Esquemas - capítulo extra escrita por Maika


Capítulo 1
Capítulo Extra


Notas iniciais do capítulo

Só um pequeno capítulo de como se passa a vida dos personagens depois da mudança.



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Chegamos à Moncton uma semana depois da cerimônia, acabamos num apartamento mobiliado que alugo apenas até acharmos um lugar para nós. Estamos ainda numa fase de lua de mel, é uma espécie de férias. Saímos para conhecer a cidade, visitar possíveis apartamentos para alugar e a cada visita a lista de requisitos dele aumenta. No fim, não procuramos mais um apartamento mobiliado de um quarto decente e sim uma casa com um jardim. Eu concordo com tudo, porque o simples fato dele ter vindo até mim já é mais do que suficiente para me fazer feliz. Levamos quase um mês até acharmos e acabamos com uma casa pequena um pouco mais afastada, com piscina e um pequeno quintal.

— Nós podemos alugar o quarto extra! – É a ideia dele para compensar pelo gasto extra que eu vou ter. Agora terei também que comprar um carro para poder ir para o trabalho.

— Eu não vou morar com um estranho na minha casa.

Ele não entende o meu problema, afinal sempre dividiu a casa com alguém e, desde o tempo na prisão, isso passou a incluir estar sob o mesmo teto que estranhos. Já eu não suporto a ideia de não poder beijá-lo quando quero porque o locatário pode não gostar, sem contar que o tal pode ser do tipo que deixa louça suja ou rouba comida da geladeira.

— Você é cheio de frescuras!

— Eu estou pagando, então posso pelo menos decidir se quero ou não ter um estranho morando comigo.

— Desperdício! Se ainda fosse porque você quer dar pra mim na cozinha ou no sofá, seria uma boa desculpa.

— Cala a boca! – Eu o puxo para um beijo para que pare de falar.

Parece que nunca vou cansar de sentir os seus lábios, ainda sou capaz de sentir o mesmo gosto da primeira vez. Ele logo começa a retirar as minhas roupas, tenta me levar para o sofá e o faço ir para a cama. Logo eu o sinto dentro de mim e o mantenho o mais próximo possível durante todo o tempo, ele mais uma vez me trata como se eu fosse único, como se vivesse para me dar prazer. Chegamos ao orgasmo, eu sinto um leve aperto no peito e o abraço. Esse era o momento em que ele daria um beijo meu rosto e declararia que tinha algum esquema para resolver.

— Você não precisa apertar tão forte, mon trésor. Eu não vou fugir.

Eu o libero, mas o faço deitar colado ao meu corpo. Ainda não consigo acreditar que estamos aqui, que ele veio até mim disposto a tentar ficar ao meu lado. O problema é que sempre desconfio de momentos felizes, eles nunca duraram muito tempo na minha vida. Tenho medo de que essa mudança dele seja efêmera. Sinto como se tivesse aprisionado um pássaro, que logo ele vai parar de cantar e que vou ter que recolocar em liberdade. Enlaço os seus fios nos meus dedos e fico brincando com eles até pegar no sono.

No dia seguinte, vamos passear na Ikea para comprar alguns móveis para nossa futura casa. Percorremos corredor, por corredor e enquanto eu vou escolhendo os itens essenciais como cama, mesa, sofá, ele escolhe o tapete do banheiro, uma planta para não sei onde, um quadro com uma foto de Nova Iorque e mais uma dezena de pequenas coisas inúteis. Eu não discuto, quero que sinta que a casa é tanto dele quanto a minha.

— Será que podemos pintar o nosso quarto de azul? – Ele pergunta como se fosse um garoto.

— Você realmente acha necessário? Nós nem devemos ficar nela muito tempo, eles falaram de três a cinco anos e daí teremos que voltar tudo para a cor original. E aposto que você não vai querer me ajudar a pintar em nenhuma das duas vezes.

— Mas é que você que é bom para essas coisas e eu ia acabar estragando tudo. Vamos fazer um azul escuro.

— Daqueles ainda mais difíceis de pintar por cima?

— Bem desses! – Sorri na maior cara de pau. – Vamos passar na loja de tintas! Eu sempre quis ter um quarto azul, mas minha mãe vivia me dizendo que eu não podia. Daí depois nunca tive um lugar onde pudesse mudar nada, então agora será perfeito.

