem tinta para cabelo, mas ela realmente odiaria estuporar um bêbado. Assim que chegou à altura do chão, abriu a porta vermelha da cabine estreita e apressou-se para o beco na lateral.

Aparatou direto na sala de estar da casa dos seus pais. É, ela ainda morava com os seus pais.

Ela teria se mudado para um apartamento em Londres se Charlie não tivesse ido trabalhar na Romênia, Bill ido para o Egito, Penny se mudado para os Estados Unidos... Bem, se seus amigos não tivessem saído do país. Kingsley era o seu amigo, mas seria um caos dividir apartamento com ele. No final das contas, era mais fácil continuar na casa dos seus pais.

Antes que pudesse subir as escadas e ir para o quarto, sentiu uma presença na poltrona que estava contra a janela. Virou a varinha que segurava em mãos e apontou-a na direção do móvel. Se fosse sua mãe, arrancaria a varinha da sua mão, mas ela não era do tipo que dormia no sofá esperando que sua filha chegasse.

— Eu poderia ter te matado no mesmo instante em que aparatou.

Reconheceu a voz antes mesmo que a varinha à sua frente se acendesse em um simples Lumos não verbal. Por alguns segundos, piscou os olhos, e então pensou que alguns feitiços eram ótimos para serem usados em um duelo, apesar de não terem sido criados com esse objetivo. Ela podia simplesmente cegar o oponente por alguns segundos...

— As proteções dessa casa são decepcionantes para uma auror do Ministério — concluiu Alastor Moody, resmungão como sempre.

Ela teria respondido debochada como sempre fazia, mas foi pega de surpresa pela aparência do ex-auror.

— O que aconteceu com você? — Tonks perguntou.

Por que a sua voz precisava ser tão histérica? Por que a metamorfomagia não podia mudar a sua voz também?

Moody estava muito pior do que se lembrava. Podia contar as suas costelas de tão magro que estava, suas bochechas estavam fundas, enormes olheiras embaixo dos olhos. O seu olho falso, a propósito, parecia emperrado em uma só direção, em vez de girar aleatoriamente como sempre fazia.

— Fui sequestrado um dia antes de ir a Hogwarts — ele respondeu — O bastardo me manteve em cativeiro por quase um ano para usar o meu cabelo na poção polissuco.

Quando soube que o aposentado auror ia ensinar em Hogwarts, sentiu um pouco de pena pelas crianças, só de lembrar-se de como foi tê-lo como seu tutor no programa da Academia de Aurores, mesmo que ele fosse o melhor.

— Mas não é por isso que eu estou aqui, pare de me olhar assim — ele ralhou.

— Certamente não veio para criticar as proteções da casa — Tonks retrucou.

Embora, se tratando dele, fosse bem possível.

— Vigilância constante, Nymphadora!

Pelo menos ele não gritou, ou teriam que enfrentar a sua mãe muito furiosa.

— Não me chame de Nymphadora — ela reclamou, mesmo que ele nunca lhe desse ouvidos.

— Sente-se.

Era bem audacioso da parte dele agir como se a casa fosse dele, mas ela apenas revirou os olhos e decidiu não discutir, sentando-se ao seu lado.

— Sabe o que aconteceu no Torneio Tribruxo? — perguntou Moody, apoiando as mãos na sua bengala.

— O que os jornais disseram — respondeu Tonks.

— Profeta Diário — ele desdenhou — O que sabe então?

— Que a primeira tarefa teve dragões, a segunda foi no lago, a terceira eu não soube de nada. Só que um aluno morreu — ela respondeu.

Rita Skeeter tinha desaparecido completamente dos tablóides. Tinha escutado alguns jornalistas do Profeta considerando abrir uma investigação, em vista do desaparecimento de Bertha e a morte de Crouch. Por fim, souberam que a mulher tinha decidido tirar férias de um mês depois do Torneio. "É compreensível" eles tinham dito entre si, sombriamente.

— É aí que eu quero chegar — Moody apontou — Em nenhum momento se perguntou o porquê de eu ter sido sequestrado um dia antes de ir a Hogwarts.

— Você não parecia querer falar sobre isso — ela defendeu-se.

— Vim justamente para falar sobre isso.

Maluco.

Não sabia o porquê de ainda tentar entendê-lo.

— Um Comensal da Morte que fugiu de Azkaban — disse Moody.

— Quem? Sirius Black? — ela perguntou.

— Não. Essa fuga não foi noticiada porque ninguém percebeu.

Aquilo era um escândalo tão grande que não sabia como que o Profeta não tinha noticiado na primeira capa do jornal.

— Bartemius Crouch Jr — ele continuou.

— Crouch teve um filho?

Moody virou o seu olho bom na sua direção, parecendo impaciente.

