Primeira Chance escrita por Love Rosie


Capítulo 1
Hogsmead


Notas iniciais do capítulo

Esta é uma Scorose legítima e fofinha, uma one enorme para quem quiser se divertir um pouco. Baseada nos acontecimentos de Cursed Child, com algumas alterações.

Espero que gostem, beijinhos!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791357/chapter/1

Fazia cerca de dois minutos que eu estava no meio de um dos corredores de pouca circulação em Hogwarts e não havia conseguido proferir sequer um oi decente para a garota à minha frente até o momento.

— Então, Rose. – eu estava suando.

Droga! Por que eu ficava assim toda vez que ia falar com ela? Imaginei que depois de passar por todo aquele sufoco com Albus tudo melhoraria entre mim e a prima dele, porém ela sequer me olhava direito.

Quando retornei do passado com os pais de Rose ela foi ao encontro deles, estava muito preocupada. Abraçou a todos, até mesmo Albus, mas quando chegou a minha vez o que ela faz? Acolhe-me com um chute na canela. Ela era impossível!

Voltei para a situação atual. Percebi que a encarava de boca aberta. Caramba, ela era tão bonita.

— Malfoy. – chamou estalando os dedos na frente do meu rosto – Mandou que me chamassem aqui e agora está aí com cara de paspalho. O que foi? – indagou impaciente. O primeiro ato de covardia com certeza foi mandar um primeiranista chamá-la em meu lugar e ainda dizer que era algo importante frisando que ele não deveria dizer meu nome em hipótese alguma. Não poderia fraquejar quando meu sonho estava em minha frente. Literalmente.

— Eu gostaria de saber se você quer sair comigo. – desembuchei de uma só vez, respirando fundo depois da frase. Ela ficou por um tempo parada, pensando, então me vi obrigado a jogar meus argumentos na conversa – Você sabe pelo que o seu primo e eu passamos juntos, foi difícil, mas pelo menos assim consegui provar que não sou a criança amaldiçoada.

— Eu nunca pensei que fosse. – rebateu parecendo ofendida – Nunca ouviu isto saindo da minha boca, ouviu Malfoy? Sempre fiz questão de enfatizar que eram apenas rumores.

— Não, contudo sabia dos boatos que circulavam por toda a escola, imaginei que isso contribuísse em sua antipatia comigo. – defendi-me. Não poderia estragar tudo, principalmente sabendo que ela não pensava que eu era filho de Voldemort.

— Não sou de me ater a boatos. – empinou o nariz estreitando os olhos. Eu simplesmente amava quando ela fazia isso. Parecia ainda mais poderosa do que já era – Estou sempre em busca de elementos que comprovem alguma teoria antes de tirar minhas conclusões a respeito e divulgá-las por aí.

— Sei disso. – afirmei – Não estou afrontando sua índole, Rose.

— Bom mesmo. – ela foi dura, mas vi que seus ombros relaxaram um pouco – Sobre o que estávamos falando, mesmo?

— Sobre nosso encontro.

— Não me lembro de ter aceitado nada que envolvesse você e eu num encontro, Malfoy.

— Exato! Esse é o ponto. – dei-lhe a razão. Ela ama estar com a razão, então talvez a atitude pudesse me auxiliar de alguma forma – Você sabe que eu e seus pais somos, tipo, superamigos agora, não é.

Ela fez uma careta de desgosto e suspirou.

— Você é um tanto exagerado, no entanto sou obrigada a confirmar o que diz. – ela cruzou os braços sob os seios e isso me fez pensar em coisas que, definitivamente, não deveria pensar. Ter 14 anos é uma droga – Meus pais, por alguma razão que me é desconhecida, desenvolveram certo afeto por você, porém não um vínculo demasiadamente profundo como o que expôs. Aliás, o que tem a ver meus pais com o seu convite? O tal passeio contará com a presença deles?

— Não, claro que não. – apressei-me a negar. Imagine só se Ronald Weasley estiver junto enquanto eu tento conquistar sua filha? E Hermione é Ministra da Magia, não gostava nem de pensar no que ela seria capaz de fazer comigo. Se quisesse poderia me banir do mundo bruxo, dado que possuía autoridade suficiente para tal – Só nós dois, de preferência.

A garota ficou um tempo em silêncio, considerei que estivesse analisando a proposta. Depois de alguns segundos lançou-me um olhar de pena e, antes de falar, soltou um suspiro.

— Desculpe Scorpius, mas não posso aceitar. – foi seu veredito.

