4 - Sentimentos!

PDV LUKE

Vê-la tão exposta, tão sensível, ali em minha frente, mexeu com tudo dentro de mim. Apos pega-la nos braços e colocá-la deitada na cama, fiquei e cantarolei uma canção de ninar qualquer.

Logo pude ouvi-la ressonando baixinho. Fitei seu rosto, ainda parecia torturada a sua expressão. Por estavas chorando? A duvida ainda martelava em minha mente... Limpei as lagrimas que já tinham escorrido.

Olhando bem, nao são tao parecidas assim... Lilith tinha os cabelos mais compridos, Annie os tem na altura dos ombros. E os de Lilith eram mais escuros, os dela é mais claros... "Qual a cor dos seus olhos Annie?" perguntei mentalmente. Eu teria que observar isso.

A temperatura pra mim estava ótima, mas percebi que a pequena Ann se encolhia mais e mais sobre minha perna. Tao misteriosa... e ao mesmo tempo, tao aberta!

Levantei-me com o devido cuidado de nao acordá-la. Puxei o edredom do lado oposto onde ela estava, afofei o travesseiro. Será que está bom? Peguei-a nos braços, que devo dizer que aparentemente, foi um local que ela gostou muito. Annie se aconchegou e escondeu o rosto na base de meu pescoço, me fazendo arrepiar. Sensações...

Deitei-a na cama novamente e a embrulhei. Ela soltou um suspiro aliviado. Eu nao queria sair dali agora... Acariciei sua face linda de marfim pintadinho, como são lindinhas as sardas que ela tem! Deliciei-me vendo-lhe dormir tao tranquilamente.

Me ajoelhei ao lado da cama, ficando mais próximo dela. Inspirei profundamente... seu cheiro adentrou minhas narinas! Tao suculento... Cheirosa como... como o que? Cacau? Nao... mais complexo... Vinho com... tem mais um cheiro... pêssego? Exatamente! Vinho com pêssego... Altamente deliciosa...

Eu estava controlado, estava ciente que nao cometeria nenhum erro imprudente HOJE. Ela se remexeu nos lençóis e parou, foi o bastante para me deixar tenso.

-Porque? - murmurou. Ela estava sonhando?! - Nao pode fazer isso comigo...

Sim, estava sonhando! Nao era justo que ficar ouvindo algo tao intimo dela... Mas a curiosidade me corroia que chegava a doer! Tecnicamente... ¬¬

-Lu, nao... - sussurou. Quem é LU?? - Por favor...

Quem é Lu? Senti um sentimento estranho se apossar de mim. Raiva, ódio... tudo misturado dentro do meu ser. Minha face nao devia ser a da melhor aparência... Me levantei para ir embora, mas...

-Nao, por favor, nao vá! - sussurou tristemente. Senti como se fosse comigo e isso me amoleceu. Voltei e me sentei na cama, para velar seu sono.

-Porque não consigo ir embora? - perguntei a mim mesmo em voz alta.

Passei a costa da mão pelo o rosto angelical de Annie. Estava molhado... Ela chorou? Isso fez meu coração se apertar e ficar do tamanho de uma ervilha. Me senti um inútil...

[...]

05:47AM

Eu estava inquieto no meu quarto. Só meu corpo estava ali, minha mente onde estava? No quarto ao lado... deixá-la sozinha foi como se eu tivesse arrancado meu rim com uma colher!

Entrei no banheiro, tirei as roupas e entrei embaixo do chuveiro. Nao me movi, apenas deixei a água escorrer pelo meu corpo. Preguiçosamente, comecei a massagear meu couro cabeludo e...

TRIM TRIM TRIIIM

Saco, quem me liga agora? Desliguei o chuveiro, peguei a toalha e sai do box me secando. Diabos... quem me ligaria em pleno as 5:00hs da manha?

TRIM TRIM TRIIIIIM

Amarrei a toalha na cintura e caminhei ate o criado mudo. Peguei o aparelho que tocava incansavelmente. Ah, só podia ser...

-Fala... - atendi mal-humorado.

-Nossa, bom dia pra você também! - Greg disse.

-Dá pra tentar parecer normal? São 5:00hs da manha... Era pra você estar "dormindo"! - falei bufando

-Ai, magoou... pensa que eu só faço isso? - perguntou.

