Era dia 23 de maio de 2020, mais ou menos umas cinco horas da manhã quando Mili acordou e percebeu que estava sozinha na cama, levou alguns instantes para de fato despertar e se levantar, vestindo então o hobby azul de cetim e saindo pela casa para procurar seu noivo.

Não foi difícil encontrar Duda em seu lugar favorito da casa: a rede na varanda. Ficava bem de frente para o jardim da casa, então era muito calmo, bonito e cheiroso ali, basicamente era um lugar que transmitia paz.

Mas pelo visto, não era aquilo que estava transmitindo àquela manhã enquanto o sol se erguia para iluminar a cidade, pois o homem estava com uma taça de vinho pela metade na mão enquanto lágrimas teimosas e silenciosas escorriam por suas bochechas.

Mili pigarreou, atraindo o olhar do noivo para si, então sorriu miúdo e indagou. — Tem lugar nessa rede pra mais uma?

— Pra você sempre, meu amor. — ele respondeu, sorrindo de volta enquanto enxugava o rosto com uma das mãos.

— Quer conversar? — perguntou enquanto se sentava, aconchegando-o em seu corpo.

Ela não precisava questionar a razão do choro, pois sabia que era o mesmo que deixava seu coração apertado naquele momento. Aquele deveria ser o grande dia, o dia em que os dois se casariam, no entanto, não era possível por conta do caos que estava o mundo.

— Não tem muito o que dizer. — Duda suspirou, segurando a vontade de voltar a chorar. — Eu sei e entendo o motivo de termos que adiar, mas eu tava tão ansioso pro nosso casamento. Um momento que marcaria o começo do resto das nossas vidas. Eu... Eu não consigo não ficar triste. Me desculpa, eu sou um bobo.

— Ei, não precisa se desculpar, eu to frustrada também. — Mili o abraçou com força, no fundo queria chorar também, porém queria dar forças ao seu noivo ainda mais. — Tudo que eu quero é chamar você de meu marido.

— E tudo que eu quero é te chamar de minha esposa.

— Sabe... Eu acho que a gente não precisa de um papel pra validar nossos sentimentos. Você pode vestir o seu terno, eu coloco meu vestido e a faço a maquiagem. Eu toparia me casar com você na nossa sala, só nós dois e pra mim já seria o bastante. — sugeriu com aquele olhar de menina sonhadora que fez Duda se apaixonar, fazendo-o ficar sem palavras e só abrir e fechar a boca várias vezes sem sabe o que falar. — Q-q-quer dizer, é claro que a gente faria de novo na frente da família e amigos quando toda a confusão acabar. Foi só uma ideia, eu tava pensando alto, não precisa me dar atenção.

As lágrimas voltaram a cair do olhos de Duda, mas dessa vez estavam acompanhadas de um sorriso enorme e apaixonado. — É claro que topo fazer isso. Eu só preciso do seu sim pra ser o homem mais feliz desse mundo.

Mili sorriu radiante também, então beijou seu futuro marido com todo o amor que seu coração transbordava naquele momento.

— Eu me arrumo no banheiro do nosso quarto que já tem todas as minhas maquiagens e você se arruma quarto de hospedes. Nos vemos na sala em duas horas. Ok?

— Muito ok.

Os dois se levantaram da rede e foram se arrumar cada um em seu canto. Mili fez uma maquiagem simples, nunca foi muito de extravagâncias e sabia que isso era algo que seu noivo amava nela, penteou os cabelos e os deixou lindamente ondulados e soltos. Quando tirou seu vestido do plástico e deslizou os dedos com delicadeza pelo tecido, uma sensação deliciosa de euforia e borboletas no estômago se apossou de seu ser.

No outro quarto, Duda estava feliz e ao mesmo tempo nervoso enquanto vestia o colete cinza por cima da camisa social branca e a gravata azul clarinha. Seu coração batia acelerado de modo que parecia querer sair e se juntar logo a sua amada. Ele tentou deixar os cachos o mais bonitos possíveis e sorriu para si mesmo no espelho, finalmente colocando o terno e indo até a sala do apartamento para esperar sua noiva.

Logo ela surgiu e não havia outra palavra para descrevê-la senão perfeita. Todo o corpo de Duda parecia estar formigando de alegria, aquela mulher linda e tão incrível queria dividir o resto de sua vida com ele.

— Eu disse duas horas, mas parece que a gente se adiantou um pouquinho. — Mili riu, conseguindo ficar ainda mais bonita que antes.

E de fato, os dois ficaram prontos em menos de uma hora.

— E ainda assim você tá incrível. — Duda elogiou com um sorriso que quase passava das bochechas. — Acho que a gente devia abrir uma live no facebook e deixar salva, assim o pessoal pode ver o nosso casamento depois, quando todo mundo acordar.

— Nosso casamento. — Mili repetiu sentindo o coração acelerar. — Sim, eu concordo. Você arruma isso, eu vou dar um pulinho no jardim.

Duda pegou alguns livros e empilhou na bancada que separava a cozinha da sala, então abriu a live no celular e o apoiou nos livros.

— Pronta? — perguntou, virando-se para a noiva.

Mili balançou a cabeça em positivo e disse. — Eu vou andar da porta até você, tá bom?

— Ok.

Dito isso, Duda deu alguns passos para trás na intensão de ficar mais no meio da sala e então retesou os ombros, assumindo a posição de casamento.

Olhar para Mili naquele lindo vestido de noiva segurando algumas flores amarelas recém roubadas do jardim com um sorriso iluminando o rosto andando em sua direção, tudo ao redor pareceu desaparecer, não existia mais apartamento, planeta ou universo, apenas Mili em todo seu esplendor. O coração de Duda acelerou outra vez dentro do peito e as lágrimas ameaçavam voltar a qualquer instante de tanta emoção.

Ela parou de frente para ele, jogou as flores no sofá e uniu suas mãos.

— Meu amor... — Duda começou a falar, segurando o choro. — Quando eu te conheci te achei uma garota super inteligente e interessante, eu soube naquele momento que queria ter você por muito mais tempo na minha vida. Mas aquele garoto de treze anos não fazia ideia do quanto realmente viria a te amar. Você se tornou uma mulher incrível, forte, independente e ao mesmo tempo gentil, humilde e altruísta. Eu te amo e não poderia ser mais grato por você ser o meu futuro.

— Meu amor... — Mili também estava segurando o choro, no entanto era bem melhor em disfarçar isso do que seu noivo. — Nós crescemos e amadurecemos tanto juntos ao longo dos anos, eu me orgulho do homem que você é e sei que ele me ajudou a ser a mulher que eu sou. Você é meu melhor amigo, meu parceiro pra todas as horas, quem mais saber me fazer rir e quem tá sempre comigo nos momentos bons e ruins, além de ser um amante incrível demais. Eu te amo e mal posso esperar pra passar o resto da minha vida com você.

— Eu, Eduardo, te declaro, Milena, como minha esposa.

— Eu, Milena, te declaro, Eduardo, como meu marido. Pode beijar a noiva.

Duda beijou Mili e o amor dos dois era tão intenso que quase era possível ver uma aura ao redor deles.