Banheiro do FBI. 20h34. 

—Você não tem a mais remota ideia do que eu passei. As torturas que eu passei – seus olhos se fecharam com força - físicas e psicológicas. Dia após dia. Sem dormir, sem comer, bebendo água uma vez a cada dois dias. Meus banhos eram com uma mangueira de extra força só para que eu não cheirasse mal diante do meu torturador. Minha pele não podia ser violada por causa das tatuagens – um riso irônico saiu de sua garganta – então eles faziam o que podiam fazer, afogamento, choque, violação, me penduravam por horas. Sem cont...

—Jane. – Ele a cortou sem poder escutar mais. – Eu sinto muito...

— Você sente muito? Sentir muito não muda nada! – Sua voz se elevou um oitavo.

— Tem que acreditar que eu nunca quis que a CIA levasse você. Eu queria respostas. Queria justiça. 

— Eu queria te dar respostas – gritou – eu implorei para que você me ouvisse. Eu implorei Weller. – Sua voz falhou no final.

— Você mentiu pra mim. Me ocultou informações. Me fez acreditar que a Taylor estava viva dizendo ter lembranças dela quando na verdade ela estava enterrada onde meu pai a colocou quando a matou. O que você queria que eu fizesse?

— Eu queria que você me desse o benefício da dúvida. Eu achava que se importava um pouquinho comigo. Como sua amiga pelo menos, ou talvez como sua parceira. Eu queria contar. – Sussurrou.

— E porque não contou? Deveria ter contado. Teria sido diferente. 

— Oscar teria matado você. –Gritou. - Não teria sido diferente se você estivesse morto. 

— Você não confiou em mim. Se tivesse me contado desde o início... Passamos por tantas coisas, uma ameaça não iria me amedrontar. 

— Eu não sabia como você reagiria. Eu tive medo de perder você. – Soltou uma risada irônica. – E no final, perdi do mesmo jeito. Se ao menos eu imaginasse isso antes, teria me poupado da tortura. Precisa acreditar que todos os dias eu me imaginava contando tudo, eu queria contar tudo, mas... eu também imaginava você caindo em uma emboscada, levando um tiro ou sendo sequestrado e seu corpo aparecendo dias depois. Além disso, Oscar ameaçou todo o resto do time. Como acha que eu me senti tendo todas as pessoas que eu me importava e que tinham me acolhido sendo ameaçadas?! 

— Somos do FBI Jane. Ameaças de morte são comuns. – Seus braços estavam cruzado fortemente no peito.

— E eles são de um grupo terrorista que nunca foram pegos. Eu ainda nem sabia do que eles eram capazes, eu nem entendia. Não venha me dizer que eu não tinha razão de ter medo. 

Jane tinha postura, seus braços se mexiam a todo instante. As mãos cobriam o rosto ou se elevavam acima da cabeça. A tensão dentro do banheiro era notável. Ninguém se atrevia a entrar, mas todos estavam do lado de fora apertados e escutando. 

Tasha tinha as feições do rosto indecifráveis. Read os olhos fixos no chão. Patterson enxugava uma ou duas lágrimas da bochecha. Mesmo com raiva, não tinham como não entender pelo menos um pouco o lado de Jane.

Nenhum dos dois falou mais nada por bons minutos. O banheiro parecendo menor a cada momento.  As respirações se acalmaram um pouco quando Jane voltou a falar.

— Posso ir embora agora? Acho que falamos tudo que tínhamos de falar. — As linhas da sua testa demonstravam cansaço. 

Kurt a encarou por um momento balançando a cabeça positivamente.

— Essa discussão não vai nos levar a lugar nenhum. Nem resolver nada agora . 

Jane o encarou fixamente. — Eu não quero resolver nada.  - Suas sobrancelhas fraziram. - O que eu quero é que tudo isso acabe logo para que eu possa ir pra bem longe daqui onde nem o FBI a CIA ou a NSA me usem ou me torturem como se eu fosse um nada. Eu gostaria de esquecer tudo novamente. Eu devia ter deixado Oscar aplicar aquele ZIP em mim mais uma vez, pelo menos eu não lembraria de nada e mais uma vez, teria poupado a minha tortura, teria poupado você de se sentir responsável. 

Jane deu as costas começando a se encaminhar para a porta, as quatro pessoas escondidas saíram do meio, e falou, ainda de costas.

— Sabe. Olhando por outro contexto, Sandstorm não está tão errado assim nos seus “princípios”. Até amanhã agente Weller.