Fiquei verdadeiramente triste e não procurei esconder o sentimento quando sorri para ela. Era um sorriso que dizia claramente que não estava tudo bem, mas que eu iria superar, da mesma forma que havia superado todas as vezes que ela me destratara.

— Beleza, então. – resolvi não insistir, não gostaria de ser taxado como chato. Não era não e eu entendi o recado.

Tive a impressão que ela gostaria de dizer algo mais, porém optou por não fazê-lo, então apenas seguiu pelo corredor, olhando uma vez para trás, sua expressão de pura pena. Quando ela sumiu de minha visão resolvi seguir meu caminho. Precisava encontrar com Albus na biblioteca. Devido às viagens no tempo, estávamos com matérias atrasadas desde o início do ano.

No caminho me dediquei a pensar no que ocorrera minutos antes. Rose Granger-Weasley havia me dado um belo de um fora, era fato, porém optei por avaliar o lado positivo de tudo. Primeiro: ela me chamou de Scorpius, não de Malfoy, loiro anêmico, elfo albino ou qualquer outro apelido que ela mesma tenha inventado especialmente para me insultar. Segundo: ela me encarou com pena. Isso quer dizer que, lá no fundo do coraçãozinho de pedra que Rose possuía, ela estava triste por fazer aquilo. Terceiro: ela olhou para trás, uma atitude de quem não estava tão decidido assim em suas ações. Eu tinha esperanças!

Ao chegar à biblioteca contei tudo o que havia acontecido para meu melhor amigo, que apenas me olhou com estranheza, dirigindo-se a mim com cautela:

— Você está sendo um pouco esperançoso demais, não acha, Scorp? Conhecemos a Rose e ela não é do tipo que aceita sair com você.

— E qual seria o tipo de garota que aceita sair comigo? – questionei curioso.

— Garotas que não são a Rose. – declarou.

— Cara, você não entende. – aquele mané veria que eu estava muito certo.

Como se adivinhasse do que estávamos falando, Rose passou por nós e, acredite, ela sorriu para mim. Foi um sorriso discreto, mas um pouco malicioso. Diria até que provocante. Se o intuito daquela Weasley era me deixar cada vez mais maluco por ela, estava conseguindo.

— Pelas barbas de Merlim! – Albus murmurou ao meu lado – Não é que você pode ter razão?

Encarei-o convencido.

— Não disse? – sorri presunçoso – Scorpius Malfoy está construindo um castelo. Um castelo de amor.

Dois dias depois de ter convidado Rose, falhando miseravelmente, estava lendo na biblioteca quando ela puxou uma cadeira e sentou-se na mesma mesa que eu. Continuei encarando o livro de Poções como se não tivesse reparado sua presença ali, no entanto era óbvio que a partir de sua chegada não conseguia prestar atenção em palavra alguma que estava escrita naquele livro.

— Você anda estudando muito, não é? Sempre o vejo aqui na biblioteca. – ela comentou distraidamente.

— Estou com algumas matérias atrasadas e se conseguir apenas notas baixas novamente meu pai me manda um berrador. – fiz uma careta ainda sem olhar para ela, como se não estivesse interessado na conversa – Ele andou convivendo demais com a Sra. Potter.

Escutei-a rir. O som era divino.

— Está precisando de ajuda? – questionou. Era impressão minha ou aquilo havia sido uma oferta? Abaixei o livro para encará-la desconfiado – É que temos alunos que se dedicam a esta função na Grifinória, imaginei que na Sonserina ocorresse o mesmo já que é uma regra da escola. – apressou-se a explicar. Murchei um pouco, mas não me desanimei por completo, se ela estava ali significava que alguma coisa queria.

— Vou procurar alguém por lá, obrigado pela dica. – murmurei voltando minha atenção ao livro, mas ainda atento ao que a garota fazia.

Ela respirou fundo e cruzou as mãos sobre a mesa. Não conseguia ver seu rosto.

— Não está com vontade de conversar? – indagou. Okay, aquilo havia passado dos limites da anormalidade. Ela queria mesmo conversar comigo?

— Com você? – agora usava o livro para me esconder. Não queria que ela percebesse o quão nervoso eu estava.

— Sim, ao que parece quem está na sua frente sou eu, não é mesmo? – irritou-se um pouco.

Beleza, hora de parar de atiçar sua calma. Decidi dar-lhe mais atenção e provar isso colocando o livro devidamente fechado sobre a mesa.

— Sobre o que quer conversar, então? – inquiri curioso torcendo para que ela se declarasse apaixonada por mim naquele momento.

