Porque eu tive você escrita por Fanfictioner


Capítulo 1
Você está com alguém que não posso ser


Notas iniciais do capítulo

Oioi, gente!
Estava ouvindo o último álbum do Shawn Mendes (pela bilhonésima vez) e me dei conta de que nunca tinha reparado como a música Because I had you retrata bem o sentimento de Snape ao se dar conta de que Lily iria se casar com James e não podia fazer nada.
Nunca shippei Snily, e na real acho o Snape o dono de um amor bem psicopata, ainda assim achei que seria legal explorar um pouco dos sentimentos desse personagem tão frio e sisudo. Emboraseja a maior Jily stan desse site, esse não é o foco da fic em si...
Espero que gostem, vejo vocês nas notas finais.



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I think it's time that I be honest
Should've told you not to go
Thought I knew just what I wanted
I didn't know myself at all

 

Naquele dia, tudo que Severo Snape pensava é que gostaria de ter sido mais honesto quatro anos atrás, quando tivera a oportunidade de pedir o perdão de Lily. Queria ter sido mais honesto e confessado o quanto gostava dela, e o quanto estaria disposto a nunca mais pisar na bola com ela, se Lily aceitasse que ele não tivera a intenção de chamá-la daquilo. De Sangue ruim.

Naquele dia, em especial, essas memórias o estavam atingindo com um impacto diferente e mais profundo. Eram as lembranças do último dia em que se pode considerar amigo de Lily Evans, e aquilo tinha mudado de maneiras tão perturbadoras, que Severo ficara sabendo por meio de fofocas e assuntos roubados que ali, naquele dia, sua melhor amiga de infância, e a única garota que gostara desde os 14 anos de idade, estaria se casando.

Sabia, porque vira o convite na casa de Pettigrew na última reunião de comensais da morte, que em verdade preferia nem mesmo ter comparecido. Ali, perto dos seus 20 anos, com uma guerra estourando em seus ombros, e as responsabilidades de se estar no lado que matava pessoas possivelmente inocentes começava a pesar sobre sua consciência.

Talvez, talvez houvesse alguma chance de sair daquela loucura.

Era muito novo quando tudo aquilo começou. E nunca começara com matar nascidos trouxas. Começara quando Avery e Mulciber o tinham convidado para um clube de duelos da sonserina, ainda no terceiro ano. Naquela época, Lúcio Malfoy, do sétimo ano, era quem coordenava o clube, e introduzira algumas azarações e magias mais complexas, e não muito recomendáveis para alunos de Hogwarts, claramente.

Depois que Malfoy saiu da escola, outras pessoas foram assumindo o clube, que acabou virando um lugar para praticar feitiços avançados, muitos bem agressivos e violentos. A ideia de poder azarar Potter nos corredores com a mesma perícia com que ele costumava atacar era atraente demais para que Snape a ignorasse.

Então Mulciber e Avery começaram a brincar de uma forma um pouco mais pesada com alunos de outras casas pelos corredores da escola; em específico os alunos nascidos trouxas, e não era como se Snape tivesse algum problema com isso. Não era próximo de nenhuma daquelas pessoas, não precisava defendê-las. Com Lily, óbvio, a coisa era diferente. Sabia que a amiga não gostava de seus colegas de casa, no entanto, ele também não era fã do grupinho com quem Lily as vezes falava.

As terminologias de sangue começariam a ser parte constante de seu vocabulário perto do quarto ano, junto com seu crescente desgosto e aversão por aquele James Potter e aquele Sirius Black traidor do sangue, irmão de Régulo. Potter gostava de se exibir tanto quanto Snape gostaria de lhe esmurrar o rosto quando soubera que era a fim de Lily, sua Lily Evans.

A verdade era que Severo Snape nem mesmo se conhecia quando começou a entrar no mundo das artes das trevas, embora se achasse muito conhecedor de suas vontades e gostos, nos seus arrogantes 15 anos.

Talvez agora já fosse tarde demais.

 

You're with somebody I can't be, yeah
But I can tell that you're happy

It's time for me to finally meet somebody new
Take her to all the places that I took us to
And she might help me forget, but loving her is something I could never do
Because I had
Because I had you

 

A ideia de que Lily Evans se casava, naquele dia, com a pessoa que Severo mais detestara em toda sua adolescência, e a segunda mais odiada de sua vida (perdendo por pouco o posto para o próprio pai de Snape) doía fisicamente.

