Capítulo 14 - Conspirações

        Eva pediu para Yumi fechar a porta e começou sua reunião. É óbvio que cada grupo tinha seus próprios personagens e teriam que planejar o que fazer. Só esperava que elas não tivessem a maioria do poder Assassino e um Demônio. Que personagens elas teriam?

        - Bem - iniciou Eva - Digam sem enrolar...quais são os personagens de vocês?

        - Civil - respondeu Taís.

        - Civil também - disse Yumi.

        - Sou Assassina - disse Perla.

        A flautista sorriu e comunicou:

        - Bom...eu também sou Assassina!

     - Então temos duas Civis e duas Assassinas. Parece bem equilibrado - comentou Taís sorrindo.

      - Exatamente. Equilibrado até demais. Não importa que lado vença, o negro ou o branco, duas de nós terão que ir para o paredão de qualquer jeito - disse Eva.

         - Mas isso não é problema pra gente. Afinal, temos o necessário para passar, não é? - disse Perla, sorrindo e mostrando o pulso - No total, ganhamos vinte e quatro créditos do segundo jogo, não é?

          - Exatamente. E só precisamos gastar catorze deles para salvar as duas de nós que irão para a forca - completou Yumi.

          - Catorze no mínimo - disse Eva - Se houver empate, teremos que desenbolsar mais.

          - Bah...isso não é problema - continuou Yumi - Já fiz as contas..o grupo de Demian tem sete créditos e o grupo do tiozinho tem só dois créditos sobrando. Estamos tranquilas.

           - Mas eles podem ganhar mais nesse jogo: um crédito por sobrevivente a cada rodada. E também não sabemos quais são os personagens dos outros grupos, não é? - disse Eva.

           - Não - disse Perla, pensando com a mão no queixo - Poderíamos ter uma pista se tivéssemos o Detetive do nosso lado.

           - Pois é - Eva continuou - Mas temos uma vantagem...dois dos três Assassinos estão do nosso lado.

           - Isso é...mas quem será o último Assassino? - perguntou Taís.

           - É o que vamos descobrir na primeira rodada - continuou Eva, confiante e com um sorriso malicioso - Dependendo de quem for, será nosso aliado nesse jogo.
    
           - Hã? Como poderemos nos aliar com outra equipe? - perguntou Taís.

           - É uma aliança temporária - explicou a magrinha líder - Embora a casa tenha se dividido em três facções, é possível juntar forças com outra para eliminar a terceira.

           - Aaah...mas duvido que algum deles queira se aliar com a gente - comentou a loirinha.
    
            - Imagino o motivo de você achar isso...mas vou perguntar mesmo assim...por quê? - perguntou Eva, cruzando os braços, curiosa em saber o pensamento da garota.

           - Bem, somos odiadas por todos os outros, não? Eles querem nos ver fora daqui o quanto antes.

           - É...mas nós temos algo que interessa a qualquer um deles - disse Eva.

           - O quê? - questionou Taís.

           - Créditos...a moeda de troca dessa casa - ela respondeu - Em resumo, somos a nação mais rica desse planeta chamado Casa dos Jogos. Podemos comprar a ajuda de qualquer um deles. O jogo está em nossas mãos.

           - Comprar? Mesmo do grupo do Demian? - perguntou Perla - Você não lembra que ele declarou guerra contra você?

           - Heh! Mas é uma aliança temporária - respondeu a líder - Demian é inteligente o bastante para entender que precisa de créditos para continuar vivo nessa casa.
    
           - E quanto de créditos podemos oferecer? - perguntou Yumi.

        - Isso depende do quanto eles estiverem dispostos a negociar. Na verdade, só teremos uma certeza absoluta de como agir na hora da primeira rodada. Mais precisamente, no despertar dos Assassinos.
    
           - É a hora que vamos escolher alguém para eliminar, não é? - comentou Taís.

           - Sim - disse Eva - Nessa hora, vamos saber quem é o terceiro Assassino e como podemos negociar com ele.

           - Quem poderia ser? - se perguntava Perla.

           - Com certeza, ou será alguém do grupo de Demian ou do outro. Seja quem for, teremos que negociar para prejudicar o outro grupo.

           - É - concordou Taís.

