Quer Um Doce? escrita por Love Rosie


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

?” História se passa num período pós Cursed Child, ou seja, eu utilizei das informações do roteiro para escrevê-la.
?” Foco total em Rose Weasley.

Espero de coração que gostem, porque foi feita com muito carinho e amor.
Beijinhos!



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Eu não sou ruim, repetia para mim mesma a todo instante, tentando me convencer disso.

Eu não sou ruim. De fato, é complicado sustentar um pensamento quando todos vão contra ele. Estávamos no recesso para o Natal, n'A Toca, entretanto eu preferia ter ficado na escola. Não que Hogwarts fosse meu lugar preferido no mundo, nem  que a ideia de estudar durante o feriado me agradava. Nada disso. A vantagem de ficar lá seria não ter de praticar tão intensamente o meu exercício diário de dizer internamente que eu não era ruim. Porque os murmúrios que ouvia pelos corredores do castelo e até mesmo os que rondavam a casa de meus avós diziam o completo oposto.

Não que minha família não fosse agradável ou divertida. Não que eu fosse mal tratada. A questão não era essa. A questão era que todos ali pareciam fazer um tremendo esforço para me aturarem. O único momento em que me sentia verdadeiramente querida era na hora de escolher os times de Quadribol. Meus primos literalmente lutavam para me ter em seu time, por isso eu gostava de praticar o esporte o dia todo, todos os dias se possível. Assim eu não me sentia tão só, assim não teria de tentar me convencer de que eu não sou uma pessoa ruim.

Porém, naquela manhã de véspera de Natal, meu braço direito estava doendo devido a uma torção sofrida na noite anterior quando recolhia os pratos da mesa junto de minha avó. Tentei convencer meu pai de que não era nada, mas não adiantou. Ele me proibiu de subir numa vassoura. Por isso eu havia ficado em seu antigo quarto, no andar mais alto da casa, abaixo do sótão. Era ali que Hugo e eu dormíamos durante as férias. O quarto havia passado por uma reforma, assim como o restante da casa. Os quartos ficaram maiores e mais aconchegantes. A regra era que o quarto dos pais passassem aos filhos. Azar de quem tinha muitos filhos.

Da cama onde estava sentada, eu tinha uma visão privilegiada dos meus primos jogando o que eu considerava ser a melhor coisa do mundo. Eles estavam sob uma espessa camada de feitiços que impediam que a neve e um pouco do frio os atingisse.

A imagem de todos se divertindo, o fato de nenhum deles se preocupar em fazer uma visita ao quarto para ver se eu havia melhorado e a neve que caía lenta e graciosamente do lado de fora me faziam ficar melancólica. E a transição de melancolia para tristeza era curta. Então, quando menos esperava, lá estava eu chorando. Chorando por não fazer falta, por não ser importante. Chorando por saber a verdade.

A verdade que eu era ruim. A competitiva, chata. Sabe tudo irritante como minha mãe, entretanto sem uma gota de seu carisma. Era grossa, rude, agressiva. Era mais do que ruim. Eu era intragável, indesejada. Por isso não tinha amigos, muito menos candidatos a sê-lo. Os que se aproximavam era por puro interesse na boa fama que meu sobrenome carregava.

Enquanto a euforia de meus primos podia ser vista e ouvida por qualquer um que se aproximasse um pouco, meus soluços eram abafados pelos grossos cobertores que me envolviam.

Num momento imprevisto, meu pai escancarou a porta trazendo consigo uma bandeja com o que eu considerava ser meu café da manhã. Ele sabia exatamente todos os meus horários, sabia que eu acordava por volta das oito da manhã e me alongava antes de me alimentar. Ele sabia também que eu amava chocolate quente e biscoitos de baunilha, dos quais sentia o delicioso aroma e que, por sorte, eram sua especialidade. Ele só não sabia que antes mesmo de se alongar, sua filha praticava o exercício mental diário repetindo por diversas vezes eu não sou ruim. E às vezes ela não acreditava, e por isso chorava. Essa foi a razão que o fez largar tudo o que carregava no apoio mais próximo e ir correndo em minha direção.