Essa frase me deixa contente, saber que está tentando fazer da nossa casa o seu lar me anima. Eu passo na loja e compro o azul marinho que quer para o quarto, mesmo sabendo que vou ter que passar umas cinco mãos de tinta depois para poder cobri-la. A primeira coisa que fazemos no que pegamos as chaves é pintar o quarto, só depois é que perco horas tentando montar os móveis com as instruções que deveriam ser fáceis e evidentes, porém que às vezes parecem incompreensíveis. Ele finge que me ajuda, vem dar palpites, tenta traduzir as imagens do manual para mim e traz as ferramentas que eu preciso. Acabo morto e como recompensa, ele faz uma massagem nos meus ombros.

Terminamos a mudança e recomeço meu trabalho. É o fim da lua de mel. Agora passo o dia inteiro fora. Eu saio ele está dormindo e eu volto ele está estirado no sofá, só consigo imaginar que entre essas horas ele apenas moveu-se de um lugar para o outro.

— Como foi o seu dia hoje? – Pergunto curioso para saber o que faz.

— Eu vi um programa de culinária, também um capítulo de uma série e de resto andei de lá para cá. – Seus olhos azuis procuram os meus. - Achei que ia ser uma boa ficar em casa, mas estou de saco cheio.

É bem do que tenho medo, ele vai começar a querer repensar sua decisão de vir morar aqui, mas tento fazer piada.

— Você pode virar dona de casa, limpar tudo, cuidar da minha roupa e deixar o jantar pronto para quando eu chegar.

— Vai sonhando! Eu pensei em sair por aí, conhecer algumas pessoas e quem sabe arrumar algum esquema.

— Desde que o esquema seja dentro da lei. Que tal um esquema que envolva um curso de capacitação ou um que pague pelo menos o salário mínimo?

Ele cerra as sobrancelhas, estou pronto para que retruque, porém me espanto com o que vem a seguir.

— O que será que eu poderia fazer?

— Eu não posso decidir isso por você, seria bom algo que tivesse mais horários livres ou que desse para trabalhar meio-período. Senão logo você vai se cansar.

— Só de pensar em achar um trabalho, eu já me estressei. – Aproxima-se e já começa a abrir o cinto para tirar a minha calça. - Eu gosto mais daquele uniforme de gala, esse do dia a dia é tão parecido com o que você usava antes. Não tem tanta graça.

Eu estou morto, quero cozinhar, tomar um banho e relaxar, mas para agradá-lo eu me deixo levar. Tenho medo de que caso diga a verdade, ele vá me chamar mais uma vez de bicha fresca ou então vai sair para procurar outro, alegando que precisa de sexo para viver.

O mês passa e ainda me sinto pisando em ovos, relegando as minhas vontades para satisfazer as dele.

— Acho que batemos um recorde. Trinta dias seguidos de sexo! – Ele declara ao gozar. – Agora quando vou poder parar de usar essa merda de camisinha?

Eu olho nos olhos azuis tentando descobrir se posso confiar nele, será que enquanto estivermos juntos ele vai conseguir ser fiel?  

— Daqui seis meses, se você ainda estiver só satisfeito comigo, daí você faz um teste. Se você estiver limpo, eu te libero.

— Você não cansa de ser você? – Ele pergunta ainda sem sair de mim.

Eu paro para pensar no que responder, eu estou começando a ficar cansado sim, mas não sei como ele vai interpretar se eu dizer a verdade.

— Você está pesado. – Ele sai de cima de mim e me levanto para fugir do assunto. – Vou tomar um banho. Esquenta aquele pâté chinois que está congelado no freezer para o jantar.

Mon trésor. – Segura a minha mão – Você não está feliz?

— Claro que estou!

— Então por que você está agindo como se estivesse carregando o mundo nas costas?

Como ele pode me conhecer tão bem? Mesmo que eu esteja me esforçando tanto para parecer que tudo está normal.

— Eu só estou cansado.

— Sente aqui. – Ele faz o mesmo e assume mais uma vez o ar de irmão mais velho. Aquele pelo qual me apaixonei há anos atrás. – Você está sempre cansado, dessa vez tem algo a mais. – Pousa a mão sobre a minha coxa. – É por causa do nosso recorde?

— Em parte.

— Eu achei que você ia dizer não algum dia, mas você estava sempre aceitando, achei melhor aproveitar. Você já deveria saber que eu tenho tendência a pensar com o meu pau. – Ele me empurra contra o colchão e sobe mais uma vez em cima de mim. – Você tem que parar com isso. Se você ficar infeliz, essa história de casal não vai dar certo. Até porque, a ideia que passa na cabeça de vocês é que romance tem que levar para o “felizes para sempre”, né?

— E qual é a ideia que passa na tua cabeça?