-Sim... - rimos por um instante. - Porque me ligou tao urgentemente?

-Por quê? Sabe, ate onde me lembro foi VOCE que me ligou dizendo: eu a vi! Pode me explicar esse fato? - caramba, tinha me esquecido disso... E agora?

-Ér... me enganei! - falei coçando a cabeça.

- "Me enganei"? - ele imitou minha voz. - Ah nao, nao vai me disser SÓ isso... Explicações, agora! - tinha me esquecido de como Greg é chato.

- Ok, ok... eu me rendo! Vou ti explicar tudo... - falei sem convicção. - Tudo começou...


PDV ANNIE

Amsterdã - 10:14AM

A luz fraca da manha machucava meus olhos. Os abri lentamente, morrendo de preguiça, me mexi um pouco e... "Como eu vim para debaixo das cobertas?!" Perguntei-me assustada... Lembranças da noite anterior me fizeram arfar.

Lembro-me de chorar, e muito, no colo de... BRYAN? Sentei-me abruptamente na cama, totalmente assustada. O que eu fiz? Passei as mãos pelo rosto, indignada com meu ato insano! Chorar na frente de um estranho? "Isso é demais Moore!", me repreendi mentalmente.

Olhei ao redor ainda meio atordoada. Havia um bilhete sobre o criado mudo. Deitei de novo e o peguei para ler. De quem podia ser?

"Eu ti fiz companhia por um bom tempo... Ate seu sono se normalizar! Por incrível que pareça, fiquei preocupado... É, eu sei, estranho!" - eu ri fraco - "Bom, como esta se sentindo? Quer conversar?" - fiquei olhando para o papel. - "Ass: Bryan"

Como estou me sentindo? Tai uma pergunta dificílima para mim... ele quer... conversar? Comigo? *-* Olhei o relógio... 10:21hs

Respirei fundo... tentei ignorar a esperança que nascia em meu peito. Eu nao estava preparada para criar laços com qualquer pessoa. Porque? Eu explico...

Vocês já perderam todas as pessoas que foram responsáveis pelos momentos mais maravilhosos e perfeitos de sua vida? Esta sendo obrigada a conviver com a realidade, quando na verdade queria ter partido com eles? E o seu grande amor? O arrependimento que ter gritado, xingado e feito mil coisas erradas e nao ter tido a oportunidade de dizer-lhe: "me desculpe" ou o "eu ti amo"... Nao é fácil!

Meus olhos lacrimejaram. "Nao Annie, bola pra frente!", eu tentava me animar, mas nao conseguia! Porque eu nao posso simplesmente voltar no tempo e consertar as coisas?  Seria tao fácil...

Eu não tenho bastante certeza de como respirar
Sem você aqui
Eu não tenho bastante certeza se eu estou preparada
pra dizer adeus
Para tudo que fomos

Seria tao simples... Fitei o teto do quarto de Hotel. Como eu queria achar uma luz, algo que me dissesse sentir a devida paz que todos falam para mim sentir. Levantei-me cambaleante, devido ao choro excessivo da noite anterior. Minha cabeça ia explodir desse jeito... Tomei duas aspirinas.

O dia todo olhando para o teto
Fazendo amizade com as sombras na parede
A noite toda ouvindo vozes me dizendo
Que eu deveria dormir um pouco
Pois amanhã pode ser bom para alguma coisa

Andei ate o banheiro, precisava de um banho daqueles que se dá para lavar a alma! Me despi e entrei no box. Iniciei minha sessão de lavagem...

Chorei... eu nao sei de onde eu tirava tantas, pois ultimamente, é só o que ando fazendo. Chorar! Será que vou morrer desidratada? Se eu continuar nao me alimentando devidamente, provavelmente, sim! Esse era um desejo interno que passei a alimentar...

Eu não tenho respeito por você
E eu sinto sua falta, amor
E eu sinto sua falta, amor...
Eu amo o modo como você ama
Mas eu odeio o modo (que)
eu deveria te amar de volta.

[...]

Apos minutos, finalmente terminei meu amado banho. Com uma toalha na cabeça, enrolando os cabelos e vestida um roupão, sai do banheiro. Agora, preciso de uma roupa descente...

