Casa dos Jogos escrita por Metal_Will


Capítulo 38
Capítulo 38 - Amigo Oculto




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Capítulo 38 - Amigo Oculto

Mais uma vez, acordamos cedo. De alguma forma, já havia me acostumado com aquela rotina diária de jogos estranhos, mesmo assim, sempre me sentia desconfortável por nunca saber que tipo de jogo eles iriam propor. Após lavar o rosto e fazer a oração de sempre, saí de meu quarto e caminhei até às escadas. Nisso, também vejo uma de minha colegas de aliança, Natália, descendo. Parecia estar sonolenta.

— Bom dia - cumprimentei.

— Ah, Alan. Bom dia - ela cumprimentou com um lindo sorriso.

— Nervosa?

— Sempre estou - ela respondeu, enquanto caminhávamos para o saguão. Provavelmente, Pitre começaria as explicações do jogo antes do café da manhã. Lembro que Giovani sempre pegava alguma coisa para comer, mesmo durante a explicação do jogo. Era uma figura e, nos momentos de pausa entre os jogos, era engraçado ver os comentários dele (mesmo não conversando muito abertamente, devido a formação de alianças). Mas agora não estava mais presente. Aquela casa era assim...a cada dia, alguém tinha que sair. Era como o sistema funcionava.

— Alan.. - Natália parou por alguns instantes, antes de descer as escadas.

— Sim? O que foi?

— Manipular as pessoas é errado, não é?

— Imagino que sim, mas...por que está perguntando isso?

— Se é errado...por que somos obrigados a fazer isso? - ela olhou séria para mim.

— Bem...acho que é a única forma de sobreviver aqui dentro - respondi, embora acaba desviando o olhar por não ter uma certeza absoluta da resposta - Ou manipulamos, ou somos manipulados.

— Talvez todos estejam sendo manipulados - disse ela.

— Hmm? - olhei para ela com estranhamento.

— E se toda essa casa não passar de uma enganação? E se for apenas um golpe que não dará um único centavo para ninguém no final? Ainda estou com tanto medo e...

— É um risco - disse à ela - Mas...só vamos saber se chegarmos até o fim. Eu...eu realmente preciso do dinheiro do prêmio...é por isso que ainda estou aqui dentro. 

— É verdade...imagino que você seja a pessoa que mais precisa...

— Confio plenamente no Max para conseguirmos esse dinheiro juntos, como eu já disse...se não fosse ele estar aqui, já teria saído há muito tempo.

— Eu também - ela disse - Só nos resta confiar nele...se dependesse de mim...sabe, eu nunca fui boa com pessoas. Nunca soube mentir e nunca pregava peças. Se soubesse que essa casa era assim, nunca teria vindo para cá, mesmo sabendo que fui sorteada.

— Você disse que sua irmã te inscreveu, não é?

— É. Ela sim é boa com essas coisas. Sempre vivia me pregando peças, mas era boa para tomar iniciativas. Por mais que ela sempre fosse a irmã que levava as broncas, ela sempre conseguia o que queria com o próprio esforço. Talvez ela quisesse que eu fosse um pouco assim também...mas acho que é difícil mudar as pessoas do nada, né?

— Você se arrepende de ter vindo para cá? - perguntei.

Ela balança a cabeça negativamente.

— Apesar de não gostar dos jogos...fico feliz de ter conhecido você e o Max - ela disse, mostrando seu meigo sorriso.

Era mesmo uma gracinha. Sempre fui péssimo com garotas, mas naquele momento, senti uma enorme vontade de abraçá-la. Sentia que éramos parecidos. Éramos peixes pequenos em um aquário de tubarões, mas, como será que ela me via? Deveria dizer alguma coisa?

— Natália...

— É verdade- ela me interrompeu - Vamos descendo. Já está na hora

— S-Sim - gaguejei. 

Não era hora para esse tipo de coisa. Precisávamos nos concentrar nos jogos. Apenas oito pessoas restaram naquela casa. Desses oito, dois, Natália e Max, estavam do meu lado. Os outros cinco eram adversários, divididos em duas equipes, mas dependendo do jogo talvez nos juntássemos com alguma dessas equipes. Sim. Tudo ia depender daquele jogo. Max já estava ali embaixo, sentado no sofá e aguardando novas instruções. Assim como os outros, que também esperavam em silêncio. Não demorou muito e logo surgiu Pitre, nosso anfitrião e organizador oficial.

— Uhuhuhuhuhu! Bom dia a todos! - ele cumprimentou - Imagino que todos estejam descansados!

Ele sempre dizia a mesma coisa. Hoje ele usava uma roupa com naipes de baralho, mas mais voltado para o preto e branco. Normalmente ele é mais colorido.

— Muito bem - ele continuou - Hoje vocês vão jogar algo muito simples...chama-se...Amigo Oculto!

"Amigo...oculto?", pensei.

— Ei! - Aline levantou a mão - Quando você fala "Amigo Oculto" está falando daquela brincadeira que fazemos com a família nas festas de fim de ano?

Pitre riu ao ouvir isso e continuou.

— Imagino que estamos pensando na mesma coisa, Srta. Aline! Sim, Amigo Oculto é uma brincadeira de troca de presentes, onde cada pessoa sorteia o nome de um amigo e compra um presente para ele, mas esse nome só é revelado no dia da festa. É uma tradição antiga, mas que só se popularizou durante a crise de 1929, onde no meio de tantos problemas econômicos, as pessoas tentavam se alegrar com troca de presentes, mesmo que fossem baratos.