— Rosie, o que houve? — inquiriu coberto de preocupação. Eu não conseguia responder pois o choro compulsivo não permitia — Está doendo? — assenti e, com delicadeza, ele pegou meu braço a fim de analisá-lo. Acontece que não era lá que doía.

— Não, pai. — puxei meu braço de suas mãos, levando a minha até onde realmente doía. O coração — Aqui. — era a pior dor que existia, e era constante. Simplesmente não se extinguia.

Então ele entendeu e me abraçou, deixou que eu chorasse em seus braços ao passo que afagava meus cabelos com todo carinho que podia transmitir. Ele não insistiu para que eu explicasse nada enquanto estava ali, somente acolheu-me. Meus soluços podiam ser ouvidos por todo o quarto e se alguém passasse pelo corredor também. Não me importei. Ele estava ali comigo e resolveria qualquer conflito que, por ventura, viesse a ocorrer.

Depois de incontáveis minutos, quando eu finalmente acabei de chorar, restando apenas os soluços, ele se separou de mim, deixando-me a sua frente. Seu olhar transmitia preocupação, mas também a confiança da qual eu tanto precisava. Eu estava segura com ele.

— Pronto? — ele perguntou e eu apenas indiquei com a cabeça que sim — Quer que eu busque a mamãe? Posso trazê-la aqui se você quiser.

— Não há necessidade de incomodá-la, eu estou bem. — garanti, embora ambos soubéssemos que a verdade era bem contrária à minha declaração.

— Não está, não. — a diferença é que meu pai não queria acobertar isso — Rose, se você não me contar o que está acontecendo não vou poder ajudar. Há um tempo venho percebendo que você anda menos empolgada do que antes. Posso ser um pouco desatento em relação ao que ocorre ao meu redor, mas percebo quando minha filha não está bem.

— Nisso você é melhor do que a mamãe. — afastei-me um pouco mais dele, recostando-me na cabeceira da cama.

Ele era simplesmente incrível na função de pai, em todos os sentidos. Era divertido e cuidadoso. Não conseguia colocar medo real em mim e Hugo, essa era a função da minha mãe. Passávamos muito mais tempo com ele do que com ela. Papai costumava dizer que ela passava mais tempo com a secretária do que conosco, o que não era uma mentira, tampouco um grande problema. Ela fazia falta, entretanto o tempo que compartilhávamos em família era bem proveitoso. Eu sempre soube da importância de Hermione Granger para nosso mundo e a admirava imensamente por isso. Em casa aconteciam discussões sobre como seus horários eram prejudiciais para nós. Havia dias em que não a víamos e o fato se repetia várias vezes. Era mais recorrente na época em que ela tomou posse de seu cargo e não voltava a acontecer há um bom tempo. De modo mais raso, seu trabalho não atrapalhou nossa relação, embora sua constante ausência num período crucial de minha vida desencadearam questões que fortaleceram meu vínculo com Rony, meu pai. Eu fazia questão de contar tudo a ele, ou pelo menos tudo que não me fizesse ficar envergonhada em falar.

— Eu prometo guardar segredo. — insistiu, cruzando os dedos — Se for sobre garotos quero deixar claro que não vou brigar com você. — seu rosto se tingia de vermelho. Ele não se sentia confortável ao falar desse assunto e ficaria pior se eu dissesse que andava flertando com o Malfoy — A sua idade indica que você deve estar começando a se interessar romanticamente por alguém agora e seus sentimentos podem estar travando uma guerra dentro de si. É normal, filha. E também tem os hormônios que se alteram...