— Eu não sou uma revista de fofocas, Nymphadora — repreendeu-a — Leve isso a sério.

Sentiu um formigamento em sua cabeça que indicava que seu cabelo tinha mudado de cor. Provavelmente estava vermelho de sua raiva contida. Apenas mordeu a língua e concordou com a cabeça.

— Sim, Crouch teve um filho — Moody respondeu — Ele foi condenado pela tortura de Alice e Frank Longbottom. Estava em Azkaban até que a mãe dele o tirou de lá, fazendo-se passar por ele. A mulher morreu, o corpo foi enterrado e Crouch manteve seu filho sob uma maldição Imperius trancado no porão de casa.

— Bom, pelo menos sabem como ele escapou — ela murmurou.

De Sirius Black, não tinham uma pista desde que ele fugiu de Hogwarts. E não tinham a menor ideia de como ele pôde fugir sem ajuda.

— Agora, Crouch Jr conseguiu fugir do pai durante a Copa Mundial — ele continuou — Ele se passou por Alastor Moody por todo esse tempo.

— Por que ele faria isso? — perguntou algo distraída.

Lembrava-se de ter sido chamada pelo Ministério de madrugada para capturar os tais baderneiros na Copa, mas o jogo mesmo não tinha visto. Nunca entenderia como o Ministério não considerou pôr aurores de prontidão em um evento tão grande quanto uma final.

Olho-Tonto hesitou e parecia que tinham enfim chegado ao cerne da questão.

— Estava a mando de Voldemort — ele disse.

Sentiu orgulho de si mesma por não ter estremecido ao escutar o nome. Moody não gostaria nada disso.

— Pensei que ele estivesse morto? — ela perguntou.

— Dumbledore nunca acreditou que ele tivesse morrido e eu também não. Ele só desapareceu. Deu sinais nos últimos anos, mas é claro que você não deve ter prestado atenção nos boatos.

Sentiu um tom de repreensão em sua voz.

— Que boatos? A demissão dos professores? O desaparecimento de Bertha Jorkins? Harry Potter como quarto campeão? — Tonks retrucou, azeda.

— Dumbledore foi bom demais em esconder as coisas — seu mentor resmungou para si mesmo — Voldemort invadiu Hogwarts no primeiro ano de Harry Potter. Estava atrás da pedra filosofal que Flamel pediu a Dumbledore para guardar. Se lembra da invasão a Gringotes?

Como poderia não se lembrar? Bill, apesar de estar no Egito na época, não falou de outra coisa em suas cartas. Isso mudou o sistema de segurança do banco drasticamente.

— Sim, eu me lembro. Nunca pegaram o invasor e ele nunca levou nada — respondeu com precisão.

— Boa memória — ele demonstrou aprovação — Era a pedra filosofal que estava guardada. Ela foi movida no mesmo dia para Hogwarts.

— Mas ele não conseguiu — ou não estariam tendo aquela conversa.

— Não. Potter o impediu.

Com 11 anos? Já tinha escutado muitas histórias sobre o garoto, mas ainda era surpreendente.

— Voldemort tinha possuído o professor de DCAT. Então Quirrell morreu e ele voltou a vagar por aí como fez nos últimos anos, procurando por outro corpo para possuir — disse Moody — E então, no ano seguinte, a Câmara Secreta é aberta.

— Pensei que fosse apenas um mito — respondeu Tonks.

"Se bem que todos achavam que as criptas eram também" guardou esse pensamento para si mesma.

— Todo mito tem um fundo de verdade. Desconfie de tudo — Olho-Tonto a instruiu — Parece que o diário de Voldemort infiltrou-se no material escolar de uma primeiranista.

Ela soltou um som esganiçado antes de se conter, mas o olho falso virou-se em sua direção, parecendo emperrado.

— Diário? — repetiu — Voldemort tinha um diário?

— Onde ele guardou suas memórias de como abrir a Câmara e possuiu uma garota de 11 anos para que fizesse isso por ele.

Falando daquele jeito ríspido, a ideia de que um bruxo das trevas escrevesse um diário já não era tão engraçada.

— Desculpe — murmurou.

— Maldição! Será que poderia me dar um copo de água? — Moody parecia incomodado.

Não surpreendeu-se com a sua atitude exagerada e levantou-se do sofá.

— Você é uma bruxa ou não é? — escutou-o reclamar.

Do que ele não reclamava, afinal?

Em vez de beber como ela esperava, assim que retornou, ele pegou o copo de sua mão e tirou o olho falso da órbita.

— Olho-Tonto! Isso é asqueroso! — ela reclamou.

— Aquele bastardo... — Moody resmungou, sacudindo o copo para lavar o falso olho — Meu olho nunca mais foi o mesmo depois daquilo.