           - E tem mais um ponto muito importante.

           - Qual? - perguntou Perla.

           - O Demônio - respondeu Eva - Existe um quarto assassino em potencial que pode eliminar qualquer jogador a qualquer momento. Assim como o úlitmo Assassino, ele deve pertencer a um dos outros grupos.

           - Nesse caso - comentou Yumi - A melhor opção seria se o Demônio estivesse do mesmo lado do terceiro Assassino. Nesse caso, obrigatoriamente a última equipe só teria personagens do lado branco, né?

           - E o melhor de tudo...uma equipe assim precisaria de vinte e oito créditos para se imunizar. Coisa que nenhuma das outras duas tem, não é? - completou Eva - Isso seria perfeito!

           - Então nossa estratégia é essa: se unir a equipe do terceiro Assassino. É isso? - perguntou Taís.

           - Sim. Pelo menos na primeira rodada podemos garantir uma eliminação. Essa eliminação vai depender de qual equipe estiver do nosso lado. Mas...
        
           - Mas o que, Eva? - perguntou Perla.

           - É muito provável que eu morra logo na primeira rodada.

           Taís se assustou e perguntou.

           - Por que? Como você pode ter tanta certeza? 

           - A resposta é o mesmo motivo pelo qual você acha que ninguém se aliaria a gente - respondeu Eva - Se as outras equipes realmente nos odeiam tanto, a que possuir o Demônio, sem sombra de dúvida, vai querer eliminar a mim, a líder do grupo, logo no começo. Não estranhem se eu morrer logo no começo.

            - Puxa..é verdade - concluiu Taís, com a mão na boca, espantada - Se o Demônio pode matar qualquer um de cara...se ao menos o Anjo tivesse do nosso lado.

             -  Ah, é verdade. Também tem a questão do Anjo. Se a equipe que não for nossa aliada tiver um Anjo pode ser mais difícil de eliminar.

             - Mas não podemos ter muita certeza antes da primeira rodada, não é? - pergunta Yumi, esperançosa.

             - Sim. Isso mesmo. Vamos esperar a primeira rodada. No Despertar dos Assassinos teremos a nossa resposta!

            Enquanto isso, a ultima equipe também fazia sua reunião. Alípio se senta e coloca a verdade a todos.

             - Espero que todos saibam que estamos em muita desvantagem! - desabafou o veterano com um suspiro - Só temos dois créditos.

             - Mas podemos ganhar mais se sobrevivermos, não é? - disse Giovani.

             - Sim. Se conseguirmos sobreviver. Eu, por exemplo, sou só um Civil. Quais são os personagens de vocês? - ele perguntou.

             - Também sou Civil. Não posso fazer nada, que chato! - respondeu Aline.

             - Mas eu sou Assassino! - disse Giovani - Posso ajudar na eliminação por assassinato!
    
             - E eu também - respondeu Valéria - Sou o Demônio.

             - Nossa...é tão assustador falar isso. Cruz credo! - disse Aline, fazendo o sinal da cruz.

             - É só um jogo, Aline - comentou Valéria.

          - Só um jogo, sei...mas, sei lá, aquele palhaço doido lá...não ia me admirar que essa Casa dos Jogos seja coisa do capeta.
    
             - Gente, por favor, vamos focar! - bronqueou Alípio - Tudo bem...então temos um Assassino e um...ei, espere.
    
             - Que foi, seu Alípio? - estranhou Aline.

             - Você disse que é...o Demônio, Valéria? - perguntou o veterano líder.

            - Sim, senhor - confirmou a empresária - Posso eliminar qualquer pessoa desde que ela não seja um Anjo e também não posso ser eliminada por Assassinos. Só posso ser votada.

             - Hmm...isso é bom...ideal seria se tivéssemos um Anjo do nosso lado. Ele poderia te proteger. Mas ainda assim é uma vantagem tê-la do nosso lado. Já podemos enfraquecer uma equipe logo no começo.

              - Quem vamos enfraquecer? - perguntou Aline.

              - Isso é óbvio! A equipe das traidoras! - respondeu Alípio.

              - Ah, é. Aquelas lá - balbuciou Aline.

              - Valéria. Você pode eliminar Eva logo na primeira rodada, não pode? - perguntou Alípio.