— Pensei melhor sobre a sua proposta. – começou – Talvez não seja muito ruim andar por Hogsmead com você, acho até que teríamos a chance de mudar um pouco as concepções errôneas que temos um sobre o outro.

Alguém precisava me beliscar. Boquiaberto e meio desnorteado era como estava.

— Isso é um sim ao convite que recusou há dois dias? – perguntei para ter a certeza de que não estava delirando.

— Sim, eu vou lhe dar uma chance para me convencer de que é legal. Conversei com a minha mãe por meio de cartas e ela me deu um puxão de orelha por estar me negando a conviver com você. – confessou um tanto envergonhada. Ela ficava linda demais daquele jeitinho – E eu também estou tendo treinos extras no Quadribol, tem o jogo contra a Corvinal na próxima semana e no tempo em que você e Albus ficaram sumidos eu não treinei um dia sequer, não conseguia. – suspirou, murmurando a última parte. Fiquei tentado a tocar suas mãos para acalmá-la, porém tinha medo de que ela julgasse íntimo de mais.

— Está tudo bem, estou feliz por estar me dando este voto de confiança. – confortei-a apenas com as palavras, meus olhos fixos nos dela – Vou tentar ao máximo não desperdiçá-lo. – prometi.

Rose assentiu e deu-me um tchauzinho antes de se levantar e seguir para fora da biblioteca. Eu estava mais do que feliz, estava radiante. Era como se a vida tivesse começado a sorrir para mim e eu não queria que parasse, não agora. Prometi a Rose que aproveitaria a chance e é exatamente o que eu faria.

No sábado do encontro levantei-me bem cedo a fim de me preparar. Na manhã anterior havia pedido a meu pai que me enviasse uma pequena leva de ouro para gastar durante o passeio. Evidentemente não havia contado sobre minha companhia, mas disse que convidara uma garota e então precisava de verba.

Acordei com a coruja de meu pai batendo insistentemente na janela. Ela trazia no bico uma bolsa minúscula com um montante de galeões e também um bilhete que dizia coisas como meu filho está virando homem e não cuspa o chá da Madame Puddifoot em cima da garota só porque ele é doce demais. Ótimo, eu não pretendia leva-la à casa de chás mesmo. Meu pai estava sentimental demais desde o meu sumiço, era fato. Vivia me abraçando, beijando, dizendo que mamãe estaria orgulhosa de mim. Lembrei-me dela. Era a mulher mais bonita que eu já vi na vida, a mais vistosa e simpática, e também possuía o sorriso mais acolhedor de todo universo. Mamãe fazia falta, muita falta.

No banheiro, enquanto tentava fazer com que meu cabelo se comportasse num topete, encarei minha imagem. Gostaria de ter algum traço que a lembrasse, porém era uma cópia exata do meu pai, embora o mesmo dissesse que eu tinha um sorriso muito fácil, como o dela. Era agradável me ater àquilo, me sentia mais perto dela. Soltei um suspiro profundo saindo do cômodo. Deveria ter pensamentos felizes, nada que me magoasse naquele dia. Rose Granger-Weasley aceitara sair comigo, era um fenômeno raro que só acontecia uma vez na vida, então era algo a se comemorar.

No caminho para o Salão Principal meu coração já começava a dar saltos. Será que ela já estaria tomando seu desjejum? Será que ela estava nervosa? Imaginava que não tanto como eu, mas que alguma coisa ela deveria estar sentindo, no mínimo ansiedade. Pensava também em nosso programa do dia. Depois de muito planejar, resolvi que era melhor deixar tudo acontecer naturalmente, que ela visitasse os lugares de sua preferência e eu a acompanharia sem pestanejar.

Sentei-me à mesa da Sonserina observando a outra extremidade do grande salão. Ela estava linda sorrindo juntamente com a prima Lily, irmã do Al. Este estava ao meu lado começando a se servir de café fumegante. Era de se esperar já que a cara de sono não se deixava ser disfarçada. Albus tinha sérios problemas em acordar antes do horário do almoço nos fins de semana.

— Ela colocou uma faixa no cabelo. – comentou mordendo uma torrada com geleia de passas.

Notei que sim, Rose estava com um arco perolado passando pelos seus cabelos, o que, diga-se de passagem, deixava-a ainda mais bonita.

— E o que tem isso? – indaguei muito curioso.

— Quer dizer que ela caprichou. – concluiu – Lily disse uma vez que Rose não tem muita paciência para lidar com o cabelo e prefere prendê-lo. Agora olhe para ela, deixou a juba livre. – deu um risinho no fim.