— Andou lendo sobre como criar filhos de novo, pai? — ele adorava livros que o ensinavam a fazer coisas na vida. Sei que ele esconde um exemplar de Como Conquistar Sua Esposa Todos os Dias no armário da cozinha.

— Saiu uma edição nova sobre adolescentes. Eu realmente não sei como lidar com vocês, preciso de ajuda!

— Você é ótimo na função de pai.

— Se fosse você não estaria chorando.

— Pai, a razão pela qual eu estava chorando vai além do seu alcance. E não é por causa de um garoto, é só mais uma bobagem. — tentei convencê-lo. Sem sucesso.

— Nada que venha de você pode ser considerado bobagem. Você é a jovem mais inteligente que eu já conheci.

— Depois da mamãe. — corrigi.

— Depois dela.

— É sério, pai. Vamos ignorar tudo isso e seguir com nossas vidas. — sugeri deitando-me na cama e jogando os cobertores sobre minha cabeça. Estava extremamente envergonhada.

— Nada disso. — papai não aceitou, retirando de mim as cobertas e me puxando pelo braço para que eu me sentasse — Se não quer falar eu entendo, mesmo não concordando, mas você tem que tomar seu café da manhã pelo menos.

O homem ruivo e robusto, com a barriga mais saliente do que lhe era recomendado, ergueu-se e se encaminhou para onde havia deixado a bandeja. Buscou-a com cuidado para não derrubar o conteúdo e levou até onde eu estava.

— Abra a boca. — ordenou. Eu fiz um pouco de manha, mas obedeci e ele enfiou um biscoito de baunilha em minha boca. Mordi o que conseguia e acabei sorrindo enquanto mastigava. Ele ainda me encarava curioso e preocupado.

— Eu já disse que não precisa se preocupar comigo.

— Como não, Rose? É só o que eu faço desde o dia em que Hermione disse que estava grávida. — ele sorriu — É isso que os pais fazem, florzinha.

Peguei a xícara com o chocolate que ele me oferecia. Havia algum feitiço naqueles recipientes que não deixava que o conteúdo esfriasse. Tomei um generoso gole daquela bebida magnífica. Talvez ali no meio tivesse um pouquinho de coragem, pois assim que o líquido desceu pela minha garganta, fiz a pergunta que me incomodava há anos.

— Por que eu sou diferente?

— Que tipo de pergunta é essa, Rose? — ele estava encabulado.

— É que — fixei meu olhar na xícara em minhas mãos. Não tinha coragem de olhar para meu pai enquanto desabafava — Eu observo todos aqui e não consigo me encaixar. Eles são amigos, muito além de primos. Veja, James e Fred, Dominique e Roxanne, Hugo e Lily. Eles são correspondentes, companheiros, melhores amigos. Até mesmo o Albus, que é meio estranho, achou um outro esquisito para ser amigo. — suspirei — Eu não tenho amigos, pai. — encarei a parede para admitir — As pessoas que me cercam só o fazem para copiar minhas tarefas ou serem apresentadas aos garotos mais velhos do time. E tem ainda aqueles que só querem ser vistos com algum Potter ou Weasley para poder compartilhar da fama que esses sobrenomes carregam. Mas da Rose ninguém gosta, eu sou absolutamente insuportável. E chata. Nenhuma pessoa quer ocupar o posto de melhor amigo daquela que é odiada por todos. Se for para ser amigo do filho de dois heróis de guerra, sendo um deles aquele que ocupa o mais alto cargo do Ministério da Magia, que seja do Hugo. — bufei. Meu irmão era tão adorável e adorado — Me diga se alguém faria por mim o mesmo que você e mamãe fizeram pelo tio Harry, ou o mesmo que Scorpius Malfoy fez pelo Albus. — minha voz estava novamente embargada e eu escondi o rosto entre as mãos antes mesmo que as lágrimas começassem a cair — Eu pensei que, depois de fracassar com todas as tentativas de me encaixar em algum grupo, o Al, quer dizer, Albus me veria como sua semelhante e estaria disposto a voltar a ser o que éramos quando crianças. Entretanto, como ele mesmo fez questão de ressaltar, isso foi há muito tempo e não somos mais as pessoas que éramos, não temos mais nada em comum. Sei que foi culpa minha, que eu o afastei, que o isolei e até mesmo o humilhei e agora estou sendo punida por isso. Mas por quanto tempo isso vai durar? — já chorava intensamente, porém menos do que antes — Tento me convencer todos os dias de que não sou ruim, só que a verdade é bem nítida e mostra exatamente que sim, eu sou ruim. Eu sou péssima, horrível, e é por isso que não tenho amigo algum. Eu não sou merecedora de um sentimento tão puro como a amizade. — voltei meu olhar ao meu pai e percebi que ele ainda estava perdido em tudo que eu havia falado. Revirei os olhos e bufei, me arrependendo imediatamente de ter contado tudo a ele. Quando parei de chorar, deixei claro que havia avisado — Eu falei que era bobagem.

