Seus Olhos escrita por NessCN


Capítulo 5
Capítulo IV


Notas iniciais do capítulo

Olá, espero que gostem desse capítulo. Teremos um pouco mais de Alicia e Matheus no passado.



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Abril de 1899

Os raios de sol entrava pelas frestas da casa e Alicia coçou os olhos e bocejou. Como ela desejava a cama confortável dela, mesmo que fosse acordar para ir a escola. Ela se levantou, sentindo o corpo todo dolorido devido ter dormindo em má posição e ter ficado o resto da noite acordada ali olhando para aquela porta. Foi para cozinha e se curvou perto da pia, molhou o rosto, os braços e a nuca. Desejando um banho.

Na sala Matheus acordou se amaldiçoando por ter dormido naquela posição, onde cada parte das suas costas e pescoço doíam. E ainda por ser um terrível vigia, pois nem ficar acordado ele conseguia. Se levantou e viu que não havia ninguém no sofá.

— Droga. - Murmurou.

Se aquela menina houvesse fugido ele estava ferrado, vai saber as coisas que ela podia fazer que poderia alterar o futuro. O fato de ela já está ali poderia muito bem alterar o futuro dele.

— Droga. Luana? Luana, pelo amor de forças maiores, diz que você está aqui? - Ele pediu olhando para o alto, como se suplicasse a algum Deus.

Alicia ouviu Matheus chamar um nome de uma mulher. Ela ficou se perguntando se tinha mais alguém na casa ou se ele conhecia alguém daquele tempo. Daquele tempo, pensou ela que coisa mais bizarra.

Matheus começou a andar pela casa e foi para na cozinha.

— Luana. Por que não me respondeu? - Ele questionou.

Lici olhou confusa para ele. Quem ele estava chamando de Luana? Pensou ela.

— Vamos, precisamos procurar alguma coisa para comer e é perigoso ficar aqui, a família pode aparecer a qualquer momento. - Ele a chamou e sumiu indo para sala.

Lici suspirou e secou as mãos na própria roupa. Ainda sem saber quem era Luana, mas ela não se atreveria a perguntar. Quando ela chegou na cozinha, ele já estava na porta com a mão nos cabelos bagunçados. Sua pele negra brilhava com os raios de sol que entravam pela porta meio aberta. Era bonito. Pensou Lici sorrindo para si mesma. Mas louco.

Ele fechou a porta atrás de si e começou a andar pelas ruas de paralelepípedos.

— Se não sabemos quais ações nossas irão modificar o futuro, porque nos arriscamos a ir procurar comida? - Lici perguntou para matar a curiosidade e também porque não queria ficar com uma pessoa o dia inteiro calada.

— Tenho certeza que duas pessoas indo comer não modificará o futuro. - Matheus respondeu sorrindo torto para ela.

— Eu aqui modifica o meu futuro?

Matheus a olhou surpreso.

— Não, assim espero. Logo você estará em casa.

— Espera? Sua confiança me deixou aliviada. - Riu de nervoso.

— Não me culpe. Isso aqui é inteiramente sua culpa. Se não tivesse pegando o que não era seu eu não teria que ter te salvado saltando no tempo. - Matheus respondeu parando e encarando Lici.

— Só me leve para casa. - Lici respondeu desviando do olhar dele e continuando a andar.

Ela fez um lembrete mental de nunca mais pegar nada na rua, pois ela com certeza não queria uma outra situação como aquela.

— Por aqui. - Matheus agarrou o braço dela e fez ela ir em direção a uma barraca de fruta e legumes, que tinha um senhor simpático vendendo. - Você vai conversar com o cara, enquanto eu pego uma frutas para comer.

— Você vai roubar? - Lici olhou surpresa para ele.

— Por acaso a senhorita tem moedas de ouro? - Ele olhou com deboche para ela a soltando.

Alicia respirou fundo e foi andando em direção ao senhor simpático. Se amaldiçoando por esta fazendo aquilo com aquele pobre senhor.

— Olá. - Ela sorriu. - Gostaria de saber quanto está seis maçãs?

— Olá, senhorita. Que vestido mais lindo o seu, me lembra de uma amiga minha que faz vestidos lindo. A alfaiataria dela é no fim da rua, passe lá depois. - Ele sorriu de forma afetuosa. - Bem são cinco moedas de ouros.

— Tudo isso? Uau! - Alicia fingiu surpresa e olhou de canto para ver Matheus.

— Preciso alimentar meus filhos, senhorita. - Ele riu.

Alicia concordou com a cabeça.

— Qual o nome da senhorita? - O senhor se levantou e começou a separar as maçãs.

— Alicia. - Ela respondeu.

Matheus olhou surpreso para ela, mas a jovem não percebeu.