— Ela está linda. – afirmei com um sorriso enquanto pegava uma maçã verde sobre a mesa. Meu estomago não aceitaria muita coisa, contudo precisava me alimentar e maçãs verdes sempre foram as minhas preferidas. O teor ácido era saboreado por mim.

Faltando vinte minutos para a abertura dos portões e a liberação dos alunos para sair da escola, eu já estava posicionado na fila, atrás de alguns terceiranistas ansiosos. Não que eu estivesse diferente deles, chagava a suar aguardando minha parceira para aquele dia. Logo as filas começaram a ficar mais extensas e meu nervosismo piorava. E se ela desistisse e me deixasse lá plantado esperando?

Minhas dúvidas se dissiparam e meu coração se aliviou assim que ela se posicionou ao meu lado, sorrindo, um pouco constrangida.

— Você é um pouco apressado. – soltou – Está aqui há um tempão.

— Queria pegar um bom lugar na fila. – justifiquei – Você sabe, eles sempre demoram a liberar nossa saída por causa das autorizações do terceiro ano.

— Sim, você tem razão. – concordou. Socorro, Rose Granger-Weasley concordou com algo que eu disse! Era o dia mais feliz da minha vida, e ele mal tinha começado.

— A propósito, você está linda. – quase havia me esquecido de elogiá-la.

Admirando-a mais de perto era possível perceber melhor as dimensões de beleza que ela atingia. E parecia tão simples para ela que trajava um vestido lilás com finas listras brancas e uma jaqueta jeans. E ainda por cima usava tênis. Ela definitivamente não estava vestida para um encontro, não da maneira convencional. Porém era de se esperar, Rose não era como as outras, caso contrário qualquer garota me bastaria. Entretanto eu precisava dela, somente ela era capaz de preencher o vazio em meu peito.

— Valeu. – ela agradeceu um pouco envergonhada, deixando transparecer tal sentimento ao tentar ajeitar seu arco sobre os cabelos sem a mínima necessidade, já que estava perfeito.

Num impulso muito corajoso, ofereci meu braço para que ela entrelaçasse o seu. Ela me encarou indecisa, então lancei a ela um sorriso encorajador torcendo para que desse certo. Ainda sem graça e mordendo o lábio inferior em sinal de nervosismo, ela passou o braço por entre o meu e não perdi a oportunidade de me juntar mais a ela. Parecia um sonho, mesmo que ela aparentasse estar um pouco desconfortável.

Passei o olho pelo local tentando dar mais tempo para Rose se acostumar comigo e se sentir mais à vontade. Numa fila ao meu lado, vi Albus me encarando com um sorriso orgulhoso, indicando que eu estava fazendo a coisa certa. Não que ele soubesse algo sobre garotas, mas com certeza sabia entender melhor as da sua própria família.

Os portões finalmente se abriram e a fila começou a andar, devagar, mas seguia pelo menos. Já fora do castelo, caminhando para as carruagens, Rose ainda estava inquieta.

— Algo de errado? – quis saber. Já estava ficando preocupado – Sabe, acho que vai ser divertido. – tentei animá-la.

— Esse é o problema. – ela sorriu um pouco tristonha – Eu tenho um dom especial para estragar coisas divertidas.

Meu coração se apertou um pouco. Sua voz transbordava... sofrimento? Rose era sempre tão durona que era difícil acreditar que no fundo ela fosse somente uma rosa delicada e que precisava de cuidados.

— Você não vai estragar nada. – assegurei encontrando uma carruagem vazia e me soltando dela, dando espaço para que ela subisse primeiro. Lá dentro, sentei de frente a ela, encarando-a firmemente – Será um dia muito bom, você vai se surpreender, Rose Granger-Weasley.

— Assim espero, Scorpius Malfoy. – disse em tom de desafio.

E eu esperava o mesmo.

Chegando ao nosso destino, como um bom cavalheiro, ajudei Rose a descer da carruagem. Ela agradeceu, mas acabou recusando meu braço quando ofereci novamente. Provavelmente não gostaria de ser vista por ali comigo. Isso me entristecia um pouco, porém a realidade era boa demais para reclamar de alguma coisa. Eu estava saindo com Rose Granger-Weasley, estava mesmo acontecendo!