— Se eu tenho sexo, onde dormir e o que comer, a vida está perfeita. – Abre um sorriso enorme, o que deixa claro que é a verdade.

Eu o puxo para um abraço, quero muito acreditar que tudo pode ser tão simples.

— Tenho medo de que se nós dermos errado, vamos nos separar para sempre.

— Você tem que parar de viver com medo, Tristan. Você é um cara incrível, que encontraria alguém em qualquer lugar...

— Mas eu só quero você.

— Então está na hora de aproveitar.

— O problema é que quando você fala assim, eu me sinto ainda mais inseguro. É como se tudo pudesse acabar amanhã.  Não! – Eu o afasto. – Não diga nada ou senão sei que você vai me deixar ainda pior.

— Eu quero falar algo, mas nada a ver com o assunto. Quero anunciar que achei o que fazer na vida.

Agora sou eu que subo sobre ele. Ele achar algo que quer fazer é um grande passo a mais, ele vai ficar menos entediado e vai aumentar as nossas chances de sucesso.

— O que é?

— Vou fazer um curso de barman.

A felicidade se vai da mesma forma que veio. Ele vai agora trabalhar a noite toda e os fins de semana, o que vai apenas nos deixar o domingo. Sorrio, tenho que incentivá-lo e não ser egoísta.

— Combina com você. – Digo e acaricio o rosto dele, então volto a me levantar e corro para o banheiro. – Vou tomar um banho de uma vez e você não esqueça do jantar.

Enquanto a água cai sobre mim, tento achar uma conclusão em tudo o que aconteceu. Não sei se progredimos ou regredimos. Eu me arrependo amargamente de nunca ter tentado ter outros relacionamentos, se tivesse sido diferente não estaria tão perdido. É tudo uma novidade para mim.

Ele aparece alguns minutos depois e já entra no boxe comigo.

— Deixa eu lavar o teu cabelo. – Ele propõe já pegando o xampu e acho melhor esconder que acabei de fazê-lo.

— Você consegue pagar o curso com o cartão de crédito ou tenho que tirar dinheiro?

— Eles passam no cartão. – Ensaboa meus cabelos. – Acho que vai dar certo, né?

— Deve dar e se não der, você pode tentar outra coisa depois. Colocou o pâté chinois no forno?

— Sim, mon trésor otimista! – Declara rindo.

— Você tinha que esperar o forno esquentar antes de colocar...

— Ah, é?

— É, senão pode acabar queimando. Agora, vire que vou lavar o teu.

— Só mais uma coisa, eu acho que a gente deveria arrumar um cachorro. O proprietário disse que a gente poderia ter um.

— Você não consegue nem cuidar de si mesmo e agora quer cuidar de um cachorro? Sem contar que depois vai ficar difícil de acharmos um lugar para alugar, a maior parte não aceita um. Não pode ser um gato ou um peixe?

— Um peixe não faz nada e um gato tem a própria vida, não vai estar nem aí para os outros.

— Perfeito para você. Também é independente, vai se apegar a quem realmente gosta e não a qualquer um só porque faz carinho e lhe dá comida. Também não precisa ser educado e não tem que levar para fazer cocô no meio do inverno.

— Tudo bem. – Ele concorda prontamente, o que me anima. - Vamos comprar um bem grande então.

— Por que não adotamos? Uma vez li que às vezes os refúgios têm que matá-los porque são muitos que os abandonam. – Lembro muito bem do quando isso me tocou quando li, eles eram amados e depois deixados de lado como se não fossem nada, tal qual minha mãe fez comigo.

— Tudo bem.

— Vamos pegar o mais feio e mais esquisito que nunca ninguém adotaria, está bem? Daí assim, com certeza, vamos salvar um da morte.

Na semana seguinte, vamos ao refúgio. Descrevo que quero o gato que tenha menos chance de ser adotado e tentam me mostrar o candidato. Não consigo vê-lo, pois está escondido. Talvez seja uma causa perdida e vai passar a vida embaixo de algum móvel da nossa casa, mas talvez precise apenas ter um lugar onde se sinta seguro.

— Vamos levá-lo! – Declaro resoluto.

— Mas nós nem o vimos, Tristan.

— E daí, Marc? – Dou de ombros. – Nós não íamos pegar o mais feio mesmo? E ele vai ter cara de gato, que é o que ele é.

— Na verdade, é uma gata. – O voluntário se aproxima e vemos a gata cinza com os pelos espetados e olhos azuis, que está tão estressada que parece que está indo a caminho da morte.

— Nós vamos adotá-la! – Digo mais do que resoluto, sem nem me importar em consultar o Marc. – Quanto são as taxas?

