Capítulo 49 - Xadrez Fechado

— Xadrez fechado ele disse? - perguntei, com Max do meu lado, também ouvindo as explicações do palhaço - Como será isso?

— Não tenho ideia...vamos descobrir agora - é o que ele respondeu. Seja lá o que for, deve ser complicado. Se não tivesse perdido na batata quente, com certeza absoluta perderia nesse também. Nunca sequer consegui compreender direito as regras do xadrez. Será que a Natália era boa nisso?

— Xadrez Fechado - Pitre continuava - É o próximo jogo de vocês. Como podem ver, há um tabuleiro na mesa.

Na verdade, o dispositivo ao qual me referi parecia alguma coisa quadrada e fechada. Naquele instante, ele se abre automaticamente e revela um grande quadrado dividido em quatro quadrados menores. Eram alternados em preto e branco (preto e branco, nessa ordem, na primeira linha e branco e preto, também nessa ordem, na segunda linha). Parecia um..

— O que é isso? - questionou Eva

— Nunca viram algo parecido antes? - o palhaço retrucou - Claro que é um tabuleiro de xadrez para principiantes! Uhuhuhu!

Nenhuma das duas parecia ter sacado a piada, mas Pitre continuava as explicações.

— Bom...o que realmente importa é que vocês usarão esse tabuleiro no jogo de vocês.

— E como são as regras desse jogo, afinal de contas? - Eva perguntou.

— Eu já vou explicar...mas, antes de começarmos, onde estão meus modos? Apresento a moderadora do duelo de vocês: Karmine!

— Prazer - é tudo que a mulher mascarada ao lado da mesa falou.

— Tá. Que seja. Fale logo o que temos que fazer aqui - a magrinha insistia.

— Então...sem mais delongas...o jogo começa, quando isso acontecer.

Pitre fez um sinal com as mãos e Karmine apertou algum botão que fez uma pequena parede subir, bem no meio do tabuleiro, impedindo a visão dos dois quadrados que ficaram no campo do adversário.

— Alguma de vocês pode ver o outro lado do tabuleiro? - perguntou Pitre.

— Não - respondeu Natália - Só consigo ver os dois quadrados que ficaram do meu lado.

— A mesma coisa aqui - confirmou Eva.

— Perfeito - Pitre continuava - Agora, vem a parte interessante.

Outra parte do dispositivo (um pequeno compartimento oculto do lado de fora do tabuleiro) se abriu e revelou três peças de xadrez. Brancas para Natália e pretas para Eva.

— O que vocês acabam de receber são as peças que usarão nesse jogo. São apenas três peças: rei, rainha e cavalo.

— Só três? - estranhou Natália - Mas normalmente o xadrez tem seis peças diferentes, não? - perguntou ela, embora já fosse estranho um tabuleiro de xadrez com apenas quatro casas.

— Sim. Isso no xadrez convencional. Mas na nossa versão do xadrez, as coisas são diferentes.

— E o que fazemos com essas três peças? - perguntou Eva, pegando e olhando uma delas.

— Bem....basta que vocês escolham uma delas e coloquem em qualquer uma das duas casas que estão do seu lado do tabuleiro.

— Em qualquer uma? - perguntou Natália

— Sim. Façam uma experiência. Senhorita Natália escolha uma peça. Senhorita Eva, você também.

Natália escolheu um cavalo e colocou numa casa branca. Eva escolheu uma rainha e coloca na casa preta.

— Muito bem - Pitre continua - Agora...vamos explicar quem vence quem no Xadrez Fechado.

As duas ouviam atentamente. Pitre muda sua tela para um tipo de tutorial em vídeo com todas as possibilidades.

— Primeiro caso: empate. Caso vocês duas tenham escolhido a mesma peça, não importa o lado que vocês colocaram, haverá um empate.

— Heh. Parece justo - comentou Eva.

— Segundo caso: rei e rainha. Caso o rei esteja em uma casa de cor diferente da rainha, ele vence. No entanto, se ele estiver em uma casa da mesma cor, ele perde.

O vídeo continua.

— Terceiro caso: rei e cavalo. Caso o rei esteja em uma casa de mesma cor do cavalo, ele vence. No entanto, se estiver em uma casa de cor diferente, ele perde.

— Entendi - comentou Natália.

— Quarto e último caso: rainha e cavalo. Caso o cavalo esteja em uma casa de mesma cor da rainha, ele vence. Mas se estiver em uma casa de cor diferente, ele perde. É basicamente isso.

"Então...tudo vai depender do que ela escolher", pensou Natália, "Em compensação, ela não pode saber o que eu escolho também. Hmm....parece um jogo justo."

— Então...vamos ver o que vocês escolheram? - disse Pitre - Que as portas se abram!