Meus pais me contaram uma vez que, em sua época de estudantes, Hogsmead era apenas uma aldeia pacata, quase sem movimentação e que sua renda girava em torno dos estudantes e professores, além deles, apenas poucos moradores viviam ali. Era difícil de acreditar, pois desde que me conheço por gente o local era repleto de lojas, hotéis e bares de diversos tipos. As antigas instalações ainda sobreviviam e eram admiradas por nós, porém outras construções também chamavam atenção. À noite as coisas costumavam serem mais movimentadas com música e festas de todo estilo. Infelizmente os passeios noturnos eram raros e permitidos apenas para alunos do sexto e sétimo anos com autorização dos responsáveis, portanto era um sonho que um dia alcançaria, mas que não deveria pensar enquanto ainda estivesse no quarto ano.

— Por que está tão sorridente? – Rose soltou olhando diretamente para mim enquanto caminhávamos na direção da área comercial de Hogsmead.

— Estou feliz, só isso. – mais sinceridade de minha parte era impossível – E você, como se sente?

— Não sei. – declarou – Nenhum dos meus passeios por aqui foi assim. – ela abaixou a cabeça – Com algum garoto.

— Você teve que dar muitos foras antes então.

— Na verdade ninguém me convidou. – corrigiu me deixando chocado – Eu também penso que isso é apenas convenção social, não preciso de um garoto para me sentir bem. Todas as vezes que visitei este lugar foram bem satisfatórias e não foi necessário que nenhum rapaz lambesse meus pés para isso. – terminou empinando o nariz. Depois pareceu repensar no que disse – Sem ofensas. – murmurou.

— Está tudo bem. – assegurei – Na verdade fico feliz de ser o primeiro a convidar você e mais ainda por você ter aceitado. – ela sorriu um pouco tímida, o que não era típico dela. Aquela era outra Rose, uma que mal conhecia e já amava – Prometo não lamber seus pés. – cruzei os dedos para evidenciar. Dessa vez ela riu com vontade, me deixando satisfeito.

Paramos em frente ao amontoado de lojas, então olhei para Rose e esperei que ela decidisse.

— Pensei que para este tipo de programa era preciso fazer um planejamento antes. – comentou – Você é uma vergonha, Malfoy. – acusou, mas não como das outras vezes. Não foi ofensivo, ela estava brincando.

[– E a cada minuto que passo com você chego a acreditar que alguém tomou uma poção polissuco e se transformou na Weasley porque esta que está na minha frente com certeza não é ela. – cruzei os braços esperando que ela revelasse sua verdadeira identidade (torcendo muito para que não o fizesse). A menina olhou para os lados sem me responder, logo depois ouvi-a bufar – Você ficou chateada? – fiquei preocupado.

— Eu não sou um monstro. – bradou – Sou uma pessoa comum sabia? Posso ter senso de humor. – ficou emburrada.

— Não foi isso que eu quis dizer. – não era mesmo.

— Não é o que parece. – rebateu – Sei que nunca fui um doce de pessoa com você e estou mesmo me controlando para não ser grossa. O problema é que você me tira do sério. – irritou-se.

— Mas eu não fiz nada. – levantei os braços em rendição.

[– Ainda. – mirou-me friamente. – Podemos ir ao Três Vassouras? Faz um tempo que estou com vontade de tomar cerveja amanteigada e nenhum lugar serve melhor do que a velha Rosmerta. – pediu mais calma, porém com um tom ainda um pouco alto. Ela era maluca.

Obviamente concordei com seu pedido, até porque desejava tomar um pouco daquela bebida maravilhosa também. E tive que concordar com Rose. Não existia nenhum estabelecimento que servia cerveja amanteigada como o Três Vassouras.

Nos sentamos numa mesa de dois lugares. Tudo ali dentro era rústico, chegava a remeter à minha própria casa às vezes, no entanto aquele local tinha um ar mais aconchegante. Logo uma das garçonetes veio nos atender. Rose pediu sua bebida com raspas de chocolate e eu com gengibre. Assim que a moça anotou nossos pedidos e se retirou, reparei que Rose me olhava com uma careta de nojo.

— O que foi? – indaguei.

— Gengibre não é algo que deva ser ingerido. – continuou com a careta, me fazendo rir – Minha mãe é igualzinha.

— Sua mãe é legal. – comentei sem pretensão alguma – Exceto quando era professora. – resmunguei baixinho.

— Minha mãe nunca foi... – ela iria contestar – Ah sim, em outra linha do tempo – pareceu se tocar – Ela era mesmo professora em Hogwarts? – assenti – E era chata?

— A mais chata de todas, parecia sempre amargurada. – observei.

— Isso é muito estranho. Toda vez que minha mãe fica chata demais o meu pai dá um jeito de acalmá-la. – contrapôs – Não imagino como isso possa ter mudado.

