— Tio Harry com certeza é bissexual.

A epiglote de Albus escolheu esse exato momento para falhar. Lucy deu algumas batidas brutas em suas costas para ajudá-lo a desengasgar com o pedaço de bolo.

— Do que você tá falando? — a voz dele saiu ofegante por causa do engasgo.

— Vamos lá, Al. Bissexualidade é quando... — Dominique começou, debochada.

— Eu sei o que é bissexual! — ele ficou na defensiva.

— Os seus pais são bissexuais, supera — disse Lucy.

Em algum momento daquela reunião familiar, Dominique e Lucy resolveram começar a tentar adivinhar qual era a orientação sexual de todos os seus parentes.

— A tia Ginny é óbvio — retrucou Dominique — Quando eu saí do armário como pansexual, ela gritou "Eu sabia!".

— Eu não engulo a história do banheiro dos monitores que tio Rony nos contou uma vez — disse Lucy, dando de ombros — O seu pai não é hétero.

— A pergunta é se alguém de fato é.

Albus preferiu não responder, dando mais uma garfada no bolo.

Geralmente era o que ele fazia quando James e Lily começavam a discutir a berros em casa e a sua mãe mandava eles calarem a boca gritando.

— Al não é capaz de opinar — disse Rox, que tinha acabado de voltar da cozinha com um pedaço da torta de limão de Lucy.

— Obrigada, Rox — a filha mais velha de Percy tomou um gole de seu chá antes de pegar o prato das mãos dele.

Albus odiava chá. Preferia café.

— Old que o meu pai é hétero sem sal. Próximo? — Lucy retomou as discussões, pondo o prato de torta no seu colo.

— O que acham do tio Charlie? — sugeriu Rox.

— Gay? — perguntou Dominique.

— Nossa! Ele nunca demonstrou interesse em um relacionamento nem com homens nem com mulheres nem com ninguém, logo ele deve ser gay — disse Lucy com a voz debochada — Por Circe, Nique!

— Você acha que tio Charlie é assexual? — Albus interrompeu a discussão.

— Ele ama dragões — ela disse, como se isso explicasse tudo.

— Justo — concordou Rox.

— Qual é o lance dos dragões? — perguntou Dominique.

— Bom, os trouxas acham que eles não existem — disse Albus — Eles também acham que nós não existimos, então...

Eles não responderam por alguns segundos, refletindo.

Só se ouvia o som de Lucy cortando mais uma fatia da torta de limão.

— E se nós renomearmos a "capa da invisibilidade" para "capa da assexualidade"? — foi Rox quem quebrou o silêncio.

— Eu vou fingir que eu não ouvi isso — Albus o respondeu.

Mas os sorrisos de Dominique e Lucy lhe diziam que elas iam fazer exatamente isso.