Limite escrita por Amaterasu


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal. Façam de conta que eu postei essa fanfic em março (pro projeto escrita criativa) e não desistam de mim. O tema é: “uma protagonista empoderada” e o ship que eu escolhi foi ItaIzu (Itachi e Izumi). É a primeira vez que eu escrevo sobre esse ship. Boa leitura.



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O coração de Izumi ficou aos pulos de felicidade quando ouviu dizer que seu amor estava voltando para casa depois de tanto tempo. Sorriso largo e olhos brilhantes eram pouco para expressar o quanto sua alma festejava; teria gritado, mas foi melhor alcançar a segurança de seu quarto, saltitando e rodopiando cômodo a dentro até pular na cama para abafar um grito feliz no travesseiro. Estava eufórica também porque Itachi queria ter dado a notícia à ela ao mesmo tempo em que para Sasuke, o irmão mais novo dele que desprezava tanto Izumi que preferiu mentir sobre ela não estar em casa só para não ter que dividir a satisfação da volta de Itachi. A humilhação sutil de cada dia, hein, Sasuke?, pensou por um segundo enquanto se mantinha quieta para ouvi-lo conversando com Itachi por chamada de vídeo, como uma intrusa em sua própria casa. Não importava, a notícia era boa demais para se deixar abalar e bater de frente com aquele garoto que nem parecia que estava vivendo um romance de tão amargurado que era. E Itachi não a deixaria de fora de algo como aquilo, por isso falou com ela mais tarde, sem Sasuke por perto. Isso a fez ir dormir feliz e ter ótimos sonhos, assim como acordar no pique para o trabalho que nem o péssimo humor de Sasuke ou de qualquer pessoa conseguiu tirar dela. Tudo em volta pareceu lindo o resto do dia e da semana, apenas melhorando quando Izumi finalmente pode contemplar seu amado de perto outra vez.

A presença dele melhorou a energia da casa, e a de Sasuke que não falava de outra coisa a não ser que Itachi precisava conhecer a pessoa que tinha capturado seu coração já no primeiro semestre da faculdade. Radiante pela volta do irmão e por finalmente poder apresentá-lo a alguém especial, nem se irritou pela brincadeira sobre Itachi optar por se estabelecer no quarto de Izumi e não no deles.

— É começo de namoro, irmãozinho. Tem que viver a euforia, a vontade de estar junto. Eu não quero ficar de vela e atrapalhar vocês. — o argumento prontamente saiu do mais velho. — E Izumi não vai se importar de dividir quarto comigo.

Com certeza não, concordava enquanto não os deixava saber que estava por ali os ouvindo. Seria um sonho, embora também tivesse sua pitada de tortura. Tê-lo tão perto... Itachi jamais sentiu desejo por ela, o próprio disse quando a jovem prima confessou o que sentia por ele durante a adolescência. Izumi entendeu o gentil e claro recado, e nunca mais tocou no assunto. Uma pena que não serviu para perder o interesse por ele. Sasuke segurou um dos muitos comentários desagradáveis sobre o assunto e voltou sua atenção para planejar o jantar onde ele apresentaria seu primeiro namorado ao irmão, ocasião na qual Izumi não era bem-vinda – até porque já conhecia o rapaz –, e felizmente tinha trabalho extra para manter-se longe deles até tarde.

Ouviu notícias sobre o jantar ter sido um sucesso. Itachi aprovou o jovem e elétrico cunhado, fazendo de Sasuke a pessoa mais feliz do mundo. Ele esteve tenso por receio do irmão desaprovar, e felizmente, isso já não era mais problema. Se todos estavam contentes, principalmente Itachi, Izumi também estava.

— Parabéns pelo cunhado. — disse quando teve a chance. — Eu sabia que ia gostar dele. É divertido e muito educado.

— Sasuke deu sorte. — Itachi parecia entre o contentamento pelo irmão e a tristeza trazida pela lembrança do próprio primeiro relacionamento, um conturbado namoro de adolescência que durou até a véspera da viagem dele, há três anos.