— EI! - O senhor gritou com Matheus e soltou as maçãs que estava separando. - Ladrão.

Com o grito do senhor, Matheus saiu correndo com apenas três bananas em mãos e Alicia foi logo atrás dele. Antes que eles pudessem virar em algum beco guardas estavam atrás deles. A essa hora, Matheus já havia deixando as maçãs caírem no chão e agarrou Alicia pela mão para correr na velocidade. Correram o mais rápido que podiam e viram um beco, no qual entraram e Matheus agarrou a cintura de Alicia para que ela ficasse o mais perto ainda. A jovem o encarou rapidamente e enterrou o rosto no ombro dela, porque ou era aquilo ou ambos se beijariam naquele espaço ou falta de espaço entre eles. Matheus viu os guardas passarem reto e ele afastou Alicia ainda segurando a cintura dele.

Alicia sentiu o cheiro dele e com certeza era o cheiro de alguém que precisava tomar banho, ela concluiu. Afastou o rosto assim que ele afastou ela e o encarou outra vez. Aqueles olhos cor de mel e quando percebeu que ambos se encaravam por muito tempo, ela desviou o olhar e viu as mãos dele ainda em sua cintura. Ela encostou nas mãos dele que estavam quentes e as tirou.

— Muito bem Luana. - Ele falou com acidez na voz. - Ou seria Alicia?

Então Alicia se lembrou que ontem havia mentido sobre o nome dela. Agora a cena na casa fazia sentido. Ela suspirou.

— Você não queria que eu dissesse meu nome a um estranho né? - Ela falou, ainda sem ter certeza se revelava seu nome ou não.

— E quem seria o estranho? - Matheus perguntou sem ter certeza ao que ela se referia.

— Você. - Ela falou por fim.

— Obrigada por confiar em mim. - Ele saiu andando em direção oposta ao que tinham vindo.

— Desculpa ai se eu não confiei em alguém que me disse que eu estava no passado e me sequestrou.

Matheus apenas a ignorou. Não tirava a razão dela. E era bem pior que ele soubesse o nome dela, sabe o que ele podia fazer com aquela informação e quanto mais o tempo passava, mas ele se perguntava o que poderia ser alterado em seu tempo naquela troca social entre eles.

Eles andaram durante algumas horas, até que Alicia achou uma Igreja e decidiu pedir comida ao Padre e freiras que estavam rezando. Eles foram bons e deram um prato de sopa que haviam preparada na noite anterior para pessoas que moravam na rua. Alicia devorou aquilo como se fosse um animal selvagem, sua barriga reclamava a horas e ela estava morta de fome. Matheus já estava acostumado a ficar tanto tempo sem comer, então apenas aceitou de bom grado quando o prato de comida chegou.

Depois de comerem alguma coisa eles voltaram a andar pelas ruas. Havia muito comerciantes nas ruas tentando vender de tudo e muitas pessoas andavam pela ruas. As mulheres estavam todas com suas cinturas bem definidas e uma saia bufante e todas olhavam muito estranho para Alicia, devido a forma como se vestia. Matheus parecia todo confiante ao lado dela e não demonstrava um pingo de medo, diferente de Lici que emanava medo em cada poro seu.

— As pessoas vão começar a farejar o seu medo. - Disse Matheus quando um cachorro chegou próximo a eles. - Os cachorros já farejaram.

Ele riu, mas Lici não o acompanhou.

— Vamos lá, você nunca quis conhecer o passado? - Ele perguntou.

Alicia o olhou surpresa. Surpresa pela forma como ele levava tudo aquilo e ainda por achar que ela devia gostar de tudo aquilo.

— Com certeza, eu só não esperava que acontecesse. - Disse em um tom de voz ácido.

— Okay. Logo estará em casa, senhorita Alicia. - Respondeu com deboche.

Alicia ignorou e continuou andando.

Eles andaram mais um pouco, até que Lici reclamou que estava cansada e que precisava descansar. Ela se sentou em um banco numa praça e Matheus se sentou ao lado dela. Ela olhou para ele e viu como ele observava as pessoas que andavam e conversavam, seu olhos brilhavam de interesse em tudo aquilo.

— Como é o futuro? - Lici perguntou.

Matheus a olhou surpreso. Ele encarou de novo as três pintas que ela tinha no rosto e viu os olhos verdes que ela tinha. Lindo olhos verdes. Ele pensou. No futuro era difícil ele encara durante tanto tempo os olhos das pessoas, elas pareciam cada vez mais com pressa e dificilmente paravam nas ruas, como eles estavam agora. Ou se abriam ou se olhavam nos olhos, igual eles faziam agora. Alicia desviou o olhar para baixo por ficar incomodada de ficar tanto tempo se encarando, mas Matheus levantou o rosto dela com as pontas dos dedos, a obrigando a olhar. Ela ficou surpresa pelo toque, mas encarou de novo aqueles olhos cor de mel.