— Talvez tenha mudado porque seus pais não estavam juntos. – minhas palavras fizeram-na engasgar com o líquido e direcionar um olhar espantado para mim – É verdade. – reforcei ao notar sua cara de incredulidade. Era ótimo saber de algo que ela não sabia.

— Caramba! – exclamou surpresa – É difícil imaginar um mundo em que meus pais não estejam juntos. E eu? Como eu era nessa linha do tempo? – começou a se empolgar – Eu ainda era jogadora?

— Bem, isto é um ponto complicado a ser tratado. – iniciei tentando ao máximo não assustá-la demais. – Você meio que não existia.

A revelação me fez vivenciar algo inédito: Rose Granger-Weasley estava boquiaberta.

— Como assim não existia? Eu tinha que existir!

— Bem, esse foi um dos motivos que fizeram com que Albus e eu voltássemos no tempo novamente. Seus pais precisavam ficar juntos e além do mais. – cravei meus olhos nos seus, que me observavam atentamente – Eu não queria viver num mundo sem Rose Granger-Weasley.

Ela sorriu para mim, um sorriso puro, sem sarcasmo, sem deboche. Também não era um riso aberto para uma situação específica. Era um daqueles sorrisos espontâneos que nem se percebe quando sai. E aquele sorriso em especial, aquele sorriso que Rose deu no meio do Três Vassouras numa manhã de sábado era especificamente para mim.

— Você é tão bonita. – a frase saiu sem que eu pudesse evitar. Estava demasiadamente distraído, viajando por suas íris.

Ela desfez o sorriso, mas não por completo. Ainda havia resquícios dele ali, o que indicava que ela não estava chateada, ou pior, zangada comigo.

— Obrigada. – agradeceu singela aprumando-se na cadeira. Fiz o mesmo sem nem mesmo ter percebido quando havia me inclinado tanto – Por ter voltado por mim ainda que tenha sido vocês mesmos que criaram toda a confusão. – soltou um risinho maldoso – Vocês estavam bem e, eu conheço minha fama pela escola, garanto que muitos seriam mais felizes sem que eu os incomodasse.

— Isso não é verdade, você é muito querida também. Além disso seria impossível passar nos exames com sua mãe como professora e seu pai não combinava nada com a nova esposa.

— Nova esposa? – ela estava novamente espantada.

— Sim, era uma tal de Patil, acho. – forcei minha memória – Ela era legal, mas a mãe do Albus a odiava, não entendia a razão. Bem, pelo menos sabemos que a sua mãe é aprovada por todos, não é mesmo?

— Com certeza. Meu pai tinha filhos? E minha mãe era mesmo solteira?

— Acho que seu pai tinha um filho sim, mas isso não importa realmente, não é? – ela concordou – E a sua mãe com certeza não tinha um namorado, era do tipo que passava todas as horas livres do dia planejando formas de ferrar os alunos.

— Ela é um amor de pessoa, é difícil pensar que quisesse ferrar alguém.

— Pois acredite. – frisei – Mas uma coisa é certa e imutável: em todas as linhas do tempo a Sra. Weasley tinha personalidade forte e era muito durona.

— Granger. – ela disse do nada me deixando sem entender coisa alguma – É Hermione Granger. Não a chamamos de Weasley.

— Desculpe, eu não sabia.

— Tudo bem, é um erro comum. – sorriu complacente.

Terminamos nossas bebidas e pedi a conta. Pretendia pagar tudo sozinho, contudo minha acompanhante era teimosa e não permitiu que o fizesse.

— Não tinha ficado caro, era só uma cerveja amanteigada, e eu gosto de agradar as pessoas com comida. – contestava enquanto saíamos do estabelecimento rumo à rua movimentada.

— Exatamente. Era só uma cerveja amanteigada, não precisava fazer escândalo só porque eu paguei a minha.

— Você está certa. – cedi – Para onde vamos agora?

Ela deu um sorriso travesso antes de responder.

— Zonko’s. James vem me enchendo a paciência há um bom tempo, preciso dar uma lição nele e entrar na loja do meu pai aqui não seria uma boa opção. Por mais que ele esteja trabalhando no Beco Diagonal ficaria sabendo. Além disso, meu primo também conhece todos os produtos de lá. – revirou os olhos – Tenho mais garantia comprando na concorrência.

— Não imaginava uma coisa dessas vindo de você, mas não estou reclamando, vamos lá. – segui-a rindo. James Potter não era um inimigo, porém podia ser bem intrometido e extremamente irritante quando queria.