Izumi concordou sobre a sorte do primo mais novo, desejando que o jovem relacionamento prosperasse. Gostar de alguém, ser correspondido e poder apresentar para a família era realmente uma sorte. E Sasuke teve mais que o irmão e a prima. Itachi porque parecia se atrair por quem lhe daria mais tormento do que dias bons, de acordo com o que Izumi sabia sobre os relacionamentos dele; ela porque gostava tanto dele desde sempre e jamais poderia ter o que queria. Pelo menos somos amigos, achava conforto no carinho fraterno além da parte sanguínea. Aquilo e o colar da amizade que usavam desde crianças – com pingente de dangos, o doce favorito deles – era o mais perto de amor que Itachi podia oferecer a quem considerava sua melhor amiga. E Izumi aceitava de bom grado, era bom demais para recusar.

Itachi provou que não estava brincando sobre dividir quarto com ela, que ficou feliz, mesmo que fosse para deixar Sasuke mais à vontade e não porque realmente desejasse isso. Foi impressionante vê-lo com as malas na porta do quarto dela, quase pensou ser uma miragem.

— Você se importa? — parecia querer permissão, a qual já era dele antes mesmo de adicionar mais sensualidade à voz  — O quarto sempre foi seu, e nem falei com você sobre isso antes...

— Besteira. — Izumi disse quando piscou para sair do transe em que caíra por causa dele, e foi oferecer ajuda com as coisas do primo. — Seja bem-vindo. Não repare na bagunça.

— Este quarto nunca conheceu bagunça, exceto agora que eu cheguei.

Em pouco tempo, ele estava minimamente estabelecido e cochilou na cama de Izumi pelo cansaço da viagem. Sasuke não jantaria em casa naquele dia, seriam apenas eles dois. Por isso pode cuidar de tudo cantarolando de felicidade e sem se preocupar em disfarçar a cara de tonta que fazia por pensar em Itachi, eufórica por tê-lo tão perto outra vez – há muito tempo os surtos de pessoa apaixonada ficavam para si e para seu perfil no Twitter, longe do escárnio de Sasuke ou do eventual olhar de pena de Itachi. Jantaram, lavaram e guardaram a louça, e tiveram uma longa discussão sobre dormir na mesma cama. Izumi prontamente cedeu a cama para ele, que estava cansado da viagem e deveria ter uma boa noite de sono, e logo achou o colchão inflável que havia comprado para uma viagem nos tempos de faculdade.

— Qual é o problema de dormir na mesma cama que eu? — Itachi foi direto ao ponto depois que Izumi fez pouco caso de seus avisos sobre o colchão estar empoeirado e por ser desnecessário, já que havia espaço suficiente na cama para os dois.

— Problema nenhum. — fora o fato de querer dormir de conchinha com ele. Mesmo que fosse possível, isso pareceria muito estranho para amigos e danoso para ela.

O clima tenso se estabeleceu por um tempo, mesmo quando a penumbra os cobriu. Sasuke já tinha voltado para casa, provavelmente tendo avisado ao irmão por mensagem antes mesmo que fosse possível sutilmente ouvir a chave girando, o que era permitido pelo silêncio. A luz do celular de Itachi iluminou o rosto dele por segundos o bastante para que lesse a mensagem de Sasuke antes de se apagar e o dispositivo ser deixado de lado.

— Ele não vai ficar magoado por causa do quarto? — perguntou sobre Sasuke. O ódio do primo mais novo por ela aumentar por conta daquilo não importava, já era o esperado, Izumi só estava puxando assunto porque não queria ir dormir com a sensação de ter magoado Itachi por tê-lo feito pensar que não queria dormir na mesma cama que ele.

— Não, vai ficar grato. Quero que ele tenha privacidade quando o namorado dele vier aqui.

Ele tinha razão. Qualquer casal gostaria de poder ficar mais à vontade, Sasuke também era sortudo sobre poder contar com o irmão para isso – Itachi não era ciumento.

O rapaz que Sasuke namorava era um ou dois anos mais velho, e completamente o oposto dele; tão risonho e afetuoso que veio cumprimentá-la com grande alegria quando se conheceram, mesmo que Sasuke tivesse evitado apresentá-los. O jeito elétrico e a gentileza que exalava eram contagiantes. Provavelmente por causa dele é que Sasuke ficou menos grosseiro com a prima, a tratou com mais educação em poucas semanas do que Izumi conseguia lembrar que ele tivesse feito em uma década – mesmo com Itachi o dizendo para ter bons modos. Finalmente, alguém conseguira domar seu gênio difícil.

