Training days escrita por Nati Miles


Capítulo 10
Eu te venci!




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Ser uma adolescente com paixonite pelo melhor amigo às vezes era bem chato, na visão de Uraraka. Apesar do acontecimento há cerca de uma semana, ela não conseguia evitar ficar observando e pensando em Deku. O cabelo verde levemente encaracolado, os olhos da mesma cor que prestavam atenção em cada palavra dita durante a aula, a maneira como ele murmurava sozinho enquanto fazia anotações importantes, a determinação em sempre melhorar...

Ela seria ainda melhor. Ela o faria perceber que ela poderia ser tão boa quanto ele — ou até melhor, por que não? Bateu no chão do ginásio irritada, não poderia mais perder. Estava na hora de parar de pensar apenas em Deku e focar no treino pra ganhar.

— De novo! — Uraraka gritou, levantando-se do chão.

Ela se posicionou novamente, um sorriso determinado no rosto. Não se importaria com o corpo já dolorido, com o suor que começava a fazer sua roupa grudar e nem por ser a quinta vez seguida que perdia. Não ficaria satisfeita enquanto não fizesse um estrago no chão com Bakugou. Ele também sorria, mas de uma maneira um pouco mais macabra, enquanto também se posicionava novamente e esperava pelo ataque.

Uraraka correu em direção ao garoto, desviando de um golpe que ele jurava ser certeiro. Ela ativou a gravidade zero em si mesma e deu um salto por cima dele, liberando a individualidade e acertando um chute nas costas de Bakugou, que caiu no chão tão impressionado que não percebeu quando uma mão aparentemente delicada tocou seu tornozelo descoberto.

— Puta que pariu! — Ele tentou se segurar pelo chão, mas não tinha nada. Quando percebeu, estava flutuando alguns metros acima da garota. — Cacete, Uraraka, eu vou te matar!

— Eu consegui! — Ela ria feliz, fazendo uma dancinha infantil. — Eu te venci, Bakugou-kun! E agora, o que eu ganho?

— Ganha um soco na cara, imbecil! — Ele se debateu para tentar descer, mas sentiu que apenas o fez subir mais.

— Que maldade!

O garoto sentiu o sangue ferver ainda mais com a risada que ela dava. Esticou os braços pra trás e soltou a maior explosão que conseguia, o fazendo ir em direção ao chão. Ele só não contava que enquanto a xingava de todos os palavrões que conhecia, ela juntava as mãos e o liberava. Resultado: Uraraka tentou desviar, mas Bakugou ainda a acertou no braço esquerdo e agora os dois estavam jogados no chão, sentindo cada centímetro do corpo doer.

— Mas você é uma imbecil — ele reclamava, enquanto rolava pro lado e se sentava.

A garota soltou um gemido de dor quando tentou se sentar também, captando a atenção dele. Uraraka nunca era de ficar reclamando quando estavam treinando. Estreitou os olhos na direção dela, percebendo que algo não estava certo. Ela havia tentado se levantar de novo, mas uma careta e um resmungo abafado de dor denunciavam que ela não havia conseguido.

— Bakugou-kun — ela chamou com a voz estranha, estendendo a mão direita para ele. — Pode me ajudar?

Ele não respondeu nada. Apenas se levantou e pegou na mão dela, a puxando para ficar de pé também. Ela abaixou a cabeça e apoiou com a mão direita no ombro dele. Agora que ela estava de pé, estava perceptível que algo realmente estava errado: seu ombro esquerdo estava com um hematoma enorme e claramente fora do lugar.

— Uraraka?

— Eu acho que aconteceu alguma coisa.

— Pois eu tenho certeza — ele respondeu com o cenho franzido. — Vamos, você precisa ir até a Recovery Girl.

A morena assentiu e começou a caminhar ao lado do garoto. Bakugou ficou em dúvida se oferecia um apoio, porque ela parecia estar conseguindo andar sozinha sem problemas, mas por outro lado, ela estava estranhamente quieta e abatida. Talvez por conta da dor...