— Difícil… - Ele respondeu ainda com os dedos no rosto da jovem. - Eles não se olham mais nos olhos.

— Por que?

— Há medo, não se sabe o que pode encontrar nos olhos das pessoas. - Ele respondeu em um sussurro.

— Os seus brilham de interesse nisso tudo. - Ela respondeu.

— Os seus me lembram esperança. - Ele soltou o rosto dela e sorriu.

— É alguns já me disseram isso.

Mas Matheus não se referia a cor dos olhos dela serem verdes, mas sim de que ele ainda podia olhar e entender as pessoas sem medo de suas reações. De que ele ainda podia viver uma relação social de forma fluida como era no passado em que seus avós lhe contavam. Igual ele estava ali agora.

As cores laranjas no céu significava que o sol já se punha e estava cada vez mais perto a hora de Alicia ir para casa. Eles viram o sol se pôr ali na praça em silêncio. E a noite cair, as pessoas da rua começavam a desaparecer. Como se a noite ficasse nas ruas aqueles que procuravam um amor rápido e bêbados.

— Boa noite, senhorita. - Um homem que cheirava a álcool a quilômetros se aproximou de Alicia estendendo a mão.

— Ela está comigo, não está vendo? - Matheus se levantou e se colocou à frente de Alicia.

O homem riu alto.

— Como se puta tivesse alguém. - O homem comentou.

Alicia sentiu seu sangue ferver em suas veias e ela se levantou rapidamente afastando Matheus da sua frente.

— Do que você me chamou? - Ela partiu para cima do homem o dando um soco na cara dele.

Ele cambaleou e perdeu mais ainda o equilíbrio. Levou a mão ao rosto e quando tirou dava para ver o sangue em suas mãos e pingando no chão. Alicia olhou horrorizada para ele. O que eu fiz?

— Sua vagabunda! - O homem partiu para cima de Alicia.

Antes que ele pudesse fazer alguma coisa ela puxou uma faca que havia guardado dentro do seu vestido preso pela calcinha. Ela havia pego a faca na casa, sabendo que alguma hora iria usar aquilo. O homem deu alguns passos para trás.

— Nem ouse. - Alicia respondeu firme.

— Vagabunda. - O homem murmurou e deu as costas andando.

Quando ele já estava bem longe, Alicia guardou a faca onde estava e se virou para o Matheus que ainda olhava a cena todo surpreso.

— Uau!

— É quando você é sequestrada no meio da noite, passa a tomar mais cuidado. - Ela forçou um sorriso.

Matheus apenas concordou com a cabeça.

— Vamos sair daqui.

E ambos voltaram a andar pela rua. Até que o dispositivo que estava guardado no bolso de Matheus começou a brilhar com aquela luz fraca. Ele tirou o dispositivo do bolso.

— Está pronto. - Falou.

Alicia olhou esperançosa para ele. Ele rodou o dispositivo o abrindo e fazendo com que a luz violeta aumentasse mais ainda e os envolve-se novamente. Ele pegou na mão de Alicia com força e apenas pensou no tempo dela.

Alicia não se atreveu a fechar os olhos dessa vez. E não sentiu mais o chão aos seus pés. Ela não sabia explicar, mas era como se tivesse pulado para um local escuro e aquela luz os levasse, guiasse naquele local, até que eles pularam de novo e ela sentiu o chão sobre seus pés. A luz sumiu e ela olhou em volta, estava na sua rua. Suspirou aliviada.

— Por favor, você não pode dizer a ninguém o que aconteceu. - Matheus ainda segurava a sua mão.

Ela concordou com a cabeça.

— Obrigada pela experiência. - Disse Matheus tocando o rosto dela para que ele pudesse olhar aqueles olhos verdes pela última vez.

Alicia olhou dentro dos olhos dele e lembrou do que ele havia dito na praça. Aquilo com certeza deveria ser íntimo demais para ele e de certa forma ela se sentia desconfortável com aquilo, mas não quis desviar o olhar por ele.

Ele soltou o rosto dela.

— Tchau. - Ele disse e deu as costas saindo.

— Tchau. - Alicia disse acenando, mas ele não viu.

Ela se dirigiu até a sua porta e tocou a campainha, pois não estava com chave. Alguém demorou a abrir. Ela não sabia que horas era. Talvez fosse a hora de andar com um relógio de pulso. Seu pai foi quem abriu e quando viu a filha parada na porta ele não pode conter as lágrimas e puxou a filha para dentro para abraçar.

— Minha Alicia, eu pensei que nunca mais fosse vê-la.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por terem lido, não deixem de comentar.
Beijos ♥



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