Agora que Itachi conheceu e aprovou o santo rapaz que dava mais suavidade à existência de Sasuke, as coisas ficariam muito melhores. Seu primo podia deixar de ser completamente hostil em relação a ela, Itachi ficaria contente por ver o irmão contente e assim haveria uma harmonia jamais vista entre os Uchiha. Era um sonho que Izumi mal poderia esperar para viver.  Naquela noite, demorou a pegar no sono de tão eufórica, principalmente porque Itachi tinha notado o desconforto dela que pensava tê-lo magoado. Ele disse que estava tudo bem, que não tinha ficado chateado e até dormiu de perfil, permitindo que ela pudesse ver o rosto dele até que caísse no sono. Deve ser por isso que teve bons sonhos com ele, e esperava não ter falado enquanto dormia.

Os dias seguintes foram corridos por causa do trabalho, ficava mais difícil resolver certas coisas em casa porque o quarto não era mais só dela e seu roommate a distraía facilmente. Cada centímetro daquele lugar agora tinha o cheiro de Itachi e os objetos dele dividindo espaço com os dela eram um constante lembrete de ele estava lá o tempo todo, roubando a atenção dela. Mesmo sem levar trabalho para casa, Izumi preferia ficar fora por mais tempo. Assim como Itachi, não queria atrapalhar o jovem casal de namorados que passava cada vez mais tempo juntos assistindo filme da sala dos Uchiha ou tendo os momentos aos quais todo casal tinha direito. Foi assim que descobriu um restaurante ótimo e que dava dangos, seu doce favorito, como cortesia. Ela jantava lá quase todo dia, já que Itachi sempre tinha um amigo para rever depois de anos fora da cidade e qualquer opção parecia melhor que Sasuke e a antipatia por ela que nunca passava.

Uma vez, Itachi até quis ir jantar com ela em seu mais novo lugar favorito, o que se repetiu por mais vezes do que Izumi poderia esperar. Ele podia estar com qualquer um dos amigos dele, ou até em um encontro romântico – pretendentes não faltavam – mas escolheu estar com ela; chegou a buscá-la no trabalho para irem jantar juntos. Izumi nem cabia em si de tão feliz. Poderia ouvi-lo falar para sempre sobre o trabalho dele, o projeto que estava desenvolvendo com uns amigos ou sobre qualquer coisa que Itachi quisesse falar.

— Falta pouco para meu estúdio ficar pronto. — descrevia o lugar com a felicidade que só um fotógrafo profissional podia ter. — Quero que meu irmão e você sejam os primeiros a ver. Você vai lá, não vai?

— Claro.

Ele sorriu e ela se derreteu, certamente fazendo a cara de tonta que era inevitável quando estava perto dele.

A mulher feliz por poder desfrutar de novo da presença do amado jamais poderia imaginar que estaria prestes a reviver um pesadelo: Itachi se apaixonou outra vez. A diferença é que além do coração de Izumi, partiria o de alguém que ele amava com todas as forças. Seria um baque violento demais para Sasuke. Izumi tentou avisar seu amado de que era uma loucura levar adiante o sentimento que ela, por reparar em Itachi de um jeito que Sasuke não fazia, tinha percebido a existência e também conseguia visualizar o estrago que faria.

Era mil vezes pior que a primeira vez que Itachi se envolveu com alguém e namorou por um bom tempo antes de tudo desandar, o término acontecer e ele partir. Só Izumi sofreu desde o começo, mas pouco importava, a culpa era dela que falhou em parar de gostar tanto dele. A história se repetia e seu coração apertava toda vez que Itachi saía sorrateiramente, inventando algo para Sasuke quando era surpreendido, e ignorando o olhar de aviso de Izumi. Antes mesmo que ela verbalizasse oposição ele sabia que ela sabia o que estava acontecendo e que não aprovava. Os pares de olhos escuros se comunicavam da maneira peculiar que apenas pessoas que se conhecem há tempos são capazes de fazer. Infelizmente, Itachi escolheu contrariar cada aviso estampado no olhar da prima.