— Vou falar com sua mãe sobre isso. — ela era comunicada sempre que papai não dava conta de resolver uma situação em casa, o que era o caso.

— A Ministra da Magia tem mais o que fazer do que ouvir asneiras de uma adolescente.

— É evidente que não, meu bem. — ele retirou a xícara quase vazia de minhas mãos, deixou-a fazendo companhia ao prato de biscoitos sobre a cama de Hugo e se aproximou para me abraçar mais uma vez. Encolhi-me em seus braços e me permiti aproveitar o sentimento de proteção — Não existe no mundo uma pessoa que se preocupe com você e te ame mais do que sua mãe e eu. Nada que ela faça no Ministério é mais importante do que qualquer palavra que você diga. Qualquer coisa, principalmente se for algo que estiver fazendo você sofrer. — funguei — Por que não nos contou antes, Rosinha? — dei de ombros — Rose, toda vez que o Harry vinha me contar de seus problemas para conversar com Albus eu me sentia internamente satisfeito por não ter o mesmo problema com Hugo e muito menos com você. Sabe que sempre teve total liberdade para me contar tudo o que quisesse, Rose, tudo que afligisse você.

— Eu sei.

— Você tem que abandonar de vez essa ideia de que é uma pessoa ruim. Está longe disso. Você é uma garota linda, brilhante em tudo o que faz.

— E sem amigos. — complementei — Você só me atura porque sou sua filha e é meio que obrigado a me amar do jeito que eu for, caso contrário me veria da mesma maneira que os outros.

— Isso não é verdade.

— Nós dois sabemos que é. O que eu mais queria no primeiro dia em Hogwarts era fazer amigos, os melhores, como você, mamãe e tio Harry. Eu avaliei as pessoas, me juntei àquelas que mais tinham o que me oferecer e não adiantou! Cá estou eu, sozinha.

Diferente da minha expectativa, meu pai soltou uma risada curta e humorada.

— Rosie, você entendeu tudo errado. Nós não selecionamos os melhores amigos, eles são colocados em nossas vidas por acaso. Harry não escolheu ser meu amigo antes mesmo de me conhecer e, pode ter certeza, nós não escolhemos sermos amigos de Hermione. Aconteceu pura, simples e naturalmente.

— Você bem que podia ter falado isso antes que eu entrasse naquele trem. Facilitaria muito. — resmunguei. A essa altura eu já imaginava que estava fazendo tudo de maneira equivocada.

— Pensei que descobriria sozinha, amor. — ficamos em silêncio por um tempo, então ele retomou a fala — Quer ouvir uma história legal? — assenti, recostando à cabeceira da cama para vê-lo — Bem, no primeiro ano eu estava sozinho numa cabine do Expresso de Hogwarts graças aos meus irmãos, que não queriam ser vistos junto do caçula. Então Harry chegou e se juntou a mim naquela cabine.  Me lembro de ter ficado deslumbrado porque, caramba, era Harry Potter! Todos conhecíamos a história dele.