Não recebera convite, não recebera sequer um mísero aviso. Fazia um tempo que Lily não falava mais com ele. Mais de dois anos, para ser exato. Ainda estavam em Hogwarts quando ela deixara de conversar com ele até mesmo por questões estudantis ocasionais, e ele sentia que isso era uma forma de tortura pior do que a maldição Cruciatus.

Snape sabia que nunca poderia ser James Potter. Não tinha o dinheiro, nem o carisma, nem aquele jeito bem cuidado de quem era amado e vivia em uma família bem estruturada. Sempre fora um aluno dedicado e habilidoso, especialmente na arte do preparo de poções, mas Potter parecia sempre um passo a frente, com seu sorriso presunçoso e arrogante, que fazia os professores o terem em uma estima que Snape nunca entenderia. Nunca entenderia também como, dado o péssimo comportamento do garoto, ele ainda acabara sendo monitor-chefe! Como se pudesse haver humilhação maior para Severo, que nunca recebera o crachá.

Gostaria de poder dizer que estava feliz unicamente pela felicidade de Lily. Mas não estava. Via que a menina, agora mulher (e noiva!), era feliz. Mas era uma felicidade ao lado de Potter, alguém que Snape não podia suportar que existisse. Principalmente porque, naquele infeliz dia na beira do Lago Negro, quando dissera as palavras imperdoáveis para Lily, fora Potter quem deixara claro que nunca diria aquelas palavras a ela, depois de humilhar Severo em frente a inúmeros alunos.

Provavelmente o maior ato de covardia dele. Não suportava a síndrome de herói de Potter, que ultimamente vinha dando algum trabalho para os comensais da morte, depois de juntar-se à Ordem da Fênix, de Dumblendor. Ordem que o próprio Snape pensava que gostaria de fazer parte, se conseguisse tirar seu pescoço com segurança daquela maluquice que era ser seguidor de Voldemort.

Não que ele achasse que não seria morto no segundo em que tentasse rejeitar a marca tatuada em seu pulso. Era irônico pensar que apenas quatro anos atrás tinha tudo de que precisava, e agora não tinha nada, e o que tinha, não queria ter. O que mais doía ter perdido, sem dúvidas, era Lily em sua vida.

Hey, remember when I told you
That you and I, we'd go down in history together, yeah
And does your sister ask about me?
You and I, what we had, is it gone forever?

 

Lembrava-se, com amargura, de todas as tardes que passara com Lily naquele parquinho de criança, perto da rua da Fiação, ou no arvoredo perto da casa dela. Pareciam parte de outra vida, de tão longínquas que eram essas memórias. As promessas de manterem a amizade, a excitação de irem para Hogwarts para desenvolver toda aquela magia latente neles, a expectativa de Severo pela primeira amizade que fazia, o carinho pela menina trouxa que tinha tanta magia quanto ele próprio.

Lembrava-se até mesmo de Petúnia Evans, a irmã mais velha, menos bonita e menos simpática de Lily, com o pescoço grande e a expressão presunçosa demais para alguém com apenas 12 anos. Lembrava-se de como achava a menina fútil e dispensável demais na vida de um ser humano tão incrível e doce como Lily, que sempre tinha um olhar bondoso e uma fala mansa. Era como explicar para uma princesa que ela não precisava da companhia de um cachorro feio e mal comportado, mesmo que este lhe parecesse a melhor das companhias.

Num pensamento rápido, que escapou de sua mente, Severo perguntou-se se Petúnia Evans lembrava-se dele da mesma forma, se ela perguntaria para Lily, em um tom de desdém e na intenção de magoá-la, aonde estaria “Aquele menino Snape, esquisito, da rua da Fiação? Não era seu amigo, sua anormal?” quando ele não aparecesse no casamento de Lily. Não que ele tivesse sido convidado.

E não que fosse comparecer, ainda que tivesse recebido o convite das mãos da própria Lily.

Vê-la nos corredores de Hogwarts andando de mãos dadas com Potter era uma coisa, que já incomodava demais, por sinal. Outra completamente diferente era ir vê-la, no auge de seus 20 anos, indo casar-se com a maior inimizade de Snape, ostentando a barriga gestante, que já devia ter alguns bons meses, a contar da última vez que a vira.

Lily era uma grávida bonita, uma grávida maravilhosa, em verdade. Snape não lembrava alguma vez em que Lily tivesse estado mais bonita, com os cabelos sedosos e compridos, em cachos flamejantes quando ela duelava com algum comensal da morte. A barriga quase não existia quando esse último episódio acontecera, mas lembrava-se da preocupação de Potter em tirar Lily do duelo antes que ela se machucasse, dizendo que protegeria a ela e ao bebê.