— Então...faremos um Amigo Oculto com todo mundo da casa? Que mara! - Aline comemorou - Mas...como vamos comprar presentes?

Novamente, Pitre deu uma grande gargalhada.

—Bem, realmente, vocês não tem condições de comprar nenhum presente, mas...é por isso que estamos falando de uma versão de amigo oculto mais ao nosso estilo.

Imaginava como seria o estilo deles, mas, enfim, era melhor deixá-lo terminar a explicação.

— Em nosso Amigo Oculto, os presentes são apenas virtuais.

— Virtuais? - perguntou Valéria - Imagino...que usarão nossos contadores novamente.

— Sim, isso mesmo.

 

Pitre estalou os dedos e mostrou mais uma tela de jogo. Dessa vez, exibia o ícone de uma caixa embrulhada.

—O presente que vocês darão uns aos outros não passa de dados no novo software que já está instalado nos seus contadores.

Realmente, havia mais um software instalado sem sabermos. Isso sempre acontecia.

— Credo...que sem graça - reclamou Aline.

Pitre riu novamente.

— Sem graça você diz...bem, na verdade, os presentes são o ponto mais importante desse jogo, Srta. Aline.

— Mas o que esses presentes possuem de tão especial? - ela insistia.

— Esses itens virtuais são apenas símbolos - Pitre continuava - Vocês vão entender quando eu explicar as regras do nosso jogo.

Pitre pigarreou e iniciou a explicação.

— Nesse jogo, vocês sortearão o nome de algum de seus colegas de casa. Nosso sistema fará isso automaticamente, então, não se preocupem com papeizinhos ou coisas antiquadas do gênero. Basta conferir o nome no software do contador assim que o jogo começar.

De fato, isso era bem mais prático do que cortar pedacinhos de papel.

— O jogo seguirá a mesma mecânica de um amigo oculto normal. No fim do dia, por volta das oito da noite, iremos realizar a divulgação dos "amigos ocultos".

— Só isso? - perguntou Alípio - E o que tem de competitivo nisso?

— Talvez nada. Vai depender dos presentes.

— Como assim? - perguntou Valéria - Que tipos de presentes virtuais vamos levar?

— Isso se vocês levarem, é claro - respondeu Pitre.

— Hã? - Aline estranhou.

— Na verdade, vocês podem escolher entre levar uma caixa com um presente virtual...ou...levar uma caixa vazia!

— QUÊ?! Quer dizer que podemos escolher uma caixa vazia? - estranhou Aline.

— Exatamente. Vocês tem duas opções: levar uma caixa com um presente ou uma caixa vazia. Contudo, tomem cuidado com o que vocês planejam levar.

Era óbvio que o desafio do jogo estava no que ia acontecer dependendo do que que você escolhesse levar. Lá vinha a parte sádica do jogo...

— Você pode decidir levar uma caixa vazia para seu amigo oculto...mas você também pode receber uma caixa vazia de presente.

— E o que acontece se você dar e receber uma caixa vazia? - perguntou Alípio.

— Nada.

— Como? - ele estranhou.

— Sim. Caso entreguem e recebam uma caixa vazia, não acontece nada! - disse Pitre - Mas...você pode entregar uma caixa vazia e receber um presente. Nesse caso...você está automaticamente imunizado!

— Ora. Então não tem sentido em levar um presente. Só a pessoa que recebe leva vantagem - observou Valéria.

— Será? - Pitre continuou - Também existe uma outra possibilidade interessante...caso você entregue um presente e também receba um presente, além de imunizado, você também dobra o número de créditos que tiver!

— O QUE?! - todos se espantaram.

— Você disse..dobrar? - Alípio não acreditava no que ouvia.

— Exatamente - respondeu o palhaço - No entanto...

E agora vinha a parte preferida de Pitre...

— Caso um de vocês dê um presente, mas receba uma caixa vazia...você simplesmente perde TODOS os créditos que possui!

Agora todos ficam em silêncio. Embora ganhar e receber um presente fosse a melhor possibilidade, caso você só desse e não ganhasse, você perdia tudo. Em resumo, as variáveis eram estas:

— Dar uma caixa vazia e receber uma caixa vazia: Nada acontece.

— Dar uma caixa vazia e receber um presente: Você ganha imunidade.

— Dar um presente e receber um presente: Você ganha imunidade e dobra o número de créditos que possuir.

— Dar um presente e receber uma caixa vazia: Você perde todos os créditos que possuir.

— Simples, não? Assim que ouvirem o sinal daqui a cinco minutos, vocês saberão quem são seus amigos ocultos. Depois disso, basta se reunirem aqui no saguão às oito da noite para realizarmos nossa festinha.

— Uma última pergunta - disse Eva - Quantos créditos são precisos para escapar da sessão de votos?

— Caso forem para a sessão, podem se imunizar com 40 créditos.

— Perfeito. Obrigada - ela parecia confiante.

— Se não há mais perguntas, divirtam-se! Uhuhuhuhu! - ele desapareceu, de novo.

Todos ficam meio sem saber o que fazer, mas, como sempre, Max parecia tranquilo. Cheguei perto dele, com um ar tenso, mas ele estava com um olhar distante, pensativo. Do nada, ele me chama a atenção.

— Que bom, não é? - ele me disse, sem mover um músculo.

— Que bom o quê? - perguntei.

— Esse é um jogo que não tem como perdermos!

— Hã?


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Notas finais do capítulo

Como dá para complicar tanto uma brincadeira tão simples, né? Mas isso que é o legal! XD

Se bem que para o Max não parece ser nada complicada. Quem tirou quem e qual a ideia dele...a gente descobre no próximo capítulo. Até!



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