Divertimo-nos muito dentro da loja e depois visitamos várias outras. Almoçamos sanduíches exóticos num novo restaurante que inaugurou no ano anterior e depois compramos penas novas, alguns pequenos livros e muitos, muitos doces. Pelo menos os doces ela permitiu que eu pagasse. Sentamo-nos num morro gramado, longe do tumulto, que dava visão para a Casa dos Gritos.

— Quem diria que esse lugar viraria ponto turístico não é mesmo? – Rose comentou referindo-se à velha casa que estava abarrotada de estudantes. Há uns dez anos ela havia sido transformada num centro de jogos e diversão, ponto preferido dos alunos viciados em brincadeiras. – Ouvi relatos reais sobre ela e acho que a história se perdeu com o tempo. Deram pouca importância para o real significado dela.

          – Meus pais também me falaram muito sobre ela, o real motivo de ser chamada assim. – ela me encarou curiosa – O sr. Lupin não é? – ela assentiu estranhando que eu soubesse daquilo – É o pai do Teddy e ele é da minha família também. – ela pareceu se tocar.

— Verdade, me esqueci que sua avó e a avó do Teddy eram irmãs. 

— É, por isso sei de algumas histórias do sr. Lupin. – respirei fundo para continuar – Seus pais contam muitas histórias a você não é? – ela concordou – Existe uma que acredito que eles não tenham dito. – ela merecia saber, eu me sentiria péssimo se não contasse.

— Existe?

— Na verdade, é algo que compartilhei apenas com seus pais e o sr. Potter. Nem Albus soube deste detalhe. Você sabe que numa das viagens Voldemort havia ganhado a guerra e Snape me ajudou, certo? – ela assentiu – Eu contei a todos que, sozinho, Snape me protegeu para que conseguisse mudar a realidade novamente, só que isso não é verdade.

— Como assim? Snape não ajudou você?

— Claro que ajudou, sem ele eu não estaria vivo. Acontece que seus pais também estavam lá. Diferente do sr. Potter, eles não tinham sido mortos, continuavam lutando contra as trevas mesmo que o sistema estivesse totalmente contra eles. E faziam com que as coisas acontecessem, eram procurados pelo Ministério. Eles não eram um casal, acho que nem tinham muito tempo para isso. Em outras palavras, eles eram fodas.

— Estou orgulhosa. – seus olhos brilhavam e ela sorria – Não sei por que eles esconderam isso de mim, nem a razão de você ter feito o mesmo.

— É que, quando nós estávamos fugindo dos dementadores, bem, eles eram muitos, entende? Havia vários e Snape não daria conta de todos sozinho. Os seus pais estavam lá, eles estavam para me ajudar. –costumava me embolar com as palavras quando estava nervoso e eu claramente estava nervoso. – E no meio do caminho, como eu disse, havia muitos dementadores e então sua mãe decidiu que ficaria para distraí-los. – Rose me ouvia tudo atentamente, com os olhos arregalados em aflição – O seu pai não permitiu que ela ficasse sozinha então foi junto. Eu os ouvi se declarando um para o outro antes de sair correndo. O fato é que... acho que você já entendeu.

— Eles morreram. – sussurrou com a voz um pouco falha – Morreram para que você escapasse.

— Eu me senti um pouco culpado quando contei, mas eles me disseram para não me preocupar com isso, fingir que não aconteceu, até porque não aconteceu mesmo. Só que não poderia esconder isso de você. São seus pais e, se for para você me repudiar por causa disso pelo resto da vida, que comece agora. Minha intenção é ser o mais verdadeiro possível com você. – terminei de cabeça baixa esperando que ela se levantasse para me xingar.

Para a minha surpresa, ela se jogou sobre mim e me abraçou. Um abraço forte que quase me derrubou, acolhedor, coisa que não esperava dela de modo algum. 

— Obrigada por me contar. – agradeceu ainda agarrada a mim. Quando voltou a se sentar ao meu lado, estava radiante – Eles têm razão, não aconteceu mesmo, não de verdade. Se não fosse por você nunca ficaria sabendo de nada e se tem uma coisa que eu odeio é não saber das coisas.

Estava pasmo, pensei mesmo que ela iria me azarar ou pelo menos me odiar para sempre.

— Eu definitivamente não esperava por isso.

— Eu não sou um monstro, já disse. Sou capaz de ver bondade nas pessoas e consigo enxergar a sua também, Scorpius. Sei que julguei você de maneira errada, que cheguei a ser até mesmo má com você e com o Albus também. Não fui uma boa pessoa, mamãe se envergonharia de mim. – lamentou.