— Eu volto tarde hoje. Talvez nem durma em casa. — avisava a ela com antecedência, como se faz quando se divide o teto com alguém. — Seria bom se pudesse jantar em casa para não deixar Sasuke sozinho.

— Certo. — Ele sabia que ela não tinha razão para não vir direto do trabalho para casa, assim como sabia que Sasuke não jantaria com o namorado em certos dias da semana. Também sabia que ela manteria as suspeitas para si, não era próxima de Sasuke para contar algo e nem tinha mais que deduções, o que era fácil de confundir com ações de uma pessoa amarga pela rejeição. — Tenha cuidado.

Itachi entendeu o aviso, mas não deu atenção.

Provavelmente já vinha nutrindo antipatia por ela, tanto quanto Sasuke durante a infância e parte da adolescência, e apenas via nela uma criatura pegajosa e ciumenta. Vê-la assim talvez desviasse o foco do erro dele por um tempo.

Izumi passou a odiar o fato de ser uma boa observadora. Gostaria de ser tão cega quanto Sasuke parecia ser, só assim deixaria passar os sorrisos bobos de Itachi, os dedos que se tocavam com os do cunhado de maneira aparentemente inocente e muitas vezes despercebida para olhares menos atentos. Para Sasuke, eles só estavam se dando bem, criando um vínculo saudável, longe de sacanear com ele tão descaradamente. Até conversou com Itachi um tempo depois sobre ter reparado que o relacionamento já não era o mesmo, que o namorado estava um pouco estranho.

— Será que ele não gosta mais de mim?

— Que bobagem é essa, Sasuke? Aquele cara é doido por você.

E por você, Izumi teve vontade de completar, mas sequer podia se fazer ser percebida ou Sasuke a acusaria de bisbilhoteira.  O primo mais novo não gostava dela, mas era terrível que estivesse sendo enganado daquela maneira. O pior era Itachi estar se prestando àquilo, dando conselhos para o relacionamento que estava ajudando a arruinar. Ele estava longe de ser um santo, mas quem poderia imaginar que aprontaria com o próprio irmão que o venerava? Pouco adiantava tentar convencer a si mesma de que aquilo era só uma aventura de Itachi, ou que logo o namorado de Sasuke diria que não davam mais certo, terminaria com um deles ou ambos. Aquilo teria um fim, não teria? Qualquer que fosse, que chegasse rápido e sem a intervenção de Izumi. Por mais absurda que a situação fosse, não tinha coragem de entregar Itachi e evitava pensar que provavelmente ele estaria se confiando nisso. A antipatia de Sasuke pela prima também contava. Ora, era mais fácil crer que a pessoa que ele nunca gostou estaria tentando causar discórdia caso ela tentasse lhe abrir os olhos do que aceitar que as duas pessoas que tinham seu amor o traíram.

A inércia sufocava Izumi, mas parecia ser a menos pior das opções. Era melhor fingir que nada estava acontecendo. Não é da sua conta, o namorado não é seu. Amava um dos traidores de Sasuke, mas não passava de uma figurante naquela história. Itachi a considerava uma grande amiga desde a infância, um elo que Izumi teve medo de perder quando revelou que tinha sentimentos a mais por ele, um ímpeto da adolescência do qual ela não sabe se lhe causa arrependimento por ter se exposto ou alívio por pelo menos ter confessado seu amor. Não perdeu a amizade do primo, só levou um fora — gentil, mas não deixava de ser um fora. Já tinha aceitado que nunca gostaria dela do jeito que ela gostava dele, e que provavelmente nunca conseguiria livrar-se desse sentimento. Sempre fez de tudo para caber na vida de Itachi, o agradava para mantê-lo feliz sem pedir nada em troca. O carinho fraterno bastava, o colar que usavam como símbolo da amizade bastava. Se aquilo tinha um limite, é provável que estivesse na iminência de descobrir. Doeu ver o que até então ela tentava manter longe da imaginação, mas foi o que precisava para que aquela espécie de inércia acabasse.

— Izumi... — Itachi estava próximo do terror por conta do flagrante na sala dos Uchiha. O namorado de Sasuke era quem estava pior, tentando se explicar enquanto atropelava as palavras, como se ela quisesse ouvir ou como se tivesse explicação.