A parede se abaixa. O cavalo branco na casa branca e a rainha negra na casa negra. Rainha e cavalo. Rainha numa casa de cor diferente do cavalo. Pelas regras, a rainha vence.

— Muito bem. Nesse caso, a rainha vence e a senhorita Eva ganharia a rodada.

— Puxa - lamentou Natália.

— Alguma dúvida quanto às regras de quem vence quem? - perguntou Pitre.

As duas negam qualquer dúvida. O palhaço fez uma pausa e passou para a próxima pauta.

— Agora o que realmente interessa...apostas!

— Apostas? - repetiu Natália - Nunca fui muito boa nisso.

— É...imagino - comentou Eva ironicamente, o que deixou nossa colega ainda mais nervosa. Pitre continuava.

— Antes de escolherem as peças, vocês devem apostar um certo número de fichas que representam seus créditos. Na gaveta do lado da mesa de vocês há várias delas. Vermelhas para 10 créditos, azuis para 5 e verdes para 1. Vocês podem apostar no mínimo 1 crédito e no máximo...bem, no máximo o número total de créditos que vocês tem. Uhuhuhu!

— Então, quem vencer leva os créditos? - perguntou Eva

— Sim - confirmou Pitre - Em caso de empate, os créditos apostados voltam para as respectivas donas.

Natália parecia nervosa. É. Ela não parecia saber lidar bem com aquilo. Nem ela e nem eu. Por isso éramos tão parecidos. Já Eva, parecia confiante.

— Tá legal. Acho que podemos começar, então. Tudo bem pra você, Natália? - perguntou Eva.

— A-Acho que sim - Natália respondeu.

— Sendo assim. Que os jogos comecem!

— Vamos começar - disse Karmine, a moderadora - Façam suas apostas.

Natália tinha 100 créditos. Eva tinha 207, já começando na vantagem.

— Coloco...30 créditos - disse Natália, tentando parecer o mais forte possível, embora sua vontade fosse jogar tudo para o alto e deixar Eva vencer logo.

— Jogo 30 também - Eva respondeu.

Nisso, a parede levantou e agora era hora de escolher as peças. Eva escolheu a rainha, mas colocou na casa branca. Natália acabou escolhendo um rei e o colocou na casa negra. Quando terminam, confirmam com Karmine e pedem que a parede se abra. Pelas regras, Eva perdeu.

— Rei e rainha. Rei numa casa de cor diferente da rainha. Senhorita Natália vence - disse a moderadora.

— E-Eu venci - Natália estranhou. "Então...então esse jogo é justo mesmo! Que milagre!", pensava a mocinha. Eva não disse nada.

Próxima rodada. Agora Eva colocou um rei na casa negra e Natália também colocou um rei, e na casa negra também. Ambas apostaram 30 créditos de novo.

— Ambas jogaram um rei. Empate. Os créditos retornam às donas.

Com isso, Eva tinha 177 créditos e Natália 130. As coisas não pareciam tão ruins para Natália.

— Próxima rodada. Suas apostas - disse Karmine.

Agora Natália apostou 30 créditos de novo. Eva também. Dessa vez, Eva colocou um cavalo na casa negra. Natália colocou uma rainha na casa branca. Quando as paredes se abriram, Natália venceu.

— V-Venci! Isso! - ela comemorava, com um sorriso lindo e meigo. "Então...eu posso vencer! Legal...se eu tirar todos os créditos dela, terei vantagem nas semi-finais!"

Nós assistíamos a isso preocupados. Se Natália vencesse, nossa aliança poderia estar em risco.

— E-Ela está ganhando - comentei com Max - Incrível!

— Se Natália vencer, nós saímos, Alan - ele me lembrou - Nesse caso...vamos ter que confiar nela para vencer a casa inteira para nós.

— É verdade...se perdermos, Natália será nossa última esperança - comentei, passando rapidamente da alegria para a preocupação – É estranho dizer isso, mas...precisamos torcer para que Eva vire o jogo. Qual será o truque desse jogo? Do jeito que está indo, parece ser tão de risco quanto a batata quente. Mas conhecendo essa casa, deve ter algum truque

— Imagino que sim...vejamos se a Eva descobre logo o que é - disse Max.

— Você já sabe o que é? - perguntei.

— Não tenho a menor ideia...mas, com toda a certeza, deve ter alguma coisa - disse ele, com uma expressão pensativa.

E Max não sabia o quanto estava certo. Enquanto Natália comemorava, batendo palmas de um jeito tão fofo, Eva sorria internamente.

"Comemore enquanto pode, tolinha", ela pensava, "Eu já descobri o segredo desse jogo...e agora você vai ser completamente depenada!"