Um homem corria desesperado, fugia em direção a uma grande rocha que estava alguns metros a sua frente, mas em cada passada, seu pé afundava ainda mais na lama, tornando cada movimento pesado e cansativo, e em compensação as balas da artilharia adversária vinham em sua direção como um gavião mergulhando para capturar sua frágil presa. O homem não estava sozinho, existiam outros ao seu redor, buscando refúgio em qualquer lugar minimamente seguro, mas a cada segundo se via mais homens caídos, do que em pé. O rapaz em desespero optou por fechar os olhos, igual uma criança fecha seus olhos em um filme de terror, na esperança de que aquilo que não se vê, não se teme. Mas, para sua infelicidade, o escuro era mais assustador, no preto se escutava os piores sons, se ouvia a devastadora melodia de uma batalha, composta por lágrimas, sofrimento, dor e loucura. O pobre do rapaz congelou, seus músculos se tornaram pedra, e pedra não se move livremente, logo veio à vontade de gritar e pedir socorro, mas pedra não fala, quis também chorar, mas em pedras não existem lágrimas. O jovem acalmou, aceitou seu trágico destino, certamente tinha sido atingido e veio a falecer, mas no escuro sentiu uma mão lhe puxar pelo ombro. Ao abrir os olhos, o soldado sentiu um frio em suas costas, e para sua grata surpresa, estava encostado de costas para a rocha, estava protegido! A sua frente via um homem enorme, seria um gigante? Estava totalmente coberto de lama da cabeça aos pés e apertava forte seu ombro.

— Escute aqui filho, esse não é o momento para mijar as calças, aqui não tem pinico, então, trate de pegar esse maldito rifle e matar uns bastardos! – Gritou o enorme homem com grande ódio sendo exalado.

O rapaz ainda estava acordando de seu trauma, mas como em uma batalha sempre se falta tempo, o enorme homem imediatamente deu um tapa no rosto do jovem. O local na pele logo ficou marcado de vermelho, conseguia ver os traços dos dedos. O rapaz apesar do susto, rapidamente acordou de sua inércia, e dentro de seu corpo crescia raiva, segurou fortemente o rifle, apertava com tamanho ódio, que sentia que podia partir ele ao meio. Respirou fundo, virou para o lado da rocha, posicionou o rifle e começou a disparar, não sabia se estava acertando alguma coisa, mas em cada disparo apertava com mais intensidade. Mesmo após o pente não conter mais balas, continuava apertando incessantemente. Só cessou quando outro soldado o puxou, lhe dando munição nova, o rapaz ainda estava em êxtase e a adrenalina ainda percorria em suas veias, quando terminou de realizar o procedimento de recarga, apertou novamente o rifle com força, só que antes de virar para uma nova ofensiva, escutou os sons de motores de aviões vindo em sua direção, logo tudo se tornou em câmera lenta, e a única coisa que o rapaz conseguiu captar naquele momento, foi o grito do homem parrudo.

 SE ABAIXEM!

Logo em seguida, tudo se tornou negro.