Casa dos Jogos escrita por Metal_Will


Capítulo 22
Capítulo 22 - Colheita


Notas iniciais do capítulo

E os jogos continuam...



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Capítulo 22 - Colheita

Imagino que dizer a rotina da manhã do dia seguinte seja desnecessário. Com mais uma eliminação, era hora de começar outro jogo. Estava pensando que tipo de ideia eles teriam dessa vez. Max estava mesmo certo, tudo aquilo era muito anormal. Afinal, qual o sentido dessa experiência toda? Para que tanto dinheiro investido em um programa que sequer era aberto ao público em geral? Estranho, muito, muito estranho. Mas de uma coisa eu sabia: precisava chegar até o fim para receber aquele prêmio. Como estaria o meu pai? Bem, minha tia estava lá cuidando dele...e sei que podia confiar nela.

— O que foi? Preocupado? - perguntava a minha tia a meu pai, enquanto ele estava pensativo, longe do programa de TV.

— Estava pensando no Alan...será que ele está bem? Aquele cara mascarado, aquela limusine...é tudo tão suspeito.

— Relaxe - ela tentava tranquilizá-lo, dando uma xícara de café - Minha filha pesquisou sobre o tal programa e parece tudo bem profissional mesmo. Você sabe que essas jogadas de marketing são todas malucas, não sabe? E mais: se o Alan não deu notícias até agora é sinal de que está indo bem nos tais jogos.

— Isso que é mais estranho. Ele nunca foi bom em nada disso - dizia meu pai, enquanto se sentava no sofá para tomar a xícara.

— Confie no Alan. Ele deve estar se virando - minha tia disse sorrindo.

— Espero que sim - concluiu meu pai, tomando um gole de café - Espero que sim.

É. Aquela casa era bem estranha. Até agora ainda não tinha decorado todos os cômodos. Conhecia alguns corredores, o saguão principal, a sala de jantar (que também era a sala de café da manhã) e parte do jardim dos fundos, o palco principal do último jogo. Mas tenho comigo que isso não era nem um quarto da mansão inteira. Era absurdo. Muito grande mesmo. Quanto de dinheiro aquela empresa tinha investido naquilo tudo? Era tudo tão misterioso...e nenhum dos criados revelava o rosto. Eram todos mascarados. Mas o pior de todos era o moderador da casa, aquele Pitre. A fantasia de palhaço era muito sinistra. Ainda tinha um certo medo dele. Por outro lado, os outros membros da casa já pareciam mais adaptados.

Devo lembrá-lo que todos os onze participantes restantes estão divididos em grupos, sendo que o meu grupo é o mais defasado de todos: temos apenas três membros (eu, Max e Natália). Apesar disso, nosso grupo é o que possui mais créditos, a moeda de troca na casa. Quanto mais desses créditos se consegue, mais chances você tem de sair ileso. Por sorte, Max Demian, de meu grupo, era um ótimo jogador e estava salvando nossa pele até agora. O problema é que quanto mais o jogo avançava, mais difícil era de sobreviver ali dentro.

— É, meu amigo - disse Max, enquanto eu aguardava ansioso o próximo jogo - Estamos aqui de novo.

— Estaria mentindo se dissesse que não estou com medo - comentei - A gente nunca sabe o que eles estão planejando.

— Acalme-se - ele disse, plenamente confiante - Seja o que for, nós vamos dar um jeito.

Eu sorri, mas não conseguia vencer o medo. Nossa outra parceira, Natália, também estava um pouco ansiosa. Assim como eu, ela era mais reservada e parecia não ser muito boa em jogos.

— Nervosa? - perguntei, puxando conversa.

— Muito - ela respondeu, com um sorriso tímido - Essa casa me dá arrepios. Quero vencer, mas também gostaria de sair logo daqui - ela confessou, esfregando os braços com as mãos, como se estivesse com frio, mas acho que era só ansiedade mesmo.

— Sei como você se sente...

— Já falei para não se preocuparem - disse Max, ouvindo nossa conversa - O medo nunca é bom, lembrem-se sempre disso.

 Para ele era fácil de falar, mas eu não conseguia disfarçar o que estava sentindo. Gostaria de fazer algo de útil para o meu grupo, mas até agora só fui um peso morto. Não tinha boas ideias e, mesmo que tivesse, duvido que dariam certo. Nunca venci nada na vida. Provavelmente seria o primeiro eliminado se Max não estivesse na casa também. Graças a Deus ele estava do nosso lado. Mas isso não era motivo para ficar calmo, porque outra pessoa tão boa quanto ele também estava na casa e estava disposta a acabar com a gente. Seu nome era Eva.

