Café amargo escrita por Mileninha Fics


Capítulo 1
Café amargo


Notas iniciais do capítulo

Bom, finalmente postando novas histórias!
Deixarei minhas notas ao final.

Boa leitura à todos!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/791185/chapter/1

Desde que tomou amor pela bebida, Shinsou sempre preferiu seu café assim: Amargo. 

Por mais que às demais pessoas vivessem reclamando daquele saibo, o sabor forte era simplesmente revigorante para o rapaz. Tanto que ele nunca fez questão de experimentar sua versão adocicada propositalmente. Estava bem em desfrutar da bebida escura em seu estado mais "puro".

Além de tudo, através de comentários e algumas pesquisas por curiosidade, ele descobriu que beber café sem açúcar também tinha suas vantagens, algumas das quais confirmou por experiência própria. O gosto de outros alimentos, por exemplo, sempre parecia melhor quando ele tomava a bebida pura. O doce tendia a tirar essa essência dos petiscos, tornando sua degustação um pouco menos prazerosa. Outra coisa que ficou sabendo é que o café sem açúcar, possivelmente, poderia ajudar com suas dores de cabeça, o que era ótimo, afinal, esse era um problema incômodo e constante que ele enfrentava em sua vida – sua individualidade não ajudava nada a melhorá-las também. E tinha a crença popular de que a bebida tirava o sono, ou dava mais energia a quem a bebia, e para alguém como ele, isso era o mesmo que uma benção. Enfim, saber dessas coisas só aumentavam o apreço do rapaz pelo tão adorado amargo.

Não era de se estranhar que café adocicado nunca tenha sido algo no qual ele tivesse interesse, inclusive, ele podia contar nos dedos às vezes que o bebeu assim. A partir do momento que teve total controle sobre as doses de suas canecas, ele nunca mais despejou um grama sequer de açúcar por escolha própria. Geralmente, suas poucas experiências com o doce haviam sido culpa de outras pessoas.

Com ela inclusive, foi assim.

Tudo aconteceu nos dormitórios da U.A. em uma certa manhã. Eles estavam em seu segundo ano e Shinsou já havia sido transferido para o curso de heróis, tornando-se oficialmente o vigésimo primeiro aluno da 1-A. Bem, naquele dia, o garoto acordou algumas horas mais cedo do que o do costume e não conseguiu voltar a dormir, optando apenas por suspirar e descer até a cozinha, no intuito de comer alguma coisa. 

Chegando lá, porém, Hitoshi foi surpreendido com a presença de uma outra pessoa que, por algum motivo, parecia ter acordado ainda mais cedo do que ele próprio. Seria mais um caso de insônia?

Esfregando os olhos e aproximando-se devagar, o garoto parou e bocejou, logo reconhecendo o curto cabelo acastanhado como pertencente a sua colega de nome Uraraka. Sem muito entusiasmo – o que para si era algo esperado –, Shinsou murmurou um educado “bom dia” pelas costas dela, vendo-a assustar-se antes de virar para olhá-lo, sorrindo ao retribuir o cumprimento. Logo, ele puxou uma cadeira e sentou-se, passando a encarar a mesa silenciosamente. Infelizmente, o rapaz não era muito o tipo de pessoa que puxava assunto. 

— Quer café, Shinsou-kun?

— Hum, se não for te incomodar…

— Imagina! — ela respondeu, já colocando um pouco mais de pó no recipiente.

— Bem, então eu aceito.

E como recusar, não é? Nada melhor do que começar o dia com uma boa dose de sua bebida favorita e, se sua colega quem ofereceu fazer isso por ele também, então, não havia folga nenhuma em aceitar a gentileza, certo?

Depois da pequena conversa, a quietude instalou-se no ambiente mais uma vez, até o momento em que Ochako pegou cuidadosamente a caneca de metal com água quente e despejou-a sobre o coador, fazendo com que o barulho das gotas caindo contra as xícaras começasse a ecoar. Ela encarou o processo por alguns segundos, antes que fosse pega de surpresa com a voz do garoto quebrando o silêncio.

— Você… Costuma acordar sempre nesse horário?

