Casa dos Jogos escrita por Metal_Will


Capítulo 53
Capítulo 53 - Subliminar




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Capítulo 53 -Subliminar

Realmente foi bom o meu pai não poder ver as imagens desse jogo. O coração dele não aguentaria. Aliás, o meu coração já não está aguentando. Era a última rodada e todos os créditos estavam em jogo. Alípio parecia confiante da sua vitória e joga a trinca na mesa com toda a força. Era uma Joker Hand.

— E então, Demian? O que você tem? - disse ele, sem disfarçar a enorme satisfação em seu rosto.

Max mantinha o silêncio. Alípio continuava a sorrir e comemorar insanamente.

— Pela sua cara, não é nada de bom, não é? Que pena! Que pena mesmo! Parece que você não estava com muita sorte hoje!

Alípio gargalhava quase insanamente.

—Mais uma vez, o coringa ficou do meu lado! Joker Hand, a segunda mão mais forte! Toma essa!

Eu não podia olhar. Pela expressão de Max parece que tudo estava acabado. Ele parecia estar com as mãos tremendo. Helene cobra que ele faça sua jogada.

— Senhor Demian? - disse a moderadora - O senhor desiste ou mostra sua mão?

— Tudo bem...mostre o que você tem! Mostre o que você achou que poderia me vencer! - Alípio continuava a provocar sem tirar o sorriso de seu rosto. Max mantém seu característico silêncio e, lentamente, deita as cartas de sua mão viradas para cima na mesa. Da mesma forma, o sorriso insano de Alípio vai se dissipando para uma cara de desespero. O motivo? Bem...basta olhar para as cartas de Max na mesa. Rei de ouros, dama de ouros e valete de ouros. Três cartas reais de mesmo naipe...ou seja, a mão mais forte, a mesma que você só tem 4 chances em 286 de tirar.

— C-Como? - Alípio gaguejou, praticamente perdendo o equilíbrio.

— Royal Straight Flush - disse Helene - A sequência perfeita. Max Demian leva todos os 316 créditos da mesa e vence a partida.

— AAAAAAAAHHHHH!!!! - o grito de Alípio podia se ouvir em toda a casa. Inacreditável. Simplesmente inacreditável. Então ele tinha tirado a melhor mão? Não podia conter minha felicidade.

— Ele venceu! Max venceu! - gritou Natália.

— Significa que fomos eliminadas..por que está tão contente? - perguntou Yumi.

— Não importa...desde que ele continue no jogo...não me importo de sair - disse Natália, com lágrimas nos olhos.

— Ele venceu mesmo! - exclamei aliviado.

— Heh! Suas orações foram fortes mesmo, heim? Para acontecer um milagre desses - provocou Eva, mas nem liguei. Desci correndo as escadas e fui até ele. Alípio ainda estava em choque pela derrota. Max conseguiu todos os créditos e se levanta calmamente da mesa. Estava acabado. O Duelos de Trios havia acabado. Nós vencemos. Natália também desceu, acompanhada de Yumi para parabenizar Max.

— Que bom...você venceu, Max! - ela sorria, praticamente se segurando para não dar um abraço apertado nele.

— Infelizmente...vamos ter que nos despedir, não é, Natália? - ele sorriu.

— Incrível...você tinha tudo para perder - comentou Eva.

— É verdade - concordei - Você tem muita sorte mesmo.

— Exatamente! - gritou Alípio, com lágrimas nos olhos e ainda mais nervoso - Sorte demais! As chances de tirar uma Royal Straight nesse jogo são menores que 1,5%. Como alguém pode ter tanta sorte?

— Sorte você disse.. - Demian sorriu discretamente, fez uma pausa e volta seu olhar penetrante para o velhinho - É uma pena, mas...não foi exatamente sorte.

— Como?

— Não achou estranho eu ter apostado tão alto, sem ao menos saber quais cartas tirei?

— É claro que sim...não me diga que....você consegue prever o futuro ou algo assim? - Alípio estava cada vez mais pasmo.

— Não, não. Nada disso - negou Max - Acontece que...esse jogo, assim como tudo nessa casa, também tinha um truque escondido.

— Como sempre - comentei - Que tipo de truque?

— Em primeiro lugar, revejam as regras do jogo...você tem 13 cartas...as doze reais, mais o coringa. A segunda mão mais forte é a Joker Hand, e para tê-la, basta que se tenha um coringa. No entanto, só existe um coringa no baralho e a pessoa com essa mão já está em grande vantagem em relação a outra. Ou seja, se você tiver o coringa, tem total controle sobre o jogo.