Claro que Potter gostaria de ostentar ao mundo inteiro que teria um filho. A arrogância dele devia estar exultante com a ideia de uma criança para exibir como o novo grande herói de quadribol que Hogwarts veria! E se a criança tivesse um mínimo da doçura de Lily, Severo sabia que não suportaria ver aquele ser vivo, porque não seria capaz de odiá-lo profundamente como desejaria fazer com qualquer coisa que viesse de James Potter!

Foi quando o mundo de Snape quebrou-se mais um pouco. Quando sua ficha caiu, de que Lily, realmente, estava, de um modo irreversível, com Potter; que teria um filho dele, e tudo que Severo um dia tivera com ela tinha deixado de existir, tinha ido embora para sempre.

 

You're with somebody I can't be
But I can tell that you're happy

It's time for me to finally meet somebody new
Take her to all the places that I took us to
And she might help me forget, but loving her is something I could never do
Because I had
Because I had you

Ele viu uma foto do casamento, alguns dias depois. Lily estava estonteantemente bonita vestida de branco, com os cabelos ruivos caindo em cachos graciosos por seus ombros, e uma coroa de flores na cabeça. A barriga de gestação marcando no vestido, a criança não devia demorar a vir, talvez nascesse no verão, dali a uns dois meses.

Potter estava ao lado dela, com o mesmo sorriso babaca e arrogante que Snape detestava, ladeado por Sirius Black e o garoto Lupin. Peter Pettigrew também estava na foto, e o comensal riu com desdém, sabendo que Potter nem sonhava que um de seus melhores amigos estava afundado em magia das trevas. A família de Lily estava a seu lado, sorrindo e acenando junto.

Dava náuseas ver aquilo, e Snape pensou que fosse genuinamente vomitar, porque se sentia meio doente. Mas o que aconteceu foi um bizarro vômito ao contrário. Sentia suas entranhas sendo forçadamente compelidas para cada vez mais fundo dentro dele, como se ele fosse deixando de existir de dentro para fora.

Havia um nó em sua garganta, e ele se perguntou se algum dia superaria a ausência de Lily em sua vida.

Como viria a descobrir cerca de um ano e meio depois, Snape ainda não tinha seguido adiante com seus sentimento por Lily Evans, pois entrou na mais profunda depressão de sua vida após ver o corpo inerte da mulher que amou, tombada em frente a um berço, em um quarto completamente destruído por magia das trevas.

A ideia de que a criança sobrevivera era excruciante. Não era o filho dela. Era o filho dela com Potter, e a Snape não sobrara nada inteiramente pertencente à Lily para que pudesse se apegar. A dor e a culpa diminuíram à medida que os anos passaram, mas nunca houve como preencher o enorme buraco que havia dentro dele, em algum lugar entre as costelas, existente desde aquela manhã após seus NOM’s em Hogwarts.

Houve outras mulheres, é claro. Alguns encontros, alguns amassos, que satisfaziam sua necessidade material da condição humana, mas Severo nunca mais sentiu a vivacidade com a qual Lily Evans preenchera sua vida durante os anos em que estiveram juntos. A vida de Snape pareceu se arrastar em um breu incompreensível de solidão durante a maior parte dos anos que lhe restaram, agindo como agente duplo de Dumblendor e arriscando seu pescoço pela criatura que sabia que não podia sequer olhar sem sentir repulsa.

Harry Potter era a cópia exata do pai, e Snape sentia que gostaria de humilhá-lo das formas mais diversas para dar vazão a todo o ódio reprimido por anos. No entanto, a cada resposta petulante de Harry, a cada vez que ele o retrucava, com seus olhos faiscando na direção de Snape, era como se Lily estivesse ali, diante dele, dizendo que ele deveria lavar as cuecas, e o chamando de Ranhoso.

E isso doía de forma latente, mesmo depois de mais de 15 anos.

— Depois de todo esse tempo, Severo?

E Snape poderia dizer a qualquer um, como dizia a si mesmo todos os dias, era ciente de que nunca poderia amar qualquer outro ser em sua vida como amara Lily Evans. Porque em um passado longínquo, muito antes de ela ser Potter, ele a tivera.


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Notas finais do capítulo

Meio triste pensar que Snape sofreu a vida toda por uma decisão tomada na adolescência. Não que ele fosse necessariamente dar certo com a Lily, claro...
O que pensam?
Espero vocês nos comentários!



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