Alguns segundos depois, ele apenas tirou o olho de dentro do copo e o encaixou novamente. Tonks fez uma anotação mental para jogar aquele copo fora.

— Onde paramos? — ele chamou a atenção dela, pondo o copo em cima da mesa de centro.

— Diário — ela respondeu.

— Potter o impediu novamente. Nenhuma criança morreu. E então você já sabe o que aconteceu no ano seguinte: Sirius Black fugiu de Azkaban.

— E Harry Potter o enfrentou — não permitiu que ele terminasse de falar —, mas ele fugiu.

— Potter o ajudou — ele disse com casualidade.

— Ele o quê?

Moody pareceu satisfeito com a performance de seu falso olho e ajeitou-se com dificuldade na poltrona, por causa da perna de madeira.

— Black é inocente. Pettigrew armou tudo — ele disse.

— Pettigrew está morto.

Era um caso muito conhecido, e tornou-se ainda mais dois anos antes com a fuga dele.

— E deixou para trás só o dedo? — o auror soltou um grunhido que parecia de deboche — Que conveniente.

Sempre levou em muita consideração o que ele tinha a dizer, mas eram muitas informações e ele não dava detalhes. De qualquer forma, não era sempre ele que dizia que era para desconfiar de tudo e todos? Talvez estivesse ficando senil.

— Dumbledore acredita na inocência de Black e eu também acredito. Pettigrew está vivo, então obviamente Black não o matou — disse Moody — Potter disse que Pettigrew estava lá na terceira tarefa.

— Em Hogwarts? — perguntou Tonks com cautela.

— A terceira tarefa foi um labirinto com obstáculos, e no centro estaria a taça tribruxo. Só que a taça era uma chave de portal. Pelo que Dumbledore me disse, Voldemort precisava do sangue de Potter para conseguir um novo corpo. Foi sorte o garoto ter saído vivo, o outro não teve a mesma sorte.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos, um esperando que o outro falasse.

— Por que está me contando essas coisas? — a metamorfomaga perguntou por fim.

— Porque eu te treinei. Eu te conheço. Sei do que é capaz. Quero que saiba que o Ministério se recusa a acreditar em Dumbledore, então Fudge não fará nada — respondeu Moody —, mas não podemos ficar parados.

— Nós?

— Uma organização potencialmente ilegal e secreta.

— Não é secreta se você está me contando.

Ele deixou um sorriso de canto que mais parecia uma careta aparecer.

— Acredita no que disse ou acha que estou louco? — perguntou Moody.

— Você sempre esteve louco, mas...

— Se você recitar qualquer frase de conto de fadas trouxa, eu te oblivio.

Ela apenas sorriu travessa.

— Bem, então vamos — ele levantou-se.

— Vamos? — repetiu, perdendo o sorriso — Olho-Tonto! É uma da manhã!

— E daí? Já tivemos missões em horários piores.

Ela cruzou os braços, ainda sentada no sofá.

— Está bem — ele cedeu, revirando os olhos — Terá uma reunião. Vou te buscar no Ministério amanhã.

— Tá bem, papai.

Moody trotou com a sua perna de pau até a porta da casa.

— Vigilância constante, Nymphadora. E dê um jeito nesses escudos — ele a repreendeu novamente.

— Não me chame de...

Ele fechou a porta antes que pudesse completar a frase.

Tonks recostou-se no sofá, exausta. Aquele tinha sido um longo dia e não esperava que terminasse assim.

Tinha mesmo acontecido ou foi só um sonho?

 

 


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Notas finais do capítulo

• Sobre a breve nota do Profeta Diário: "Estive verificando todos os dias. Só uma pequena notícia no dia seguinte à terceira tarefa, dizendo que você ganhou o torneio. O jornal sequer mencionou Cedric. Nenhum comentário sobre nada. Se vocês me perguntarem, acho que Fudge está obrigando o jornal a se calar" - Hermione (Harry Potter e o Cálice de Fogo, página 397).

• Madame Rakepick e Penny Haywood são personagens do jogo para celular "Hogwarts Mystery". Terá algumas referências ao jogo durante a fanfic, considerando que a história de HM se passa durante o período escolar da Tonks.

• Segundo a estimativa do HP Lexicon, Moody saiu da Ala Hospitalar no dia 2 de julho, enquanto que Sirius foi atrás do antigo pessoal da Ordem no dia 24 de junho (que foi quando aconteceu a terceira tarefa). Eu não acho que uma reunião com todos teria acontecido antes de Moody sair da Ala Hospitalar, mesmo porque Dumbledore teria que finalizar o ano letivo primeiro para poder sair da escola assim. Então a fanfic se passa depois do dia 3 de julho, que é quando os alunos retornaram para as suas casas.



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