— Entendo - disse Eva - Mas os dois participantes tem a mesma chance de tirar o coringa, não?

— Sim, mas...eu ainda não falei o truque...e ele está...no verso das cartas.

— No verso? - perguntou Natália.

— Sim - respondeu Max - Vejam aqui...eu tenho uma dama de ouros em uma mão e um coringa na outra. Agora, vejam o verso.

Ele virou as cartas, mas eu não conseguia ver nada demais.

— Não vejo diferença nenhuma - falei, por mais que olhasse.

— Olhe mais perto...mais precisamente nessa espiral no canto superior.

— Hmm...são diferentes - disse Eva - Estão giradas em sentidos opostos.

— Exatamente. Se pegarem qualquer outra carta real, estará no mesmo sentido, mas o coringa é a única carta com a espiral no sentido contrário.

"Ele sabia o truque do coringa!", pensou Alípio, transpirando, "Mas...por que perdeu tanto se sabia? Será que ele só descobriu no final? Mas aí não daria mais tempo de vencer! Como?"

— Tem razão...sabendo esse truque a pessoa poderia vencer sempre - disse Eva - Mas não era o que estava acontecendo com você, era?

— Não - ele respondeu - Mas imagino que o Sr. Alípio sabia desse truque.

— Tsc...percebi isso logo. Uma vez ouvi falar de mágicos que reconheciam cartas pelo verso por usarem um baralho especial e aqui parecia o mesmo caso. Achei que o segredo do jogo era esse.

— Bem, digamos que fazia parte do jogo, mas...o verdadeiro segredo desse jogo era outro.

— Como? - estranhou Alípio - O que mais tinha de extraordinário nesse jogo?

Max deu uma risadinha e se dirigiu à Helene.

— Helene, não é?

— Pois não?

— Poderia abrir outro baralho e embaralhar como fez nos jogos?

— Claro - ela respondeu prontamente. A garota abre o novo pacote de cartas e embaralhas todas de novo.

— Agora...- ele disse, se sentando em frente a Alípio - Distribua as cartas como da outra vez.

Ela faz isso, dando três cartas viradas para baixo para Alípio e mais três para Max.

— Deixe-me ver...agora foi o senhor que tirou uma Royal Straight Flush...acertei, Sr. Alípio?

Alípio vira as cartas e arregala os olhos. Eram exatamente um rei de espadas, uma dama de espadas e um valete de espadas.

— C-Como você adivinhou? - ele se impressionou.

— E não é só isso...eu também tirei uma Royal Straight - Max virou as cartas, mostrando um rei de copas, uma dama de copas e um valete de copas.

— Como assim? - estranhei - Como você sabe quais cartas viriam, Max?

— Bem...acontece que o verdadeiro segredo desse jogo está em como embaralhar as cartas - ele respondeu.

— Como....embaralhar as cartas? - repetiu Alípio.

— Sim - confirmou Max - No começo do jogo, o senhor provavelmente recebeu um coringa, uma dama e um rei.

— I-Isso mesmo.

— E eu recebi dois valetes e uma dama. Na outra rodada, eu recebi um valete, um coringa e uma dama, e o senhor provavelmente recebeu um valete, uma dama e um rei, mas com o valete com um naipe diferente da dama e do rei. Acertei?

Parece que estava correto de novo. Como ele sabia?

— Mas como?

— Como eu disse, o segredo está em como embaralhar as cartas - Max respondeu firmemente - Provavelmente, Helene foi treinada de tal forma que conseguisse embaralhar de um jeito perfeito, que deixasse o baralho na configuração exata.

— Configuração exata?

— Sim. Um baralho novo era aberto em todas as rodadas, mas nós não sabemos a ordem inicial das cartas de cada baralho. É provável que todos sempre tivessem uma mesma configuração inicial e ela embaralhasse para a configuração que quisesse. Uma pessoa habilidosa pode fazer isso sem nem olhar para as cartas.

E, de fato, ela embaralhava absurdamente bem.

— E que configuração é essa? - perguntei.

— Uma configuração que dê um padrão para a distribuição de cartas. Eu ainda não tinha certeza disso nas duas primeiras rodadas, mas a partir da terceira, as coisas começaram a fazer sentido. Ainda bem que o Sr. Alípio mostrou sua mão em todas as primeiras rodadas. Daí eu pude ter certeza.