— Está tudo bem, é o seu jeito, eu compreendo. – confortei-a, me recordando do que ela disse a mim na biblioteca – Você comentou que sua mãe havia escrito para você e por conta desta carta, aceitou meu convite. – ela assentiu – Soa intrometido, mas, qual era o conteúdo?

— Não soa intrometido, é intrometido. – corrigiu-me – Ela dizia que você era um bom rapaz e que eu poderia encontrar em você algo que eu não possuía, algo que eu precisava, que faltava em mim e que eu procurava mesmo sem saber o que era exatamente. Eu não entendi direito o que ela quis dizer, contudo decidi arriscar.

— Por que? – quis saber bastante interessado. Ela deu de ombros.

— Eu tenho uma dúvida. Você não é burro, é um bom amigo e também é corajoso – ela levantou três dedos – caso contrário não teria saído vivo dessa loucura. – O que faz você ser sonserino?

Pensei bem antes de responder.

— Você é a pessoa mais inteligente da escola, é uma boa amiga e também é muito ambiciosa, caso contrário não estaria sempre no topo de tudo o que faz. O que a faz ser grifinória?

Ela soltou uma risadinha um pouco debochada, sabendo exatamente o que eu queria dizer.

— O sangue. – respondeu por mim, que só fiz concordar.

— Não somos tão diferentes, Rose. Podemos nos dar bem juntos.

— Juntos? – lançou-me um olhar de dúvida – Juntos como?

— Como você quiser. – declarei pedindo para ser como duas pessoas que se beijam, se beijam muito, como duas pessoas que não param de se beijar nunca.

— Bem, imagino que não seria torturante sair com você novamente. Acho que podemos tentar.

— E agora somos amigos?

— É, pode ser assim. Agora vamos, já está na hora de voltar para o castelo e eu quero pegar uma das primeiras carruagens.

Ela se levantou e saiu correndo morro abaixo. Eu fui junto e acabamos chegando quase no mesmo instante no ponto das carruagens. Havia poucos alunos ali, a maioria não queria voltar para a escola. Aproveitamos da situação para irmos numa carruagem que não tivesse mais ninguém além de nós dois, um de frente para o outro.

— Você gostou do nosso dia? – não consegui segurar a pergunta.

— Foi legal. Descobri que você não é tão chato e que me presenteia com doces. – ergueu a sacola abarrotada deles – No fim das contas, foi divertido e revelador. Agradeço por isso.

— Não precisa, sua alegria já é uma recompensa.

Chegamos à escola mais rápido do que eu desejava. Queria ficar mais com Rose, a companhia dela era boa. Passamos o dia sem brigas pesadas, e no fim viramos amigos. Já era um grande passo. A carruagem parou e me ia me levantando para descer quando Rose pediu que eu esperasse.

— Não está esquecendo nada? – questionou.

Refleti para ver se havia de fato me esquecido de algo, no entanto nada me veio à mente.

— Não que eu me lembre.

Ela bufou, revirou os olhos como se estivesse sem paciência, então se erguei do seu lugar e... ai caramba, meu coração dá pulos só de lembrar (não só o coração, mas isso não vem ao caso). Ela me beijou NA BOCA. Tudo bem que foi só um selinho, entretanto eu, que não sou de perder as oportunidades que a vida dá, aprofundei e virou um beijo bem quente, do tipo que me faz perder as estribeiras. Sério, foi um beijão que só parou porque Rose se desequilibrou e acabou caindo no meu colo. NO MEU COLO. Ofegante, ela se levantou, arrumou o cabelo e saiu da carruagem. Fui atrás, sem demora.

— Espera. – chamei-a. Ela estava um pouco à minha frente e parou, esperando que eu me aproximasse – Será que podemos repetir isso amanhã?

— Amanhã não tem passeio, Scorpius. – respondeu rindo.

— Podemos fazer nosso próprio passeio. Todos os dias, se quiser.

Ela não respondeu de imediato, continuou andando em direção ao castelo e só se deu ao trabalho de responder quando havíamos passado do Salão Principal.

— Amanhã é domingo, eu estou livre. Talvez você esteja em frente à biblioteca às duas da tarde, já que pode ser que eu esteja por lá nesse horário também. – virou as costas e seguiu seu caminho em direção à torre da Grifinória.

— Eu com certeza estarei lá. – murmurei para mim mesmo aos pulos, voltando para minha sala comunal. Albus cairia duro quando soubesse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Primeira Chance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.