Peguei uma calça jeans, bota cano longo e meias grossas, blusa vermelha e camisete cinza, sobretudo para me aquecer melhor. Apos estar vestida me olhei no espelho... Nossa, eu estava um fiasco! Voltei ao banheiro, mas dessa vez para me maquiar um pouco...

Base, pó compacto, um pouco de blush, delineador e um pouco de sombra clara. É, eu estava apresentável, pelo menos nao iria assustar ninguém na rua! Nos lábios, um gloss incolor.

Voltei ao quarto, tornando me olhar no espelho. "Falta alguma coisa..." Peguei um cachecol e uma boina. Vesti as peças e respirei fundo. Luvas! Cadê minhas luvas? Olhei ao redor... Ah, achei! As calcei também. Sai do quarto!

Caminhei ate o elevador, sem olhar ao redor. Na verdade, de cabeça baixa, como se alguém fosse me morder a qualquer momento. Rá, como sou medrosa e ing...

-Ei, segura pra mim! - ouvi alguém gritar. Impedi o elevador de descer. - Obrigado Annie!

- Disponha... - sorri fraco olhando Bryan ao meu lado. -Eu...

-Eu... - falamos juntos e isso fez com que ríssemos. Eu... ri? Parei no mesmo momento. - Pode falar...

-Nao, fala você primeiro... - eu disse e ele assentiu, concordando.

-Esta melhor? - indagou de uma vez.

-É, acho que sim... - falei baixo, quase inaudível. As portas do elevador se abriram. Saímos dele.

- Ei...?

-Hmm? - olhei pra ele, eu estava me afastando e tentando me isolar e nao responder suas perguntas.

-Vamos tomar um café? - fiquei sem reação, mas me virei em direção ao restaurante do hotel. -Nao, ai nao! Em outro lugar, topa?

-Claro, porque nao? - falei dando de ombros. Ele me estendeu o braço, como um perfeito cavalheiro. Engolindo seco, passei o braço pelo dele e saímos do hotel.

[...]

Estávamos escorados na grade de proteção do lago, observando as casas barco que ali passeava e ficavam. Eu estava segurando meu capuccino e ele bebericava um café descafeinado com leite e creme. Trocamos poucas palavras, mas via que ele queria me perguntar algo...

-Pode perguntar, vejo que algo lhe aflinge! - falei bebendo um grande gole do meu copo.

-Tá tao explicito assim? - perguntou e eu assenti. Ele sorriu sem graça. - Porque estava chorando?

-Eu nao... nao queria falar... sobre isso!- falei olhando para o nada. Ele ficou quieto, mais tao quieto que tive que olhar pra ele. Bryan tinha a testa franzida.

-Foi tao grave assim? - sussurou pra mim, encarando-me.

-Sim... - falei sem detalhes.

-Tudo bem, nao vou ti forçar a falar! Mas, acho que ti entendo... - disse-me. Como ele poderia me entender?

-Como pode me entender? Sendo que nem sabe o que aconteceu comigo? - perguntei e sem querer fui grossa demais. - Desculpa...

-Bom, sem problemas... Mas acho melhor deixar essa conversa para outro dia! Que tal? - ele perguntou e eu estava de cabeça baixa, com o rosto corado. - Ah merda...

-Que foi? - perguntei fitando-o.

-Meu café esfriou... - o olhei espantada. Depois nós rimos, naturalmente.

-Obrigada! - falei do nada depois da pequena crise de riso.

-Pelo o que exatamente? - quis saber.

-Por me ajudar... na noite... passada! - falei sem jeito enquanto andávamos sem rumo.

-Me deve uma, ok? - Bryan riu torto com os olhos gentis. Por um momento, me afoguei na imensidão azul deles...

-Mas mesmo assim, obrigada! - agradeci do fundo do coração.

-As ordens, senhorita Moore! - ele disse e bateu continência.

Andando devagar, passeamos pelas ruas. Sem destino, jogando conversa fora, ou ate mesmo em silencio. Eu me sentia segura em sua companhia, como se nao tivesse acontecido nenhuma tragédia em minha vida. Como se tudo fosse um... sonho!

FIM DO CAPITULO!