— Bakugou-kun? — ela o chamou, parando de andar um pouco e o fazendo acordar dos pensamentos. — Eu posso me apoiar em você? Meu corpo todo está incrivelmente dolorido.

Ele não respondeu, apenas se aproximou mais e ela entendeu que era um sim. Uraraka apoiou a mão no ombro dele, que a puxou para que ela passasse o braço por sua nuca. Estava acostumado a ajudar Kirishima de vez em quando, mas a diferença de altura entre eles era mínima. Entretanto, a garota não parecia estar desconfortável, então apenas a ofereceu apoio na altura da cintura e prosseguiram a caminhada em direção à enfermaria.

Os dois chegaram em pouco tempo. Bakugou ajudou a colega a sentar-se em uma das macas, sendo mais cuidadoso do que o normal com ela.

— Fica aí que eu vou chamar a Recovery Girl — ele pronunciou, um tom de voz levemente preocupado.

— Como se eu fosse pra algum lugar.

Bakugou mostrou o dedo do meio e Uraraka riu, tentando se ajeitar melhor na maca enquanto esperava o amigo voltar. Em pouco tempo, lá estava ele com a enfermeira em seu encalço.

— Vocês garotos não têm limites — a enfermeira reclamava, enquanto entrava na sala. — Qual o seu nome mesmo, querida?

— Ahn... Uraraka Ochako...

A enfermeira se aproximou e analisou o braço da garota, fazendo perguntas e apertando em alguns pontos próximos. Os dois apenas se olhavam e ficavam em expectativa esperando que ela falasse alguma coisa.

— Desculpe, Recovery Girl. — A morena sorriu. — Estávamos treinando e eu acabei tendo um pequeno descuido.

— Pelo que pude perceber, você deslocou o seu ombro. Não precisa ser um gênio para perceber isso. Bom, para sua sorte, parece ter sido apenas o ombro. Nada que um beijinho não resolva! Mas recomendo que não faça muitos esforços com esse braço por uns dois dias.

A garota suspirou aliviada. Estava aflita de ter quebrado alguma coisa, mas ao menos era algo fácil de ser consertado pela enfermeira. Sentiu um beijo em sua bochecha e logo as dores de todo seu corpo começaram a desaparecer gradualmente, dando lugar a um cansaço.

— Pronto, nova em folha. — A enfermeira sorriu. — Peço que fiquem aqui por mais alguns minutos, até o Aizawa chegar.

Uraraka franziu o cenho enquanto a encarava. Sabia que o professor acabaria sabendo e achava que ela mesma teria que contar a ele, então ficou surpresa em saber que ele já estava a caminho.

— A velha ligou pro Aizawa quando eu fui chama-la. — Bakugou, que estava ao lado da maca, de braços cruzados e em silêncio até então, se pronunciou ao ver a confusão no rosto da amiga. — A sala dela é literalmente aqui do lado, acha que demorei por que sou lerdo, caralho? Tive que falar nossos nomes e turma, pra essa velha ligar pra ele.

Não demorou muito para o Aizawa-sensei chegar na enfermaria. Sua expressão não era das mais amigáveis, mas bem... Nunca era mesmo. Após contarem todo o ocorrido e Uraraka ter assegurado ao professor que havia sido um acidente durante um treino, puderam voltar a seus respectivos dormitórios.

Nenhum dos dois ficou encrencado, pois o ginásio era aberto para os alunos reservarem horas e treinarem quando quisessem, desde que estivessem de volta a seus quartos antes do toque de recolher. E como ainda faltavam alguns minutos para que o toque de recolher começasse, acabaram se livrando da detenção. E bem... Aizawa não tinha muito a dizer, após ter ficado claro que era realmente um acidente, pois eles não estavam fazendo nada de errado. Talvez seja isso que tenha o deixado mais puto da vida enquanto voltava para seu quarto.

 

xxx

 

Uraraka não teve dificuldades em pegar no sono, talvez pela energia gasta para curar seu ombro deslocado, ela estava exausta. E por ter dormido razoavelmente cedo, acordou um pouco mais cedo que o de costume, mas não se importou. Levantou-se sem pressa e foi fazer sua higiene matinal, colocando seu uniforme e indo para o térreo.