Mal chegara em casa depois do expediente, e já saía o mais rápido que podia. Itachi tinha ido atrás dela, enquanto Izumi fingia que ele não chamava por seu nome. Os olhos ardiam. Queria muito esquecer do que tinha visto, e depressa. Por que Itachi queria tanto olhar dentro deles enquanto se explicava?

— Não precisa se explicar para mim. Não vou contar ao Sasuke. — o poupou de algum discurso de defesa persuasivo enquanto tentava fazê-lo largá-la para que continuasse o caminho de volta por onde tinha vindo. Não iria para casa, também não iria vê-lo ou ouvi-lo. Ele insistiu em se fazer ouvir e ser visto, sem se importar se estavam na calçada, e só desistiu quando ela ameaçou gritar, o que atrairia a atenção dos vizinhos ou de algum transeunte.

//

Aquela noite em claro foi a mais longa e difícil da vida de Izumi até o momento. Estava tão atordoada que ficou à deriva pela cidade, exposta e pensando em toda aquela situação que respingaria nela, mesmo não estando diretamente envolvida. Flagrar Itachi com outra pessoa era tão doloroso quanto poderia ser, mas com o amante e dentro da casa em que o traído e ela própria moravam era um milhão de vezes pior. Como conseguiam ser tão descarados a esse ponto? Sasuke é quem devia ter visto, e é o que acabaria acontecendo se aqueles traidores não se dessem ao trabalho de disfarçar – duvidava muito que rompessem o caso. O colar da amizade pareceu ganhar vida e sufocá-la enquanto a cabeça dava voltas. Um amigo me faria passar por isso? Pouco adiantou livrar o pescoço da joia idêntica a que Itachi usava. A sensação de sufocamento em Izumi era a ficha caindo sobre ter se contentado com as migalhas que ele oferecia porque era conveniente mantê-la por perto. Amava um traidor que lhe prometia amizade sem realmente considerá-la uma amiga.

O conjunto de dor de cabeça pelo sono perdido, a cara vermelha e inchada de tanto chorar e aparência desagradável pela roupa amassada e suada do dia anterior perdurou pelo resto do dia. Que as pessoas falassem, nada mais importava para uma mulher que se deu conta do tipo de pessoa por quem tinha fortes sentimentos há mais de uma década. Não dava mais para ignorar o erro gravíssimo que Itachi estava cometendo, principalmente quando resolveu fazer dentro de casa. Ele já não respeitava o irmão, a pessoa que mais amava no mundo, por que a respeitaria? Ela era uma tonta que disse sim para tudo o que ele quis desde criança, e nesse ritmo, logo ficaria de vigia para Sasuke continuar sendo enganado dentro da própria casa. Algo desse tipo ela não desejava para ninguém, nem para Sasuke que provavelmente não teria a mesma consideração por ela – o que diria mais sobre o caráter dele do que o de Izumi.

O dia foi pior do que todos os outros, sem dormir, comer direito ou tomar banho. Não ignorou as mensagens de Itachi, que achou melhor apaziguar dizendo que conversariam quando voltasse do trabalho. Ao contrário do que o traidor devia estar pensando, Izumi não cederia e nem lhe estava preparando um ultimato. Aquilo não era mais apenas um caso de traição entre os irmãos Uchiha. Itachi a envolveu no momento em que fornicou com o cunhado sob o teto da família e poluiu os olhos da pessoa que antes podia jurar para Sasuke sem a vergonha do peso de mentir que nunca presenciou uma traição de Itachi. Melhor evitar o dia em que precisasse fazer isso.

Quando retornou para casa, incrível e felizmente não havia ninguém. E não teve que debater sobre a conduta do primo mais velho, dar explicações sobre onde esteve noite passada e por que estava arrumando as malas. Nunca imaginou que sairia de lá dessa maneira, às pressas, irritada, triste e contrariando seu planejamento de vida. Pretendia mudar-se quando achasse um lugar adequado, confortável e que coubesse em seu orçamento – como o custo de vida era alto naquela cidade, precisaria procurar com calma para não tomar decisões precipitadas.