— Então vocês se tornaram melhores amigos exatamente porque ele era uma lenda viva e você queria ser amigo dele. — constatei.

— De forma alguma! — discordou imediatamente — O que nos fez amigos foram os doces. — ele sorriu com a lembrança — Ah sim, eles eram muito bons. — ao notar minha confusão, ele pôs-se a explicar — Eu não tinha dinheiro para comprar nada durante a viagem e tanto eu quanto você sabemos as delícias que o carrinho de doces pode carregar. Eu ficaria ali sem comer nada daquilo se o quatro olhos não tivesse comprado o conteúdo do carrinho inteiro.

— Ele comprou todos os doces? — indaguei surpresa.

— Sim, pode perguntar a ele, se quiser. Foi então que soube que seríamos melhores amigos. Entendeu a moral da história?

Refleti por um instante.

— Amigo é aquele que entende suas carências e tenta supri-las.

Ele suspirou negando.

— Você e sua mãe são iguaizinhas. Adoram complicar o que é simples. O que você tira dessa história é exatamente o seguinte: se alguém lhe oferece doces de graça, é melhor aceitar e ser amigo dele.

Então uma lembrança surgiu em minha mente. A lembrança de um garoto magro, pálido e de cabelos extremamente loiros oferecendo doces a duas crianças que, como ele, eram primeiranistas.  Junto da lembrança, veio o arrependimento. Mas eu estava com medo e preocupada. Talvez se tivesse desobedecido meu pai naquela época, tornando-me sim amiguinha do Malfoy, agora não estaria tão só.

Voltando o foco à história, reparei que ele não havia contado uma parte.

— E a mamãe? Você me disse uma vez que ela era muito complicada quando se conheceram.

— Complicada ela ainda é. — corrigiu — Como eu disse, ela ama dificultar tudo o que pode. Hermione não aceitou os doces, então tivemos de salvá-la de um trasgo para firmarmos a amizade. — disse como se estivesse indignado de tê-la livrado de um monstro.

Eu ri abertamente. Gargalhei. E quando voltei ao normal, papai me deu um beijo estalado na bochecha.

— Você fica muito mais bonita sorrindo. — lançou-me um sorrisinho, que retribuí — Coma mais alguns biscoitos. — pegou o prato colocando à minha frente.

—Estou satisfeita.

— Por favor, Rose. Estou tentando fazer dieta, mas fica difícil se você me deixa no encargo de comer todos os biscoitos. — sorrindo, peguei mais três dos seus deliciosos biscoitos. — Descanse mais um pouco, dormir vai lhe fazer bem. — aconselhou, recolocando prato e xícara na bandeja.

— Obrigada, pai. — agradeci enquanto ele se dirigia à porta.

— É o meu dever, querida.

— Pai. — chamei antes que ele saísse — Se alguém te oferece um doce e você não aceita, como pode reparar a situação?

Ele pensou um pouquinho antes de responder.

— Talvez então você tenha que oferecê-lo desta vez. — e aí ele saiu, me deixando pensativa. Adormeci afundada em reflexões.

Fui acordada por uma voz grave falando meu nome insistentemente e um dedo cutucando meu ombro.

— O que é? — resmunguei abrindo os olhos e espantando-me com a imagem de Albus Potter em minha frente. Sentei-me na cama o mais rápido que consegui — O que está fazendo aqui?

— Seu pai pediu para que eu viesse acordar você. — ele estava muito desconfortável e eu não estava diferente.

— Você quer dizer que ele obrigou você a vir aqui, não é? — ele confirmou — o garoto confirmou — Peço desculpas pelo comportamento dele. — disse saltando da cama, indo até o espelho que havia ali para arrumar meu cabelo — Não quero que seja forçado a conviver comigo.