O voluntário me diz o quanto custa, o que obviamente eu já sabia porque havia lido todas as informações no site, mas meu acompanhante não.

— Tudo isso por um gato com problemas?

— Todos nós temos problemas, Marc, e é importante termos quem nos ajude nesses momentos.

— Tudo bem, mon trésor, faça o que você quiser. – Ele diz desinteressado e vai mexer no celular.

É bem o que achei que ia acontecer, o interesse dele nas coisas é como o de uma criança de cinco anos. Eu me pergunto como ele foi capaz de cuidar de mim por tanto tempo, como que ainda não enjoou. Acabo ignorando a nossa situação, eu pego a caixa de transporte e a gata rosna. Ela parece realmente estressada. De lá sigo para comprar tudo o que ela precisa e um pouco mais para que seja feliz na nossa casa.

— Que nome vamos dar para ela? – Pergunto empolgado, como se estivesse realizando um sonho de infância.

— Qualquer um, só por ser um gato ela não vai responder e também é uma esquisita, então esse detalhe é o de menos.

O que ele me diz me irrita, era como se ele a estivesse rejeitando desde o princípio.

— Por que você é sempre assim?! Por que nada importa?

— Não sei. Por que você sempre complica tudo?

— Nós pegamos essa gata porque você quis!

— Não, Tristan, eu queria um cachorro! Daí você mudou tudo e acabamos com essa gata!

— Você está irritado comigo por causa disso?

— Não, mon trésor, eu só nunca pensei que você queria tanto ter um gato traumatizado.

— Você tem razão, eu fingi que era para você e no fundo é para mim. Quando li aquela reportagem, eu tive vontade de ser capaz de pelo menos salvar um daqueles gatos. Ela nem é um desses, porque a reportagem era sobre Montréal, mas...  – Eu paro com as mãos no volante, tenteando entender o porquê de parecer que até nas coisas simples, nós sempre divergimos. – Você realmente quer ficar ao meu lado?

— Como toda essa história da gata nos trouxe até aqui?

— Eu tenho medo de que por causa da gata, você vá embora. – Na verdade, eu tenho medo de que ele vá embora o tempo todo e esse é o problema.

Mon trésor, você tem que perder esse medo. Se eu estou aqui, é porque eu quero estar, você sabe que não foi só por causa daquela promessa maluca. E sim porque percebi que preciso de você na minha vida para ser feliz.

— E você está feliz?

— Claro, você faz tudo por mim.

— Tudo menos te dar um cachorro.

— É, mas me deu uma gata esquisita.

Ele sorri e de alguma forma, eu faço o mesmo.

—----*-----*-----

Quando eu havia declarado que ele viveria melhor sem mim, era verdade, mas de alguma forma, não consigo me arrepender. Poder vê-lo dormindo todo dia que vou me deitar, não tem preço e o mesmo posso dizer dos pequenos momentos. Talvez seja por isso que as pessoas cultivam tanto romance. Eu agora trabalho como barman num hotel, achei que seria um saco, mas foi o que surgiu e de alguma forma, é interessante. Meu trabalho não envolve apenas fazer bebidas e sim ouvir as lamentações dos pobres coitados com carreiras de sucesso e que se matam por dinheiro. Eu consigo manter meu emprego, porque eles não querem realmente ouvir minha opinião sobre suas vidas, querem só falar e que eu dê sinal de que estou escutando e a gorjeta no final é sempre boa. Às vezes, eu sinto falta da liberdade que eu tinha antes, de poder trabalhar quando eu queria e se eu queria, porém acabo me lembrando do François se engasgando com o próprio sangue. Não quero mais ser um peão num jogo de xadrez.

Não tenho do que reclamar, sei que se chegar em casa e dizer que não quero mais trabalhar, o Tristan vai responder com um apenas “Tudo bem.” Viver com ele é muito mais simples do que achei que seria, ele cuida de tudo, da casa, das minhas roupas e da minha comida. Em troca, ele diz que só quer me ver feliz. Só me pergunto o que significa para ele eu ser feliz.

