O Nascer do Sol escrita por Pedro Olímpio


Capítulo 1
Fim do dia.




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Era mais um céu estrelado no porto de Boralus.
O vento abafado, porém frio da noite Kultirena já não era algo mais estranho para mim. Era do meu gosto caminhar pelo porto e admirar cada detalhe da paisagem. As pedras deterioradas pelas ondas, as espécies de peixes que visitavam as margens, alguns sábios das marés fazendo suas preces dentro dos navios, vendedores terminando mais um dia de trabalho e se dirigindo para suas casas, as tavernas se organizando para o turno da noite, cada pequeno acontecimento que percorriam meus olhos, se tornaram parte da minha rotina neste litoral. Haviam meses desde que eu lembrava do que é estar em casa, haviam meses desde que eu pude sentir tranquilidade.
Uma caminhada noturna sempre foi minha válvula de escape, antes mesmo de me tornar um worgen. Transformado, tinha um pouco mais de disposição do que a minha forma humana. Já não me recordo quando foi a última vez que eu perdi o fôlego. Talvez seja uma das poucas coisas boas de ser um metamorfo.
— Senhor Jeharo! — Uma voz familiar me cruzara os ouvidos — Tenha cuidado!
Um jovem rapaz que tinha me ajudado com os feridos de guerra, sempre me alertava dos perigos da cidade quando passava próximo a sua residência, uma pena ele ser tímido o suficiente para não me dizer seu nome.
Em passos lentos, sigo até os jardins oficiais da casa Proudmoore e decidi voltar de onde comecei, mas dessa vez, voando. Serei eternamente grato a Avianna por ter me concedido sua bênção para caminhar nos céus. Continuo para próximo ao barco em frente a pousada até achar um banco, onde me encosto completamente em seu encosto. A maresia estava agradável, era quase capaz distinguir o sal do mar com meu faro. Apesar dos momentos de distração, tudo aquilo volta a me perturbar e me deixar completamente abalado.

Não consigo recordar a última vez que consegui dormir.

Minha mente estava um turbilhão de pensamentos, não me via em tamanho desespero já se faziam bons anos. Meu espírito estava completamente desalinhado, perdido em concepções negativas. Nem mesmo minhas preces, quase que diárias para Goldrinn acalentavam meu ser. Tudo se voltava para uma única pessoa , para somente um único foco: Lucceras Rubrochama.
Vozes percorriam meu interior: Arrependimentos, martírios, culpa, angústia, medo.
"Por que eu simplesmente deixei ele ir para Ny'alotha?"
"Por que eu não fui forte suficiente para impedi-lo?"
"Por que minha última memória com ele foi justamente de uma briga?"
Eu tinha prometido a ele desde o começo que iria protegê-lo, que seria seu braço direito e que acalmaríamos os sussurros juntos, mas eu não cumpri minhas palavras. O Luc tinha saído da ala de tratamentos e foi levado pra pousada há uns dias atrás. Seus sinais vitais eram bons mas ele não acordava. Eu simplesmente não consegui ajudar a pessoa que eu mais amo no momento em que ela mais precisava.
Não havia um local apropriado para eu dedicar minhas oferendas e rituais para Goldrinn, então tudo que eu podia fazer era apenas fechar meus olhos, juntar minhas mãos e mentalizar. Sabia que ele não deixaria de ouvir um dos seus. O dia estava prestes a amanhecer, era no nascer do sol Kultireno onde toda cidade se esvaziava. É possível ouvir até o mínimo dos animais com tamanha calmaria. Estava me levantando e dando uma última olhada para o mar, quando escutei uma voz um pouco rouca atrás de mim.
— D-dalah... — a voz tossiu antes de conseguir terminar.
— Surfal! — Completei a frase sem pestanejar. Reconheceria aquela voz há quilômetros de distância. Meu corpo virou quase que instantaneamente. A surpresa me fez transformar de volta a minha forma humana. Um corpo visivelmente cansado, com rosto semi coberto por uma capa que cobria metade do seu traje, apoiado em meu cajado, estava atrás de mim. Era ele. Lucceras finalmente tinha despertado.
— Dalah'Surfal — repetiu, colocando a mão em meu rosto — Meu amado, como estou feliz por te ver novamente — Sua voz falhava muito, provavelmente por ter passado tanto tempo desacordado. Meus olhos mal se faziam úteis, já que estavam completamente marejados. Eu não consegui dizer uma única palavra, o envolvi em meus braços e assim fiquei por alguns instantes. Não havia nada para ser dito, o que eu mais queria naquele momento, era sentir seu coração batendo junto do meu.
Eu lhe assisti para sentar junto comigo no banco, ele estava debilitado demais para fazer qualquer tipo de força, me admiro como teria conseguido andar do recinto até onde eu estava apenas como meu cajado de suporte. Seu cabelo havia crescido suficiente para esconder seu rosto, sua barba por fazer havia desmanchado o corte, tornando quase que um elfo diferente. Retiro a fita que segura meu cabelo, abaixo o capuz da sua cabeça e prendo seu cabelo de forma que ele não incomode na visão. Toco com a minha mão suavemente em suas olheiras e me imagino passar mais um dia sem ver aqueles belos pares de olhos azuis, mais brilhantes que as estrelas e me encontro em lágrimas novamente.
— Você sofreu. Eu sei que você está despedaçado, T'as'e — Ele olha pra mim enquanto brinca com meu cabelo, agora solto, ao sabor do vento.
— Quem se importa comigo, Luc — Eu digo, segurando suas mãos com certa força — Eu quase te perdi. Toda minha vida, todo meu propósito, não faz sentido algum aqui, se você não existir — Termino, abraçando-o mais uma vez. Ouço sons de soluço vindo dele e meu ombro ficando úmido. Lucceras estava chorando.
— M-me p-perdoe — O elfo se perdia em prantos — Eu não devia jamais ter ouvido as vozes, eu não devia ter simplesmente te deixado — Eu não consigo fazer outra coisa além de segurá-lo e ouvir toda sua súplica. Pacientemente espero o elfo se acalmar, limpo suas lágrimas e olho em seus olhos.
— Não há perdão onde não houve crime, meu doce amado — Um sorriso se abre em meu rosto e reparo que ele repete a ação. Subitamente todos os meus medos e angústias foram embora, apenas ao observar aquele sorriso. Nossos rostos se aproximam e ele se conforta em volta do meu pescoço. Não demora muito para que meus lábios vão de encontro aos dele. Era indescritível a sensação de tê-lo em meus braços novamente. Seria um desses momentos que eu seria capaz de pedir a revoada bronze para que durasse para sempre.
— T'as'e — Lucceras me indaga. Ouvir ele novamente me chamando em Thalassiano era como a mais pura das melodias para meus ouvidos — Os outros estão bem?
— Sim, todos são e salvos — respondo, tocando mais uma vez seu belo rosto. Dessa vez, ele retribui o toque, beijando as costas da minha mão.
As gaivotas começam a grasnar e logo os trabalhadores começam a voltar aos seus postos. Mais um dia se iniciara. Um pequeno barco com o brasão da Aliança preso nas laterias faz barulho anunciando preparativos da sua partida.
— Vamos arrumar as coisas, meu amor — Afirmo, enquanto me levanto do banco — Hoje nós vamos para casa.
— De acordo, meu querido — Ele responde, sorrindo enquanto se levanta — nós vamos pra casa.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês gostem, caso se interessem, eu posso escrever mais sobre esse casal que eu amo e venero ~♥



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