— Ainda não entendi muito bem - perguntou Natália - Afinal, que configuração era essa?

— Helene...pode me emprestar o baralho? - perguntou Max. A mascarada entrega as cartas para ele e Max começa a colocar as cartas na mesa.

— Vamos reviver a primeira rodada. A distribuição foi mais ou menos assim. Valete de paus para mim, coringa para o Alípio, valete de copas para mim, dama de paus para o Sr. Alípio, dama de copas para mim e rei de paus para o Sr. Alípio.

— Então...o Sr. Alípio ganhou a Joker Hand - comentei.

— Sim. Agora a segunda rodada. Valete de paus para mim, valete de copas para o Sr. Alípio, coringa para mim, dama de paus para o Sr. Alípio, dama de copas para mim, rei de paus para o Sr. Alípio

— Agora você leva o coringa - comentou Eva.

— E na terceira rodada...vamos mudar um pouco os naipes...mas ficaria, valete de espadas para mim, valete de ouros para o Sr. Alípio, dama de espadas para mim, coringa para o Sr. Alípio, dama de ouros para mim, rei de espadas para o Sr. Alípio

— Ah! Acho que entendi! - gritou Natália - Então...as cartas sempre são distribuídas nessa ordem: valete, valete, dama, dama e rei, rei.

— Isso mesmo, com um detalhe básico...nessa ordem, só dois naipes estão em jogo.

— Só dois?

— Sim. Às vezes mudava, mas são sempre dois naipes. Ou ouro e espadas, ou copas e espadas, e assim vai. Mas sempre seguia essa lei. Pude reparar isso nas vezes que o Sr. Alípio mostrou a mão: os naipes envolvidos eram exatamente os mesmos que eu tinha na mão.

— Muito sutil...realmente - comentou Eva.

— Foi o que eu percebi...a ordem é essa mesma que a Natália falou...valete do naipe A, valete do naipe B, dama do naipe A, dama do naipe B, rei do naipe A e rei do naipe B. Mas com um detalhe...tinha um coringa no meio.

— E o coringa que fazia toda a diferença - comentei.

— Isso mesmo. O coringa fica no meio dessa distribuição. Na primeira rodada, ele foi a segunda carta. Na segunda, a terceira. Na terceira, a quarta. E assim vai...mas, quando ele fosse a sexta carta distribuída, o Sr. Alípio teria uma Joker Hand e eu uma Royal Straight.

— É mesmo - comentou Natália - É só fazer a distribuição:

Primeira: Valete de Ouros (Max)

Segunda: Valete de Paus (Alípio)

Terceira: Dama de Ouros (Max)

Quarta: Dama de Paus (Alípio)

Quinta: Rei de Ouros (Max)

Sexta: Coringa (Alípio)

— E como na próxima rodada, o coringa seria a sétima carta distribuida, nós dois teríamos Royal Straight na mão - completou Max.

— Por isso que você.. - disse Alípio - Então por isso que você apostou tudo na última rodada! Você sabia que ia tirar uma Royal Straight Flush!

— Sim, eu descobri o truque da distribuição a partir da terceira rodada, mas eu precisava que o senhor também estivesse confiante o bastante para apostar tudo na rodada certa. Perdi de propósito algumas vezes, fiz um teatro e fingi ter recebido uma mão ruim na última rodada. Como eu sabia que o senhor ia receber um coringa e que as chances de tirar uma Royal Straight são muito baixas, fazê-lo apostar tudo não foi tão difícil. Mas, considerando que o baralho é distribuido dessa forma, a mão mais forte não é aleatória. Ela viria na hora certa! E foi o que aconteceu! O senhor achou que tinha descoberto a América por achar que o coringa era a carta marcada, mas isso era só parte do truque.

— Droga...tudo não passava de blefe - Sr. Alípio resmungou.

— Na verdade, a marcação da espiral no coringa até me ajudou. Graças a isso, eu pude ter certeza da forma que ele era distribuido, inclusive a ordem como ele era distribuido. Foi isso. O senhor perdeu.

"Max Demian", pensava Alípio, ainda com lágrimas nos olhos, "Para perceber uma coisa assim...ele não pode ser humano."