Alguns alunos já estavam acordados, e isso incluía Midoriya. A morena não se sentou com ele como costumava fazer antes, mas não pôde deixar de lhe lançar alguns olhares enquanto comia seu café da manhã com Jirou. Sabia que suas olhadelas estavam até indiscretas, mas o que poderia fazer? Abaixou a cabeça rapidamente quando percebeu que ele a encarava de volta, sentindo as bochechas esquentarem. Droga de paixonite.

— Ochako-chan — a garota lhe chamou, olhando para a mesa onde estava um esverdeado e depois para a amiga de novo. — Ainda está sem conversar com Midoriya?

— Sim… — Ela suspirou alto. — E isso é tão ruim, Kyouka-chan... Eu fiquei chateada com tudo que me falaram e acabei me exaltando um pouco, mas ninguém parece ter percebido quão chateada eu fiquei. Ninguém veio se desculpar ou ao menos dizer que estavam errados em me subestimar. Todos me tratam como se eu fosse uma criança frágil e eu não sou. Eu posso muito mais!

— Uau! Isso que é mudança de espírito. Mas eu meio que te entendo... É muito difícil gostar de um idiota — Dessa vez, a garota de fones quem suspirou, desviando o olhar para um grupo que acabava de chegar na cozinha, mais especificamente um garoto loiro com raios nos cabelos.

As duas amigas terminaram seus respectivos cafés e foram juntas para as aulas, conversando sobre outras banalidades.

A manhã passou até que bem, se alguém a perguntasse. As aulas teóricas não estavam tão ruins e apesar de não poder participar da aula prática, pois Recovery Girl havia lhe dado um atestado de dois dias, havia sido divertido poder apenas observar os amigos sem a preocupação de como se sairia na sua vez.

Estavam em hora de almoço agora e Uraraka pegava sua comida enquanto olhava ao redor e procurava onde poderia se sentar. Tsuyu estava com as garotas, então ela não queria sentar ali, porque não queria causar um clima desconfortável por conta do desentendimento que teve com a amiga. Rodou mais um pouco, até avistar uma cabeleira ruiva lhe acenar freneticamente. Sorriu e foi em direção à mesa em questão.

Poderia não estar conversando com os seus amigos ultimamente, mas com certeza não se sentia sozinha. As garotas, tirando Tsuyu, ainda conversavam com ela e os amigos de Bakugou pareciam bem abertos a recebê-la como nova membra do grupo, o que era até reconfortante. Apesar das idiotices de Kaminari, ela se divertia quando estava com eles. Era como se fosse mais fácil ser ela mesma, pois todos a tratavam como igual, não como uma boneca frágil e indefesa — principalmente depois de ficarem sabendo o que fez com Kirishima no treino.

— Oi, pessoal — ela cumprimentou enquanto se sentava com o novo grupo.

— E aí, Uraraka! — Sero a cumprimentou de volta.

— Mas até no meu almoço eu vou ter que ficar te olhando? — Uma voz irritada soou ao seu lado e ela nem precisava virar para saber quem era.

— Não fale assim com nossa nova amiga! — Kaminari fingiu brigar. — Não se preocupe, Uraraka-chan!

— Menos, Denki — Sero deu risada. — Bem menos.

— Vocês já estão estudando para as provas? — A garota ignorou os dois loiros.

— Vamos começar hoje! Bakubro vai dar uma ajuda pra gente. — O ruivo, que estava ocupado demais devorando o almoço, finalmente se pronunciou.

— Pode estudar com a gente de novo se quiser, Uraraka-chan! — Kaminari falou animado. — Até porque você tem muito mais paciência.

— Eu estava mesmo querendo começar a estudar hoje também. Eu aceito!

— Maravilha! Nada de apanhar com livros hoje! — Kaminari suspirou aliviado.

— Pode deixar, Pikachu — o outro loiro o chamou num tom sombrio. — Eu te ajudo hoje. 

Kaminari fez uma careta e fingiu chorar, enquanto Bakugou o olhava ameaçadoramente e todos os outros riam.