— E agora, Eva? - perguntou Taís, a garota mais linda da casa (embora todas ali fossem bem bonitas) - Estamos com apenas três créditos...vai ser difícil sobreviver ao próximo jogo.

— Acalme-se - disse a inteligente Eva, sorrindo tranquilamente - Você está muito ansiosa...nós ainda nem sabemos como vai ser o próximo jogo.

— Ela tem razão de estar ansiosa - disse Perla, a advogada e dona de uma beleza negra fantástica - Créditos são essenciais para manter os grupos.

— Eu sei disso - respondeu Eva, com um sorriso meigo - Mas tudo vai depender de como serão as próximas regras.

— Ai, que raiva...eles não vão anunciar logo esse próximo jogo, não? - perguntou Aline, a espevitada da casa, pertencente a um terceiro grupo que disputava conosco - Já tô cansada antes mesmo de começar!

— Que jogo eles vão propor agora? - perguntava Alípio, o líder desse outro grupo e o mais velho da casa - Seja o que for, temos que começar a agir logo.

— Como assim? - perguntou Giovani, o gordinho.

— Até agora fomos usados pelos outros dois grupos para seguir a estratégia deles - disse Alípio, pensativo - Mas agora nós temos mais poder. Temos todos os membros no grupo e uma quantia razoável de créditos. Somos o time mais equilibrado.

— Exato. Temos que usar isso a nosso favor - completa Valéria, a outra mulher mais experiente da casa.

— Precisamos aproveitar nossa situação para tomar o controle nesse próximo jogo. Caso contrário, vai ser uma questão de tempo para os outros dois nos tirarem logo daqui.

— Você acha? - perguntou Aline - Até agora o grupo do Demian ajudou bastante a gente.

— Ajudou entre aspas, não é? - comentou Valéria, cruzando os braços, em um tom cético - Foi só porque precisava da gente para atingir a Eva. Nós somos peões do jogo de xadrez daqueles dois. Precisamos mostrar que também estamos jogando para valer.

— Exato. Vamos ver quais são as regras desse jogo e decidir como agir - complementou Alípio.

Apesar da demora, logo a música circense de sempre começa a tocar e Pitre se apresentou. Ele aparece no topo das escadarias que levavam ao segundo andar e cumprimenta a todos.

— Muito bom dia, meus queridos! Estão prontos para nossa próxima brincadeira? Uhuhuhu! - ele ria. Estava usando uma roupa diferente dessa vez, com mais predominância no verde, mais ainda usava a mesma máscara de palhaço.

— Vamos logo com isso - disse Alípio, que, assim como quase todo mundo ali dentro, não estava levando nada na brincadeira.

O palhaço, mais uma vez, desceu as escadas dando vários cambalhotas (não tente isso em casa), até chegar a nossa frente com um sorriso sinistro.

— Que seja - disse ele, adorando nossa ansiedade - Chega de suspense, então. Iniciaremos nosso próximo jogo: o Jogo da Colheita!

Jogo do Colheita...o que seria isso agora?

— Colheita? - perguntou Taís - Mas eu não sei nada sobre jardinagem ou agricultura...

Pitre riu da inocência dela.

— Não se preocupe, senhorita Taís. Não pressupomos nenhum conhecimento prévio de agricultura. Será algo bem mais simples - respondeu Pitre.

Enquanto ele falava, os outros criados distribuíam para cada um de nós alguns pequenos vasos de cor marrom. Na verdade, não tinha terra ou nada parecido dentro deles, mais pareciam algum tipo de dispositivo eletrônico, apenas o formato lembrava um vaso. Ao invés de terra, víamos um tipo de tela de cristal líquido, não muito grande, na parte superior do vaso. Eles eram leves e não deviam ter mais que dezoito centímetros de altura.

— Que bonitinho - comentou Aline, ao receber seu vaso. Pitre também pega um vaso de exemplo e começa uma explicação.

— Todos vocês acabam de receber um pequeno vaso, certo? Esse vaso, na verdade, tem um sistema tecnológico avançado que será de extrema importância para esse jogo. Todos receberam um?

Todos responderam afirmativamente. O palhaço continua a explicação das regras.

— Percebam que, bem aqui na borda do vaso, tem uma entrada semelhante a conexão de seus contadores, certo?

Olhei para o vaso e, realmente, tinha um.

— Isso porque esse vaso é compatível com o sistema dos contadores.

