JÚPITER | AWAE escrita por awennkire


Capítulo 2
Dalia | 02




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 Real, realmente era real. Aquela estupida mudança tinha realmente acontecido e na sua concepção, era loucura. Quando sua vida tinha se estabilizado pela primeira vez, sem ataques, sem ódio, se mantinha calmo e tranquilo, mas naquele momento, tudo estava desmoronando. Nada conhecia de Avonlea e julgava não querer conhecer.

A volta da sua primeira aula foi totalmente confusa e complicada. Connor não se dava ao trabalho de falar com ela e mesmo se perguntasse, ela não se daria ao trabalho de responder. Com toda certeza que não. Toda aquela situação com Anne foi descabida.

Sua mãe, Nessa, a esperava em casa animadamente. Sempre tão doce e calma, não entendia como ainda tinha tanto amor por ela. Quando criança sempre foi reclusa, Connor aprontava com todas suas cuidadoras e ela costumava levar culpa por tudo. Odiava tudo isso, porém amava o irmão, nunca reclamava.

Os afazeres de casa foram terminados antes de escurecer, precisava recuperar aquela estufa acabada. Flores mortes para todos os lados, uma macieira apodrecida caia no fim dela. Cada vez que retirava mais coisas apareciam e que sempre à levavam a suspiros distantes observando quantas das plantas mortas já tinta retirado.

Bateu na sua blusa que antes era branca, agora estava com as marcas de seus dedos e a palma de sua mão por toda ela. Mas ao contrário disso, suas calças, um presente de seu pai durante seu ultimo aniversário, eram soltas em tom terroso de marrom com um leve cinza, agora com um tom avermelhado de terra. Muito argilosa na sua concepção, dificultaria na hora de escolher quais espécies seriam plantadas.

Porém não pode terminar os afazeres, pode ouvir as batidas na porta da frente e passou com resmungo. A estufa ligada ao jardim de trás, passou pela cozinha reclamando da irresponsabilidade do irmão que teimava em esquecer todas as vezes a bendita chave. Mas tudo em seu rosto caiu ao perceber que na porta não era Connor, mais um garotos que estudava com ela.

Parou e observou atentamente, cabelos negros e olhos que passeavam por suas roupas levemente mais abertos, segurava uma torta que cheirava forte a carneiro. Suas sobrancelhas estavam mais franzidas do que gostava, irritante e desnecessário na sua visão, evitou rolar os olhos. Ao seu lado estava um homem alto e negro com uma pequena menina em seus braços, ao olhá-la sorriu.

— Olá, Dalia, sou Gilbert Blythe - um sorriso aberto e alegre apareceu no rosto dele fazendo o rosto antes com um pequeno momento de alegria da negra se fechasse.

— Eu sei, o que quer aqui?

A pergunta fez o garoto se desconcertar, sabia que seu tom havia sido rude e agressivo, um pequeno momento de animação estava em seu interior, porém não conseguiu aproveitar por conta do pigarro dado pelo acompanhante que os olhava se divertindo. Estava se divertindo a suas custas - e da de Gilbert - e direcionou um olho vazio para ele.

— Viêmos em dar as boas vindas, de nós, os Lacroix e dos Blythes.

Ele sorria abertamente sem se importar com seu olhar se desaprovação, se segurou para revirar os olhos.

— Quem está ai, Dahl? - ouviu sua mãe gritando. Ao aparecer mostrou como todas as O'Flanagan deveriam ser. Seus longos ruivos presos em uma longa trança, olhos azuis como as ondas das praias da Nova Inglaterra, espartilho emoldurando seu corpo e um sorriso mínimo, não havia ninguém igual.

— Olá, sou Sebastian Lacroix e este é Gilbert Blythe, gostaríamos de comprimenta-los! - a animação do negro continuou firme a desconcertanto por poucos segundos.

A torta foi entrega a matriarca com ela oferecendo um longo sorriso, o irmão logo apareceu ao lado do pai. Não tinha como ser se outra maneira, sempre receptivos e animados, não havia maneira de serem diferentes.

Toda a casa se encheu de risadas, Neal falava sobre seus negócios com Sabastian, que pediu a todos para ser chamado de Bash e como sempre com um sorriso longo e olhos, em todos os momentos, acompanhava suas risadas. Delphine dormia nos braços de Nessa, que contava as histórias de quando Dalia tinha mesma idade que ela e como eram igualmente calmas, que nunca chorava, nem mesmo com fome.

— Mãe, preciso voltar a retirar a macieira e plantar uma nova, posso me retirar? - a pergunta não pegou a mãe de surpresa, mas o que viria a seguir sim.