O almoço logo terminou, assim como as aulas daquele dia. Uraraka novamente estava enfiada no meio do bakusquad, andando em direção aos dormitórios. A morena estava bem entre Kirishima e Bakugou, mas o segundo não conversava muito, apenas ouvia a conversa animada dos outros dois e revirava os olhos. Uraraka ria com o ruivo contando suas histórias de antigos treinos com o loiro explosivo, como ele literalmente explodia por qualquer coisa.

— Tudo isso porque ele não sabe perder, mas você deve ter percebido isso já. — O ruivo riu enquanto entravam na sala e se acomodavam ao redor da mesa de centro para estudar.

— Há, e como sei! — Ela riu alto junto. — Sei muito bem, já que alguém perdeu ontem e explodiu.

— É o quê, meu povo? — Kaminari, que havia se sentado ao seu lado, virou a cabeça tão rápido que estralou. Seus olhos estavam arregalados e sua boca aberta em choque.

Bakugou havia se sentado na frente de Uraraka e agora a fuzilava com o olhar, mas a garota não se importava. Ela riu mais ainda com a careta dele e mostrou a língua.

— Bakugou-kun saiu flutuando no treino de ontem — ela disse orgulhosa de si mesma.

— Eu queria muito ter visto a cara que ele fez! — Sero se manifestou, rindo junto.

— Vão se foder! — o loiro rosnou, mas ninguém se importou.

— E depois ele literalmente explodiu de raiva — a morena continuou, nem ligando para o olhar ameaçador do garoto.

— E foi por isso que você se machucou? — Kirishima perguntou curioso, fazendo a garota o olhar com o cenho franzido, claramente confusa. — Aizawa nos explicou apenas que você havia se machucado e não era nada grave, mas precisava de repouso por um tempo.

— Ele disse isso para todo mundo quando eu saí de perto? — Ela já imaginava o que seus amigos provavelmente estariam pensando nesse momento.

— Bem, sim... Mas só porque o Iida perguntou o motivo de você ir pra sala de câmeras.

— Que ótimo — ela murmurou, esfregando a mão no rosto.

A última coisa que precisava era que seus amigos encontrassem um motivo para acharem que estavam certos. Um motivo errado, ainda por cima, já que foi apenas um acidente e Bakugou não teve culpa.

— Bom, só pra te responder: foi um acidente. Bakugou-kun quis descer e ativou suas explosões pra tentar chegar ao chão. Eu não percebi e o liberei. Tentei desviar, mas nos trombamos e meu ombro deslocou.

— Ouch! — Kaminari fez uma careta. — Como pôde fazer isso, Bakubro?

— Você ouviu a parte do acidente, imbecil do caralho?

— Não se preocupe, Kaminari-kun. — Ela riu dos dois loiros. — Bakugou-kun me levou na Recovery Girl e agora estou ótima! Só não posso fazer muito esforço com esse braço por dois dias e por isso não pude participar da aula prática hoje. Mas já tô pronta pra outra! — Ela levantou o punho e sorriu confiante.

— Assim que se fala, Uraraka! — Kirishima disse, batendo seu punho fechado contra o da morena.

— Tá, tá, foda-se vocês. — O loiro revirou os olhos, batendo com os livros na mesa. — Vamos começar logo essa merda antes que eu exploda alguém!

Uraraka, Kirishima e Sero seguraram a risada, mas Kaminari vinha levando as ameaças de Bakugou bem a sério — principalmente depois da última vez que ele ameaçou e realmente o bateu com o livro.

Bakugou bufou alto e começou a ajudar os amigos. Ver Uraraka toda de sorrisinhos com seu grupo de amigos, principalmente Kirishima, que era seu melhor amigo, o deixava incomodado. E apesar de saber que Kaminari nutria um penhasco pela doida dos fones, sabia que o amigo não negava uma garota e estava cheio de gracinhas com ela. Não entendia direito o porquê e acabou se convencendo de que era receio dela estar sem amigos no momento e acabar o tirando do centro das atenções do grupo.

É, devia ser isso mesmo.


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