Ser um pro-hero novato era mais difícil do que Katsuki imaginara. Não por causa da ação, na verdade essa era a melhor parte do trabalho. Ele adorava chutar a bunda de alguns vilões, explodir aquelas fuças, participar de missões de resgate, salvar pessoas, explodir mais algumas bundas e o diabo a quatro. Porém, para se tornar o futuro herói n.º 1 é preciso mais do que ser bom de briga: era necessário ser simpático com o público. E era exatamente nisso que ele tinha dificuldade.

Cacete! Bakugou odiava ter de pagar de bom moço, acenar para as pessoas na rua, dar entrevistas e, o pior de tudo, ser ativo nas redes sociais. Era um verdadeiro inferno ter de fazer postagens diárias e interagir com os amigos pro-heroes na rede, mas sorte a sua que namorava a doce Uraraka Ochako, uma das heroínas mais queridas do momento; e tinha como ser diferente? A mulher era gentil, educada foda nas batalhas, cativante, amável, tinha um sorriso lindo… ou seja, o total oposto dele. Claro que ganhava alguns pontos por namorá-la, mas mesmo assim não era o suficiente.

Por isso, Ochako montou um plano intensivo de marketing pessoal para ele. A intenção não era transformá-lo em um good guy, até porque talvez nem fosse possível, mas sim suavizar a imagem agressiva e a carranca que mostrava diariamente. Apesar de ter um esquema meio duro, o plano era teoricamente simples de pôr em prática, já que se baseava em mostrar o cotidiano do herói, com vídeos ou fotos postadas diariamente, e na mudança do seu linguajar.

Ela não podia negar que adorava expor o namorado, seja no treino matinal, durante seus encontros casuais na hora do almoço ou em eventos formais; Uraraka divertia-se enquanto o ajudava. Mas o que realmente dificultou a execução do plano foi a tal mudança de vocabulário, o maldito excesso de palavrões que ele falava. Nossa! Foram necessários muitos beliscões durante as entrevistas, brigas e greves de sexo para que finalmente começasse a cooperar.

Obviamente, Katsuki detestava o plano. Odiava ver sua namorada se divertindo às suas custas e principalmente ser evitado por ela quando vacilava, porém não poderia negar o sucesso daquela maldita ideia. A sua popularidade aumentou consideravelmente nas últimas semanas, assim como o número de seguidores nas redes sociais; não queria admitir, mas era muito legal ser reconhecido pelos pirralhos quando andava pelas ruas do Japão. Ver pequenos olhos brilhando em pura admiração fazia com que se sentisse um puta herói de sucesso. 

E era só por causa disso que Bakugou seguia com esse plano de merda. Não tinha nada a ver com likes ou ser famoso na internet, mas sim com sua reputação heróica. Queria ser admirado pela nova geração, que o considerassem um herói responsável e confiável que, além de obter sucesso em todas as suas missões, exalasse esperança em meio às diversas crises que viessem a surgir — gostaria de ser o mais parecido possível com All Might. Tinha noção de que não seria uma tarefa descomplicada e de resultado imediato, porém tinha sorte de ter pessoas ao seu lado dispostas a ajudá-lo.

Bakugou sentia-se o homem mais sortudo do mundo enquanto tomava uma ducha após a patrulha vespertina. Detestava tomar banho na agência, só que estava estritamente proibido de chegar em casa de uniforme e com qualquer tipo de fuligem no corpo: a Sra. Bakugou não aguentava mais trocar os tapetes da casa. E Katsuki não via a hora de conseguir alugar um apartamento que coubesse no orçamento de dois pro-heroes novatos, que fosse perto das suas agências, com zero de dinheiro na poupança e com zero de...

— Bakubro, ainda tá aí?! — Teve os devaneios interrompidos ao ouvir Kirishima chamá-lo, provavelmente da porta do vestiário, e resmungou apenas um sim como resposta. — Tô meio atrasado, mas fala pra Ura-chan que vou querer uma camiseta igual à sua!

Claro que o idiota estava atrasado! Mas a questão não era essa, a verdadeira pergunta era por que diabos Kirishima queria “uma camiseta igual à sua”? E o que caralhos Ochako tinha a ver com isso? 