              - Posso - respondeu a empresária - A menos que ela seja um Anjo ou seja salva por um.

              - Tudo bem, mas não custa tentar. Se Eva não morrer, significa que tem um Anjo no grupo dela. Já ganhamos uma informação a mais.
        
              - E eu, faço o quê? - perguntou Giovani, enquanto saboreava um pacote de batata-frita.

              - Bom, é que no seu caso vai depender de quem for os outros Assassinos - disse Alípio, pensativo - Temos três possibilidades...

              A) Os outros dois Assassinos serem do grupo de Eva.
        
              B) Os outros dois Assassinos serem do grupo de Demian.

              C) Ter um Assassino no grupo de Demian e um do grupo de Eva.

              - Hmmm - gemeu Giovani, enfiando mais batatas na boca, para nojo das garotas presentes - O que eu faço em cada uma delas?

              - Se os dois forem do grupo de Demian ou, pelo menos um deles for, não hesite. Apoie o grupo de Demian.

              - Sério? - perguntou Valéria - Isso não pode ser prejudicial depois?
    
            - Sim, mas é necessário por agora - respondeu Alípio - Por mais estranho que pareça, precisamos escolher um dos outros dois grupos para nos unir e eliminar o outro.

              - E é melhor escolher o grupo do Demian, não é? - perguntou Aline - Vocês não viram a raiva que ele tava da Eva?

              - Exato. O grupo de Eva é o mais forte. A escolha mais racional é nos unirmos a Demian para eliminá-la...por outro lado...

              - Por outro lado? - repetiu Valéria.

            - O grupo de Eva tem muitos créditos sobrando, não é? - relembrou Alípio.
        
               - Vinte e quatro pelos meus cálculos - disse Valéria, prontamente.

              - Se ocorrer a hipótese A, dos outros dois Assassinos forem do grupo da Eva, é possível que elas tentem nos comprar.

              - Por quanto? - perguntou Giovani.

              - Bem, se nós temos um Demônio e um Assassino, e elas terão duas Assassinas, logo, elas obrigatoriamente terão que guardar catorze créditos para se salvar.

              - Que nem a gente - comentou o gordinho.
            
             - É. Daí elas podem oferecer algo dos dez que sobraram para elas. Mas elas também podem pensar em outra coisa. De qualquer forma, esteja aberto à proposta das duas se for esse o caso.

              - Tá - respondeu Giovani.

              - De qualquer forma, precisamos nos virar do avesso para conseguir no mínimo mais doze créditos. Caso contrário, um de nós quatro vai ter que deixar a casa.

              - Ai, não - se chateia Aline - A gente tem que dar um jeito.

              - Tudo bem...vamos ver no que vai dar a próxima rodada... - suspirou Alípio.

              E assim o dia passa. Nenhum dos participantes parecia estar falando muito com pessoas que não fossem de seu grupo. Ninguém parecia estar disposto a revelar a própria identidade, é claro. Esse é um jogo onde a omissão e a discrição eram fundamentais. Mesmo assim,  teríamos que nos comunicar em algum momento e Demian estava bem confiante. Após uma longa espera, Pitre nos invoca para a primeira sessão de Cidade Adormecida.

               - Muito bem, meus queridos. Uhuhuhu! - gritava o megafone da casa - Por favor, dirijam-se todos para o jardim. Iremos iniciar nossa primeira rodada de Cidade Adormecida.

               Entramos pela passagem secreta e seguimos todo o procedimento. Ao entrar em minha cabine, a porta se fecha rapidamente. Etapa de Cidade Adormecida. Estava escuro, silencioso e, não, não dava para ouvir o menor ruído do lado de fora. O que estaria acontecendo? Bem, só saberia no final da rodada, ou se o chão embaixo de mim se abrisse do nada (isso seria o sinal de que eu morri. Talvez não tenha descrito as cabines com detalhes, mas elas eram pequenas, tanto quanto um box de banheiro). Logo o despertar dos Assassinos se iniciaria.

             - Muito bem...próxima etapa. Despertar dos Assassinos! - dizia Pitre do lado de fora.

               As portas se abriram e os Assassinos se revelam. O que eles irão negociar?