— É inevitável, não podemos mudar. — contrapôs, vi pelo reflexo ele sentando-se na cama do meu irmão ao lado de uma caixinha de tamanho mediano que não estava ali antes — Somos da mesma família e você é namorada do meu melhor amigo.

— Nós não temos nada! — retruquei ao mesmo tempo que sentia meu rosto esquentar.

— Sei exatamente o nada que vocês têm. — debochou — Não acredito que Scorpius quer mesmo insistir com você. Essa paixão talvez não seja saudável para ele. Quando o assunto é você ele se torna cego.

Me virei para encará-lo. Albus estava mesmo querendo discutir sobre um relacionamento que nem existia? Eu não estava com a mínima disposição para aquilo.

— E com você ele é cego o tempo inteiro, a ponto de acompanhar suas ideias idiotas. Mas já que se preocupa tanto com seu amigo, fique tranquilo. Não vou mais dar margem aos seus flertes. Quem sabe você não possa apresentá-lo a uma garota que corresponda aos requisitos que acha necessários para ele. — declarei tranquilamente.

— Acha que já não tentei fazer isso? — ele estava um pouquinho exaltado — Com tanta garota legal por aí e ele se apaixona logo pela mais difícil. Você é impossível, Rose. E o pior é que ele gosta! — jogou indignado.

— Eu não o obriguei a gostar disso. De mim. Deveria falar com ele, não comigo! — ralhei.

Albus pôs-se de pé.

— Ele também se torna surdo quando se trata de você. Cego e surdo. Não quer saber da verdade.

— E qual é a verdade, Albus? — desafiei-o. Meu primo suspirou, negando com a cabeça — Diga. — ordenei num tom mais alto.

— É melhor você descer, seu pai deve estar querendo ver você. — murmurou.

— Estou esperando, Potter. — a raiva começou a apossar-se de mim.

— Você é ridícula. Por se achar superior a todos com esse nariz empinado e a vassoura debaixo dos braços. Você é egoísta, só pensa em si mesma, se importa apenas consigo e a única coisa que quer é manter-se com alto status naquela porcaria de escola. — ele estava extremamente vermelho — Você é pura aparência, Rose. É uma garota bonita que possui inúmeras habilidades e nada além disso. Se alguém usasse imperius em você seria impossível descobrir porque você é totalmente vazia de sentimentos.

Ele ofegou ao terminar de dizer, e suas palavras eram mais cortantes que um sectumsempra.

— Você pode sair agora. — eu estava visivelmente abalada e ele percebeu.

— Rose... — começou em tom de pena.

— Está tudo bem, eu não tenho sentimentos, esqueceu? — minha voz soou mais baixa do que eu desejava e eu virei de costas para que ele não me visse abaixar a cabeça. Eu só me dirigia às pessoas de cabeça erguida — E não precisa se preocupar, não vou contar a ninguém que nos desentendemos, você não vai se ferrar por minha causa.

— Nós nunca nos entendemos para início de conversa. — mesmo sem ver, notei que ele se sentou novamente na cama do meu irmão — Eu não deveria ter dito nada disso.

— Deveria sim. — discordei, sentando-me em minha própria cama e voltando a olhá-lo — É o que você sente, não é? Nunca escondeu isso. Eu não sou burra, nem idiota. Percebo quando sou bem-vinda ou não, e eu nunca sou bem-vinda. Tudo o que você disse é verdade, não tenho o que protestar. Ninguém me conhece melhor do que eu mesma.

— Não. Do jeito que eu falei fez parecer que você era um monstro, e você não é. É humana como qualquer um de nós. Dizer que você não tem sentimentos foi cruel e eu percebi isso porque essa está sendo a primeira vez que vejo você triste. Sempre está com raiva, nunca triste.

— Não estou triste. Não estou sentindo nada, eu não sinto. — menti — Você realmente deve descer. Eu logo vou também.