Quando está de folga, ele sempre se arruma todo e vem beber algo. Age como um cliente, qualquer, pede uma bebida e começa a falar da própria vida. Eu tento parecer indiferente, mas sempre acabo sorrindo, nessas horas ele parece o garoto que ficava tentando me seduzir. Quando chega a hora da minha pausa para comer, nós vamos até o banheiro dos empregados. Ali ele mostra que cresceu, agora ele me deixa prová-lo sem qualquer frescura e parece adorar a ideia de transar num lugar proibido. Ele chega ao orgasmo bem mais rápido ali do que na nossa cama. Dessa vez eu o penetro contra a pia, o que torna difícil nos beijarmos mesmo que eu faça o meu possível, então decido virá-lo e o faço se apoiar sobre ela. Com os nossos lábios unidos, ele logo jorra seu esperma na minha mão, aí sim relaxo e sigo pelo mesmo caminho pouco tempo depois.

— Quem diria que um dia nós acabaríamos assim, hein? – Ele comenta com o rosto na curva do meu pescoço. – Parece piada estarmos transando no teu local de trabalho.

— Principalmente, pela parte do trabalho, né? – Digo rindo, sem o afastar, adoro sentir o cheiro dele que fica ainda melhor depois do sexo.

— Verdade. – Fica em silêncio, como se apenas aproveitasse o calor do meu corpo. – Eu te amo tanto. – Lança quando menos espero.

— Quanto melodrama, mon trésor. – Digo mexendo nos seus cabelos. – Também te amo, mas agora tenho que ir comer ou não vou aguentar o resto do meu turno.

— Só mais uma coisa. – Ele se afasta um pouco, tira a camisinha e segura o meu membro. – Desde quando o mini Marc é só meu?

— Que história é essa? – Pergunto olhando no fundo dos seus olhos castanhos, ele realmente acha que eu estaria o traindo? – Quem eu estaria pegando nessa merda de cidade que mal tem lugar gay?

— Sei lá, se você quiser, pode dar um jeito.

— E você tem um tracker no meu celular, então sabe que eu não vou a lugar nenhum suspeito.

— Você poderia me trair aqui se quisesse ou até mesmo na nossa casa!

Eu me sinto ofendido. Pela primeira vez estou tentando fazer tudo certo e ele ainda assim desconfia de mim. Por que ele tem que ser tão inseguro?

—Você não acha que é o suficiente para mim?

— Eu nunca fui o suficiente para você antes, por que seria agora?

É tão triste vê-lo assim, era por isso que ele deveria ter desistido de mim há anos atrás. Se tivesse feito o que deveria, não teria se traumatizado tanto.

— Você sempre foi mais do que o suficiente para mim, mon trésor. É bem por isso que eu sempre achei que você merecia alguém melhor do que eu. Mas agora é tarde, você se tornou dono do mini Marc e tem que se responsabilizar por ele. – Fecho minha calça e o beijo na bochecha. - Você deveria confiar mais em si mesmo. Você não entende que eu é que não mereço você?

— Era só para você responder sim ou não. – Comenta envergonhado, algo raro vindo de quem vem.  

— Se ele tem sido só teu, sim. Estou fazendo o possível para ter a minha recompensa. – Eu me aproximo e sussurro no seu ouvido. – Eu não vejo a hora de encher o teu cú de porra.

— Cala a boca! – Diz indignado e começa a arrumar as roupas.

Nada me diverte mais do que vê-lo ter essa reação. Ele segue para casa, eu retorno ao trabalho. Meu turno termina, eu troco de roupa, coloco minhas botas, meu casaco e vou a caminho do ponto de ônibus. Como tenho feito nos últimos três meses. As calçadas estão cobertas da neve compactada e pequenos flocos caem lentamente do céu. Eu estaria mentindo se dissesse que essa é vida que sempre sonhei, mas mesmo não tendo nada de emocionante, ela me agrada. Sinto que não preciso mais buscar uma emoção nova a cada dia, a simples ideia de abrir a porta e ser tomado pelo odor do Tristan já me anima.

Chego e sou recebido pela Cherry que vem miar e se trançar nas minhas pernas implorando por atenção. É mais uma obra bem sucedida do meu namorado, que teve toda a paciência do mundo para lhe dar o espaço que precisava para convencê-la pouco a pouco que poderia confiar em nós. Sigo com ela nos meus braços até o quarto, eu subo na cama lentamente e colo meu corpo ao dele, tentando me esquentar.

— Você está gelado, Marc. – Repete a mesma frase todo dia, sem nem mesmo acordar direito.

— Eu quero que você me esquente.

Ele se vira e coloca minha mão entre as suas.

— Pela milésima vez, você tem que começar a usar luvas!  Um dia vai estar fazendo menos quarenta, teu ônibus vai atrasar e você vai perder os dedos da mão.

Pelo visto, para o resto das nossas vidas é ele quem vai cuidar de mim.

FIM


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Notas finais do capítulo

Não tive betagem nesse capítulo extra.



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