— Então ele acumula créditos? - perguntou Valéria.

— Não - respondeu Pitre - Acontece que seus contadores possuem outra função além de acumular créditos.

— Qual? - perguntou Aline.

— Nesse jogo, ele também servirá como recipiente de sementes.

— Hã?! - estranhou Aline, com uma cara que também era maioria em todos os presentes.

— Calma, não exatamente frutas e sementes reais. São frutas e sementes que vocês usarão no jogo.

— Como assim? - perguntou Alípio.

— No início do jogo, todos vocês deverão escolher uma cor de semente a ser distribuída por nossos empregados. Vocês podem escolher uma semente verde ou amarela.

Pitre mostra no telão presente na parte superior da sala, os tipos de sementes.

— Nos seus contadores está instalado um sistema de reconhecimento de sementes. A semente pode ser verde ou amarela, como podem ver no telão.

Víamos claramente. Pitre pede que um dos criados passe uma semente amarela em seu contador de amostra. Agora, ele mostraria a parte mais interessante.

— Bem, eu peguei uma semente amarela. Agora, se eu conectar no vaso...

Ele conecta o contador no vaso que, automaticamente, mostra no telão a mesma imagem do contador mostrando que havia uma semente amarela.

— Como podem ver...o vaso reconheceu que há uma semente amarela no contador.

— Que legal! - exclamou Taís, toda empolgada.

— Agora entra a parte interessante do nosso jogo - dizia Pitre, com uma voz mais sinistra - Como podem ver, a tela do vaso também mostra uma pergunta, não?

A tela dizia "Plantar?" e dava duas opções: Sim ou Não.

— Se escolherem plantar, acontece isso.

O palhaço toca na opção Sim e a tela muda para a imagem de uma semente enterrada. O tela do vaso era sensível ao toque.

— Como podem ver...agora tenho uma semente amarela plantada - ele continuava explicando - Agora, vocês não podem colocar outra semente no vaso.

—Ele só suporta uma semente? - perguntou Alípio.

— Exato. Apenas uma - respondeu Pitre - Vocês podem trocar o tipo de semente que desejam antes de plantar. Nesse caso, basta escolherem "Não". Daí, o sistema vai perguntar se querem deixar a semente no vaso ou colocar de volta no contador.

— Tá. Entendemos - disse Valéria, cruzando os braços - Mas o que tem demais em plantar?

— Aí é que está...a parte principal do jogo. Sua semente pode germinar ou não.

Todos continuavam ouvindo.

— Vai depender da estação do ano - ele terminou. Todos fazem cara de interrogação.

— Como assim estação do ano? - perguntou Alípio - Isso aí é novidade.


— Huhuhuhu! É aí que entra a Regra da Estação - respondeu Pitre.

— Regra da Estação? - perguntou Perla.

— Exatamente. Nosso jogo será, mais uma vez, separado em dez rodadas. Em cada rodada, uma pessoa deverá ser eleita para escolher qual será a estação da rodada.

— Mas... - estranhou Taís - Como as estações podem influenciar no jogo?

— É o que vou explicar agora - o palhaço continuava - Como todos devem saber, existem quatro estações: Primavera, Verão, Outono e Inverno. Dependendo da estação que a pessoa eleita escolher, as sementes plantadas serão influenciadas.

— Como assim? - pergunta Taís.

— Dessa forma - disse Pitre, estalando os dedos e fazendo aparecer a relação de estações no telão. Cada estação mostrava uma cor de semente na frente do nome.

Primavera: Amarela e Verde.
Verão: Verde.
Outono: Amarela.
Inverno: Nenhuma.

— Em resumo - disse Pitre - Na Primavera, qualquer semente germina. No Verão, apenas sementes verdes germinam. No Outono, apenas Amarelas. No Inverno, nenhuma germina.

— Aaah - exclamou Taís - Então sua semente pode germinar ou não?

— Isso mesmo. As sementes podem gerar frutas correspondentes às suas cores. Vocês entenderão melhor com um exemplo. Por favor, dirijam-se a essa urna eletrônica aqui do lado e selecionem uma pessoa para escolher a estação.

Havia uma urna eletrônica igual à usada no último jogo com os nomes de todos. "Droga", pensei comigo, "Nosso grupo está em minoria. Já não podemos selecionar as estações"

Há um empate entre Eva e Alípio de quatro votos. Pitre anunciou um segundo turno.

— Em caso de empate...faremos um segundo turno. Em nosso jogo, só uma pessoa pode selecionar a estação. Votem de novo, mas apenas nesses dois nomes.