— Uhuhuhuhhu! Isso mesmo! - disse Pitre, dessa vez aparecendo no telão - Sr. Alípio perdeu e com ele, as participantes Natália e Yumi também. Vocês três estão fora da Casa dos Jogos. Foi um prazer tê-los aqui. Uhuhuhu!

— Pitre - exclamei - Então...isso quer dizer que..

— Sim, meu caro. Os participantes Alan da Silva, Eva Palomeni e Max Demian são os semi-finalistas da Casa dos Jogos. Meus parabéns...especialmente a você, Senhor Demian. Jamais pensaríamos que alguém descobriria o padrão da distribuição das cartas

— Heh! É a cara de vocês pensar em algo tão bizarro - ele ironizou.

O que há um tempo era angústia, agora era alívio. Conseguimos. Chegamos às semi-finais! Agora só precisava me juntar a Max para eliminar a Eva e tudo estará acabado. Pai...nós vamos conseguir! A única parte triste era me despedir da Natália. Nunca tive a chance de dizer o quanto gostei de tê-la conhecido. Ela era a pessoa mais parecida comigo na casa. Mais tarde, os três já estavam de malas prontas e preparados para sair do programa.

— Obrigada pela colaboração até agora - disse Eva para sua última comparsa - Vá tranquila...o prêmio será nosso, com toda a certeza.

— Estarei torcendo por você - responde ela.

— O que é isso? Pelo seu tom, parece até que duvida que eu possa vencer - disse Eva.

— Quem sabe o futuro - ela disse, olhando rapidamente para Max.

— Amigos - disse Natália - Muito obrigada por tudo. Desculpem se atrapalhei vocês e...

— Não. Nunca diga isso! Todos os momentos que passamos com você foram maravilhosos! - exclamei, segurando minhas lágrimas (coisa que ela já não conseguia fazer).

— Obrigada mesmo...Max, eu...

— Fique tranquila. Deixe o resto com a gente. Pode descansar - ele disse em tom sereno e confiante.

— Tá - ela sorriu, em meio ao choro. Era tão bonitinha. Ela ainda tinha mais alguma coisa para falar.

— Max...eu - ela tentou falar, mas parece que sua voz não saía - Eu...

— Sim? Pode falar - disse ele, olhando firme nos olhos dele.

— Não...nada...err...por favor, fique bem.

— Com certeza - ele respondeu com um sorriso discreto.

Eu bem sabia o que Natália estava com vontade de dizer, mas parece que ela desistiu. Era uma garota muito tímida. Já o Sr. Alípio mantinha seu silêncio e expressão rígida.

— Que inútil - disse ele - Chegar tão longe para perder aqui...

— É um jogo - comentou Yumi, ao ouvir isso - Alguém precisa perder.

— Sendo assim...que vença o melhor - disse o senhor, limpando os óculos - Não estarei torcendo por nenhum deles.

— Imaginei que dissesse isso - comentou a japonesinha - Chegou a hora.

Os três saem da casa. Três pessoas saem ao mesmo tempo. E outras três ficam. Quem diria que eu estaria entre os semi-finalistas? Agora, só precisávamos nos unir, vencer Eva e ganhamos a casa. Iríamos vencer...sim. Com certeza. Até eu estava confiante.

— Cof, cof - Max deu uma tossida.

— O que foi?

— Não é nada - ele disse - Bem...agora só sobramos nós três, não é?

— Sim...só precisamos vencer a Eva e...

— Heh! Só me vencer, não é? - ela se aproximou. Eu tapo a minha boca. Max mantém o silêncio - Não pensem que será tão fácil...afinal, vocês ainda tem um problema.

— Problema?

Ela fez que sim com a cabeça.

— Para você sobreviver na próxima rodada, Alan, terá que pegar créditos com Demian. Se vocês dividirem igualmente ficarão com apenas 158 créditos cada um, enquanto eu posso ficar com todos os meus 307!

Comecei a suar. Ela tinha razão. Talvez eu pudesse perder por não ter crédito nenhum. Se eu tivesse vencido a Yumi no meu duelo...

— Não se preocupe - disse Max - Iremos derrotar Eva no próximo jogo, com toda a certeza! Se isso acontecer, tudo estará acabado.

—É o que veremos - disse Eva, se retirando.

Espero que ele esteja certo. As semi-finais estavam chegando...


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Notas finais do capítulo

Pois é...Poker Face, nunca confie em uma!

Próximo jogo: semi-finais. Como vai ser? Bem...esperem para ver

Até lá! ^^/



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