Mas isso era quando sua vida era pacata, apenas precisando lidar com o desprezo de Sasuke que nunca fez por onde merecê-lo, e não o iminente inferno que se tornaria porque Itachi era um desavergonhado que mantinha um caso com o cunhado e agora resolveu que a casa deles seria o local para consumar a safadeza. Qualquer pessoa saberia que aquilo não acabaria bem. Ou ele era burro ou achava que Sasuke era. Pior que isso: podia estar confiante de que a prima que o amava há tempos acobertaria aquilo, apesar do ciúme. Ele estava tão enganado... Que cara faria quando descobrisse que o limite de Izumi era aquele? A antipatia de Sasuke não era passe livre para que ela compactuasse com a traição. E aquela casa viraria um inferno quando Sasuke descobrisse, pois o modo como Itachi conduzia as coisas não era o mais discreto. O melhor que Izumi faria era não estar por perto, ou era possível que Sasuke desse um jeito de jogar para cima dela toda a culpa por aquilo ter acontecido – fosse por ter ajudado Itachi por conta do amor estúpido que nutria por ele, fosse por querer vingar-se de todas as coisas desagradáveis que o primo mais novo já tinha lhe dito desde que foi morar com eles.

Duas grandes malas prontas, uma de cada lado, cruzavam a casa guiadas por ela rumo à saída. Estava levando somente o que lhe pertencia, nenhuma lembrança física de Itachi, ou mesmo a chave de casa – jogaria de volta pela fresta por baixo da porta para não precisar encontrar um dos primos para devolver. A aparição de Sasuke quando ela já estava do lado de fora, aguardando o transporte que pediu por aplicativo, minguou o último plano.

— Aonde você vai? — obviamente notou as malas e esboçou curiosidade, espanto e alguma outra coisa que ficou difícil de identificar. Izumi apenas entregou a chave para ele, sem saber se era melhor ou pior do que entregar para Itachi. — Você vai embora?

— Pois é. — respondeu, embora não quisesse. Não custava nada não ignorá-lo, custava? Ele já estava recebendo o pior dos castigos da vida dele, mesmo sem saber disso ainda, então Izumi resolveu não tratá-lo com grosseria.

— Mas tão de repente? Por que?

— Eu já devia ter ido. —  Quanto tempo estava atrasada? Desde que fez dezoito anos? Desde que se formou e conseguiu um emprego? Desde que Sasuke já não precisava de um adulto por perto enquanto o irmão estava fora? Talvez seja óbvio demais que a verdadeira razão do atraso era porque queria fazer parte da vida de Itachi, cujo o grande pedido há três anos havia sido para tomar conta de Sasuke, mesmo com o jeito emburrado. Não importava, ele já estava de volta para lidar com o irmão, e Izumi não queria mais ter alguma coisa a ver com eles além do acidente sanguíneo. — Antes tarde do que nunca.

O motorista de aplicativo deveria estar ali em três minutos, o tempo ideal para que Izumi acertasse os últimos detalhes e esperasse o mínimo possível do lado de fora, mas parecia uma eternidade. Falhou em sair despercebida, já que Sasuke estava desconfiado por seus desejos mais antigos se tornarem realidade de uma hora para outra.

— Izumi, o que aconteceu? Você não sairia assim, muito menos depois que meu irmão voltou e agora vocês dividem quarto. Até jantar fora mais de duas vezes na semana vocês foram.

De repente sentiu saudade de quando Sasuke mal a cumprimentava, simplesmente fingia que ela não existia.

— O quarto é só dele agora e vai poder jantar só com você aonde vocês quiserem. Não moro mais aqui.

— Vocês brigaram? — tentava adivinhar, irritantemente juntando informações fragmentadas — Você não dormiu em casa ontem e ele ficou muito estranho hoje...

— Não importa. — sequer quis saber mais das teorias dele — Já entreguei a chave e só estou esperando minha carona.

— Parece que eu vou ter que perguntar o que aconteceu pro Itachi. — pegou o celular para ligar para o irmão.

Izumi queria ir embora o mais pacificamente possível, porém Sasuke continuava ali, querendo explicação como se tivesse o direito de tê-la. Por que ele não entrava logo em casa e festejava o fato de não precisar mais morar com a prima? Era o que ele queria desde que os pais a acolheram quando ainda era criança.