— Gilbert pode acompanhar ela se não for incômodo, conhece macieiras desde o nascimento, ajudaria sem dúvida.

— Ótima idéia e eles se conhecem mais, Dahl é sempre muito calada - a resposta de Nessa foi uma surpresa ainda maior, mas sabia que ninguém ousava sequer discordar de nenhuma ordem dela então apenas se levantou.

— Vamos, Gilbert, lhe mostro a estufa.

Ele apenas a acompanhou atrás dela. Cada passo para a jovem pareciam uma eternidade, queria mandar aos gritos que eles fossem embora. Já os odiava, duvidava quanto a pequena Delly, sua inocência a salvara.

Ao chegarem na frente da estufa suspirou, ainda estava claro. Olhou para ele e pensou em soca-lo, depois gritar para que ele parasse de olhar dessa maneira em sua direção, apenas suspirou novamente e ouviu uma pequena risada.

—  Esta sempre suspirando pelos cantos, pequena Dahl? - a provação fez com que seus ombros se encolhessem - Sempre e sempre suspirando, cadê a garota da aula de hoje, em? Onde está ela, pequena Dahl?

— Pare agora, entendeu? Pare agora!

— Parar? Me dê um motivo, pequena Dahl?

O olhar dele a deixava ainda pior, provocativo e desafiador, ela o odiava, como nunca odiou ninguém. Aprendeu a odiar em poucos minutos e sentia que sua mão iria em direção ao rosto dele.

— Ou prometo aos céus que irei esfregar seu rosto na terra, um bom motivo? - ouviu uma risada baixa.

— Não, pequena Dahl, não, mas vamos logo, sinto o cheiro do apodrecimento a distância, mais que macieira, deve ser algum animal morto perto dela.

Durante os momentos seguintes sentiu o olhar sobre si e sempre que virava seu rosto via ele a olhando como se estivesse zombando de tudo que é. Sua vida, suas roupas, todos os momentos que teve, como se tudo fosse uma farsa e que ele conhecesse melhor do que ninguém, que poderia desmascarar a qualquer momento.

Ao retirarem a macieira receberam um grande susto, uma pequena gata que olhava uma carcaça pequena em decomposição. Sentiu lagrimas chegarem. A gata tentava proteger a todo custo seu filhote então tiraram apenas árvore.

— O gato, o que faremos? - a pergunta veio do garoto - provavelmente vai morrer, dizem que gatos pretos dão azar.

— Não irá, ela é minha, ela perdeu tudo e 'ta tentando proteger o que restou. Vou dar a ela o retorno por sua luta - a resposta fez com que ele a encarasse. Ela não entendia o motivo, mas sentia que nada passava por ele, que conhecia seus segredos. Seu coração disparou, o ignorou.

— Entre, preciso de um tempo sozinha com ela - falou e foi em direção a estufa já entrando, não sentiu passos a seguindo então seus ombros relaxaram.

— Olá, como está? - o gato respondeu mostrando as garras - Eu sei, ele está morto, sua familia morreu e nada mais te restou - a resposta foi a mesma, então sentou a uma distância considerável em meio ao que julgou ser girassóis, mortos, mas continuavam a ser o que eram, girassóis - Queria que ele crescesse não é? Ele morreu, o perdeu e tenta proteger o que restou, mas sabe, ele não vai voltar, não vai - tentou ficar mais próxima - Mas deixe que o enterre, deixe honrar ele, a terei aqui todos os anos, nesse mesmo dia, prometo! Vamos honrar seu filho - foi mais perto - Sabe? Meu pai veio da Ásia, pelo menos meu pai de sangue, ele era indiano segundo as histórias que me falaram, cresci como ele, budista, minha mãe não queria tirá-lo de mim, então me deu o que podia, o máximo de sua cultura possível, então vamos, vamos honrá-lo, juntos. Como eu os honro, minha mãe de sangue, um escrava abolida e meu pai, que morreu ao seu lado - com isso segurou fortemente o sangue e gritava para sair de seus braços, ao levantar se deparou com o par de olhos negros a olhando.

— Não irei contar, prometo! - a fala foi rápida.

— Obrigada. Não enterre, eu farei!

Os momentos seguintes passaram rápidos em sua visão, mas todos com o olhar dele sobre si, não de pena, mas compreensão. Ele estava ao lado quando levou parar dar um banho rápido no gato e quando levou para um cômodo vazio da casa.

Ao voltar para estufa fez o que deveria, em uma antiga caixa de madeira que forrou com um punhado de terra colocou o pequeno animal e então fora de casa, o enterrou perto de uma enorme árvore.