Nessa hora, Alípio vence e Pitre pediu para que ele selecionasse uma estação.

— Muito bem, senhor Alípio - disse o palhaço - Selecione uma das quatro estações para concluir a rodada.

— Certo... - ele diz - Muito bem, escolho...Outono.

— Outono! - repetiu Pitre - Muito bem. Pode voltar, senhor Alípio. A estação escolhida foi Outono.

Pitre anunciou isso em bom tom e, não demora muito para a semente na tela revelar uma árvore com um tipo de fruta. A tela dizia: "Sua semente germinou e gerou uma fruta. Deseja colhê-la?". Havia as opções "Sim" ou "Não".

— Caso escolham "Sim" - dizia Pitre - Vocês acumulam duas frutas Amarelas no vaso e podem plantar uma nova semente na próxima rodada. Caso escolham "Não", a árvore continuará lá e vocês não poderão plantar nada.

— E pegaremos outra semente com vocês? - perguntou Aline.

— Não - disse Pitre - Só daremos as sementes no começo do jogo. Caso a semente que vocês pegaram dê frutos, você pode fazer duas coisas com essa fruta. Vejam.

Pitre mostra que na parte superior da tela de colher o fruto tem duas opções Guardar ou Tirar Semente.

— Depois de colher o fruto, se escolherem guardar, ele será salvo na memória do vaso. Caso escolham "Tirar Semente", vocês ganham outra semente da mesma cor da fruta para plantar em alguma rodada futura.

— Em resumo, só teremos a semente da cor que plantamos no começo, não é? - Alípio perguntou.

— A princípio, sim. Mas nada impede que troquem de semente entre si.

— Hã? - perguntei.

— O contador de vocês tem três botõezinhos, não é? A partir de agora, vocês podem olhar na tela do contador para escolher se querem transferir créditos ou sementes.

— Não tinha essa opção antes - observou Giovani.

— Não - explicou Pitre - Instalamos o aplicativo via wireless enquanto vocês dormiam. Nossa empresa tem tecnologia de ponta.

"Quanto dinheiro só para criar um jogo besta desses?", pensei comigo, "Talvez eu ainda tenha pensamento de pobre, mas...que é muita grana, é."

— Outra pergunta...e se ele tivesse escolhido uma estação onde sua semente não germinaria? O que teria acontecido? - perguntou Valéria.

— Nesse caso, a semente morreria e eu não ganharia nada.

— Mas afinal...quem ganha esse jogo? - perguntou Eva.

— Bem. No final das dez rodadas, nosso sistema irá contabilizar quantos frutos cada um de vocês tem estocado no vaso. Cada fruto que vocês tiverem no fim do jogo valerá três créditos. De qualquer forma, cada um de vocês terá que pagar vinte créditos se não quiserem ir para a sessão de votos.

— Peraí, você disse pagar? - perguntou Alípio.

— Uhuhuhu! Sim...desde o começo, vocês estão cientes de que nem todas as sessões de votos serão tão simples. Exatamente. Agora não basta apenas ter os créditos para vencer. Todos vocês precisarão pagar a quantia necessária para se imunizar.

"Tsc", pensei, "A cada jogo as regras ficam mais rigorosas".

— Mas esses créditos não precisam vir das frutas acumuladas - disse Pitre - Podem usar os créditos que possuem acumulados até agora. Caso haja empate, mais uma vez, aqueles que puderem pagar mais terão prioridade, mas um de vocês terá que sair.

 Parece que vi o grupo de Eva suar frio. Elas só tinham três créditos. Teriam que se virar para ir bem nesse jogo. Algo me diz que, dessa vez, quem vai sair é alguém do grupo delas. Espero.

— Sendo assim...venham até nossos criados e escolham suas sementes. Chamaremos a primeira estação em uma hora.

 - Que cor eu pego? - pensei alto. Ainda bem que Max estava lá.

— Eu pego uma verde e você uma amarela - ele disse - Vai ser ruim se todos nós pegarmos a mesma cor, não é?

— É - concordei. Sim. Precisaríamos de cores diferentes para o que viria a seguir. Afinal, por sermos o grupo mais desfalcado, não poderíamos escolher as estações.

— O que a gente faz, Eva? - perguntou Perla.

— Peguem todas a cor verde - ela respondeu, com um sorriso confiante.

— O quê? - estranhou Perla - Mas e se...

— Confiem em mim - ela sorria mais uma vez - A gente vai se dar bem nessa!

O que ela estaria planejando?


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