— De que porra você está falando, Cabelo de Merda? — perguntou ao sair do chuveiro, enrolado na toalha e esfregando os cabelos. 

— Ué?! Você ainda não viu? — Arqueou as sobrancelhas em surpresa.

— Cacete! Se soubesse de que merda você tá falando, não tava perguntando — respondeu ríspido.

— Então… — disse com um sorriso nervoso estampado no rosto — Acho que você vai gostar da surpresa… Não esquece de dar o recado para Ura-chan!

E foi embora antes que Katsuki pudesse falar alguma coisa. Merda! Ele simplesmente odiava surpresas, nunca eram coisas boas e sempre o deixavam puto. Se Uraraka estava envolvida, com certeza tinha alguma coisa a ver com aquele, como ele gostava de chamar,  grande plano de merda. Seria pedir demais um dia de folga?

Ainda confuso, Bakugou terminou de se secar e foi pegar a muda de roupas casuais que trazia todos os dias em sua mochila. Não era nada demais, apenas uma cueca limpa, sua típica camiseta preta, uma bermuda ou calça mais o tênis surrado que insistia em usar. Bom, isso era o que ele pensava até se deparar com um embrulho cor-de-rosa no fundo da mochila, e não teria problema algum ter um pacote rosa ali dentro, desde que sua camiseta preta também estivesse.

 — Mas que porra… — exclamou realmente intrigado.

Revirou a mochila, tirou tudo de dentro e nem sinal da maldita camiseta. Será que ele a esquecera? Não… Bakugou não esquecia as coisas por aí. Isso estava cheirando à conspiração, afinal, o dia estava mesmo estranho sem nenhuma das peripécias de Ochako e companhia. 

Revoltado, rasgou o ridículo embrulho rosa que era a cara dela, e, adivinhem… havia uma camiseta novinha de presente para ele acompanhada de um cartão. Mas não era uma camiseta qualquer, era uma réplica masculina perfeita do uniforme de Uravity, feita sob medida, nesse caso, na sua medida; já o cartão parecia ter sido feito às pressas e à mão, mas Katsuki reconheceria aquela letra fofa e redonda em qualquer lugar. O papel dizia:

“Surpresa!! Essa camiseta é um modelo da nova coleção de produtos da Uravity, sabia que eu tenho vários fãs homens? Saiu na pesquisa de popularidade, fiquei bem surpresa na verdade...

Foi por isso que resolvemos criar essa blusa que, além de ser uma forma de agradar aos fãs, vai ser uma das etapas do nosso plano de MKT pra você… PORQUE VOCÊ VAI SER O PRIMEIRO A USAR!!! Não é uma ideia genial? Agradamos aos fãs e ficamos em alta nas redes.

E se você conseguir bastantes ‘likes’, vai poder trocá-los por qualquer coisa que você quiser de mim…  ;D

Então, veste essa belezinha e posta uma fotinha bem bonita!

Com amor,

Ochako.

P.S: não se esqueça de adicionar as minhas hashtags.”

Cacete! Não era como se ele tivesse escolha, afinal de contas ela havia trocado sua usual camiseta por essa… coisa cor-de-rosa. Ok, não era completamente rosa, mas continha a cor e Katsuki a odiava. Porém tinha de admitir, a qualidade era excelente. Malha fria, costura resistente e bem estampada; no entanto, não podia ser diferente já que ela dissera que “resolvemos criar essa blusa”. Maldita hora que decidira apresentar Ochako ao seus pais, principalmente à Mitsuki. Terroristas! Era isso o que elas eram, especialistas em infernizar sua vida e explodir toda a sanidade mental que ele tinha. 

Mas Katsuki não tinha muitas opções disponíveis no momento, pois ou vestia a camiseta e fazia a merchandising que Uraraka queria ou voltava para casa sem camisa e enfrentava a fúria, não de uma, mas de duas mulheres tenebrosas. Não… ele não as enfrentaria, até porque corria o risco de sofrer com mais uma greve da Cara de Lua e sequer aproveitara o fim da anterior. Então, sim! Bakugou vestiria aquela camisa, tiraria uma foto pica das galáxias, ficaria em alta na porra de todas as redes sociais e faria a troca com Ochako. E bom... a última parte seria a mais fácil e prazerosa de se executar, porque ele sabia exatamente pelo o que trocaria seus likes.