— Que sua travessia seja digna, seu tempo foi curto, mas honroso. Onde estiver, estaremos o esperando.

Pegou uma pedra e riscou "amor", nada mais digno, tudo pelo amor que ela sentia.

— Vá em paz, Amor.

Voltaram para dentro rapidamente, suspirou, nao tinha passado tanto tempo quanto imaginava. Gilbert ainda a olhava, não conseguia retribuir, muito menos o olhar nos olhos, mas aceitava que estivesse curioso quanto a si e sua história, sempre ficam, então nunca falava.

— Irá para aula amanhã? - a pergunta a pegou de surpresa.

— Sim, irei!

— Não ligue para Billy, não é sempre assim.

— Não irei. Não a motivos para isso, pessoas como ele estão em qualquer lugar.

— Amanhã irei trazer uma torta de maçã, não é a melhor, mas irei trazer e ver como ela esta, se não se importar é claro.

— Não me importo e se não é a melhor, apenas traga as maçãs, fazemos aqui - o sorriso dele se alargou e sentiu seu estômago se agitar.

— Estarei aqui após a aula! Levo as maçãs de manhã, tudo bem? - a resposta veio assim que entraram na sala.

— Sim, estarei aguardando.

— O que aguarda, Dalia?

A pergunta veio de Connor, estava sério e olhando para o garoto. Sabia como o irmão era, odiava ver qualquer pessoa que pudesse entrar em sua vida e desmanchar tudo como se fosse nada, não repetiriam tudo novamente.

— Gilbert irá levar maçãs na aula e virá amanhã, por causa de Esperança, apenas por ela.

— Quem é Esperança?

— Minha nova gata - deu os ombros e foi em direção às escadas - Até amanhã, Gilbert e Delphine é linda, diga a Sebastian.

Se despediu deixando o garoto para trás, precisava ver se estava bem. Ao entrar via que o gato chorava no canto, ao menos parecia que sim. Assustada, olhava ainda mais desconfiada para a garota. Que apenas seguiu em si direção e a pegou no colo mesmo com pequenos protestos, fez um leve carinho na cabeça que mesmo relutante, aceitou. Ficou assim por alguns minutos, sabia o que odor do filhote ainda estava sobre si, acreditava que tinha ajudado com a situação.

— Confia nele?

Foi a única fala do irmão ao entrar pela porta, sentou afastado dela, sabia que ele não gostava de gatos, nunca teve bons momentos com eles. O olhou e percebeu que seu rosto estava descontente.

— Sabe que não, não confio em ninguém fora você e nossos pais.

— Ele não parece ruim, sabe disso, mas ainda assim...

— Ashley não parecia ruim, mas destruiu tudo que tinha, você e eu, de uma vez. Então prefiro não confiar, ele não me provou o contrário.

— Não, sem dúvida não, o conhecemos esta manhã.

— Acha que ele pode ser melhor que ela, Connor?

— Qualquer um tem esse potencial - a risada seca saiu de ambas, fraca e um tanto rouca.

— Falou algo para ele?

— Que se fizer algo com você, irei acabar com ele.

— Sei que sim - dessa vez a risada foi verdadeira - já fez isso mais vezes do que posso contar.

— Você é e sempre será nossa Lia, pequena Lia.

— Obrigada, mas agora vamos, precisamos mostrar para a mãe nosso mais novo membro.

— Ela não ficará feliz!

— Não ficou quando eu cheguei, mas hoje me ama, essa pequena tem um enorme potencial!

Desceram rapidamente, não tinha mais ninguém fora os pais na sala. Ao chegarem logo os perceberam ali, acreditava que era por seu forte cheiro que sabia que não estava os melhores, os pelos miados vindo do animal.

— O que é isso, Dalia? - a pergunta veio da mãe.

— Ela é a Esperança, a encontrei ao lado do filhote morto, o enterrei e prometi a ela levá-la todos os anos para honrar seu filho, farei isso.

A resposta foi rápida. A mãe levantou rápido e caminhou até o animal, ele se encolheu em direção ao seu corpo.

— Tome um banho e dê mais um banho nela, tenho certeza que existe algum cobertor antigo que ela possa dormir até comprarmos uma cama para ela.

— Sim, irei agora mesmo!

Ao chegar na escada parou indo a cozinhar, precisa achar algo para alimentar ela, deveria ter alguma sobra do almoço, sempre sobrava. Mas as pegar os restos do frango dando ao pequeno animal que comia em desespero sentiu o cheiro da torta, não tinha sido comida, sentiu seu estômago se revirar novamente e sabia que o motivo não era o ideal, era Gilbert.


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