— Hm? — virando sua cabeça na direção de seu colega, Uraraka o encarou, antes de sorrir simpaticamente — Não… Pra falar a verdade, eu geralmente acordo perto das nove horas. Hoje foi um caso mais particular…

— …Problemas com o sono?

— Digamos que sim —  ela assentiu, abaixando o olhar.

— Sinto muito — E ele respondeu, simpatizado com a situação.

— Ah, mas não se preocupe… Pelo menos agora eu posso aproveitar um pouco mais o dia! — ela voltou a sorrir com otimismo, erguendo um braço em sinal de ânimo e positividade.

O sol fraco da manhã invadia as janelas e batia contra o corpo nela nesse momento, fazendo-a parecer simplesmente radiante com aqueles sorriso e pose. O pensamento fez com que Hitoshi esticasse os lábios em um discreto sorriso fechado, deixando-se levar um pouco por ela, sem que nem mesmo se desse conta.

— Bom, essa é uma vantagem — ele concordou confortavelmente, dando de ombros.

— Sim! — E a garota disse, antes de encerrar o processo de coamento e preparar as duas canecas de café, não demorando muito para virar-se e caminhar até a mesa — Prontinho, aqui está!

— Obrigado.

O rapaz agradeceu, esticando o braço para segurar o objeto e puxá-lo para perto de sua boca. A surpresa, todavia, veio quando ele bebericou do primeiro gole, abrindo os olhos um pouco mais que o normal e afastando a xícara com as sobrancelhas levantadas. Ele encarou o conteúdo.

— O que foi, Shinsou-kun? Há algo errado? — Ochako apoiou seu próprio recipiente na mesa, preocupada com a reação dele.

— O café… — ele começou, contudo, não soube como continuar.

— Com o café? N-não me diga que coloquei açúcar demais? — Os olhos dela arregalaram-se e ela juntou as mãos, curvando a cabeça — E-eu sinto muito, Shinsou-kun! Eu geralmente gosto de beber café bem doce, mas esqueci de perguntar se você gosta também. Me desculpe!

— Ah, não… Não se preocupe — O rapaz a olhou, sem saber ao certo como tranquilizá-la.

— Você quer que eu faça outro pra você? Eu posso-

— Está tudo bem — ele a interrompeu sem grosseria, fazendo-a voltar a sentar-se, já que havia se levantado no desespero do momento — Eu também gosto assim. Só… Fazia um tempo que não o tomava com açúcar.

— “Com açúcar”...? Você gosta de café puro, Shinsou-kun?

Ela havia acalmado-se – ufa! – e agora parecia curiosa. Ele, porém, limitou-se a um pequeno aceno afirmativo com a cabeça e seguiu bebendo, não apreciando realmente a bebida, mas não a repudiando totalmente também.

Enquanto o silêncio pairava no ar, o rapaz levantou o olhar distraidamente, apenas para intrigar-se ao dar de cara com um sorriso sereno nos lábios alheios. Por mais que o motivo de sua existência fosse um mistério, a expressão que ela esbanjava era simplesmente adorável e Hitoshi não conseguia deixar de encará-la. Quando deu-se conta do tempo em que ele permaneceu atento a si, Ochako corou, perdendo a compostura enquanto enfim percebia o que estava fazendo.

— M-m-me desculpe, Shinsou-kun! V-você deve me achar uma estranha por ficar te encarando assim.

— Huh? — ele piscou algumas vezes, antes de sair de seu transe — Ah, não… Eu não acho. Está tudo bem.

Na verdade, ela que deveria achá-lo estranho por tê-la olhado daquele jeito por tanto tempo. Beber mais um gole do café foi o modo que o garoto escolheu para disfarçar seu leve constrangimento.

— M-mesmo? — ela o viu assentir e suspirou aliviada. — Que bom… — murmurou, antes de pegar e levar sua xícara até a boca, voltando a sorrir –— Mas ainda sim, me desculpe por ter feito isso. É que… Quando você afirmou que gostava de café puro, eu acabei lembrando do meu pai. Ele sempre tentava bancar o "legalzão dizendo que adorava café amargo" e tudo mais, mas quando colocava uma gota que fosse na boca, nunca conseguia deixar de fazer careta!

Ela riu divertida e o som foi como música para os ouvidos de Hitoshi, que cerrou os olhos em contemplação.