— Isso não está certo. — ele bufava passando as mãos pelo cabelo, bagunçando-o — Me desculpe.

— Não tenho o que desculpar. Você não fez nada de errado, nunca faz nada de errado. O erro sou eu. — a ironia era o que sobrava quando todas as peças de minha armadura caíam.

— Sei que você ficou muito chateada comigo, mas não entendo a razão. Eu realmente não fiz nada, Rose.

— Você estragou tudo, Al. — falei por impulso — Desculpe. Albus. — corrigi.

— Pode falar como quiser. Eu não ligo mais para isso.

— Você me deixou, Albus. Eu tinha tudo planejado. Iríamos a Hogwarts, entraríamos na Grifinória e a convivência nos faria amigos de novo, mas você foi para a casa das serpentes.

— Não foi uma escolha minha. A Sonserina é minha casa! — exasperou-se.

— Mas me deixar sozinha foi. Me trocar pelo Malfoy foi. Não se importar mais comigo foi.

— Você fala como se gostasse mesmo de mim.

— Você é estranho, admito que acho isso, mas isso não faz com que eu o odeie ou queira nada além de distância de você. Você não gosta de mim, me odeia, não me suporta e eu não sinto o mesmo. — sentia-me aliviada de poder falar tudo isso.

— Eu não odeio você. Só não gosto do seu jeito. Você é arrogante e vivia colocando meu amigo para baixo.

— Não coloque Scorpius no meio disso. — avisei irritada — Meu problema com ele já foi resolvido, nada do que estou dizendo se trata dele, e sim de você.

— Talvez se você não fosse tão você.  Sabe, esse tipo de pessoa que não dá para gostar, apenas para conviver e às vezes nem isso. — disse cautelosamente — Se você mudasse um pouquinho talvez eu visse você com outros olhos.

— Está dizendo que eu tenho que mudar? — indaguei.

— É, meio que isso. — ele não estava convicto — As pessoas te aceitariam melhor assim.

— Estou ouvindo isso da pessoa menos sociável que conheço, então talvez deva ignorar. — alertei.

— De fato, eu sou reservado, porém as pessoas que me cercam gostam de mim de verdade. E eu tenho pelo menos um amigo.

— Meu pai andou fazendo fofocas por aí? — ele prometera guardar segredo.

— Não. É que está meio óbvia sua frustração por não ter amigos. — explicou — Sabe, eu não sou do tipo que ajuda mas, se você quiser, talvez possamos tentar.

— Tentar? — estava desconfiada — Quer dizer que quer tentar ser meu amigo?

— É. — embolou-se — Temos mais uma semana até voltarmos a Hogwarts e, de certa maneira, estamos sozinhos aqui. Não temos muito o que fazer já que seu braço não está muito bom. Nós temos concepções erradas um sobre o outro, então se você tiver um lado bom que queira mostrar...

— Eu tenho. — disse rápido demais, escancarando meu desespero. Albus riu — Mas o que você quer em troca?

— Nada. Vamos começar por aí. Não temos amigos só porque podem nos oferecer algo.

Eu assenti. Ficamos nos encarando por alguns segundos, o que era extremamente constrangedor, então ele desviou o olhar para a caixa sobre a cama.

— O que é isso?

— Não sei, Hugo deve ter deixado aí.

Ele a puxou para perto.

— Tem seu nome.

— Deixe-me ver. — pedi, estendendo os braços para pegá-la das mãos do meu primo. Estava curiosa para saber o seu conteúdo. Quando abri-a, sem dificuldade, um sorriso surgiu em meus lábios. Meu pai sabia mesmo do que eu precisava.

— O que foi? — Albus quis saber.

Retirei uma das várias embalagens de sapinhos de chocolate que havia dentro da caixa e ergui para o moreno, oferecendo.

— Quer um doce?


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem. Espero que tenham gostado.
Não esqueçam de deixar seu review.
Beijos!!



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