Mesmo não querendo pegar para si mais essa responsabilidade que era de Itachi, Izumi deixou escapar um pensamento que parece ter feito Sasuke prestar mais atenção nela do que no dispositivo em seu ouvido.

— Sabe, Sasuke, uma coisa triste é perceber que fez papel de trouxa por muito tempo e não teve uma criatura caridosa o suficiente para avisar. Felizmente, não é meu caso. Você sempre foi sincero comigo e tomei como uma ofensa. — lembrou de todas as vezes em que ele disse que ela era um estorvo, que devia ir embora e zombou de seus sentimentos por Itachi, enquanto o resto da família a enganava que era bem-vinda. Seus tios só estavam com medo de um castigo divino por rejeitar uma criança sangue do sangue deles que tinha acabado de ficar órfã; Itachi só teve pena da prima e ofereceu amizade, pelo menos até perceber que seria extremamente útil ter alguém gostando dele. — Você estava certo, eu que demorei para entender.

— Do que você está falando?

Itachi atendeu e roubou a atenção de Sasuke da explicação que não viria.

Felizmente, coincidiu com a chegada da carona de Izumi. Quase foi divertido ver Sasuke se dividindo entre explicar para Itachi o que estava acontecendo e dizer para Izumi esperar. Ela se ocupou em guardar as malas, dispensando ajuda do motorista e ignorando o primo. Também não se despediu dele, só internamente agradeceu por anos de sinceridade – mesmo que grosseira –, e se desculpou por não poder retribuir o favor. Ele merecia a verdade, mas não a teria pela boca da prima cujo destino seria um hotel sobre o qual o motorista tinha um cartão e foi logo dizendo ser de boa qualidade, num bairro calmo e que não era caro. É longe do trabalho, mas vai servir, pensava enquanto lia o endereço no cartão. Que o motorista tagarela continuasse fazendo propaganda do lugar, o que era muito melhor do que querer saber por que havia um jovem tentando impedi-la de ir embora.

Colocou o celular em modo avião por causa das insistentes mensagens e ligações de Itachi. Talvez o respondesse após o check-in, tomar o merecido banho, jantar e descansar. Infelizmente, sair do convívio dele não significava que ele tinha deixado de existir para ela, ou que o sentimento dela tinha morrido – qualquer tentativa desesperada de uma coisa ou outra era vã, o passar do tempo faria a sua magia –, Izumi só não reivindicaria mais um lugar na vida de Itachi enquanto ele trazia o caos para a família. Ele sabe se cuidar, ou aprenderia. Teria o ajudado com um elaborado pedido de namoro, ou uma festa de casamento, mas nunca a sustentar um adultério contra Sasuke, sangue do sangue deles. Itachi que emergisse dos destroços sozinho se sobrevivesse, Izumi não ficaria para ser uma vítima ou ajudá-lo enquanto diz “eu avisei”, como uma figurante adornando o plano de fundo do que ele escolheu viver.

Obedecer o ímpeto de ir embora após perceber qual era seu limite sobre Itachi tinha gosto de novidade e libertação.  Fazer parte da vida dele de qualquer maneira foi o mais importante por muito tempo, e abdicar disso exigia a coragem que só pertencia a uma protagonista empoderada. Ainda era cedo para saber se ele seria feliz tendo arruinado Sasuke – o tesouro dele desde sempre – como estava fazendo, mas a felicidade dele não era mais da conta de Izumi. O plano dela era ficar em paz longe da falsa amizade e do caos que Itachi estava trazendo.


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Notas finais do capítulo

Essa oneshot nasceu de uma AU que eu venho desenvolvendo há um tempo (alguém me deu o plot no Twitter no ano passado e eu até tinha começado a postar, mas achei melhor apagar e repostar quando eu concluísse ou estivesse perto. Eu não desisti dela.), mesmo esse ship não sendo o principal, o que nem passou pela minha cabeça na época, decidi incluir porque me interessei recentemente e aproveitar para fazer algo para o desafio de escrita que eu tô tentando seguir ao longo de 2020. Embora eu ainda não tenha (re)postado a AU, achei interessante trazer a visão da Izumi dos acontecimentos, até porque não vai prejudicar o entendimento da história que eu ainda tô gestando (mando o link quando postar).
Obrigada quem leu e mimou esta pobre autora ❤



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