— Meu pai sempre foi um amante de coisas mais adocicadas, sabe? Mas nunca admitia, sempre dizia o contrário para tentar impressionar — ela riu e bebeu mais um pouco — Não acha engraçado que alguém pense que pode ser mais bacana só por tomar café sem açúcar?

— Mas nós que tomamos café amargo não somos realmente muito bacanas?

Ele perguntou em um tom brincalhão, o que a princípio pegou Uraraka de surpresa, já que ela nunca imaginaria uma apelação divertida de alguém com o comportamento. Alguns segundos depois, contudo, ela fechou os olhos e gargalhou mais uma vez, o que apenas fez com que o garoto de cabelos roxos sorrisse sem conseguir se conter.

— Sim, acho que não posso negar isso!

Ela respondeu, e por um momento, Hitoshi sentiu sua pele esquentar, levando-o a esconder mais uma vez boa parte de seu rosto na xícara enquanto despejava mais da bebida em sua boca.

Depois disso, o diálogo entre eles continuou de maneira fluida e confortável, com a garota falando sobre os mais diversos assuntos, entre olhos animados e risadas divertidas, e Shinsou ouvindo-a com um leve sorriso estampado nos lábios, fazendo um ou outro comentário e alguns acenos às vezes.

Em determinado momento, as xícaras ficaram vazias e ele enfim viu-se livre da bebida adocicada. Entretanto, quando Ochako lhe ofereceu mais café, ele não hesitou em aceitar. Na verdade, o garoto não tinha ideia do motivo que o levou a fazer isso, tendo notado o que aconteceu somente quando ela se afastou. Bem, não havia mais volta agora.

Quando retornou, a garota novamente sentou-se de frente para ele, estendendo sua xícara e voltando a falar sobre qualquer coisa. A voz e presença de Ochako, logo, faz Hitoshi se esquecer de suas atitudes impensadas e apenas concentrar-se nela, mostrando-se a vontade a cada segundo que passava.

Desde que começou a tomar café, Shinsou sempre o preferiu assim: Sem açúcar. O doce nunca lhe despertou o interesse e o amargo sempre pareceu combinar muito mais consigo. Fosse com sua personalidade, sua individualidade, os comentários que faziam a respeito dele, a maneira como o encaravam ou a forma como as dificuldades se intensificam diante si, ele poderia facilmente afirmar que "açucarado” não era um adjetivo que se encaixava em sua vida. O azedo, o forte e o desagradável eram muito mais compreensíveis. 

Ou, pelo menos, foi o que ele pensou por um bom tempo. Talvez tenha sido até por isso que passou a apreciar tanto o sabor do café puro, afinal… O doce era algo que jamais poderia estar associado a ele.

Quer dizer, até aquele momento. Porquê agora, naquele começo de manhã, sentado frente a frente com Ochako, Hitoshi finalmente encontrou algum prazer em bebericar do café cheio de açúcar que ela lhe serviu.

E bom, se desfrutar daquele sabor o qual há tempos não experimentava significava que ele poderia continuar ali, admirando sua colega e sentindo seu coração aquecer-se com cada sorriso e brilho que ela esbanjava, então… Ele não importava-se tanto de abrir algumas exceções para suas preferências..

A doce presença de Ochako seria a responsável por amansar a existência amarga de Hitoshi, e futuramente, ele perceberia isso.


E pensar que tudo começou graças à uma simples xícara açucarada de café...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bom, cá está minha contribuição para o 2ºBimestre do Ochabowl_Project!
Tema: "Que seja doce!"

A inspiração para essa fanfic veio por uma música a qual estava ouvindo bastante e que falava sobre café ashushaas Então, quando lançaram o tema, imediatamente pensei em fazer algo relacionado a bebida. E, bom, com a aparência e jeitinho de cansado do Shinsou, achei que a temática encaixaria-se bem no personagem dele.
Sem contar que Shinchako é uma fofura S2

Essa é minha primeira fanfic sobre os dois e, bem... Espero que tenham gostado!

Muito obrigada poer ler ♥
—_____________________
Queria deixar meus agradecimentos a: @Aika Momoi(763326) pela linda capa. E ao @Tio_Puppy pela adorável betagem. Obrigada!